Depois de um momento, Franca forçou um sorriso tranquilizador e falou: — Não se preocupe com ele. Ele tem seus próprios meios.
Jenna assentiu e não disse muito mais.
Com disfarces, máscaras e um pouco de maquiagem, elas deixaram a Rue des Blouses Blanches e seguiram para a Avenue du Marché. Desceram na Linha 2 do Metrô, que conectava a movimentada estação de locomotivas a vapor Suhit, no distrito comercial, à elegante Estação de Trem do Norte, no distrito da catedral. O destino delas era o Quartier 9, o renomado Quartier de la Maison d’Opéra, no Continente Norte.
Elas chegaram ao maior e mais vibrante cassino do mundo, cercado por lojas de departamento e lojas chiques. O domo de vidro colorido acima, apoiado por armações de aço, pintava a luz do sol com um toque de grandeza, exibindo cenas de sacralidade e contos épicos.
Para compensar a penumbra dos vitrais, novas lâmpadas de querosene nos postes de iluminação pública pretos como ferro queimavam intensamente, emitindo uma luz branca deslumbrante.
Elas eram chamadas de lamparinas de tiragem que utilizavam o calor gerado para transformar querosene em vapor, borrifando-o no manto escaldante ao redor, criando uma luz branca brilhante.
Em termos de iluminação, elas eram muito superiores aos postes de luz convencionais a gás ou às lamparinas de querosene domésticas comuns, uma modificação da Igreja do Deus do Vapor e da Maquinaria.
Jenna seguiu Franca até o banheiro público no meio da galeria da Casa de Ópera. Cada uma encontrou uma cabine, trocou de roupa e aplicou maquiagem simples para minimizar a aparência.
Depois disso, seguiram para o subsolo por uma entrada próxima.
Diferentemente de outros distritos em Trier, a rua subterrânea abaixo da galeria da Casa de Ópera estava cheia de pessoas. Cafeterias, galerias, cervejarias e pequenas lojas enchiam o espaço, fazendo com que parecesse tudo menos escuro, frio ou confinado.
Somente quando elas deixaram a área, Jenna encontrou sua impressão habitual do Submundo de Trier.
Como Assassina, ela podia ver no escuro. No entanto, para evitar expor suas habilidades de Sequência para aqueles que estavam presentes na reunião misteriosa, cada um segurava uma lâmpada de carboneto que lançava uma luz amarelo-azulada à frente.
Estudando as ações de Franca de perto, Jenna a imitou e vestiu uma máscara de metal prateado que cobria a metade superior de seu rosto. Silenciosamente, ela se aventurou mais profundamente no túnel úmido.
Depois de caminhar um pouco, Franca apontou para uma bifurcação na estrada e sorriu.
— Há uma lenda de fantasmas naquela direção.
— Qual é a lenda? — Jenna perguntou, entrando na brincadeira.
Franca sorriu e respondeu: — Dizem que as pessoas na casa de ópera frequentemente ouvem vozes masculinas estranhas vindas do subsolo. Eles contrataram vários caçadores de recompensas para investigar, mas nenhum deles retornou.
— Os Beyonders oficiais não intervieram? — Jenna perguntou, confusa.
— Eles fizeram, mas não encontraram nada. Isso porque é uma lenda que nós inventamos, — Franca riu.
Jenna ficou ainda mais perplexa.
— Por que inventar uma lenda dessas?
“Para diversão?”
Franca assegurou-lhe, sorrindo: — Para evitar que as pessoas se intrometam em nossa reunião.
Jenna finalmente percebeu o motivo por trás disso.
— Então você os assustou e eles não ousaram vir aqui?
— Não. — Franca balançou a cabeça com uma expressão séria. — Não, não é sobre assustá-los. É sobre desviar a atenção deles para aquela área, para que não se incomodem com os arredores. Em termos mais simples, dá aos cidadãos aventureiros de Trier e aos estudantes universitários algo para mantê-los ocupados.
Tendo crescido em Trier, Jenna ficou em silêncio. Depois de alguns segundos, ela murmurou: — Droga! Os Trienenses ao meu redor não são nada parecidos com isso!
Todos trabalhavam diligentemente. Só gostavam de ir a bares, salões de dança e outros lugares para beber, cantar, dançar ou extravasar suas emoções xingando uns aos outros depois de um dia agitado.
— As pessoas de Trier podem ser diferentes, — disse Franca, estalando a língua e balançando a cabeça.
Enquanto conversavam, elas se espremeram por uma abertura e entraram em um novo túnel, chegando a uma caverna coberta de musgo verde-escuro.
Do lado de fora da caverna havia um esqueleto branco, com o rosto escondido atrás de uma máscara de ferro e as órbitas oculares escuras e vazias.
Jenna, que nunca havia encontrado nada relacionado ao misticismo antes, não conseguiu evitar sentir seu coração disparar de medo.
Franca levantou a mão e cumprimentou: — Você sempre manda um esqueleto. Todo esse cuidado é realmente necessário?
— Droga, você até colocou uma máscara no esqueleto. O que há para se envergonhar? — ela acrescentou.
O esqueleto branco falou com uma voz que parecia metal esfregando contra metal: — Gostei de uma frase da série O Aventureiro: ‘Isso é cortesia básica.’
Com as órbitas oculares desprovidas de chamas, ele olhou para Jenna.
— Quem é ela?
— Minha amiga. Eu a trouxe aqui para dar uma olhada, — Franca respondeu simplesmente.
O esqueleto não insistiu por mais informações. Ele estalou o pescoço, sinalizando que elas poderiam entrar na caverna nos fundos.
Lá dentro, Jenna viu muitas pessoas em vários disfarces, sentadas em pedras ou em pé em um canto. O silêncio envolveu o lugar.
Depois de examinar a área, Jenna baixou a voz e perguntou a Franca: — Eles estão me deixando entrar assim?
“Não é muito fácil?”
“Eles não estão preocupados com minha confiabilidade ou segurança?”
Franca sorriu e respondeu: — Eu confio nele, e ele confia em mim.
— É mesmo… — Jenna assentiu, mas sentiu algo estranho. — Como aquele esqueleto sabia que era você? Você não estava disfarçada?
— Ele tem um jeito especial de reconhecer as pessoas, — explicou Franca vagamente.
Quinze minutos depois, mais pessoas chegaram uma após a outra. Quando o esqueleto com máscara de ferro anunciou o início oficial da reunião, quase vinte pessoas estavam reunidas na caverna.
Jenna observou as transações com curiosidade, absorvendo os novos termos enquanto Franca os sussurrava para ela.
Durante esse processo, ela não pôde deixar de ficar chocada com os preços das fórmulas de poções, itens místicos, armas Beyonder e vários ingredientes. Mesmo os mais baratos exigiam o salário de uma semana inteira como cantora. Quanto aos caros, ela sentia que não tinha esperança na vida.
O último terço da reunião comercial focou em comissões. Jenna sentou-se ereta, esperando encontrar uma que pudesse lhe render uma grande soma de dinheiro.
Um homem vestido com uma túnica preta, parecendo um feiticeiro de histórias de terror, falou com uma voz deliberadamente estridente: — Tenho uma missão que vale 20.000 verl d’or.
“20.000 verl d’or?” Todos os olhos na sala se voltaram para o homem.
Jenna não foi exceção. Ela nunca tinha visto uma quantia tão grande de dinheiro em sua vida.
O homem olhou ao redor e disse: — O porteiro do Claustro do Vale Profundo no distrito das colinas está desaparecido há três dias. Espero que alguém possa me ajudar a encontrá-lo ou seu cadáver.
— Não posso verificar a autenticidade das pistas, então somente aqueles que trouxerem ele ou seu cadáver de volta ao Claustro do Vale Profundo poderão reivindicar a recompensa de 20.000 verl d’or.
— Alternativamente, podem trazê-lo aqui.
O Claustro do Vale Profundo pertencia à Igreja do Deus do Vapor e da Maquinaria, onde monges ascetas se dedicavam ao estudo da maquinaria e do vapor. Eles não se casavam, não tinham filhos nem pregavam.
Localizado no distrito das colinas, Quartier 19, fazia fronteira com o distrito da catedral da Igreja do Deus do Vapor e da Maquinaria e a Estação de Trem do Norte a oeste, e com o Quartier 20, o distrito do cemitério, a leste.
Não vendo nenhuma resposta imediata, o homem continuou: — As autoridades já investigaram, mas não encontraram nada.
— Vocês todos podem pegar essa comissão e investigar o Claustro do Vale Profundo como caçadores de recompensas. Não se preocupem com suspeitas. Vou postar avisos em bares, casas de dança e cervejarias em vários distritos.
“Posso tentar. Não vai me custar nada se eu não conseguir nada. No máximo, vai levar algum tempo para eu ganhar dinheiro…” Jenna se virou para Franca, tentada.
Franca assentiu, concordando que poderiam assumir essa missão.
Ela estava curiosa sobre o caso e queria que Jenna ganhasse alguma experiência antes de recorrer a assassinatos perigosos. Se sentissem algum perigo ou descobrissem algo errado, poderiam recuar a tempo.
Claro, a alta recompensa também era atraente.
Após um breve silêncio, os participantes começaram a fazer perguntas um após o outro.
Eles queriam reunir informações suficientes antes de iniciar as investigações.
As respostas foram breves. Ele informou a todos que o porteiro desaparecido era Pinker, um morador da vizinha Cidade do Vale Profundo, com cinquenta e poucos anos. Ele era um devoto crente do Deus do Vapor e da Maquinaria, e nunca se casou. Com uma paixão fanática por máquinas, ele se tornou um porteiro no Claustro do Vale Profundo depois de possuir campos.
Ele voltava para casa uma vez por semana, passando um dia de cada vez, mas não desapareceu lá.
Uma noite, enquanto os monges testavam uma engenhoca a vapor no pátio, eles avistaram Pinker parado na porta da cabana do porteiro, observando com interesse. Mas na manhã seguinte, ele tinha sumido.
Jenna tomou nota das informações assim como durante seus estudos de atuação.
Em pouco tempo, a reunião terminou e os participantes partiram em grupos.
…
Algumas noites depois, Lumian estava sentado no bar no Salle de Bal Brise, saboreando seu absinto favorito e observando Jenna cantar e dançar.
Nesse momento, Louis se aproximou dele e sussurrou em seu ouvido: — Chefe, o Grande Chefe está aqui. Ele está esperando por você na cafeteria no segundo andar.
— O chefe veio pessoalmente? — Lumian ficou um pouco surpreso.
Sem dizer uma palavra, ele engoliu o resto do líquido verde, levantou-se e foi em direção às escadas.
Naquele momento, Gardner Martin estava perto da janela, vestido casualmente com uma jaqueta marrom escura e um chapéu de aba larga, como se tivesse acabado de chegar do cais ou do depósito.
Ele olhou para Lumian com seus olhos castanho-avermelhados por um momento antes de gesticular para que os outros saíssem.
Logo, apenas Gardner Martin e Lumian permaneceram na cafeteria.
O chefe do Savoie Mob sorriu e disse: — Já expressei minha admiração por você mais de uma vez, não é?
— De fato, obrigado, chefe. — Lumian assentiu.
A expressão de Gardner Martin ficou séria.
— Você está interessado em se juntar ao meu círculo? Isso permitirá que você entre em contato com mais Beyonders, poderes mais fortes e recursos abundantes.
“É só isso para a avaliação?” Lumian se perguntou, sem esconder sua perplexidade.
— Qual é o preço?
Gardner Martin sorriu novamente.
— O preço é que você pode encontrar mais perigos e ter que seguir ordens para completar certas missões.
— Entretanto, contanto que você se saia bem, você definitivamente progredirá rapidamente. Talvez em alguns anos, você possa tomar minha posição.
Lumian fingiu hesitar e ponderou por um momento antes de dizer: — Não tenho problema com isso.
Gardner Martin assentiu solenemente.
— Antes disso, você precisa passar por um teste.
— Vá para a Avenue du Marché nº 13 agora e fique lá até o sol nascer.
“Avenue du Marché, nº 13?” Lumian franziu a testa, fazendo o melhor que pôde para se lembrar.
Finalmente, ele se lembrou onde era.
Osta Trul, o Suplicante dos Segredos, considerava esse o lugar mais perigoso do distrito comercial.
Era o prédio incendiado que ainda não havia sido demolido!