Charlie ficou pasmo e respondeu inconscientemente: — Sem problemas.
Somente quando Lumian apresentou as notas de 50 verl d’or ele voltou à realidade. Ele espiou cautelosamente pela porta.
A luz do entardecer estava desaparecendo e, ao contrário do segundo andar, o quinto andar tinha grandes varandas em ambos os lados, lançando sombras profundas. Era como se a noite já tivesse chegado.
Vendo o corredor vazio, Charlie deu um suspiro de alívio. Ele baixou a voz e perguntou a Lumian: — Você enganou alguém para que comprasse o colar falso por 1.000 verl d’or?
— Você entendeu duas coisas erradas. — Lumian sorriu e entregou a pilha de notas de 50 verl d’or para Charlie. — Primeiro, eu não enganei ninguém.
— Então quem comprou? — Charlie questionou, intrigado enquanto instintivamente pegava a mistura das notas de 1 e 5 verl d’or.
O sorriso de Lumian se alargou.
— Savoie Mob.
Ao ouvir isso, Charlie quase deixou cair as notas em suas mãos.
Ele olhou para Lumian aterrorizado e deixou escapar: — Você está louco?
— Eles matam pessoas. Pessoas desaparecem o tempo todo na Rue Anarchie!
Lumian sorriu e respondeu: — Em segundo lugar, não foi um golpe.
— O quê? — Charlie não conseguiu seguir a lógica de Lumian.
Lumian esclareceu, ainda sorrindo: — Eles sabiam que o colar era falso, mas ainda assim desembolsaram mais de 1.000 verl d’or.
“Impossível,” pensou Charlie, certo de que era uma piada.
“O Savoie Mob podia ser implacável, mas não era idiota. Por que eles pagariam 1.000 verl d’or por um colar falso que vale apenas 50 verl d’or?”
Então, um pensamento selvagem passou pela cabeça de Charlie.
— Você não tomou o lugar de líder do Savoie Mob, não é?
Isso seria ainda mais insano!
Lumian sorriu novamente.
— Relaxe. O Barão Brignais e eu chegamos a um acordo por meio de uma conversa amigável.
— Não se preocupe. Não haverá nenhum problema no futuro.
— Então, você quer os 50 verl d’or ou não?
“Uma conversa amigável com o Barão Brignais…” Charlie sentiu como se não conhecesse o homem que estava diante dele.
Considerando sua própria situação financeira, ele pegou os 50 verl d’or e murmurou:
— Obrigado.
Lumian acenou com a cabeça com um sorriso e se virou para ir embora.
Naquele instante, Charlie compreendeu o quadro completo e deixou escapar: — Você se juntou ao Savoie Mob?
Lumian não se virou. Ele acenou com a mão e respondeu: — Isso mesmo.
Charlie abriu a boca para falar, mas nenhuma palavra saiu. Observou a silhueta de Lumian desaparecer na escuridão lá fora e desaparecer na escada sombria.
…
Ao retornar ao quarto 207, Lumian, logo após tirar o disfarce e pronto para procurar uma refeição saborosa, escutou uma série de ofensas familiares vinda do quarto andar.
— Se você acha que esse dinheiro é fácil, você pode deitar e ganhá-lo sozinho!
— Covarde inútil. Um desgraçado sem pau; tudo o que você ousa fazer é intimidar as mulheres!
— Mande sua mãe para mim se tiver coragem!
— …
Lumian ouviu por alguns segundos e rapidamente deduziu que Wilson, do Poison Spur Mob, tinha vindo a Ethans com sua tripulação para coletar “dinheiro de proteção”.
Um sorriso se espalhou por seu rosto.
No instante seguinte, Lumian vestiu um boné azul escuro, saiu do quarto 207 e dirigiu-se ao quarto andar.
Antes que pudesse chegar ao quarto 408, ouviu o estalo agudo de um tapa seguido pelos xingamentos e lutas ainda mais veementes de Ethans.
Os inquilinos deste andar fecharam bem as portas de madeira, sem ousar sair.
Com uma das mãos no bolso, Lumian chegou à porta do quarto 408. A primeira coisa que notou foi a presença de dois capangas.
Eles estavam vestidos com jaquetas escuras, bloqueando a porta.
Neste momento, as maldições de Ethans se misturaram com soluços e gritos.
— Seus filhos da puta!
— Eu te amaldiçoo!
— Vou arrancar seus paus!
Lumian ergueu uma sobrancelha e se aproximou dos dois bandidos que estavam na porta.
— O que você quer? — um deles rosnou.
Lumian não respondeu. Em vez disso, deu um passo repentino à frente, estendendo a mão para agarrá-los.
Seus movimentos foram tão rápidos que ele segurou os dois bandidos pela nuca antes que pudessem reagir.
Lumian aplicou força, batendo seus crânios.
Com um baque nauseante, suas testas se chocaram, os olhos rolaram para trás e eles caíram no chão.
Enquanto abriam caminho, Lumian vislumbrou a cena dentro da sala.
Ethans, com seus cabelos loiros e feições delicadas em desordem, estava deitada na cama. Seu vestido estava rasgado, seu rosto visivelmente machucado e inchado. Wilson, com seu cabelo castanho encaracolado e rosto profundamente enrugado e zombeteiro, embolsava uma pilha de notas. Com o cinto desafivelado, outro bandido segurava Ethans.
Sentindo a perturbação na porta, o líder do Poison Spur Mob rapidamente pegou seu cinto e olhou para fora.
Lá ele viu Lumian, enxugando casualmente as mãos e passando por cima de seus dois camaradas caídos.
Sem dar a Wilson chance de falar, Lumian sorriu e disse: — Ninguém lhe contou que o Auberge du Coq Doré está agora sob a proteção do Savoie Mob?
No meio da frase, ele avançou, dando um soco antes que Wilson pudesse apertar o cinto.
Wilson se esquivou apressadamente e afivelou o cinto.
Simultaneamente, seus olhos se estreitaram quando se fixaram em Lumian.
Lumian de repente sentiu uma onda de medo.
Era o medo desenfreado de uma pessoa comum diante de um vilão ou bandido. Wilson manifestou tais emoções!
No entanto, mesmo sendo uma pessoa comum, Lumian não se deixava intimidar por vilões que não ousariam revidar. Como vagabundo, sempre acreditou em fugir e se render, se possível. Caso contrário, arrastaria a outra parte com ele. Agora, como Beyonder da Sequência 8, ele era ainda mais destemido.
“Outro Beyonder?” Lumian aproveitou a intensidade de seu medo para lutar contra Wilson e liberar suas habilidades de combate corpo a corpo.
Suas mãos, cotovelos, joelhos e pés se transformaram em armas, dominando Wilson, que mal havia afivelado o cinto.
Enquanto os sons de sua luta enchiam o ar, outro bandido entrou em ação. Ele agarrou uma cadeira na sala, pronto para esmagá-la nas costas de Lumian.
Mas Lumian torceu a parte superior do corpo como uma serpente, circulando atrás de Wilson.
Bang! A cadeira atingiu a cabeça de Wilson, fazendo-o cambalear.
Com um estrondo, a cadeira já comprometida se estilhaçou.
Lumian enrolou o corpo como uma mola e levantou a perna direita.
Seu calcanhar atingiu a parte inferior do abdômen do bandido com extrema precisão, provocando um gemido abafado.
Os olhos do bandido se arregalaram quando agarrou a virilha e caiu no chão. Ele se contorcia de dor, mas não conseguia emitir nenhum som, como um galo com o pescoço estrangulado.
Quando o pé direito de Lumian balançou para trás, seu braço avançou, atingindo o peito de Wilson.
Incapaz de se esquivar, Wilson ouviu o estalo de suas costelas quebrando.
Antes que seu oponente pudesse se recuperar da dor, Lumian agarrou seus braços e puxou-o para mais perto.
Pfft!
Um joelho no peito o cumprimentou.
O rosto de Wilson empalideceu e seu corpo se dobrou.
Lumian cerrou os punhos e bateu nas costas de Wilson.
Plop! Wilson caiu no chão.
Lumian aproveitou a oportunidade, atacando-o. Ele prendeu os braços de Wilson atrás das costas e pressionou os joelhos contra a coluna.
— Achei que você fosse um cara durão, — provocou Lumian. — Acontece que você não conseguiu durar nem dez segundos.
Com base em sua avaliação, Wilson estava apenas na Sequência 9, uma Sequência que focava mais no combate e no aprimoramento físico. No entanto, não tinha certeza de qual caminho ele pertencia.
Wilson, provocado e enfurecido, lutou com todas as suas forças, mas não conseguiu se libertar das garras de Lumian.
Lumian olhou para a espantada Ethans e riu de Wilson e dos bandidos incapacitados.
— Volte e diga aos seus chefes que este é o território de Ciel. Se você tiver algum assunto a tratar, fique à vontade para procurar nosso Savoie Mob!
— Você é um homem morto! — Wilson rosnou.
Lumian sorriu, respondendo: — Não tenho certeza se vou morrer, mas é você quem está perto dela agora.
— Você se atreve a me matar na frente de tantas testemunhas? — Wilson zombou.
Lumian não disse nada. Ele apertou ainda mais e um estalo nauseante ecoou na sala.
Wilson soltou um grito arrepiante, gotas de suor frio do tamanho de feijões brotaram em sua testa.
Seu braço estava quebrado!
Lumian o ergueu e pulou na mesa de madeira de Ethans. Ele abriu a janela e pendurou Wilson na parede externa.
Olhando para o beco deserto, Lumian sorriu para Wilson e provocou: — Tente adivinhar. Você acha que me atrevo a te soltar?
Wilson olhou para a calçada a mais de dez metros abaixo e lembrou-se de quão resoluto a outra parte foi quando disse que quebraria seu braço. Por um momento, ele não ousou responder.
Só então, Lumian soltou o aperto.
— Ainda não respondi! — O corpo de Wilson mergulhou em puro terror.
Sem outra opção, ele tentou desesperadamente ajustar sua postura para proteger seus sinais vitais.
Plaft!
Ele atingiu o chão com um baque nauseante, sua carne instantaneamente mutilada em vários lugares.
Lumian observou por alguns segundos antes de rir.
— Que coisa ein. Você ainda está vivo. Seu apelido é Cocô de Pombo da Rue Anarchie?
Ignorando Wilson, ele pulou da mesa de madeira e se dirigiu aos três bandidos que lutavam para se levantar: — Vocês ouviram o que acabei de dizer?
Os três bandidos assentiram com medo e se viraram para fugir.
— Espere, — Lumian gritou para eles.
Os três bandidos congelaram no local, seus corpos tremendo ligeiramente.
Lumian apontou para a cadeira quebrada e sorriu.
— Vocês não vão compensar o dano?
Os três bandidos retiraram apressadamente todas as notas que tinham e as jogaram no chão.
Com o aceno de aprovação de Lumian, eles saíram do quarto 408.
Ethans ficou olhando fixamente o tempo todo, apenas lembrando das palavras de que este lugar havia sido tomado pelo Savoie Mob.
Então, ela percebeu que Ciel, do Savoie Mob, não a havia informado sobre quanto ela deveria pagar ou com que frequência deveria pagar no futuro. Ele nem sequer olhou para ela enquanto caminhava direto para a porta.
Ethans instintivamente abriu a boca, querendo perguntar algo, mas hesitou, temendo que o Poison Spur Mob pudesse retaliar. Ela observou a figura de Lumian desaparecer na escuridão além da porta.