As circunstâncias da rápida recuperação de Wilson foram repletas de incerteza. Lumian brincou com a ideia de que era o trabalho de um “Médico”, Sequência 8 do caminho do Plantador, ou de um “Boticário”, Sequência 9 do caminho vizinho. Mesmo assim, seu coração se apegava à esperança de desmascarar Madame Pualis e seus subordinados.
Se ele tivesse montado o quebra-cabeça mais cedo e se Wilson e sua gangue não tivessem se afastado muito, Lumian teria se jogado da carruagem pública em movimento, seguindo seu encalço. Ele imaginou levar Wilson para alguma caverna clandestina, pressionando-o por respostas sobre sua recuperação milagrosa.
Se esta saga não tivesse nenhuma ligação com o deus maligno que Madame Pualis reverenciava, Lumian estava preparado para engolir seu orgulho e pedir desculpas a Wilson, que, por sua vez, ficaria devendo a vida a Lumian por não silenciá-lo permanentemente.
Mas apagá-lo também estava em jogo. A iniciativa estava com Lumian.
Quando a carruagem parou na estação, Lumian foi o primeiro a descer, refazendo seus passos até o beco onde Wilson e sua tripulação haviam desaparecido.
Não existiam barricadas aqui. Era um lugar movimentado, com pessoas indo e vindo constantemente. Wilson e sua gangue não deixaram nenhum rastro claro. Lumian dedicou um meticuloso quarto de hora tentando discernir quaisquer sinais deles, finalmente admitindo a derrota.
Mas ele não foi abatido. Wilson pode ter escapado por entre os dedos, mas houve outros como Will ou Williamson. O Poison Spur Mob era uma espécie de hidra, com uma infinidade de líderes apenas um degrau acima de Wilson. Cada um tinha seu próprio território, seus próprios negócios. Eles poderiam correr, mas não poderiam se esconder. Lumian só precisava de paciência. Mais cedo ou mais tarde, cruzaria o caminho de um ou dois deles. E eles, sem dúvida, estavam mais intimamente envolvidos com as forças sombrias que controlavam o Poison Spur Mob do que Wilson. Eles sabiam mais!
Fuuuu… Respirando fundo, Lumian lutou contra sua impaciência até a submissão, decidindo ficar quieto e observar por um tempo antes de inventar uma estratégia de caça.
Se o Poison Spur Mob realmente estava entrelaçado com o deus maligno que a Madame Pualis adorava, então os líderes no mesmo nível de Margot eram da Sequência 8, dotados de características de Beyonder, ou eram descendentes de um deus maligno, dotados de benefícios semelhantes a um Sequência 8 ou além. Se Lumian não se munisse de informações suficientes e não armasse uma armadilha apropriada, provavelmente acabaria no lado perdedor.
“Não posso esquecer que sou um Caçador só porque me tornei um Provocador.” Repreendendo-se, Lumian desceu a Avenue du Marché e entrou no Salle de Bal Brise.
Dado que mal passava das três da tarde, o local estava praticamente deserto. Nenhuma música tocava, ninguém dançava. Seus olhos imediatamente encontraram Louis, o bandido, segurando um copo de cerveja de romã no balcão do bar.
— Refrigerante? — Lumian sorriu, aproximando-se. — Que tal beber algo que um adulto beberia?
Louis girou, encontrando o sorriso amável de Ciel no balcão do bar.
A visão o deixou momentaneamente atordoado, como se ele não conseguisse identificar o jovem diante dele.
Era este o mesmo Ciel que mascarou sua crueldade selvagem atrás de um sorriso constante, alguém que recorreu à violência ao menor desacordo?
Ele parecia mais um novato, um ingênuo garoto do interior que acabara de ser incluído no Savoie Mob.
Louis deu um giro melancólico em seu refrigerante, um sorriso amargo aparecendo em seus lábios.
— Tenho que estar ao lado do barão mais tarde. Não posso me dar ao luxo de ficar bêbado.
Os olhos de Lumian se voltaram para o machucado na testa de Louis, uma risada apareceu. Ele apontou para a testa, comentando: — Ainda cuidando disso? Há quanto tempo?
— Encontrei Wilson mais cedo. Depois que quebrei seu braço e o joguei do quarto andar, você pensaria que ele estaria acamado. Mas ele parecia perfeitamente bem.
Luís ficou surpreso.
— Você está dizendo que Wilson está de pé?
— Parece que sim, pelo menos superficialmente. Queria dizer olá, mas ele saiu de lá rápido demais. — O tom de Lumian carregava uma pitada de arrependimento.
“Dizer olá? É mais como se você quisesse agredir Wilson de novo e nem mesmo dar ao cara uma chance de se curar, — Louis pensou, mas não ousou expressar isso.
Seu rosto assumiu uma expressão séria enquanto murmurava para si mesmo: — Quando entramos em confronto com o Poison Spur Mob no passado, seus feridos sempre se recuperavam em apenas alguns dias. Mas para alguém como Wilson se recuperar tão rapidamente de ferimentos tão graves… isso é inédito.
— Será que vocês nunca conseguiram prejudicar seriamente nenhum dos membros do Poison Spur Mob? — A voz de Lumian estava cheia de zombaria.
Louis ponderou, então admitiu: — Houve alguns, mas não muitos. Além disso, geralmente não os vemos novamente por um bom tempo. A essa altura, eles estão todos curados.
“Então, a recuperação de Wilson supera até mesmo os poderes de Beyonder do Doutor e do Boticário?” Lumian conseguiu extrair uma informação crucial das palavras de Louis.
Embora pudesse apontar para um Beyonder de Sequência superior no caminho correspondente, pelo menos restringia algumas possibilidades para ele.
No momento em que Lumian estava se preparando para investigar o progresso na coleta de ingredientes da mistura, uma pessoa impressionante entrou na sala.
Uma mulher, vestida ostensivamente, com os cabelos castanhos amarrados, mechas soltas emoldurando as orelhas, as bochechas e caindo pelas costas.
Seu rosto estava polvilhado com pó, delineador preto acentuando seus olhos azuis, conferindo-lhes um fascínio profundo e decadente.
No momento, ela usava um ousado vestido vermelho que deixava pouco para a imaginação, com acessórios refletindo a luz em pontos estratégicos.
“Não é esta a cantora conhecida por suas canções obscenas no Salle de Gristmill do Poison Spur Mob?” Lumian ficou surpreso.
Este era o Salle de Bal Brise do Savoie Mob!
Ainda assim, Lumian não tinha certeza se era a mesma mulher. A cantora tinha uma verruga nos lábios, enquanto esta mulher exibia uma no canto do olho esquerdo.
— Chamando sua atenção, não é? Aquela ‘Pequena Atrevida’? — Louis seguiu o olhar de Lumian.
Lumian riu. — Que tal usarmos um apelido mais respeitoso? Boas maneiras são importantes.
— Você às vezes parece o barão, — Louis refletiu. — Seu nome artístico é ‘Pequena Atrevida’, ‘Pequena Atrevida’ Jenna. Ela é conhecida como ‘Encantadora Diva’.
— E o que exatamente é uma ‘Encantadora Diva’? — Lumian não tentou encobrir sua ignorância. Afinal, ele era um recém-chegado a Trier, vindo direto de um lugar atrasado como Cordu.
Louis levou um momento para relembrar as palavras do barão e então disse suavemente: — É tudo uma questão de seu estilo de atuação, sua atuação, suas roupas extravagantes. Ela é uma cantora de destaque.
“Ela também é cantora?” Lumian indagou: — Ela também se apresenta no Salle de Gristmill?
— Claro que sim. Desde que seja paga, ela cantará músicas em qualquer salão de dança da Rue Anarchie. — Enquanto Louis falava, Pequena Atrevida, Jenna, se aproximou.
Seus olhos azuis percorreram a sala, demorando-se em Lumian antes de se mudarem para Louis.
— Dez músicas, quatro verl d’or. Vou ficar com um terço das gorjetas jogadas no palco.
— Ok. — Louis teve a aprovação do barão.
“Apenas 4 verl d’or para uma apresentação noturna?” Lumian se viu questionando. Ele pagou demais a Osta Trul?
Em território desconhecido, ele estava lamentavelmente fora de sintonia com as taxas vigentes.
Vendo seu olhar persistente, Jenna girou a cabeça, lançando-lhe um sorriso.
— Sinta-se à vontade para deixar seus olhos vagarem um pouco mais para baixo.
Ela estava se referindo ao seu peito seminu.
Para Lumian, cuja única exposição a tais cenários era através de novels, este era um território desconhecido. No entanto, seu rosto não traía nenhum desconforto. Abrindo um sorriso, ele disse:
— Eu estava apenas pensando. A última vez que vi você, sua verruga estava perto de seus lábios. Agora está aninhada perto de seu olho.
A resposta de Jenna veio na forma de um sorriso cativante, que fez Louis engolir em seco.
— Você é de fora da cidade? — Jenna perguntou.
Lumian balançou a cabeça em afirmação.
Com um sorriso brincalhão, Jenna se inclinou, um dedo traçando sua bochecha enquanto ela explicava suavemente:
— Está na moda aqui em Trier. As mulheres costumam usar uma pinta falsa. Bem no meio da bochecha para elegância, bem no meio do nariz para audácia, nos cantos dos olhos para paixão, perto dos lábios para fascínio, e aninhado no decote para ‘segredos’…
Enquanto falava, ela enviou uma piscadela atrevida para Lumian, como se dissesse: — Hoje o que importa é paixão.
“Ah, Trier…” Lumian só conseguiu balançar a cabeça, surpreso.
Dada a proximidade deles, a mistura inebriante do perfume natural de Jenna e o perfume inebriante que ela usava invadiu seus sentidos.
Isso levou Lumian a esfregar instintivamente o nariz.
A reação de Jenna foi imediata.
— Não me diga que você ainda é virgem? Eu não sou uma garota de rua, mas para você, posso abrir uma exceção.
Ela parou um momento para avaliar Lumian, aparentemente satisfeita com o que viu.
“Virgem? Algo que retorna magicamente todas as manhãs às 6 da manhã?” Lumian zombou interiormente, seu sorriso indiferente.
— Agora? Receio que você possa perder sua apresentação hoje à noite.
De volta ao Antigo Bar, em Cordu, Lumian muitas vezes tinha que igualar os habitantes locais em sua grosseria, caso contrário se tornaria alvo de suas piadas.
A resposta de Jenna foi uma risada calorosa e um aceno de mão desdenhoso.
— Eu vou te encontrar depois da minha apresentação hoje à noite.
Com isso, ela caminhou em direção ao modesto palco de madeira na frente da pista de dança, ansiosa para conhecer o lugar.
“Ela não está se precipitando um pouco? Onde está o acordo sobre hora e local?” Lumian pensou consigo mesmo.
Ela estava claramente apenas flertando!
Louis entrou na conversa, um tom de inveja colorindo sua voz, — Não caia na atuação dela. Ela adora brincar com homens bonitos. Ela realmente não segue em frente.
— Acho que ela é a namorada da Franca.
— Franca, ‘Botas Vermelhas’ Franca? — A surpresa de Lumian foi palpável.
“Botas Vermelhas”, Franca, era uma pessoa chave no Savoie Mob, governando a Rue des Blusas Blanches, e havia rumores de que era uma mulher.
— Exatamente, — afirmou Louis. — Franca parece ser a amante do chefe, mas ela parece balançar para os dois lados. Ela e ‘Pequena Atrevida’ são grossas como ladrões.
“Amante de uma amante…” Lumian mais uma vez ficou maravilhado com as peculiaridades de Trier.
Louis observou Jenna, agora balançando graciosamente no palco, com uma expressão de saudade gravada em seu rosto.
— Ela não era tão hipnotizante quando chegou ao distrito comercial. Nos últimos dois anos, tornou-se mais adepta da apresentação, mais feminina. Que pena…
— Se você conseguir subir na hierarquia e ficar cara a cara com a Botas Vermelhas, você pode ter uma chance, — brincou Lumian, alimentando a ambição de Louis. Ele então mudou de assunto: — Alguma sorte em rastrear os três itens que eu precisava?
Louis desviou o olhar de Jenna para responder: — Eu estava prestes a te contar, conseguimos reunir todos eles.
— Tão rápido? — Lumian ficou surpreso com a eficiência do Savoie Mob.
“Por que não abrir uma fábrica? Por que continuar com a vida da máfia?”
Louis elaborou: — ‘Rato’, Christo, mantém uma variedade de criaturas, algumas raras, outras nem tanto. Podemos comprar algumas dele pelo preço certo. Foi assim que conseguimos o olho do lagarto e o saco de veneno da cobra. A rocha do ninho da águia foi um bônus.
“‘Rato’, Christo, o responsável pelo contrabando?” Lumian refletiu sobre essa informação recém-descoberta.