Lumian, consumido pelas emoções de Madame Alice, sentia cada vez mais dificuldade para respirar. Seu corpo doía mais intensamente, como se tivesse encontrado mais uma vez o fantasma Montsouris e estivesse à beira da morte.
Esta foi uma verdadeira experiência de morte.
Preocupado com a possibilidade de perder o controle, Lumian optou por não pressionar mais. Ele ordenou que o espírito persistente de Madame Alice abandonasse seu corpo.
Com falta de ar, enxugou o suor frio da testa antes de voltar à sua personalidade ligeiramente arrogante de advogado novato.
Acompanhado pelo policial, voltou para a sala de interrogatório.
Charlie ficou de pé, inclinando-se para frente com a mão apoiada na mesa. Seu rosto era uma mistura de ansiedade e expectativa.
Sem esperar por uma pergunta, Lumian ouviu Charlie perguntar: — Qual o resultado?
Lumian assentiu e fez um movimento calmante.
Seu gesto implicava que os resultados da autópsia estavam alinhados com suas expectativas.
O alívio tomou conta do rosto de Charlie instantaneamente. Foi como se ele tivesse gasto toda a sua energia naquele momento. Ele sentou de volta na cadeira, fisicamente esgotado.
Diante dos dois policiais na porta, Lumian declarou com firmeza: — Não se preocupe com mais nada. Eu tenho tudo sob controle.
— Você só precisa fazer uma coisa. No próximo interrogatório, conte toda a história a estes senhores, sem omitir um único detalhe, por mais absurdo ou implausível que possa parecer.
— Claro, atenha-se ao que aconteceu até a sua prisão. Não há necessidade de se aprofundar em nossa conversa.
Como o diálogo advogado-cliente poderia envolver táticas de tribunal que outros não tinham o direito de saber, os dois policiais na porta não acharam estranha a última declaração de Lumian. Afinal, Charlie Collent era um garoto infeliz que enfrentava pela primeira vez um caso criminal sério e precisava de um advogado. Ele provavelmente não conhecia as regras e precisava de orientação explícita.
Charlie entendeu a mensagem de Lumian: Não revele à polícia que descobri o problema do retrato!
— Tudo bem. — Charlie não estava tão zangado, aterrorizado ou perturbado como quando foi preso e levado à delegacia, mas também não estava tão tagarela como sempre.
Depois de deixar a sede da polícia do distrito comercial, Lumian deu duas voltas antes de encontrar um beco bloqueado por uma barricada. Ele trocou de roupa, tirou os óculos e alterou o estilo de maquiagem.
“Agora que tenho dinheiro suficiente, posso montar um esconderijo e um lugar para trocar de disfarce baseado nas novels de Aurore.” Lumian relembrou os escritos de sua irmã, formulando um método para lidar com tais assuntos.
Ele também pretendia comprar um exemplar de Estética Masculina.
Dominar a maquiagem sem orientação era impossível. Ele confiou principalmente em seu penteado, óculos e traje para esconder sua identidade.
A caminho do Auberge du Coq Doré, Lumian pensou em como livrar Charlie de sua terrível situação.
“Quem exatamente é Susanna Mattise, ou melhor, a criatura bizarra em que ela se transformou? Por que ela assassinou Madame Alice?”
“Por que ela ajudou Charlie no passado e atuou com ele no sonho?”
A perspectiva de escrever para Madame Mágica perturbou Lumian.
A julgar pela rapidez e conteúdo da resposta anterior, ele percebeu que ela disse indiretamente: — Não me incomode a menos que seja importante!
Se Lumian enfrentasse um problema envolvendo Susanna Mattise, escrever para perguntar seria aceitável. No entanto, esta situação dizia respeito apenas ao seu vizinho.
Era muito provável que a mulher enigmática e potente que detestava complicações não respondesse.
E isso poderia impactar sua atitude em relação à Lumian.
“Se não perguntarei à Madame Mágica, por que não perguntar na reunião de misticismo do Sr. K? Se os participantes forem Beyonders no nível de Osta Trul, eles podem não ter a resposta…” Enquanto Lumian refletia sobre isso, ele subiu as escadas e entrou em seu quarto.
Seu olhar pousou na mala contendo os livros de Aurore e ele experimentou uma revelação repentina.
“Por que deveria investigar Susanna Mattise e lidar com ela pessoalmente?”
“Meu único objetivo é resgatar Charlie!”
“Mesmo que eu consiga descobrir a vulnerabilidade de Susanna Mattise e vencê-la, poderei coagir uma criatura peculiar como ela a entregar-se para a polícia?”
“Se ela se atrever a ir, a polícia não se atreverá a prendê-la. Dadas as características exibidas, ela não se entregaria a uma orgia ali mesmo?”
Lumian discerniu rapidamente a distinção entre objetivos e meios.
Não havia necessidade de tanto esforço para exonerar Charlie e garantir sua libertação da sede da polícia!
Ele simplesmente teve que informar o Departamento 8, a Igreja do Eterno Sol Ardente e a Igreja do Deus do Vapor e da Maquinaria que o caso de Charlie envolvia elementos de Beyonders e incentivá-los a intervir na investigação!
Mesmo um Beyonder de baixo nível, sem rede de inteligência ou poderes místicos, poderia detectar algo errado com Susanna Mattise. Não há razão para que os investigadores oficiais não consigam descobrir a força invisível por trás da morte de Madame Alice. Eventualmente, eles não apenas verificariam a inocência de Charlie, mas também o ajudariam a escapar das garras de Susanna Mattise e resolveriam totalmente o problema com a estranha criatura. Lumian tinha uma conjectura clara sobre os acontecimentos subsequentes, depois que o lunático do andar de cima procurou refúgio na catedral ao encontrar o fantasma Montsouris.
Ele pediu a Charlie que divulgasse tudo na sede da polícia do distrito comercial para atrair a atenção dos Beyonders oficiais.
No entanto, ele se sentiu compelido a agir. Não podia confiar apenas em policiais comuns.
E se eles considerassem a história de Charlie uma invenção destinada a zombar de sua inteligência e recorressem à violência para coagir uma confissão na hora?
O olhar de Lumian percorreu o jornal amassado sobre a mesa de madeira, lembrando-se de como ele ou sua irmã recortaram as palavras do livre bleu e as juntaram para redigir uma carta pedindo ajuda das autoridades.
“Transformar a experiência de Charlie em uma carta e ‘entregá-la’ em uma catedral próxima?” Lumian assentiu, decidindo executar o plano.
Armado com o pedido de ajuda e a confissão de Charlie, isso deveria despertar o interesse dos Beyonders oficiais.
Quando ele estava prestes a procurar frases apropriadas na Novel Semanal, Lumian de repente franziu a testa.
“As autoridades poderiam vincular um pedido semelhante de ajuda a Cordu? Eles me associariam, um criminoso procurado, com Charlie?”
Lumian não sabia se Ryan e seus associados haviam relatado completamente suas descobertas aos Beyonders oficiais em todo o país, mas ele não estava disposto a correr esse risco.
“Imitar a caligrafia de Aurore?”
“Ao contrário da assinatura de um advogado que não levanta suspeitas, Ryan e sua equipe sugeriram que a carta provavelmente passaria por várias verificações, incluindo adivinhação…”
“Disfarçar-me e pedir a alguém que escreva para mim?” Enquanto seus pensamentos corriam, Lumian de repente teve uma ideia. “Posso convocar uma criatura do mundo espiritual para escrever para mim!”
“Se os oficiais detectarem algum problema, eles não serão capazes de fazer com que a criatura do mundo espiritual me identifique, já que eles não conhecem o encantamento de invocação!”
Quanto mais Lumian considerava isso, mais acreditava que era um plano sólido. Ele puxou uma cadeira, sentou-se e começou a elaborar o encantamento de invocação.
A primeira frase foi, sem dúvida, “Espírito que vagueia pelo vazio.”
Depois de pensar um pouco, Lumian escreveu a segunda frase.
“A criatura amigável que pode ser contratada.”
As criaturas convocadas do mundo espiritual tinham que estar sob o comando de Lumian para ajudá-lo a escrever cartas. A amigabilidade fornecia proteção essencial para o invocador.
Quanto à terceira frase, Lumian não tinha grandes expectativas. Ele apenas precisava incorporar os dois aspectos de ser fraco e proficiente em Intisiano.
Após vários momentos de permutação mental, a terceira frase materializou-se no papel:
“Fraco e proficiente em Intisiano.”
Ufa… Depois de escrever, Lumian exalou.
Ele então folheou o livro de Aurore e traduziu as poucas palavras não dominadas para Hermes.
Imediatamente depois, montou o altar e iniciou a convocação.
Logo, completou o ritual e observou a chama da vela adquirindo uma tonalidade verde escura e se expandindo até o tamanho de uma cabeça humana.
Uma figura nebulosa e translúcida se materializou, sua cabeça lembrava a de um boi e o resto, a de um cachorro.
— Ajude-me a escrever uma carta, — disse Lumian em Hermes enquanto olhava para a criatura do mundo espiritual.
O perplexo cão com cabeça de boi não respondeu.
— Ordeno que você me ajude a escrever uma carta, — enfatizou Lumian em Hermes.
O cachorro com cabeça de boi parecia estupefato, como se não compreendesse.
Lumian fez mais algumas tentativas, mas o cão com cabeça de boi permaneceu indiferente.
Não tendo outra escolha, ele encerrou a convocação mais cedo para preservar sua espiritualidade.
Ele começou a refletir sobre o assunto.
“Não consigo me comunicar com aquele cara…”
“Sujeito à contratação não significa que possa se comunicar…”
Com essa percepção, Lumian modificou o segundo encantamento de invocação para “Uma criatura amigável com a qual se pode conversar.”
Ser capaz de se comunicar significava poder fazer pedidos!
Desta vez, um caracol colossal emergiu das chamas verde-escuras.
— Olá. — Lumian tentou cumprimentá-lo em Intisiano.
O caracol emitiu uma voz etérea.
— Olá, qual é o problema?
Também falava Intisiano.
— Você pode me ajudar a escrever uma carta? — Lumian ficou muito feliz.
O caracol respondeu em tom preocupado: — Mas eu não tenho mãos.
Lumian não teve escolha senão encerrar a convocação.
Depois de alguma consideração, ele mudou a frase “fraco e proficiente em Intisiano” para “fraco que consegue escrever Intisiano”.
“Consegue escrever” abrangia tanto o conhecimento como os requisitos físicos necessários.
Em pouco tempo, Lumian completou sua terceira convocação.
Ele viu uma criatura transparente parecida com um coelho.
— Você pode me ajudar a escrever uma carta? — Lumian perguntou com intensa expectativa.
O coelho assentiu, pegou a caneta que estava sobre a mesa e escreveu uma palavra Intisiana no papel.
“Uma letra.”
Os lábios de Lumian se contraíram.
“Esta criatura não parecia muito inteligente.”
Com determinação, Lumian pegou papel e caneta e rabiscou um pedido de ajuda, incluindo o retrato de Susanna Mattise, detalhes sobre o sonho molhado, a morte de Madame Alice e a prisão de Charlie.
Então, ele disse ao coelho, — Copie!
O coelho pegou a caneta-tinteiro e transcreveu-a diligentemente.
Logo, terminou sua tarefa.
Lumian examinou-o e acenou com a cabeça satisfeito.
No segundo seguinte, seu sorriso congelou.
O idiota não apenas copiou todo o conteúdo da carta, mas também replicou sua caligrafia.
Ou seja, Lumian escreveu a carta!
Lumian respirou fundo e exalou lentamente. Ele apontou para a Novel Semanal e disse: — Copie nessa fonte.
O coelho assentiu lentamente e reescreveu sem reclamar.
Poucos minutos depois, Lumian recebeu um pedido de ajuda aparentemente impresso.