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Circle of Inevitability – Capítulo 152

“Confiança”

Os ossos de Charlie tremeram quando as palavras de Lumian chegaram aos seus ouvidos.

— E-então você está dizendo que não quer que se espalhe a notícia de que você se juntou ao Savoie Mob?

Charlie tinha visto os líderes do Savoie Mob, Poison Spur Mob e o resto; seus nomes tinham peso no bairro comercial da Rue Anarchie. No entanto, por mais notórios que fossem, a lei nunca pareceu tocá-los.

Lumian deu um lento gole em seu Whiskey Azedo, seu sorriso retornando.

— Está tudo bem. Pense duas vezes antes de falar, só isso.

Embora Lumian tivesse se infiltrado na Savoie Mob, ele estava longe de reivindicar o título de líder. Ele não conhecia os segredos mais profundos da gangue, não tinha um bando de bandidos à sua disposição e tudo o que tinha para mostrar era o lixão degradado que chamavam de Auberge du Coq Doré.

Então Lumian estava de olho no caminho rápido para a infâmia, ansioso para subir na hierarquia da gangue e cumprir a missão do Sr. K.

Uma missão que envolvia ganhar a confiança e o favor do Sr. K e, eventualmente, encontrar um lugar na organização por trás dele — tudo para completar a tarefa dada pela Madame Mágica.

“Há algo estranho nisso tudo…” Lumian pensou, acariciando o queixo com a mão esquerda.

Charlie, ao seu lado, perguntou hesitante: — Sobre o que exatamente devo ficar calado?

Ele tinha seus palpites, mas não queria correr o risco de irritar o fora da lei Ciel por não cobrir todas as bases.

O sorriso de Lumian não vacilou quando ele se virou para Charlie.

— Evite discutir qualquer coisa ligada a Susanna Mattise. Isso inclui qualquer menção às ameaças que fiz a ela, ou aquela vez em que me passei por advogado para entrar na delegacia para falar com você.

Ele pretendia avisar Charlie sobre isso, mas não encontrou o momento certo.

— Entendi. — Charlie visivelmente relaxou. — Sabe, eu estava pensando em contar aos caras do bar sobre a vez em que expulsamos Wilson daquele motel…

O hobby número um de Charlie era presentear a multidão com suas façanhas.

Mas os olhos de Lumian ficaram tempestuosos com suas palavras.

Seu instinto lhe dizia que Charlie estava prestes a se meter em algum pequeno problema, mas não seria nada com risco de vida.

“Em teoria, não tem nada a ver com Susanna Mattise. Se assim fosse, não seria apenas um problema, seria um desastre… Suponho que posso parar de me preocupar com Susanna Mattise por um tempo, mas por quanto tempo?” Lumian refletiu sobre a sensação de azar.

Ele percebeu que, a menos que alguém fosse extremamente azarado ou sortudo, ou se o perigo estivesse prestes a atacar, ele precisava se concentrar para perceber a sorte geral de uma pessoa através de sua intuição.

Era diferente do senso de perigo de um Caçador. Nem sempre foi ativado passivamente.

A voz de Charlie começou a desaparecer enquanto ele falava. Ele se virou para Lumian e perguntou: — Por que você está me olhando desse jeito?

Ele estava meio que esperando que Ciel fizesse uma pegadinha.

Lumian zombou.

— Você pode querer passar pela catedral do Eterno Sol Ardente mais próxima e fazer uma oração. Tenho a sensação de que você está prestes a passar por uma fase difícil.

Seu tom refletia o de Osta Trul, o vigarista.

— Que tipo de situação difícil? — Charlie perguntou, sua voz afiada.

Então ele percebeu. — Como você sabe?

— Tenho um palpite, — respondeu Lumian, com um sorriso malicioso nos lábios.

“Claro, é uma piada…” Charlie soltou um suspiro de alívio.

— Espero que sua previsão esteja errada, então.

— Pelo contrário, eu não poderia estar mais certo. — As palavras de Lumian eram sólidas como uma rocha.

Charlie semicerrou os olhos para ele, a suspeita gravada em seu rosto.

Lumian soltou uma risada baixa.

— E se eu estiver errado, vou te dar uma surra. Dessa forma, mesmo que algo ruim aconteça, isso só prova que estou mais certo.

— … — Charlie ficou sem palavras.

“Isso é mesmo permitido?”

“Independentemente disso, esta abordagem pode ser útil para algumas piadas com algumas pequenas modificações…”

Lumian estava prestes a se levantar quando notou um vira-lata magro e sarnento vindo da rua sombria em direção ao Auberge du Coq Doré, olhando para o lixo que havia jogado do carrinho do vendedor de frutas.

O vira-lata movia-se com cuidado, ciente de que muitos dos moradores indigentes o transformariam alegremente em jantar.

Só então, Lumian avançou, pressionando o pescoço do cachorro no chão.

Pego de surpresa, o vira-lata se contorceu impotente, mostrando os dentes em uma tentativa inútil de morder, mas sua cabeça estava imóvel.

Com a mão livre, Lumian tirou um pequeno frasco de pó de tulipa, esvaziando o conteúdo no bolso.

Então, segurou o frasco na boca espumosa do vira-lata, coletando a saliva enquanto o cachorro se contorcia.

Logo, ele tinha cinco mililitros. Ele soltou o aperto e se levantou.

O vira-lata, pronto para atacá-lo, choramingou e saiu correndo, o rabo enfiado entre as pernas, quando Lumian lançou-lhe um olhar ameaçador.

Charlie, que estava parado, ficou pasmo.

Uma história que ele ouviu uma vez voltou para sua memória.

O protagonista da história costumava descrever a crueldade do vilão com uma frase escrita pela autora de best-sellers Aurore Lee: Ele chutaria qualquer cachorro que cruzasse seu caminho!

Lumian engoliu o resto de seu Whiskey Azedo e foi para o motel.

Ao passar pela recepção, a perpetuamente mal-humorada Madame Fels forçou um sorriso.

— Bom dia, Ciel… Monsieur Ciel.

Lumian lançou um olhar de soslaio para a rechonchuda Madame Fels e perguntou com indiferença: — Nenhum sinal de Monsieur Ive hoje também?

Monsieur Ive, proprietário do Auberge du Coq Doré, era conhecido em toda a Rue Anarchie por seu jeito mesquinho.

Como novo guardião do Auberge du Coq Doré, Lumian achou que deveria dar uma palavrinha com Monsieur Ive, só para ter certeza de que ele não correria chorando para a polícia, com medo de que o Savoie Mob o sacudisse por mais dinheiro.

Madame Fels franziu os lábios.

— Por mais mesquinho que seja, pagando apenas por uma equipe de limpeza semanal, ele é um defensor da limpeza e não seria pego morto no motel.

— Quem limpa a casa dele? — Lumian perguntou, com uma pitada de diversão em sua voz.

— Ele é viúvo. Ele e seus dois filhos cuidam disso. — Madame Fels zombou.

Se fosse ela quem tivesse tanto dinheiro e ainda por cima um motel, contrataria alguém para cuidar dessas tarefas. Ela apenas sentaria e aproveitaria a vida.

Lumian assentiu e riu.

— Percebi que ele não apareceu depois da limpeza na segunda-feira. Ele ainda está vivo?

Madame Fels respondeu, com uma pitada de medo em sua voz: — Eu o visito três vezes por semana para entregar os ganhos do motel e várias contas. Vou avisá-lo que você quer vê-lo.

Ela confundiu as palavras de Lumian com uma ameaça velada a Monsieur Ive. Se ele não se encontrasse logo com o novo guardião do Auberge du Coq Doré, sua sobrevivência poderia estar em jogo.

Lumian não se preocupou em esclarecer. Subiu as escadas até seu quarto no segundo andar. Debaixo do travesseiro, ele encontrou o dedo do Sr. K e o colocou de volta no bolso.

Depois de lidar com o pó de tulipa, ele planejou pegar alguns recipientes para os ingredientes que precisava reunir em seguida. Mas então, uma batida na porta interrompeu seus pensamentos.

Lumian abriu a porta, curioso, não reconheceu os passos.

Na porta estava um homem de cerca de quarenta anos, vestindo uma jaqueta escura, calças marrons surradas e um chapéu de algodão sujo. Ele sorriu, perguntando: — Este é Monsieur Ciel?

— Quem mais seria? Uma madame? — Lumian respondeu, seus olhos observando a aparência, expressão e linguagem corporal do homem.

Seu cabelo castanho, embora ligeiramente oleoso, estava bem penteado. Seus olhos castanho-escuros continham um toque de bajulação e seus lábios estavam vincados com a repetição trabalhosa de sorrir. Ele tinha um ar afável, mas havia nele uma astúcia inconfundível.

— Sim, sim, sim, — o homem repetiu as palavras de Lumian.

As sobrancelhas de Lumian se contraíram.

— E quem pode ser voce?

— Sou Fitz, do quarto 401. Empresário falido, — o homem se apresentou com um sorriso simpático.

Sem esperar que Lumian pressionasse mais, ele desabafou.

— Fui à falência por causa de um golpe que me custou 100.000 verl d’or. Tenho viajado entre Trier e Suhit há mais de uma década, economizando. Queria me estabelecer, começar uma família, mas então esse vigarista me roubou tudo, prometendo um consórcio.

— Se você me ajudar a recuperar esse dinheiro, estou disposto a abrir mão de 30%, não, 50%!

Lumian não convidou Fitz para entrar no quarto. Encostado no batente da porta, de braços cruzados, ele perguntou: — Por que você não foi atrás daquele dinheiro com Margot ou Wilson antes?

Não era como se eles exigissem um pagamento adiantado.

Fitz não fez rodeios.

— Eu procurei Margot. Ele concordou inicialmente, mas um dia simplesmente disse que não era possível recuperar o dinheiro.

“Mesmo o Poison Spur Mob não conseguiu recuperá-lo? O vigarista estava falido ou apoiado por alguém que fez o Poison Spur Mob agir com cautela?” Lumian, que até então estava apenas parcialmente interessado, inclinou-se. — Margot disse por quê?

Fitz balançou a cabeça. — Não, mas certamente não é porque Timmons está falido. Seu salão de dança no Quartier de l’Observatoire está imprimindo dinheiro!

“Timmons…” Lumian suspeitava que o vigarista tinha um apoio poderoso ou estava protegido por uma figura de alto escalão, o que fez com que o Poison Spur Mob se preocupasse em pressioná-lo por reembolso.

Ou talvez o próprio Timmons fosse sua força.

— Então por que você acha que posso recuperar seu dinheiro? — Lumian perguntou a Fitz, com um sorriso malicioso em seus lábios.

Fitz ponderou por um momento antes de explicar tudo.

— Você é mais implacável do que Margot. Além disso, mesmo que decida não prosseguir com sua investigação, não tenho nada a perder.

— Sem esse dinheiro, não posso pagar um centavo.

— Honesto até demais. — Lumian assentiu, apreciando a franqueza. — Vou investigar isso, mas não tenha muitas esperanças.

Se Timmons estava simplesmente blefando e conseguiu assustar o Poison Spur Mob, a perspectiva de embolsar facilmente 50.000 verl d’or era tentadora para qualquer um.

Fitz, o empresário falido, estava apostando às cegas. Com um aceno de segurança de Lumian, ele agradeceu e saiu do segundo andar.

Naquele momento, Lumian percebeu que sua espiritualidade havia se recuperado consideravelmente. A quantia recuperada superou suas reservas espirituais originais.

“O Monge da Esmola impulsionou significativamente a minha espiritualidade. Na Sequência 8, posso rivalizar com a espiritualidade de outros caminhos…” Lumian refletiu calmamente.

Simultaneamente, ele se lembrou de uma sensação estranha que experimentou enquanto tomava um gole de Whiskey.

Se ele escolhesse viver na pobreza, praticasse o autocontrole, se abstivesse de álcool, evitasse o desperdício, pedisse esmolas e pregasse, tudo isso adotando o comportamento de um monge ascético, ele provavelmente experimentaria um aprimoramento em seu senso intuitivo de destino e na probabilidade de sucesso de seus cinco feitiços ritualísticos.

Mesmo assim, Lumian não tinha intenção de seguir esse caminho. Ele acreditava que isso o transformaria em uma imagem espelhada de um Favorecido, 1 fundindo gradualmente sua identidade com a dele.

Afastando seus pensamentos introspectivos, Lumian saiu da sala, indo direto para Salle de Bal Brise. Seu próximo passo era solicitar a ajuda do Savoie Mob para reunir os ingredientes restantes e os recipientes certos necessários para o Feitiço da Profecia.

Ele teve que aproveitar todas as oportunidades à sua disposição!


Nota:

[1] Vamos lá, precisamos conversar: Abençoado = Pessoa escolhida por uma divindade e recebe características de beyonder. Favorecido = Não recebe características.

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