De manhã, enquanto fazia compras no Le Marché du Quartier du Gentleman, Lumian notou que os cidadãos de Trier se vestiam de maneira bastante casual, ou talvez com ousadia. Isso ficou evidente nas mulheres que usavam mangas curtas que expunham os antebraços ou roupas com ombros recortados que exibiam as clavículas. Por outro lado, não faltaram trajes peculiares.
Na região de Dariège, um feiticeiro como Osta, vestindo uma túnica preta e um capuz, lembrava uma lenda antiga. Era impossível para ele andar abertamente pelas ruas sem ser parado pela polícia. Em Trier, porém, os transeuntes não lhe prestaram atenção.
Essas aparições eram muito comuns. Pessoas vestidas com uma variedade de roupas antiquadas.
Osta Trul foi sem dúvida mais cauteloso. Periodicamente, olhava por cima do ombro para localizar alguém suspeito, mas Lumian mantinha uma distância tão grande que nenhum deles estava na linha de visão do outro.
Lumian acompanhou Osta de uma rua a outra, seguindo o leve aroma da colônia de qualidade inferior.
À medida que as lâmpadas a gás iluminavam os arredores, Osta virou uma rua protegida por cúpulas de vidro e estruturas de aço.
Este lugar era bem iluminado e repleto de lojas de luxo. Mármore liso pavimentava o chão e a área fervilhava de pedestres — um forte contraste com as ruelas em ruínas do Marché du Quartier du Gentleman.
“Este é o ‘arcade’ que Aurore mencionou?” Lumian observou Osta parando em frente a uma loja para admirar a vitrine. Ele também diminuiu a velocidade, examinando a área.
Ele rapidamente identificou pessoas envolvidas em comportamentos incomuns.
Vestidos com trajes formais, homens e mulheres passeavam com tartarugas de tamanhos variados.
As tartarugas avançaram lentamente e seus donos, segurando uma corda, seguiram-nas vagarosamente.
Ao ver um homem vestido com um terno formal preto e cartola de seda passeando com uma tartaruga, Lumian não pôde deixar de perguntar: — Meu amigo, o que você está fazendo?
O homem virou a cabeça, revelando um rosto empoado.
Ele respondeu com um sorriso: — Estrangeiro, estou simplesmente dando um passeio, passeando com minha tartaruga.
— Por que uma tartaruga? — Lumian não escondeu sua perplexidade.
O cavalheiro impecavelmente preparado pareceu satisfeito em compartilhar sua filosofia de moda. Ele sorriu e explicou: — A maioria dos Trienenses gosta de caminhar sem pressa, mas não consegue compreender a essência do lazer e da elegância. Eles sempre andam rapidamente e parecem apressados.
— Um verdadeiro passeio é mais lento que uma tartaruga. Assim, caminhamos com as tartarugas e deixamos que elas conduzam para enfatizar nosso ritmo tranquilo.
— É um medidor para medir a velocidade de caminhada e um dispositivo para quantificar a elegância.
Lumian teve que admitir que os Trienenses expandiram consistentemente sua perspectiva como um caipira de Cordu.
Aurore não poderia nem ter escrito uma história sobre passear com uma tartaruga!
— Um verdadeiro Trienense! — Lumian aplaudiu, seu tom cheio de sarcasmo.
Lamentavelmente, o cavalheiro não conseguiu captar a mensagem subjacente. Ele sorriu modestamente e continuou a seguir a tartaruga em um ritmo lento.
Em pouco tempo, Osta chegou ao outro lado da galeria.
Lumian esperou um momento antes de segui-lo com cautela.
Depois de sair da galeria, Osta se posicionou perto da parada de transporte público próxima.
Em poucos minutos, uma enorme carruagem, puxada por dois cavalos, chegou.
A carruagem foi dividida em dois níveis. O exterior pintado de amarelo trazia palavras como “Linha 7” escritas em Intis. O motorista vestia um casaco verde curto e um chapéu de abas largas para se proteger da chuva.
Quando a carruagem parou, um condutor com chapéu pequeno, camisa listrada e calças pouco atraentes apareceu na porta aberta, examinando cada passageiro que embarcava na carruagem como se fossem criminosos.
Osta foi a terceira pessoa a embarcar. Escolheu um assento na janela, observando os transeuntes e os homens e mulheres que se sentavam.
Lumian observou à distância, sem se aproximar.
Foi só quando a carruagem da Linha 7 se afastou que ele acelerou o passo, praticamente correndo para alcançá-lo.
Dada a velocidade relativamente lenta do transporte público e a regra de parar em todas as estações, Lumian não se preocupou em ficar para trás.
Enquanto corria, alguns pedestres olhavam para ele com curiosidade, enquanto alguns até corriam ao lado, aparentemente acreditando que esta era a última tendência.
“Há algo errado com seu cérebro?” Lumian não sabia se ria ou chorava.
Depois de três paradas, viu Osta Trul desembarcar da carruagem pública. Esta área já fazia parte do Le Marché du Quartier du Gentleman.
Osta atravessou duas ruas e entrou na Rue des Bluses Blanches, que Charlie mencionara. Ele entrou em um antigo prédio bege de número 20.
Lumian parou em frente a uma banca de jornais na rua, pegou um jornal e folheou-o casualmente.
Simultaneamente, observou a entrada do prédio com o canto do olho.
— São 11 coppets por um, — lembrou o dono da banca a Lumian ao perceber que estava apenas lendo e não comprando.
Lumian segurava um exemplar do Le Petit Trienense1 e, sem se importar, tirou duas moedas de 5 e uma de 1 coppet e jogou-as nos outros jornais.
O dono da banca de jornal ficou em silêncio.
Lumian continuou lendo o jornal.
“Prefeitura discutindo novos planos de preços com a empresa de abastecimento de água…”
“Valéry considera o consumismo um fetiche…”
“O maior projeto da história da humanidade busca colaboração…”
O anúncio final chamou a atenção de Lumian porque o lembrou de algo: cheirava a um brincalhão ou a uma estratégia de vigarista! Enquanto Lumian ficava de olho no apartamento, leu o conteúdo correspondente com interesse crescente.
“O futuro da humanidade está nas estrelas. A história da humanidade foi forjada pelos corajosos para explorar.”
“Nesta era de rápido progresso tecnológico, faltam-nos pioneiros da civilização, visionários com visão e visão excepcionais, e aventureiros com coragem. Da última vez, ficamos presos no Mar Berserk.”
“Desta vez, estamos presos na atmosfera. No entanto, a civilização humana e a tecnologia irão, sem dúvida, superar todos os obstáculos e perigos para forjar um futuro verdadeiro.”
“Procuramos colaborar com todos os sonhadores para construir uma ponte espacial que nos permitirá caminhar da superfície até a lua carmesim.
“Ponto de contato: Bulle Patil. — Método de contato: 9th Rue Saint-Martin, 5º andar, Quartier 2.”
Quanto mais Lumian lia, mais engraçado achava. Ele se viu em profunda contemplação.
Como o Rei Brincalhão de Cordu e influenciado pelas ideias excêntricas de Aurore, ele nunca havia concebido uma noção tão ultrajante, ridícula e absurda. No entanto, esses indivíduos anunciaram-na descaradamente, como se estivessem certos de que poderiam enganar uma multidão.
“Ainda estou subestimando o QI humano médio?” Lumian acariciou seu queixo com a mão esquerda enluvada.
Naquele momento, viu um grupo de pessoas se aproximando do antigo apartamento da Rue des Blushes Blanches, nº 20.
O líder era um cavalheiro de aparência distinta, com cartola de seda e terno preto. Ele tinha um perfil esculpido, um cachimbo cor de mogno na boca e um anel de diamante na mão esquerda que brilhava sob a luz. Os homens corpulentos que cercavam o cavalheiro pareciam ameaçadores. Eles usavam camisas de lona ou jaquetas escuras, transmitindo uma sensação de gangue.
Depois que desapareceram na entrada do apartamento, Lumian se aproximou com o jornal.
Na base da escada, detectou diversas colônias simultaneamente. Uma delas era fraca e familiar — a colônia de qualidade inferior que ele aplicara em Osta. A outra era mais aromática, doce e levemente enjoativa. “Colônia de almíscar? Do homem com o cachimbo?” Lumian seguiu o cheiro até o quinto andar.
Lá, ele viu Osta Trul. O impostor vestido de feiticeiro viu-se cercado pelo mesmo grupo de indivíduos. O cavalheiro do anel de diamante bateu na testa com o cachimbo cor de mogno, sorrindo educadamente. — Não pense que você pode se livrar de nós só porque se mudou. Até que você pague toda a dívida, eu te seguirei indefinidamente, como uma sombra. —
Osta gaguejou com medo: — Em breve terei dinheiro. Posso devolver uma parte para você amanhã!
— Muito bem, — o ‘cavalheiro’ assentiu com um sorriso.
Ele então virou o cachimbo e cutucou o rosto de Osta com a ponta ainda fumegante.
Osta recuou de dor, mas não ousou emitir nenhum som.
O ‘cavalheiro’ retirou o cachimbo e disse gentilmente, mas com firmeza: — Isto é um pouco interessante. Se você não me pagar amanhã, vou arrancar um de seus dedos.
Com isso, colocou a mão no peito e curvou-se educadamente.
— Vejo você amanhã, meu amigo. — Na escada, Lumian franziu os lábios e murmurou para si mesmo: “Será que as pessoas e os cães estão aprendendo com Gehrman agora?”
À medida que a série “O Aventureiro” de Fors Wall ganhou popularidade, imitadores de Gehrman Sparrow surgiram nos continentes Norte e Sul. Frases como isto é uma cortesia básica e uma dádiva ou uma maldição se espalharam por toda parte.
À medida que o grupo se aproximava, Lumian abaixou a cabeça e deu um passo para o lado, agindo como um inquilino comum encontrando bandidos.
Passos caóticos ecoaram enquanto desciam andar por andar, logo dando lugar ao silêncio. Lumian olhou na direção de Osta Trul, notando que ele já havia se retirado para seu quarto e fechado a porta de madeira.
Depois de alguma contemplação, Lumian flexionou a mão esquerda enluvada e ajustou o chapéu. Ele saiu da escada e se aproximou da porta de Osta.
Bang! Bang! Bang! Ele ergueu a mão e bateu na porta.
Depois de um momento, Osta abriu a porta, com o rosto numa mistura de choque e medo. Ele gaguejou, trêmulo: — Eu realmente não posso conseguir esse dinheiro até amanhã…
Antes que ele pudesse terminar, a figura de Lumian entrou em foco em seus olhos.
Lumian abriu os braços e perguntou com um sorriso radiante: — Surpreso?
— Você, você, você … — Osta recuou como se tivesse visto um fantasma.
Lumian o seguiu até a sala e sorriu para Osta Trul.
— Eu realmente desejo esquecer a dor do passado, mas também sou uma pessoa cautelosa. Tenho medo de ser enganado e, pior, de ser ridicularizado como um tolo.
Nota:
[1] O Pequeno Trienense.