Lumian acordou com o mundo envolto em uma névoa tênue e cinzenta.
Com facilidade e prática, ele saiu da cama e correu para a janela. Seu olhar caiu sobre a montanha, uma gigante imponente de pedras vermelho-acastanhadas e solo marrom-avermelhado que assomava na floresta além.
Apesar do seu tamanho modesto, com apenas vinte ou trinta metros de altura, a montanha parecia estender-se infinitamente para cima, perfurando os próprios céus. Lumian se viu usando as palavras pico da montanha para descrevê-la, tão profundo foi o impacto que teve sobre ele.
Sob sua estrutura maciça, as ruínas de estruturas dilapidadas cercavam a região selvagem desolada, empilhadas umas sobre as outras, camada após camada.
“A julgar pela constituição do monstro que empunha a espingarda, eu diria que ele é altamente habilidoso tanto para correr quanto para pular. Ele também parece possuir um certo grau de inteligência, capaz de empunhar uma arma tão complexa quanto uma espingarda…”
“Ele tem habilidades de rastreamento incrivelmente fortes, e não posso descartar a possibilidade de possuir algum tipo de superpoder, assim como Aurore…”
…
À medida que Lumian concentrava sua mente, detalhes do alvo começaram a surgir.
Seu julgamento inicial foi sombrio: se ele tentasse enfrentar o monstro com a espingarda, sua chance de sobrevivência seria de apenas 10%. E se ele tentasse utilizar sua característica especial, isso apenas aceleraria sua morte. Sua meditação era uma faca de dois gumes; isso o levava à beira da morte, tornando-o vulnerável até mesmo ao menor ataque do inimigo.
Ataques furtivos e assassinatos também não eram opções viáveis. A outra parte possuía uma habilidade incrível de rastrear seus movimentos, tornando inúteis qualquer tentativa de furtividade. Além disso, Lumian não tinha o equipamento necessário para montar um ataque à distância. Um revólver seria uma dádiva de Deus.
Nos últimos dois dias, Lumian quebrou a cabeça tentando bolar um plano. E finalmente, uma solução se apresentou: armadilhas!
Ele se aventurou nas profundezas das montanhas com os caçadores da aldeia, onde dominou a arte de montar armadilhas. Desde então, Lumian se tornou um profissional em fazer algumas “pegadinhas”.
O plano inicial de Lumian era usar óleo como arma. Sua ideia era encher um balde grande com óleo, amarrar uma corda nele e escondê-lo em algum lugar alto. Quando seu alvo se aproximasse, ele puxaria a corda, fazendo o balde tombar, encharcando a vítima desavisada com óleo. Então, acendia uma tocha e a jogaria nele.
Porém, após alguma deliberação, ele desistiu da ideia.
Partindo da premissa de que a criatura tinha fortes habilidades de rastreamento, ele sabia que precisava superestimar seu olfato.
O cheiro de óleo era bastante óbvio e, se ele usasse outros cheiros mais fortes para encobri-lo, não tinha certeza se a outra parte reagiria de forma diferente. O monstro pode até ser capaz de distinguir a menor anormalidade, como cães selvagens.
No final, Lumian optou por cavar um buraco fundo e plantar estacas no fundo.
Ele sabia que havia um certo problema com esse plano. Com as habilidades de rastreamento exibidas pelo monstro, havia uma grande chance de ele descobrir a anomalia com antecedência e perceber armadilha.
A resposta de Lumian foi encontrar uma maneira de explorar seus pontos cegos e fazê-lo baixar a guarda.
Suas armas eram inferiores às da criatura, mas ele esperava que sua inteligência pudesse lhe dar vantagem. Como humano, ele tinha uma vantagem: seu cérebro.
“Pelo menos desde o nosso último encontro, ele possui um certo grau de inteligência, embora não tão alto…” Lumian se confortou.
Mas ele se recusou a deixar que isso o acalmasse e lhe proporcionasse uma falsa sensação de segurança. Ele planejaria presumir que a criatura tivesse as habilidades cognitivas de um ser humano normal.
Alguém como Pons Benet.
“Não, o QI daquele cara é menor que uma pilha de pedras. Se não fosse por todos os seus capangas, eu o faria se curvar diante de mim e me chamar de papai.” Após um momento de contemplação, Lumian aumentou suas expectativas em relação ao monstro. “Sim, trate-o como um padre sem instrução.”
Ele olhou pela janela novamente, com os olhos fixos na região selvagem entre sua morada e as ruínas.
“Este lugar estava mais próximo da “zona segura”, tornando-o o local ideal para seu esconderijo. Porém, não havia cobertura, deixando tudo exposto à vista, tornando-o impróprio para uma emboscada.
— Não há problema em cavar uma armadilha, mas se eu me usar como isca, a outra parte será capaz de me localizar à distância e atirar em mim. Não será necessário vir de jeito nenhum… — Lumian murmurou, pensando se deveria corra o risco de entrar nas ruínas para montar uma armadilha.
Seu plano tomou forma rapidamente, restando uma coisa a confirmar: levaria muito tempo para cavar um buraco profundo e plantar estacas abaixo. Lumian não podia esperar que a outra parte esperasse até que ele terminasse.
Após um momento de reflexão, Lumian abriu os braços e fez um gesto de abraçar o Sol. Ele orou com mais fervor do que nunca.
— Meu Deus, meu Pai, por favor, abençoe-me e ajude-me a lidar com esse monstro.
— Louvado seja o sol!
Não havia 100% de certeza para a maioria das coisas no mundo. Lumian não hesitou por um momento. Ele pegou o tridente e o machado do quarto e foi para o escritório.
Considerando a arma do alvo, Lumian sabia que precisava trocar seu equipamento de proteção.
Ele tirou as roupas de algodão e amarrou livros de capa dura no peito e nas costas com uma corda.
Esta era uma armadura de papel improvisada!
Ele se lembrava vagamente de sua irmã avisando-o sobre o potencial de lesões internas, mas não podia se dar ao luxo de se preocupar com isso agora.
Ele se espreguiçou para ter certeza de que o peso dos livros não prejudicaria suas habilidades de luta, depois vestiu a jaqueta de couro e desceu ao térreo para reunir materiais para sua armadilha.
Não muito tempo depois, o aperto de Lumian aumentou ainda mais o feixe de cordas em sua cintura, uma para escalar e outra para confeccionar redes de corda para substituir os galhos das árvores.
Ele respirou fundo, preparando-se para o que estava por vir, e agarrou o machado de ferro com a mão direita ao abrir a porta.
Uma leve névoa cinza se espalhava pela região selvagem enquanto Lumian se aproximava da montanha, o pico agora tingido de sangue.
Lumian abriu caminho através do silêncio misterioso, rastejando em direção à beira das ruínas.
Com cautela, ele caminhou um pouco para o lado e jogou a pá, o tridente, as cordas e outros equipamentos em um canto escuro de um prédio desabado. Com apenas seu fiel machado em mãos, retornou ao local onde havia entrado nas ruínas.
Movendo-se silenciosa e deliberadamente, Lumian se aprofundou nas ruínas sem chamar atenção para si mesmo.
Quando finalmente chegou ao local onde o monstro de três caras o assustou da última vez, ele parou por quase um minuto antes de voltar.
No meio do caminho, começou a fazer um desvio, circulando de volta em direção à casa desabada onde guardava suas ferramentas.
Ao se aproximar, Lumian examinou o terreno, procurando um local adequado para montar sua armadilha.
“Há uma fenda relativamente larga e curta aqui. Com uma pequena modificação, será uma armadilha excelente e me poupará um tempo precioso. Quanto ao outro, bem, isso pode demorar um pouco. Mas só terei que torcer para que o monstro não me encontre muito rapidamente…”
Lumian pegou sua pá e outros equipamentos, voltou ao local escolhido e começou a trabalhar.
Depois de modificar a fenda, Lumian empunhou seu machado e cortou um pedaço de madeira irregular, depois inseriu-o na base da armadilha. Ele criou uma rede de corda, colocando-a sobre a armadilha antes de cobri-la com terra, garantindo que ela se misturasse perfeitamente com o ambiente.
Com tudo no lugar, ele começou a imitar o monstro que o perseguia.
“Se esta criatura for tão perspicaz quanto penso, ela sentirá a armadilha e a evitará, talvez saltando sobre ela com um único salto. No entanto, inevitavelmente posar aqui…”
“Eu preciso estar aqui, então ele me avistará no momento em que eu…” Lumian mediu a distância com os pés e confirmou sua linha de visão antes de se estabelecer em uma parede relativamente intacta.
Ele se agachou ali e confirmou sua linha de visão.
Então começou a cavar uma segunda armadilha.
Esta era uma armadilha projetada especificamente para humanos normais.
Lumian sabia que quando alguém conseguisse rastrear seu alvo e facilmente percebesse que a outra parte havia preparado uma armadilha para eles, apenas para descobrir que o inimigo estava à espreita nas proximidades, provavelmente ficariam arrogantes. Sua sede de sucesso os dominaria e eles ignorariam a possibilidade de uma segunda armadilha, atacando avidamente suas presas.
Era uma falha clássica de pessoas com inteligência inferior.
Lumian apenas rezou para que o monstro não possuísse o QI médio de um humano. Se isso acontecesse, ele não teria escolha a não ser fugir. As probabilidades eram de que ele seria enredado e deixado para morrer na selva, com poucas chances de voltar para sua casa e se esconder na zona segura.
A anormalidade de Cordu o forçou a fazer uma escolha perigosa.
A cada momento que passava, Lumian ficava cada vez mais cauteloso. Mesmo tendo montado a segunda armadilha, o monstro com a espingarda ainda não havia aparecido.
O mesmo vale para os outros monstros.
Por fim, Lumian começou a relaxar. Depois de guardar a pá e outros equipamentos, ele ficou em pé, abrindo bem os braços.
— Louvado seja o sol! — ele exclamou com vigor renovado.
Lumian encolheu-se contra a parede e caiu de joelhos, com os olhos fixos na primeira armadilha.
Não havia nenhuma linha de visão clara para o caminho que ele seguiu, obstruído por um prédio desabado na sua linha de visão.
Ele esperou ali, pacientemente, com o coração batendo forte no peito. Lumian podia sentir a adrenalina correndo em suas veias, e a sensação era sem precedentes.
Como um vagabundo, Lumian encontrou seu quinhão de inimigos que eram maiores e mais fortes que ele. Mas não queriam acabar com ele; eles só queriam sua comida, dinheiro e um lugar decente para dormir. Mesmo que alguém morresse na briga, isso seria considerado um infeliz acidente.
Mas agora, o adversário que ele enfrentava era uma criatura monstruosa que não respeitava as leis ou a moral humana. E era exponencialmente mais forte que Lumian. Inferno, pode até possuir alguns superpoderes. Se seu esquema desse errado, o resultado seria quase certo.
Thump, thump, thump… O coração de Lumian estava prestes a saltar do peito.
Todos queriam viver uma vida boa e Lumian não era exceção.
“Inspire, expire… inspire, expire…”
Lumian tentou respirar fundo para acalmar os nervos, mas não ajudou.
Lumian esperava que o monstro aparecesse mais cedo, embora temesse sua chegada.
Por um lado, poderia trazer uma resolução rápida para esta situação, independentemente de o resultado ser positivo ou negativo. Pelo menos então ele não estaria tão ansioso como estava agora, quase a ponto de desmoronar. Por outro lado, o medo tomou conta dele com força.
Percebendo que não poderia continuar assim, lembrou a si mesmo: “não posso sobrecarregar Aurore com meus medos.” Com isso, ele tentou meditar, concentrando toda a sua energia na tarefa.
Embora tenha sido mais desafiador do que antes, Lumian finalmente conseguiu delinear o sol carmesim em sua mente.
A simples visão disso aliviou um pouco seus nervos, mas ele ainda tremia de medo.
De repente, ouviu um leve farfalhar.
Era como se um pastor se aproximasse silenciosamente através de um pasto próximo, escondido da vista.