Switch Mode
Participe do nosso grupo no Telegram https://t.me/+hWBjSu3JuOE2NDQx

Circle of Inevitability – Capítulo 158

"Relatório"

Enquanto ponderava sobre o aviso matinal de Ciel sobre um possível infortúnio, Charlie ficou pasmo. Na mesma tarde, perdeu a perspectiva de emprego que tanto esperava e até desperdiçou alguns verl d’or oferecendo uma rodada de bebidas. A ideia de tudo isso intensificou o peso sobre seus ombros.

O sorriso malicioso de Ciel o atingiu, e a voz de Charlie instintivamente caiu em silêncio.

— Você pode prever o futuro?

Sua previsão atingiu o alvo com uma precisão incrível!

— Eu não te contei? Apenas um palpite, — afirmou Lumian, sua mentira saiu suavemente de sua língua.

No entanto, não era totalmente falso. Era mais um palpite fundamentado, baseado nos padrões de sorte que ele percebeu. Era como elaborar o método depois de obter a resposta final.

A expressão de Charlie refletia sua descrença, mas ele não contestou a afirmação. Em vez disso, perguntou esperançosamente: — Minha maré de azar acabou?

Lumian se virou, focou seus olhos e se concentrou.

Seu rosto logo refletiu a seriedade de seus pensamentos.

Charlie, testemunhando a mudança de comportamento de Ciel, sentiu seu pulso acelerar e sua boca ficar seca de ansiedade.

— O que, o que está acontecendo?

Lumian apertou os lábios antes de afirmar: — Você está prestes a sofrer um desastre.

O semblante de Charlie vacilou, sua pele ficou pálida, um forte contraste com seu rubor anterior.

Lumian riu.

— Só estou brincando. Você pode não ter muita sorte por um tempo, mas também não será particularmente infeliz.

Sugeria que, mesmo que o problema com Susanna Mattise não tivesse sido totalmente resolvido, não aumentaria tão cedo.

Charlie não conseguiu entender as palavras de Lumian. — Sério?

— É complicado! Acredite se quiser. Não vou me preocupar se não acreditar, — comentou Lumian, pedindo um copo absinto de erva-doce com um sorriso desdenhoso.

O comportamento indiferente de Lumian ajudou Charlie a respirar com facilidade. Ele se sentou no banco do bar ao lado dele, bebendo sua cerveja de centeio.

— Eu pensei que toda a situação ainda não estava resolvida.

“Isso não está fora de questão…” Lumian não fez nenhum esforço para enervar Charlie ainda mais.

O olhar de Charlie pousou no topo do bar enquanto ele murmurava: — Sabe, naquele momento, eu queria ser um humilde faz-tudo e deixar o distrito comercial o mais rápido possível.

Lumian olhou em sua direção.

— Se o desastre estiver a caminho, você não será capaz de ultrapassá-lo, não importa para onde você se mude.

Uma amargura crua apareceu no rosto de Charlie.

Lumian sugeriu ainda: — Você também pode visitar a catedral do Eterno Sol Ardente mais próxima e orar mais.

— E, a propósito, jantei com nosso senhorio, Monsieur Ive, hoje. Ele pareceu um pouco estranho quando mencionamos o quarto 504 em nossa conversa, quase como se soubesse algo sobre o inquilino anterior, mas não estivesse interessado em compartilhar.

Charlie congelou por um momento antes de compreender a referência de Ciel.

Ele baixou a voz novamente. — Aquele que pendurou o retrato daquela mulher?

Lumian confirmou com um aceno lento e assertivo.

Charlie ficou quieto por um momento antes de murmurar: — Essa mulher tem alguma ligação com Monsieur Ive? Ele suspeita de algo estranho no retrato? Eu devo informar as autoridades. Vou para a catedral mais próxima ao amanhecer e falo com o padre…

“Nada mal. Alguns dias sob minha proteção e você é muito mais esperto que Louis do Savoie Mob. Você entendeu minha dica imediatamente…” Lumian ergueu o copo, tomando um gole do visualmente atraente líquido verde.

Lumian não conhecia bem os detalhes do Teatro da Velha Gaiola de Pombos, portanto a gravidade do problema era um mistério para ele. Qualquer investigação autoconduzida levaria pelo menos algumas semanas para reunir qualquer informação significativa. Mesmo assim, poderia não possuir os meios para lidar com isso. Como tal, a sua melhor ação era alertar as autoridades desde o início, permitindo-lhes tomar as rédeas.

Depois de tomar uma decisão, Charlie lançou um olhar dissimulado para Pavard Neeson, que estava absorto na arte da mixologia1. Confirmando que tinha toda a atenção do homem, ele se inclinou e sussurrou para Lumian: — Se eles questionarem a fonte das minhas informações, o que devo dizer?

— Basta dizer a eles que isso surgiu durante nossa conversa, — respondeu Lumian com franqueza.

Com Charlie abrindo a boca anteriormente, a polícia do Le Marché du Quartier du Gentleman sabia que o Auberge du Coq Doré estava sob a jurisdição de Ciel. Assim, era apenas uma questão de tempo até que Ciel e Monsieur Ive, o proprietário, se cruzassem durante uma refeição e conversa fiada.

Quando chegasse a hora, os Beyonders oficiais poderiam fazer perguntas casuais e verificar se tudo estava em ordem. Eles não teriam motivos para lançar suspeitas sobre Lumian.

— Tudo bem. — O comportamento de Charlie relaxou visivelmente.

Lumian saboreou outro gole de seu La Fée Verte antes de fazer uma pergunta: — Qual dos líderes do Poison Spur Mob você conhece?

Charlie já havia aludido aos líderes do Savoie Mob, do Poison Spur Mob e de várias outras gangues menores que tinham certa notoriedade no Le Marché du Quartier du Gentleman — o suficiente para assustar os jovens.

— O que você está planejando? — O semblante de Charlie iluminou-se de excitação.

— Pretendo fazer-lhes uma ou duas perguntas, — Lumian optou por enquadrar a questão da maneira mais cortês possível.

O entusiasmo de Charlie diminuiu um pouco, percebendo que não estaria a par de nenhum espetáculo.

— Além de Margot, conheço outros dois. Um é o ‘Martelo’ Ait. Ele frequentava regularmente o Le Marché du Quartier du Gentleman, mas tem frequentado a Rue Anarchie ultimamente. Depois, há Harman, sem qualquer apelido. Observei Margot em sua companhia em diversas ocasiões, mostrando-lhe considerável deferência. A propósito, ele é careca.

— O chefe do Poison Spur Mob é o ‘Escorpião Negro’ Roger. Ele parece residir em algum lugar na Avenue du March.

“Ganhar o respeito de Margot implica que o status e o poder de Harman dentro do Poison Spur Mob substituíram o seu… Talvez “Martelo” Ait tenha assumido o controle do Salle de Gristmill Rue Anarchie, daí suas aparições regulares aqui? — Lumian ponderou, voltando sua atenção para “Martelo” Ait.

Seu plano era acompanhar o líder da gangue nos dias seguintes, familiarizando-se com suas rotinas e comportamentos. Caso ele não conseguisse localizar Wilson no devido tempo, consideraria fazer de Ait um exemplo.

Depois de esvaziar o copo de absinto, Lumian e Charlie subiram as escadas.

Ao chegar ao quarto 207, Lumian notou uma caixa de madeira, adornada com o emblema pintado de preto do Savoie Mob — uma bala e uma adaga — colocada perto da entrada.

“Seriam os ingredientes enviados por Louis?” Lumian se abaixou para pegar a caixa, destrancando a porta do quarto.

Quando abriu a tampa, o fedor fétido de excrementos de pássaros subiu de uma pedra escura, acompanhado de um par de globos oculares, injetados de sangue e assustadores, e um saco de veneno, firmemente encerrado dentro de uma jarra de vidro.

Avenue du Marché estava banhada por um brilho amarelado graças às lâmpadas a gás.

Ive, o proprietário do Auberge du Coq Doré, estava guiando alguém em direção a um vagabundo, que dormia profundamente e com os olhos bem fechados.

— Aqui está minha moeda de prata! — ele pronunciou.

A pessoa atrás dele lançou um olhar cético para o vagabundo adormecido e perguntou: — Ele roubou você?

— Absolutamente não, — respondi com firme convicção. — As diferenças de altura, físico e até de roupas são muito significativas.

— Um ladrão que joga itens roubados para um vagabundo… esta situação é inegavelmente peculiar. — A pessoa, oscilando à beira do brilho da lâmpada, assentiu quase imperceptivelmente. — Devemos permanecer vigilantes, preparados para complicações imprevistas ou potenciais investigações.

Ive simplesmente acenou sua concordância, resmungando baixinho: — Se ele não tivesse jogado minha moeda de prata para esse vagabundo, poderíamos tê-lo rastreado diretamente.

Ele possuía a capacidade única de sentir a localização de seus pertences, mas apenas por um tempo limitado.

Na manhã seguinte, Lumian encontrou-se escondido no Auberge du Coq Doré, absorto no caderno de Aurore.

Ele precisava ficar de olho no “Martelo” Ait e seus companheiros, o que significava alterar sua rotina de estudos para a manhã. Esses gangsters só apareciam à tarde e suas aventuras noturnas terminavam nas primeiras horas da manhã.

Charlie havia partido de madrugada para a catedral do Eterno Sol Ardente mais próxima. Ao retornar, seu comportamento calmo foi sublinhado por um sorriso radiante; ele parecia ter encontrado uma fonte de consolo e recebido ajuda.

Quando o relógio se aproximou do meio-dia, Lumian guardou o caderno e caminhou até a Avenue du Marché. Ele se posicionou a uma curta distância do apartamento de Monsieur Ive e do Teatro da Velha Gaiola de Pombos, na esperança de testemunhar qualquer atividade dos Beyonders oficiais.

As ruas estavam movimentadas como sempre, as lojas cheias de atividade e as carruagens entrando e saindo. No entanto, ninguém deu qualquer indício dos acontecimentos recentes.

Depois de observar por algum tempo, Lumian estava prestes a procurar um restaurante para saciar sua fome quando avistou Monsieur Ive ao longe.

Ainda vestido com seu terno formal desbotado e calças castanhas, usando um chapéu cinza de abas largas e segurando uma bengala preta, ele seguiu em direção ao seu apartamento.

“Os Beyonders oficiais ainda não agiram?” Lumian refletiu brevemente antes de cruzar a Avenue du Marché para interceptar o proprietário.

— Boa tarde, Monsieur Ive. Saiu para fazer alguma coisa? — ele cumprimentou, todo sorrisos.

Monsieur Ive parecia um pouco desorientado antes de examinar Lumian, com um toque de apreensão em seu olhar.

— Eu gostaria de fazer algo na delegacia.

“Então, os Beyonders oficiais conduziram Monsieur Ive pela delegacia, mas delegaram o interrogatório a alguém com as habilidades necessárias?” Lumian presumiu a situação, embora com uma pergunta persistente: “os oficiais não descobriram que Monsieur Ive possuía poderes Beyonder?”

Lumian respondeu com um aceno gentil e um sorriso tranquilizador.

— Há algo em que eu possa ajudá-lo?

— Não há necessidade, — respondeu Monsieur Ive, seu tom variando entre cauteloso e resistente.

Ele apontou para o apartamento bege.

— Eu preciso ir para casa.

Num esforço para não levantar qualquer suspeita, Lumian não fez mais tentativas para detê-lo ou investigá-lo.

Enquanto Monsieur Ive se afastava, Lumian ficou para trás, com uma leve ruga marcando sua testa.

Olhando para trás, para sua breve conversa, nada parecia estranho. No entanto, certos detalhes pareciam deslocados, deixando-o com uma sensação peculiar.

Num impulso, Lumian mudou seu foco para a figura de Monsieur Ive em retirada, tentando avaliar sua recente sorte.

Parecia bastante comum; nada muito afortunado ou adverso.

Mesmo assim, Lumian percebeu que sua suspeita se intensificava em vez de diminuir.

Durante o jantar da noite anterior, Lumian avaliou instintivamente a sorte de Monsieur Ive.

Inclinou-se para o infeliz azar!

E agora, no espaço de um dia, sua sorte mudou para melhor. O que poderia ter acontecido? Perdido em pensamentos, Lumian caminhou pela Avenue du Marché, com as mãos enfiadas nos bolsos com indiferença.


Nota:

[1] A mixologia é o estudo da combinação dos ingredientes necessários para criar um bom drink.

Considere fazer uma Doação e contribua para que o site permaneça ativo, acesse a Página de Doação.

Comentários

5 1 voto
Avalie!
Se Inscrever
Notificar de
guest
0 Comentários
Mais recente
Mais Antigo Mais votado
Inline Feedbacks
Ver todos os comentários

Opções

Não funciona com o modo escuro
Resetar