“A entrada para a Trier da Quarta Época? A Ordem da Cruz de Ferro e Sangue está procurando ela? Essa pessoa reapareceu depois de desaparecer por meses?” A mente de Lumian correu ao ouvir as palavras do comerciante.
Ele manteve em mente o aviso para não falar e tentou o seu melhor para não falar. Inclinando-se ligeiramente para a frente, ele estendeu a mão direita para receber a pequena mala de couro marrom.
O homem, parecendo um urso faminto, não recusou e riu.
— Se eu fosse Gardner Martin, rezaria para nunca descobrir o que tem nesta caixa.
“O que isso significa?” Lumian se perguntou enquanto sua palma tocava a mala.
Naquele momento, seus olhos se estreitaram ao notar que a palma direita do comerciante estava ausente da alça da mala, flutuando como se estivesse presa por uma força invisível.
Seguindo a alça, Lumian viu que não havia braço na manga. Estava vazia, apoiada em algo invisível!
“Nenhum braço!” Seu coração apertou quando ele olhou para o comerciante. Seus olhos castanho-avermelhados, acentuados por sua espessa barba e sobrancelhas, eram tão frios quanto os de uma fera selvagem, cheios de ódio e medo indisfarçáveis.
Vários pensamentos passaram pela mente de Lumian enquanto ele se forçava a controlar sua reação. Ele calmamente pegou a mala, sem perguntar ou observar. Ele não se defendeu ou atacou instintivamente, como se não tivesse notado nada.
As emoções do comerciante pareceram mudar um pouco, e sua risada continha um toque de tristeza.
— Diga a Gardner Martin que não vai demorar muito para que ele também venha para o subsolo!
— Toda a dor e tortura que suportei, ele também passará por elas!
Lumian não disse uma palavra. Ele pegou a pequena mala e estava prestes a se virar e deixar as Minas de Albert com “Gigante” Simon e “Rato” Christo.
De repente, passos ecoaram na outra entrada atrás do comerciante.
Comparado a antes, ficou muito mais claro, quase ao alcance de um braço.
Lumian sentiu-se mais seguro agora; ele podia ouvir o som distinto de sapatos de couro se aproximando do túnel silencioso!.
Em um instante, uma figura surgiu diante de Lumian, Christo e Simon.
Era um homem completamente nu, sem cabeça e com sangue escorrendo do ferimento no pescoço.
Ele usava apenas shorts azul-escuro e sapatos pretos de couro sem alças.
Com dois passos rápidos, um monstro sem cabeça alcançou o comerciante por trás, estendendo as mãos, agarrando sua cabeça e puxando-a para cima.
— Salve-me! Socorro! — gritou o comerciante, incapaz de esconder seu pânico e medo.
Quase simultaneamente, sua cabeça inteira foi erguida, expondo uma espinha manchada de sangue balançando abaixo. A espinha era anormalmente longa, balançando gentilmente como uma cauda.
Silenciosamente, a camisa, o colete, as calças e o traje formal do comerciante perderam o suporte e caíram no chão.
Não lhe restava mais corpo, apenas sua cabeça conectada à espinha ensanguentada.
— Salve-me! Salve-me! — O comerciante lutou com todas as suas forças, mas o monstro sem cabeça o segurou firmemente, aparentemente tentando enfiá-lo em seu pescoço vazio.
Embora Lumian tivesse encontrado muitas criaturas aterrorizantes e distorcidas em Cordu, esta foi a primeira vez que se deparou com algo tão bizarro e assustador.
Sem hesitar, ele se virou e correu em direção à entrada do túnel escondido, ignorando os pedidos de ajuda do comerciante.
“Gigante” Simon e “Rato” Christo, que estavam assustados desde o começo, finalmente perderam o controle. Como ciclistas ouvindo o sinal de largada, eles se abaixaram e correram para dentro do túnel.
Lumian os alcançou em poucos passos, com a voz ecoante das Minas de Albert assombrando seu rastro.
— Salve-me! Salve-me!
— Se eu morrer, vocês podem esquecer de viver!
— Ajudem-me!
Com suas lâmpadas de carboneto em mãos, o trio silenciosamente seguiu seu caminho através do túnel escondido, seus corações apertados pelos gritos deixados para trás.
Alguns minutos se passaram, e os gritos estridentes cessaram de repente, deixando um silêncio assustador que envolveu as Minas de Albert.
Então, o som ecoante de sapatos de couro ecoou pelo túnel escondido.
“Rato” Christo, sendo o mais baixo, achou mais fácil manter as costas curvadas enquanto se movia para frente. Em um estado de medo, ele freneticamente segurou seu bolso com a mão direita, como se tivesse visto a própria morte.
“Aquele rato peculiar nos deu um aviso perigoso?” Lumian olhou para o peito esquerdo de Christo e assentiu tranquilizadoramente, indicando que ele cobriria a retaguarda deles. Tudo o que eles precisavam fazer era correr com todas as suas forças.
À medida que os sons de batidas se aproximavam, Lumian e os outros ficaram tensos.
Embora tivessem que dobrar as costas para correr pelo túnel oculto, isso só reduziu um pouco sua velocidade de fuga. Afinal, eles eram Beyonders habilidosos, suas habilidades físicas notavelmente melhoradas.
A cada momento que passava, Lumian sentia um arrepio na espinha. Assim que o som dos sapatos de couro se aproximava a poucos metros, o trio finalmente alcançou a saída do túnel.
Vendo o “Gigante” Simon prestes a fugir sozinho, Lumian, que já havia retornado à posição combinada, não conseguiu mais ficar em silêncio. Ele abaixou a voz e rosnou: — Bloqueiem a porta!
Enquanto falava, ele se virou e abandonou a lamparina de carboneto e a pequena mala, tentando empurrar a pedra pesada ao lado da saída.
O “gigante” Simon ignorou subconscientemente o comando de Lumian, mas seu coração ainda tremia com o grito baixo.
Ao longo da jornada, ele se acostumou a seguir suas instruções, como se fosse a única maneira de garantir sua sobrevivência.
Ele se viu preso em um dilema.
Após um breve momento de hesitação, o “Gigante” Simon suspeitou que se ele fugisse e deixasse Ciel se defender sozinho do monstro, Ciel poderia muito bem atacá-lo e matá-lo como desertor quando ele sobrevivesse ao ataque!
“Rato” Christo tinha pensamentos semelhantes, mas acreditava que se ambos não ajudassem, Ciel não perderia tempo bloqueando a saída do túnel. Quando chegasse a hora, quem corresse mais devagar se tornaria o primeiro alvo do monstro, ganhando tempo suficiente para os outros dois escaparem.
Depois de avaliar as características de caminho e sequências um do outro, Christo percebeu que ele era definitivamente o mais lento. Além disso, ele não poderia ferir o “Gigante” Simon e o “Leão” Ciel em um curto período de tempo, o que significa que ele não poderia desacelerá-los e ultrapassá-los.
Sem hesitar, ele parou de fugir e retornou para a saída do túnel, ajudando Lumian a empurrar a pedra para bloquear a passagem.
Seguindo a deixa do “Rato”, o “Gigante” Simon decidiu obedecer e se virou.
Juntos, em apenas alguns segundos, o trio fechou entrada do túnel escondido.
O som de passos desapareceu no nada.
Ao mesmo tempo, “Rato” Christo não conseguiu conter sua surpresa e alegria, exclamando: — Está tudo bem agora!
Não havia mais movimento visível em seu bolso, onde residia o rato chamado Taffy.
Lumian não compartilhava da alegria de Christo. Ele pegou a lâmpada de carboneto e a pequena mala, falando em voz profunda: — Vamos conversar quando voltarmos para cima.
As mentes relaxadas de “Gigante” Simon e “Rato” Christo ficaram tensas mais uma vez. Instintivamente, seguiram Lumian pela parede de pedra e viraram em outro túnel escondido.
Ao longo do caminho, não encontraram nenhum ataque, mas estar no subsolo significava que eles estavam cercados por silêncio completo ou sons estranhos ocasionais. Depois do susto recente, o ambiente estava longe de ser agradável para eles. Se Lumian não tivesse permanecido calmo e composto, “Gigante” Simon e “Rato” Christo poderiam ter recorrido a medidas drásticas.
Ao retornar à área correspondente às ruas e praças acima do solo, “Rato” Christo enfiou a mão no bolso para confortar Taffy e soltou um longo suspiro.
— Quando vi aquele monstro, pensei que íamos morrer ali mesmo.
Embora ele e Simon tivessem matado mais de dez pessoas, interagido com outros Beyonders e até lutado contra eles, nunca tinham encontrado um monstro como o sem cabeça antes. Era um horror anormal que nunca tinham experimentado.
Isso era ainda mais assustador do que as histórias de terror que eles ouviam na juventude!
Lumian sorriu.
— O chefe não disse que não haveria muito risco se não nos comunicássemos ou abríssemos a caixa?
No entanto, em tal situação, a maioria das pessoas não conseguia ficar calma! “Gigante” Simon e “Rato” Christo ganharam uma nova apreciação pela fortaleza mental de Ciel.
Graças ao choque causado pelo comerciante e pelo monstro sem cabeça, Lumian e seus companheiros não estavam interessados no que havia dentro da caixa. Eles saíram apressadamente do subterrâneo e retornaram para a Rue des Fontaines, nº 11, onde encontraram Gardner Martin no escritório.
Gardner Martin pegou a pequena mala e a examinou casualmente. Ele sorriu e disse: — Muito bem. Vocês todos se saíram bem. Eu os recompensarei mais tarde.
Depois de elogiá-los, o chefe do Savoie Mob olhou para Lumian e assentiu gentilmente.
— Tenho uma mensagem para você. Se você deseja progredir mais no caminho do Caçador, você deve se lembrar desta frase:
— A Demônia é nossa amiga, e o inferno é de outra pessoa. 1
“A Demônia é nossa amiga, e o inferno é de outra pessoa…” Lumian não conseguiu entender completamente o verdadeiro significado desta frase, mas Gardner Martin não deu mais explicações.
Quando seus três subordinados saíram do escritório, Gardner Martin se virou para a porta que dava para a sala de atividades.
A porta se abriu com um rangido, e um homem de cartola, camisa branca, colete amarelo, terno preto e calças escuras se aproximou.
Ele tinha cabelo curto, olhos castanho-avermelhados, uma barba espessa e desgrenhada, e sobrancelhas grossas, lembrando um urso faminto. Ele era o comerciante que dera a pequena mala para Lumian e os outros e fora arrastado de volta pelo monstro sem cabeça.
— Olson, alguma opinião sobre ele? — perguntou Gardner Martin.
O comerciante chamado Olson respondeu com um sorriso: — Antecedentes simples, origens claras, inteligente, ousado e decisivo. Ele poderia reunir algumas pessoas que originalmente não tinham relação em uma equipe em um curto período de tempo. Não é isso que você quer?
— Quanto à lealdade, essa é a menor das minhas preocupações. Quando chegar a hora, mesmo que ele não seja leal, ele se tornará leal.
Gardner Martin assentiu levemente.
— Observe-o por mais algum tempo e veja com quem ele interage.
Depois de discutir esse assunto, Gardner Martin olhou para a pequena mala sobre a mesa e perguntou curiosamente: — O que tem dentro?
— Como eu disse, é melhor você rezar para nunca descobrir. — O comerciante conhecido como Olson sorriu, pegou a mala e saiu do escritório.
Depois de dar alguns passos no corredor, ele de repente percebeu que sua cabeça estava um pouco inclinada. Ele levantou as mãos, segurou a cabeça e a endireitou com um estalo.
Nota:
[1] essa ‘demônia’, em inglês está ‘demon’ então não dá pra saber se é masculino ou feminino, eu coloquei feminino pq temos o caminho da demônia, obviamente, mas não dá pra ter certeza.