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Circle of Inevitability – Capítulo 110

Estrangeiro

Porque você é pó e ao pó retornará — Bíblia, Gênesis 3:19

A imponente muralha branco-acinzentada da cidade, elevando-se a uma altura de três metros, assomava diante de Lumian, estendendo-se até onde a vista alcançava.

Uma infinidade de carruagens particulares, de quatro lugares, janelas abertas, cocheiros e transportadores de carga faziam fila, aguardando a entrada pelo portão da cidade.

Coletores de impostos de uniforme azul e policiais de camisa branca e colete preto inspecionavam metodicamente cada carruagem. Ocasionalmente, exigiam identificação ou ordenavam aos pedestres que abrissem as malas.

Lumian, segurando sua mala marrom, examinou a cena, lançando olhares furtivos enquanto procurava uma maneira de contornar o posto de controle.

Em pouco tempo, um homem que havia observado seu comportamento se aproximou.

— Qual é o problema, amigo? Você parece um pouco inquieto. — O homem era um pouco mais baixo que Lumian, mas duas vezes mais largo. Suas bochechas eram rechonchudas, fazendo com que seus olhos azuis parecessem minúsculos.

Ao se aproximar, Lumian sentiu um cheiro de suor misturado com colônia barata, o que o levou a torcer o nariz em desgosto.

Lumian gesticulou em direção aos portões, intrigado, e perguntou: — Para que tudo isso? Eles estão procurando criminosos? Por que proteger aqueles que entram em Trier e não aqueles que saem?

O homem loiro, desgrenhado e com camisa azul esvoaçante avaliou Lumian.

— Meu amigo, você é de alguma cidade ou vila pequena?

Ao ver Lumian acenar com a cabeça, o homem suspirou e explicou: — Eles estão cobrando impostos! Tarifas!

— Tarifas para entrar em Trier? — Lumian perguntou.

O homem assentiu.

— Exatamente. Esta muralha da cidade circunda Trier. Existem 54 portões, cada um deles ocupado por cobradores de impostos e policiais. Eles também prendem criminosos procurados.

— Todos os bens são tributados? — Lumian perguntou, curioso.

O homem tocou sua camisa de lona azul e respondeu: — Quase tudo; apenas grãos e farinha estão isentos.

— Antigamente, mas depois da guerra, há alguns anos, o preço do pão em Trier disparou, incitando motins e protestos. Eventualmente, o governo aboliu as tarifas sobre todos os alimentos.

— Ah, se ao menos os bebedores fossem tão ousados! Bebidas alcoólicas, vinho e champanhe são os que mais tributam. Muitas pessoas se aventuram nos subúrbios nos fins de semana para beber bebidas alcoólicas isentas de impostos em pequenas tavernas. Eles chamam isso de ‘passeio pelas cidades’.

— Interessante… — Lumian acenou com a cabeça pensativo.

O homem olhou ao redor e baixou a voz.

— Se você quiser evitar as tarifas, posso ajudá-lo a entrar na cidade. Tudo o que você precisa fazer é me pagar uma pequena taxa.

— Você quer dizer suborno? — Lumian gesticulou com o queixo para o coletor de impostos e a polícia perto do portão da cidade.

O homem bufou.

— A ganância deles é maior que o apetite de um elefante. Vou lhe mostrar um caminho para a cidade sem postos de controle.

— Mas Trier não está completamente cercada por muros? — Lumian não escondeu sua perplexidade.

O homem sorriu.

— Você verá em breve. — Então ele brincou: — Nobre senhor, você precisa da minha ajuda?

Lumian pensou por um momento antes de perguntar: — Quanto vai custar?

— Três verl d’or, — respondeu o homem com um sorriso agradável. — Se você concordar, podemos partir imediatamente. Você pode pagar quando estivermos dentro da cidade.

—Ok. — Lumian ajeitou o chapéu escuro de abas largas, pegou a mala marrom e seguiu o homem rechonchudo para longe do portão da cidade.

Quinze minutos depois, chegaram a uma colina coberta de vegetação e solo, com pedras branco-acinzentadas aparecendo.

Andaimes, travesseiros em decomposição e vários fossos estavam espalhados. Parecia ser uma mina abandonada.

O homem rotundo guiou Lumian através de montes de pedras confusas até a entrada de uma mina.

— Este é o atalho? — Lumian perguntou com cautela.

O homem corpulento de camisa azul riu.

— Você realmente não sabe muito sobre Trier.

— Já ouviu o ditado que diz que o Submundo de Trier é ainda maior que a Trier acima do solo?!

— Não. — Lumian balançou a cabeça.

O homem elucidou: “Trier costumava ser muito menor. Era cercada por pedreiras que forneciam pedras para a construção da cidade. À medida que a população aumentava, a cidade teve que se expandir para fora, envolvendo essas pedreiras. Como resultado, o solo ficou cheio de buracos e túneis de minas.

— Acrescente a isso a parte de Trier que afundou no subsolo na Quarta Época, mais os esgotos, metrôs e tubulações de gás instalados pelo governo… não são mais extensos do que o que há na superfície?

Os olhos de Lumian se arregalaram em compreensão.

— Você está me levando para a cidade através do Submundo de Trier?

— Sim. — O homem virou-se, inclinou-se e entrou na mina. Ele perguntou casualmente: — Como devo te chamar?

— Ciel. — Lumian afastou os cabelos dourados das têmporas. — E você?

— Apenas me chame de Ramayes. — O homem corpulento vasculhou uma pilha de pedras no canto da mina e desenterrou uma lanterna preta como ferro.

Claramente feita de metal, a lanterna enferrujada era cilíndrica, com a parte superior ligeiramente mais estreita que a inferior. Um forro de borracha preta circundava sua base.

Na junção dos cilindros estreito e largo, uma peça de metal polido em forma de trombeta estava embutida, embora permanecessem alguns pontos de ferrugem.

Ramayes pegou uma caixa de fósforos, mexeu nela brevemente e uma chama laranja tingida de azul irrompeu da trombeta de metal, iluminando as profundezas da mina.

— O que é isso? — Lumian perguntou, intrigado.

Segurando a lâmpada preta como ferro, Ramayes aventurou-se no subsolo, tagarelando.

— Lâmpada de carboneto.

— Inventado pela Associação das Cavernas. Muitos mineiros usam. Não sei por que brilha, mas só preciso colocar algumas pedras e água, fixá-las em cima e em baixo e, quando necessário, pressionar aqui e acender a boca com chamas.

“O carboneto e a água reagem para formar acetileno, que queima e emite luz?” Lumian relembrou a química que estudou alguns meses antes.

Ele permaneceu em silêncio por um tempo enquanto seguia Ramayes para o subsolo ao longo de um túnel de mina abandonado. Então ele perguntou: — A Associação das Cavernas?

— Associação das Cavernas de Trier. Formada por um grupo de entusiastas da espeleologia. Hoje em dia, eles parecem estar envolvidos com as minas. — Ramayes virou-se para Lumian, caminhando ao lado dele, e perguntou com um sorriso: — Por que você simplesmente não pegou a locomotiva a vapor para Trier? Os postos de controle da estação ferroviária não são tão rígidos. Eles apenas fazem verificações pontuais.

Lumian relembrou e respondeu: — Eu queria experimentar os últimos vestígios do romance da era clássica.

— Uma carruagem de correio? — Ramayes riu. — Isso é muito mais caro do que uma locomotiva a vapor. Seu sotaque denuncia que você é da região de Reem ou Riston. A viagem do sul até Trier custa cerca de 120 verl d’or, não é? E leva quatro dias e meio! Em uma locomotiva a vapor, você pagaria menos de 50 verl d’or por um assento de terceira classe e chegaria em menos de 20 horas. Então, o último pedaço de romance da era clássica, você diz? Parece mais um golpe trabalho para pessoas como você. Você deve ter desembolsado um bom dinheiro, hein?

Lumian respondeu com franqueza: — Uma quantia razoável. Só me restam 267 verl d’or.

Ramayes olhou para ele mais uma vez e desviou os olhos.

“Que desperdício…”

Agarrando a lâmpada de carboneto, ele atravessou um arco e desviou para outra passagem banhada pelo brilho amarelo-alaranjado lançado pela chama da lâmpada.

Lumian olhou para cima e notou rochas aninhadas na escuridão acima, adornadas com musgo que expelia gotas de água.

O caminho sob os pés estava cheio de buracos e pilares de pedra ladeavam ambos os lados, sustentando o teto da caverna.

Pedras e vários objetos foram amontoados entre os pilares, criando uma rua larga o suficiente para seis ou sete pessoas caminharem lado a lado.

Sob a iluminação da lâmpada de metal duro, uma placa de aço afixada em um pilar de pedra apareceu. Inscrito em Intis: “Rue à Droite.”

— Há um nome de rua aqui? — Lumian perguntou, intrigado.

Agarrando a lâmpada de carboneto, Ramayes riu e respondeu: — Eu não te contei? Este é o Submundo de Trier.

— Na verdade, foi construído há décadas, durante as reformas da cidade. Os chefes consideraram o subsolo muito caótico, um verdadeiro labirinto. Desordeiros, assassinos, contrabandistas e cultistas, todos encontraram refúgio aqui, e algo tinha que ser feito. Além disso, inúmeras casas desmoronaram e afundaram devido às pedreiras subterrâneas. O reforço foi necessário. Assim, a Prefeitura passou quase uma década reparando pilares, construindo fundações e conectando as pedreiras anteriormente isoladas, ruínas subterrâneas, catacumbas e esgotos.

— Para evitar que os trabalhadores se perdessem, as ruas subterrâneas foram nomeadas para corresponder às acima durante as reformas. Estradas, praças e becos foram recriados aqui embaixo, e placas de identificação foram penduradas, marcando as ruas. Se forem necessários reparos futuros, os nomes poderiam ser simplesmente referenciados.

— Em outras palavras, — Lumian gesticulou para cima com a mão livre. — A verdadeira Rue à Droite fica logo acima de nós?

— Sim. — Ramayes continuou. — Aqui é o Submundo de Trier. Há um muro anti-contrabando à frente. A polícia da pedreira costuma patrulhar a área, mas não se preocupe. Vou guiá-lo por um pequeno túnel. Heh, os chefes, com seus colarinhos falsos e mentiras, acreditam que podem administrar o Submundo de Trier como fazem acima do solo, mas só estão cientes de metade das entradas e rotas modificadas…

Enquanto falava, ele conduziu Lumian a um beco sem saída e localizou uma fenda estreita por onde rastejar. Lumian seguiu de perto.

Dois ou três minutos depois, saíram do pequeno túnel. Diante deles havia um muro composto de pilares de pedra e uma rua encravada entre eles.

Nesse momento, uma figura corpulenta apareceu ao lado do pilar de pedra, segurando uma lâmpada de carboneto, e se dirigiu a Ramayes: — Este é nosso cliente?

Ramayes se virou e sorriu para Lumian.

— Estrangeiro, mudei de ideia. O preço é 265 verl d’or. Não fui generoso em deixar-lhe o suficiente para comprar pão e um hotel esta noite?

— E se eu recusar? — O rosto de Lumian exibia uma mistura de medo e desafio.

O rosto rechonchudo de Ramayes estremeceu de tanto rir.

— O que você acha que vai acontecer? Sua mãe não te avisou para não confiar muito facilmente em estranhos quando estiver fora de casa?

Ele e o homem corpulento se aproximaram de Lumian de direções opostas.

Lumian sorriu, largou a mala e avançou em direção a Ramayes e seu cúmplice.

À luz bruxuleante do fogo, mais de dez segundos se passaram rapidamente e a lâmpada de carboneto acabou nas mãos de Lumian.

Lumian agachou-se ao lado do trêmulo Ramayes, com o rosto machucado e inchado, e tirou todas as notas da carteira. Na fraca luz laranja e azul, ele os contou com séria intenção.

Batendo suavemente na bochecha direita de Ramayes com o maço de dinheiro, Lumian sorriu.

— Agora restam apenas 319 verl d’or.

Dito isso, ele embolsou as notas e caminhou em direção a um caminho que parecia levar à superfície.

Uma placa de identificação pendurada em um pilar de pedra, com duas linhas inscritas em escrita em intis: “Rue du Pot de Chambre, Le March du Quartier du Gentleman.”1

Alguém rabiscou Rue du Pot de Chambre com uma pedra e rabiscou um novo nome ao lado: “Rue Anarchie.”


Nota:

[1] algo como “o mercado do bairro dos cavalheiros”.

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