A chama da vela laranja, representando o ponto focal da oração, tremeluzia como se fosse agitada por uma brisa invisível. Além disso, permaneceu inalterada, mantendo sua tonalidade normal sem qualquer indício de transformação.
Lumian sentiu uma pulsação incomum no fundo de sua alma, como se um grito distante tivesse alcançado sua essência etérea.
Temporariamente incapaz de responder, ele continuou a recitar o encantamento.
— Eu te imploro,
— Eu imploro que seja concedida a Profecia…
Neste feitiço ritualístico, palavras como ajudar a criar não poderiam ser usadas. Tinha que ser “concedido” ou “presenteado”.
O espírito de Lumian tremia a cada palavra pronunciada, como ondas que se estendiam para fora, deixando-o com uma sensação perturbadora de elevação e tontura.
Dando dois passos à frente, ele examinou a carne do monstro aquático, os olhos do lagarto e o meimendro cinza. Recuperando a falsa pele de cabra adornada com símbolos enigmáticos, ele a posicionou sobre a chama laranja da vela, simbolizando o alvo de sua oração.
Depois que a pele de cabra falsa foi acesa e colocada dentro da cavidade natural do altar de pedra, Lumian reuniu meticulosamente pó de tulipa e outros ingredientes, espalhando-os nas chamas.
Uma fragrância peculiar permeou rapidamente a barreira etérea, fazendo com que Lumian tivesse alucinações.
Ele testemunhou uma profusão de símbolos místicos adornando a falsa pele de cabra, materializando-se no vazio, em constante movimento e reconfiguração, alterando perpetuamente a sua forma coletiva.
Lumian recuou e examinou os diversos materiais no altar. Com uma voz ressonante infundida com o poder de Hermes, ele invocou: — Tulipa, uma erva que pertence à inevitabilidade, por favor, passe seus poderes para o meu encantamento!
— …
Quando Lumian pronunciou a palavra final, as ondulações de seu espírito se fundiram, dando-lhe a ilusão de que poderia roçar a chama da vela com um simples toque da palma da mão.
Simultaneamente, uma sensação abrasadora acendeu em seu peito, acompanhada por um leve zumbido ressoando em seus ouvidos. Seu entorno girou, semelhante a ser jogado no ar e rodado repetidamente.
Guiado por sua espiritualidade, Lumian estendeu a mão direita, pressionando-a em direção à chama da vela.
Sua visão escureceu à medida que sua espiritualidade surgiu, entrelaçando-se com as chamas.
A chama da vela expandiu-se prontamente, lançando um brilho radiante e etéreo sobre todo o altar.
Os ingredientes díspares do Feitiço de Profecia, uma vez reunidos, se agitaram e convergiram. O sangue se agitou e as sombras ondularam, criando um quadro excepcionalmente sinistro.
Lumian lutou para manter um fluxo constante de sua essência espiritual e observou os componentes físicos se transformarem em espectros, completando sua remontagem.
Um fantasma carmesim escuro, infundido com tintura preta prateada, materializou-se diante dele, condensando-se em um líquido escuro.
O líquido borbulhava incessantemente, cada explosão liberava gavinhas sinuosas de luz negra prateada, reminiscentes de serpentes escorregadias.
Lumian avançou dois passos, pegando um recipiente de metal do altar. Desatarraxando a tampa, ele a posicionou abaixo da superfície do líquido.
O líquido escuro coagulou rapidamente, fluindo para dentro do recipiente, quase enchendo-o até a borda.
Tendo colocado o recipiente contendo o Feitiço de Profecia de volta no altar, Lumian se recompôs, preparando seu estado mental.
Enquanto acalmava as ondas em seu espírito, lembrou-se de todo o processo do ritual.
“Se o símbolo com espinho não tivesse atingido um certo nível de ativação, elevando meu status, eu não teria sido capaz de responder e a tentativa teria falhado… Só posso realizar dois feitiços ritualísticos semelhantes consecutivamente…” Lumian analisou, gradualmente organizando seus pensamentos.
A conclusão dos cinco feitiços ritualísticos exigia no mínimo a Sequência 7, ou mesmo o Contratado. Lumian, um Sequência 8: Monge da Esmola, só conseguiu isso confiando na corrupção dentro de seu corpo.
Da mesma forma, sua espiritualidade não poderia durar muito mais tempo.
Após concluir o ritual e arrumar o altar, Lumian dissipou a barreira etérea e se aproximou da bolsa de pano branco-acinzentada para retirar o corpo sem vida.
Com cuidado, girou a cabeça da outra parte para sua posição original e abriu a boca.
Banhado pelo brilho da lâmpada azul de carboneto, Lumian pegou a garrafa, desatarraxou a tampa e despejou o líquido escuro na boca do cadáver.
Em vez de permear imediatamente a laringe, o líquido permaneceu dentro da boca, semelhante a uma poça de água.
De repente, Lumian sentiu a brisa da caverna ficar mais fria e a luz da lâmpada de metal se aprofundou para um azul mais rico.
Quase simultaneamente, ele ouviu um som estrondoso, testemunhando a garganta do cadáver se contorcer enquanto consumia todo o líquido.
No momento seguinte, o cadáver nu sentou-se ereto, envolto em uma escuridão anormal que desafiava a luz.
Seus olhos se abriram sobre seu rosto pálido e desgastado. As íris antes marrons haviam perdido a cor, agora cristalinas e sem matiz.
Nas profundezas daqueles olhos translúcidos, camadas de cores vibrantes pareciam residir. Uma luz pura pairava no alto, incontáveis figuras quase imperceptíveis e um brilho prateado tremeluzente…
Resistindo ao frio de gelar os ossos, Lumian se recompôs e perguntou: — Onde Guillaume Bénet, o ex-padre da vila de Cordu em Dariège, província de Riston, República Intis, aparecerá dentro de um mês?
Nesse ínterim, Lumian decidiu as três perguntas que desejava fazer.
Quatro regras primárias regiam as perguntas:
Primeiro, deve referir-se ao futuro. Eram proibidas perguntas sobre o paradeiro ou ações passadas de alguém.
Em segundo lugar, a descrição tinha de ser suficientemente precisa, caso contrário não teria resposta. O nome Guillaume Bénet era comum em outras partes de Intis. Vários indivíduos compartilhavam o mesmo nome. A menos que a aldeia de origem fosse especificada, o cadáver poderia revelar o destino futuro de um Guillaume Bénet diferente.
Em terceiro lugar, independentemente do país de origem do cadáver ou da familiaridade com a língua correspondente, este responderia na mesma língua da pergunta colocada.
Por último, uma pergunta só pode conter um elemento que requer resposta. Não poderia ser enquadrado na forma de “quando e onde será?”
O semblante pálido do cadáver adquiriu um tom verde escuro. Ele entreabriu os lábios e pronunciou em Intis: — Quartier de la Princesse Rouge, Trier. 1
A voz ressoou com uma qualidade ilusória e etérea, como se emanasse de outro reino. Não tinha nenhuma semelhança com a voz do falecido.
“Então, só pode ser especificado até o Quartier de la Princesse Rouge?” A testa de Lumian franziu ligeiramente.
Ele podia compreender a razão por trás disso — este não era um Feitiço de Profecia obtido de entidades ocultas. Seu criador era essencialmente um Monge da Esmola, portanto os efeitos naturalmente não seriam excelentes.
Lumian fez sua segunda pergunta.
— Onde encontrarei Louis Lund, o ex-mordomo do administrador da aldeia da vila Cordu, em Dariège, província de Riston, na República Intis?
Ele se absteve de mencionar Madame Pualis porque não tinha certeza de sua ligação com Madame Noite. Ele temia que o status elevado dela pudesse interferir na precisão da profecia.
Os olhos do cadáver permaneceram vazios e translúcidos enquanto olhava para frente. Ele respondeu com uma voz etérea: — Le Marché du Quartier du Gentleman, Avenue du Marché, em Trier.
“Avenue du Marché? Parece que a presença de Louis Lund não é um mero acaso…” Lumian refletiu, uma sensação de satisfação tomando conta dele.
Enquanto contemplava, notou as estranhas visões refletidas nos olhos transparentes do cadáver desaparecendo gradualmente. Agindo rapidamente, ele fez sua terceira pergunta.
— Onde estará Monsieur Ive, proprietário do Auberge du Coq Doré no Le Marché du Quartier du Gentleman, das 23h às 12h deste domingo?
Tendo observado Monsieur Ive entrando no subsolo nesta época, Lumian procurou averiguar as especificidades de seu destino.
Considerando que Monsieur Ive havia sido recentemente assaltado e visitou a sede da polícia, ele poderia evitar se aventurar no subsolo por enquanto. Lumian especificou o horário e o dia.
O cadáver respondeu rapidamente: — Le Marché du Quartier du Gentleman, Teatro da Velha Gaiola de Pombos, Trier.
Com isso, o cadáver caiu no chão e fechou os olhos mais uma vez, emanando o fedor pútrido da morte.
“Teatro da Velha Gaiola de Pombos, de novo…” Lumian empacotou o cadáver de volta no saco de pano, com a intenção de enterrá-lo ainda mais fundo no subsolo.
…
Em frente a um prédio bege de três andares, um vagabundo de barba eriçada viu-se encurralado por dois cocheiros ao lado de um pilar.
— Eu vou embora agora, — ele gaguejou, tremendo.
Naquele momento, um homem vestido de mordomo se aproximou com o rosto cheio de surpresa.
— Mestre, é você? Mestre!
— O quê? — O vagabundo ficou perplexo.
O mordomo não conseguiu conter sua excitação.
— Você não se lembra? Você é o dono deste lugar e todos nós somos seus servos leais. Você sofreu um ferimento na cabeça e perdeu muitas memórias. Um dia, você de repente fugiu de casa.
— Já se passaram meses. Finalmente encontrei você! Você voltou!
— Não estou, não estou… — O vagabundo lembrava-se claramente de seu passado.
No entanto, o mordomo e os dois cocheiros recusaram-se a ouvir sua explicação. Eles o “cercaram” e o conduziram para dentro do prédio.
— Senhora, senhora, o Mestre voltou! — o mordomo gritou com alegria.
Em pouco tempo, o vagabundo pôs os olhos em uma mulher elegante e bonita.
Ela usava um vestido verde claro, seus olhos exalando um fascínio maduro.
Tomada de alegria, ela começou a chorar e se jogou nos braços do vagabundo.
— Você está de volta! Você finalmente está de volta!
Ao inalar o doce aroma do perfume dela e sentir a suavidade do corpo dela contra o seu, o vagabundo tentou argumentar que não era seu marido, mas as palavras ficaram presas em sua garganta.
Em estado de confusão, ele foi guiado até a sala de jantar. Lá, sob um lustre de cristal, contemplou um suntuoso banquete — uma dúzia de ostras, uma panela de frango suculento, um prato de carne cozida com ameixas secas, pudim de sebo, salada e uma garrafa de vinho…
Simultaneamente, o olhar do vagabundo pousou nas pinturas a óleo que adornavam as paredes da sala de jantar.
Uma delas era um retrato muito parecido com ele.
“Poderia realmente ser eu? Mas lembro-me de todas a minha vida… Poderia haver outra pessoa que se parecesse comigo?” O vagabundo ficou ainda mais confuso.
Depois de se deliciar com uma refeição farta e saborear bons vinhos, foi conduzido ao quarto. Logo entrou a bela e elegante mulher, vestida com uma camisola de seda.
Seus olhos brilhavam com lágrimas enquanto ela falava: — Você ainda se lembra da minha paixão?
A respiração do vagabundo acelerou e ele não resistiu a dar um passo à frente.
Os dois se abraçaram apaixonadamente, caindo na cama, seus desejos os dominando.
Naquele momento, o vagabundo começou a acreditar que realmente era o dono daquela grande casa. Ele tinha uma linda esposa, um mordomo e uma multidão de criados.
Mesmo que o mestre original retornasse, ele garantiria que o outro fosse exposto como uma fraude!
…
Lumian ressurgiu e entrou no Auberge du Coq Doré, carregando a lâmpada de carboneto apagada.
Madame Fels, que trabalhava na recepção, levantou-se imediatamente ao vê-lo.
— Ciel… Monsieur Ciel, o Barão Brignais deseja encontrá-lo no Salle de Bal Brise depois do jantar.
“O Barão Brignais está me procurando? Sobre o que poderia ser?” Lumian assentiu.
Nota:
[1] Segundo o google tradutor de francês, é bairro da princesa vermelha.