Franca e Jenna não conseguiam tirar os olhos do rebanho de vacas, ovelhas e cavalos pastando. Os homens morenos vestiam chapéus de feltro e grossas túnicas azuis ou vermelhas, enquanto as mulheres locais exibiam seus vestidos coloridos e multicamadas. Vários prédios brancos e lojas vendendo produtos de couro pontilhavam a cena. Era uma visão cativante e desconhecida.
Franca se afastou enquanto uma carruagem de madeira, puxada por um touro de pelo longo, passava no vento cortante. Ela olhou para Lumian e Jenna antes de falar.
— Por que o silêncio? Vamos nos envolver com os moradores locais.
Afinal, qual era o sentido de viajar sem interagir?
Lumian ficou momentaneamente em silêncio antes de responder: — Não tenho informações suficientes.
Jenna sentiu uma pontada de constrangimento. — Eu também não sei o suficiente.
Tudo o que ela conhecia eram contos de aventuras românticas envolvendo rainhas faraós e aventureiros desenterrando tesouros nas florestas tropicais.
— Uh… — Franca gesticulou desdenhosamente com sua mão direita. — Não estou muito melhor.
— Não muito? — Lumian não se intrometeu mais. Ele conduziu suas companheiras para uma loja chamada Poção Mística das Terras Altas.
O proprietário, Sallent Empaya, um intisiano vestido com um casaco azul adornado com detalhes dourados, reconheceu Lumian imediatamente. Afinal, sua cor de cabelo e aparência distintas o diferenciavam. Além disso, apenas alguns dias se passaram desde seu último encontro.
Sallent avaliou Franca e Jenna, estendendo um sorriso caloroso para Lumian. — O que os traz aqui desta vez?
Lumian, lutando contra uma dor de cabeça por gastar muita espiritualidade, foi direto ao ponto. — Cinzas de múmia de verdade. Quero ver a múmia!
Os olhos de Sallent piscaram brevemente, mas ele se conteve de sondar. — Muito bem, eu vou te mostrar.
Sendo um fornecedor experiente de cinzas de múmia, ele sabia que esses produtos não conferiam virilidade; eles eram combinados com medicamentos genuinamente eficazes antes de chegarem às prateleiras. No entanto, como os clientes não perguntavam sobre a praticidade das cinzas de múmia reais, ele não via necessidade de divulgar essa informação.
Além disso, suspeitava que Lumian e as duas mulheres pretendiam comprar uma múmia para revenda e lucro. Esta era uma transação substancial.
Sallent fechou temporariamente sua loja e guiou Lumian, Franca e Jenna para o armazém dos fundos, onde ervas comuns eram armazenadas. Eles desceram uma escada estreita, chegando à porta do porão.
Virando-se para encarar Lumian e as mulheres, ele buscou confirmação. — Vocês realmente querem ver?
Não era tanto uma consciência culpada, mas sim uma nota de advertência.
— Com certeza, — Lumian respondeu sem hesitar.
No meio de suas palavras, seu olhar se fixou na porta de madeira escura do porão.
Ela trazia um símbolo místico, sua forma era uma distorção de tons verde-escuro e branco-claro.
No interior, uma mistura de crânios rudimentares, braços e videiras entrelaçados e triângulos invertidos se fundiam para criar um padrão enigmático.
Fios dos mesmos tons irradiavam desses símbolos, infiltrando-se nas paredes, no chão e no teto.
Sallent trouxe uma chave dourada, avançando em direção à porta. A voz de Franca caiu em um silêncio enquanto ela se dirigia a Lumian e Jenna. — Esses símbolos arcanos parecem enraizados no domínio da Morte.
Jenna franziu a testa. — Que significado eles têm?
A cabeça de Franca balançou gentilmente enquanto respondia, — Estou incerta. Geralmente, eles desempenhariam um papel fundamental na magia ritualística. No entanto, sem uma fonte de poder, tal magia pode vacilar.
— Pelo que entendi, as catedrais das Igrejas ortodoxas apresentam arranjos semelhantes. Os fiéis devotos que rezam diariamente emprestam seus espíritos e espiritualidade para sustentar a magia ritualística. Embora as contribuições individuais possam parecer modestas, sua acumulação exerce ampla força.
— Talvez este local tenha o poder necessário para sustentar a magia ritualística. — Lumian sorriu para Franca. — Você pode ter um motivo para se alegrar. Esta perspectiva aumenta a probabilidade de encontrar uma múmia genuína.
Um suspiro aliviado escapou dos lábios de Franca. — Espero que falsificações não sejam tão desenfreadas aqui quanto em Trier.
Perplexa, ela perguntou: — Mas por que a necessidade de nos trazer aqui para ver uma múmia de verdade? Minha adivinhação pôde discernir a autenticidade das cinzas.
— Para ampliar seus horizontes, — Lumian respondeu confiantemente.
Antes que Franca pudesse xingar, ele acrescentou: — Pedir diretamente as cinzas da múmia pode tentá-lo a fornecer falsificações. Quando os resultados da sua adivinhação se manifestarem na hora, devo então destruir o armário dele ou me envolver em uma briga? Tal violência dificilmente é ideal.
Lumian se baseou em um ditado frequentemente proferido por Aurore.
Claro, ele deixou de fora os efeitos adversos dos três contratos. A Mão Decepada tinha o desejo de quebrar o pescoço de um alvo. O Louva-a-Deus com Rosto Humano tinha o desdém elevado por aqueles que injustamente difamavam os inocentes. A Sombra de Armadura o incitou a se libertar dos grilhões dos confins da vida.
Talvez o testemunho do Sr. Tolo ou a bênção de Suborno tornassem esses efeitos relativamente administráveis. Eles eram tormentos que ele podia subjugar com foco, mas seu poder coletivo ocasionalmente desencadeava tais impulsos.
Ao mesmo tempo, Franca e Jenna zombaram, unidas em seu desdém.
Somente os Caçadores nutrem afeição pela violência!
Naquele momento, após uma breve luta com a fechadura, Sallent abriu triunfantemente a porta de madeira escura, cuja superfície estava adornada com um símbolo enigmático.
No corredor do porão, os olhos de Lumian pousaram em lamparinas a óleo embutidas na parede, sempre acesas.
Encharcadas nos tons dançantes da luz verde-escura do fogo, Franca e seus companheiros seguiram Sallent, o lojista de poções, enquanto se aventuravam no corredor que ficava além do portão.
A luz permeava o espaço, mas a ilusão de avançar em direção à escuridão os dominava passo a passo.
A atmosfera já fria parecia ter caído vários graus.
Sallent avançou sete a oito metros à frente, navegando por portas de pedra branco-acinzentadas firmemente fechadas. Ele parou diante de uma câmara posicionada no ponto médio do corredor.
Essas portas de pedra e as paredes ao redor exibiam símbolos semelhantes aos da entrada do porão.
Sallent abriu a porta de pedra à sua frente, revelando um pequeno sepulcro para Lumian e as mulheres.
No coração da câmara repousava um exótico sarcófago humanoide adornado com uma base dourada e um caleidoscópio de cores.
— Esta múmia vem de cinco séculos atrás, — Sallent apresentou, aproximando-se do caixão de pedra e pressionando sua tampa.
— Ele parece pouco preocupado com a possibilidade de fugirmos com a múmia… — Lumian refletiu baixinho.
Franca soltou uma risada suave, sua voz abafada. — Talvez ele simplesmente não pense nada de nós.
Jenna permaneceu em silêncio durante a conversa, sua curiosidade e apreensão fixadas nas entranhas do sarcófago dourado.
Lá dentro, um cadáver envolto em tecido marrom-amarelado jazia. Seus lábios estavam ligeiramente separados, enquanto tênues orifícios vazios marcavam os pontos onde antes residiam os olhos. Traços de óleo vazado manchavam sua forma.
Sem se deixar restringir pelo ambiente estrangeiro, Franca extraiu um espelho e iniciou uma adivinhação diante da presença de Sallent.
Seus olhos piscaram momentaneamente, retornando rapidamente ao estado anterior, como se ele tivesse se deparado com tais fenômenos com muita frequência.
Não demorou muito para que uma voz envelhecida ressoasse no espelho de Franca, sua cadência acompanhada pelo suave barulho da água.
— Uma múmia genuína, embora não seja de origem antiga.
O olhar de Franca se voltou para Sallent, o proprietário da loja de poções místicas.
Sallent deu um sorriso estranho em troca.
— Eu menti antes. Esta múmia não é uma relíquia de cinco séculos atrás. Verdade seja dita, ela foi criada há apenas quinze dias e enviada para cá. No entanto, independentemente da origem, ela passou por um processo de mumificação abrangente e prolongado. A única disparidade das múmias antigas é a brevidade de seu enterro.
“Uma múmia antiga nascida apenas quinze dias antes?” Lumian arqueou uma sobrancelha para Sallent, seu tom casual. — Você caça os vivos para modelar múmias?
Sallent balançou a cabeça gentilmente.
— Não há necessidade de tais métodos. O Continente Sul testemunha inúmeras mortes diárias. Obter cadáveres frescos requer apenas uma taxa nominal. Contratar caçadores para rastrear e capturar envolveria despesas muito maiores. Assumir a tarefa pessoalmente exigiria um preço de tempo exorbitante.
Ele avaliou involuntariamente as vantagens e desvantagens de múltiplas estratégias.
Depois dessa explicação, Jenna olhou para a múmia com uma nova perspectiva.
Era o corpo de alguém que estava morto há pouco tempo.
Sua forma imóvel foi exibida como uma mercadoria negociável.
Embora a múmia de duas semanas cumprisse seu propósito e atendesse aos requisitos, Franca ansiava por espécimes superiores.
Com um suspiro, ela desviou o olhar da múmia recém-cunhada e perguntou. — Há múmias mais velhas disponíveis?
Sallent hesitou momentaneamente antes de andar cautelosamente. — Que tal aqueles do ano passado?
Esta constituía a múmia mais antiga do porão.
Franca emitiu um suspiro pesaroso. — Isso também funciona.
Menos entusiasmado, Sallent levou o trio para outro sepulcro.
Inicialmente presumindo que Lumian e seus companheiros pretendiam comprar uma múmia inteira, Sallent havia exibido o espécime mais bem preservado. Agora, parecia que Lumian apenas buscava uma parte.
A múmia marrom-amarelada do ano anterior já exibia sinais de fragmentação. Não apenas as extremidades inferiores estavam ausentes, mas seu peito e abdômen também exibiam partes vazias.
Com a adivinhação de Franca validando sua autenticidade, Sallent colocou sua pergunta com entusiasmo diminuído. — Quanto você precisa?
— 50 gramas, — respondeu Franca, pretendendo acumular uma reserva maior.
Sallent refletiu sobre o pedido antes de pronunciar: — 500 verl d’or.
Prontamente, Franca efetuou o pagamento, com os olhos fixos enquanto Sallent pegava um martelo e uma adaga, usando-os para cortar uma parte do braço da múmia, semelhante à extração de minério.
Jenna ficou estupefata. Para ela, parecia algo horrível e brutal.
Embora ela tenha testemunhado brigas entre multidões e tirado uma vida pessoalmente, nunca encontrou alguém tratando restos humanos como mercadorias baratas.
Internamente, Franca suspirou e reprimiu suas emoções.
Essa era a dura realidade do mundo Beyonder e seu sistema de poções, mas, comparado às bençãos, era estranhamente atraente.
Com uma fração do braço de uma múmia agora em sua posse, Franca silenciosamente levou Jenna para fora do túmulo, seguida por Lumian e Sallent.
Eles tinham percorrido apenas três metros quando as lamparinas de querosene que iluminavam o corredor se apagaram, lançando uma escuridão assustadora.
Sallent girou a cabeça, seu comportamento era uma mistura de surpresa e incerteza.