“Freiras musculosas?” Em meio à surpresa de Lumian, ele sentiu uma repentina sensação de ordem retornar à sociedade.
Em qualquer país do Continente Norte, Beyonders clandestinos não eram bem-vindos. Eles enfrentavam controle e até mesmo apreensão. Isso não era como colônias como Porto Farim, onde aventureiros renomados podiam vagar livremente pelas ruas e se gabar de suas experiências sem a preocupação de Beyonders oficiais batendo em suas portas.
— Chefe, há algum perigo? — Lugano perguntou nervosamente, seu medo perpétuo evidente como um Beyonder clandestino.
Lumian riu e respondeu confiante: — Isso depende da atitude delas.
A implicação era que as freiras eram as que enfrentavam o perigo.
Lumian provocou: — Você não está animado com as freiras? Você não deveria estar feliz que elas estão aqui?
“Imaginação não é a mesma coisa que realidade…” Vendo que seu chefe não demonstrava nenhuma intenção de “teletransportar-se” com ele, Lugano desceu nervosamente e estendeu um convite às freiras musculosas.
A líder era a mesma que Lumian havia encontrado antes.
A maior parte de seu cabelo preto naturalmente cacheado e espesso estava cuidadosamente preso em um chapéu preto com padrões brancos. Seus olhos azuis-claros brilhantes e vivos, junto com suas sobrancelhas grossas, lhe davam um charme único e cativante.
A mulher de armadura de couro olhou para Lumian e perguntou gentilmente: — Você é o aventureiro Louis Berry?
Lumian assentiu. — Quem você é?
A impressionantemente bela freira combatente respondeu com um sorriso: — Sou a Irmã Noelia da Ordem da Fertilidade, responsável por uma equipe de combate.
— Louvai a Terra, louvai a Mãe de Todas as Coisas!
Noelia levantou as mãos para o céu, com os pés ligeiramente afastados.
Observando que Noelia e as outras freiras combatentes da Ordem da Fertilidade não eram tão críticas quanto ele esperava, não vendo os Beyonders clandestinos como criaturas inerentemente malignas, Lumian sorriu.
— Madame, o que a traz aqui?
Noelia sorriu e explicou: — Você é um grande aventureiro que caçou o Bruxo Demoníaco. Se não soubéssemos que você estava em Porto Santa, talvez não tivéssemos nos incomodado. No entanto, agora que estamos cientes, devemos vir e falar com você, lembrando-o de obedecer à ordem correspondente.
— Que ordem? — Lumian perguntou, antecipando a resposta enquanto segurava o chapéu de palha dourado.
O comportamento dessas freiras o fez se perguntar se elas eram Beyonders oficiais. Elas não o prenderam diretamente, nem usaram advertências severas.
“É essa a distinção entre a Igreja da Mãe Terra e outras Igrejas? Enfatizar a maternidade e respeitar a vida?”
Os lábios vermelhos de Noelia formaram um lindo sorriso enquanto ela falava, — Em outras cidades, emitiríamos um aviso direto, colocando vocês sob nosso controle. Se ousarem resistir, vocês podem ser apreendidos ou até eliminados.
— No entanto, aqui é Porto Santa, e muitos mercadores marítimos aqui têm uma necessidade genuína de resistir aos piratas e proteger seus bens. Não temos mão de obra para protegê-los, então concordamos tacitamente em permitir que contratem guarda-costas Beyonder.
— Monsieur Louis Berry, você é livre para circular por Porto Santa, mas deve respeitar três regras:
— Primeiramente, você não pode se aventurar no interior sem nossa permissão. Para chegar a outras cidades, você precisa de nossa aprovação. Em segundo lugar, você não pode realizar nenhum ritual em Porto Santa, consumir poções para avanço ou se envolver em experimentos de misticismo. Em terceiro lugar, você deve se abster de usar suas habilidades para causar caos ou catástrofe.
— É claro que, se você retornar a Porto Santa no futuro, precisará se registrar conosco primeiro.
“É um pedido razoável, e vindo da Igreja governante, não é nada excessivo… É ainda mais simples e fácil do que obter uma licença de porte de arma em Porto Farim ou outros lugares. Claro, não solicitar identificação em Porto Farim não é grande coisa. Ninguém vai denunciá-lo, e não haverá problemas se você não encontrar diretamente os oficiais…” Lumian assentiu gentilmente e respondeu,
— Claro.
Nesse momento, os pensamentos de Lumian dispararam e ele não conseguiu evitar uma risada.
— Mas Porto Santa não é totalmente seguro. Eu encontrei um monstro ontem à noite…
Ele contou brevemente como o pequeno monstro se disfarçou de demônio para intimidá-lo. Embora não tenha escondido que havia aceitado a comissão de Giorgia, ele se absteve de especificar os detalhes.
Noelia ouviu atentamente e respondeu sem surpresa, — Nós cuidaremos disso. Tente não se envolver nos assuntos da Guilda dos Pescadores no futuro. Os problemas internos deles serão resolvidos internamente.
“Isso significa que a Igreja Mãe Terra se abstém de interferir na luta interna da Guilda dos Pescadores, permitindo-lhes autonomia completa?” Lumian sorriu e disse:
— Farei o possível para evitar a participação, mas me reservarei o direito de me defender e contra-atacar.
Noelia não ofereceu mais comentários. Seu sorriso desapareceu enquanto ela conduzia as freiras de combate até a porta.
Em apenas dois ou três passos, ela sacou suavemente uma espada reta de suas costas, deu meia-volta e golpeou Lumian.
A série de movimentos fluiu perfeitamente, ocorrendo num piscar de olhos.
Lumian olhou para o feixe da espada, sem se esquivar nem levantar a mão para bloquear.
Com um movimento rápido, a espada reta roçou a ponta do seu nariz e apontou para o chão.
Noelia sorriu radiante e assentiu satisfeita.
— Como esperado de um grande aventureiro. Sua previsão, julgamento e coragem são excepcionais.
Ela então se virou e se dirigiu às freiras combatentes que a seguiam.
— Este é um homem de verdade. Aqueles que só sabem exibir seus músculos e brandir suas espadas só podem ser chamados de bestas machos.
Enquanto falavam, as freiras combatentes saíram da suíte alugada de Lumian.
Lumian levantou a mão direita e acariciou o queixo, sentindo uma sensação estranha.
A visão de mulheres examinando abertamente os homens o deixava desconfortável.
Depois de ver Noelia e as freiras indo embora, Lugano baixou a voz e perguntou: — Chefe, um monstrinho realmente veio avisá-lo ontem à noite?
— Isso mesmo. Se você foi quem completou a comissão de Giorgia, pode não ser apenas um aviso. — Lumian colocou o chapéu de palha dourado e casualmente comentou enquanto caminhava em direção à porta, — Temos a obrigação de lembrar nossa empregadora que alguém está espionando secretamente sua família.
Lugano ficou surpreso por um momento antes de entender as intenções de Lumian. Ele agarrou Ludwig e seguiu logo atrás.
…
Rua Santa Lana1, na sala de atividades de uma suíte no quinto andar.
Lumian encontrou Giorgia mais uma vez.
Vestida com um vestido vibrante adornado com padrões intrincados, a mulher olhou para o garoto, cujo apetite excedia sua imaginação, antes de voltar seu olhar para o aventureiro, Louis Berry.
— O que te traz aqui?
Lugano traduziu profissionalmente.
— Ontem à noite, um monstro veio me intimidar, mas eu o afugentei. — Lumian relatou brevemente a aparência e o comportamento do monstro.
Ao ouvir o relato de Lugano, Giorgia não demonstrou nenhuma surpresa óbvia. Após alguns segundos de contemplação, ela disse: — Espere um momento.
Deixando a empregada e o criado para trás, ela desapareceu em um quarto interno.
Depois de alguns minutos, ela reapareceu, de braços dados com um homem.
O homem parecia estar na casa dos quarenta, alto e magro, seus olhos de um azul quase translúcido. Seu cabelo preto acinzentado, levemente cacheado, caía em cascata sobre seus ombros como o de um artista. Sua aparência não podia ser descrita como particularmente boa ou ruim, mas ele possuía uma qualidade inesquecível.
— Este é meu marido, Rubió Paco — apresentou Giorgia.
“O acionista da Companhia de Pescadores e um membro do comitê da Guilda de Pescadores?” Lumian tinha reunido informações sobre a família Paco por meio de Lugano nos últimos dois dias.
O pai de Rubió tinha sido inicialmente um pescador próspero que dividia um barco com outros. Depois de se casar com Martha, que já tinha sido uma Donzela do Mar, ele gradualmente se estabeleceu. Ele não apenas administrou a Companhia de Pescadores por um tempo, mas também ascendeu para se tornar um membro do comitê da guilda local mais antiga, a Guilda de Pescadores.
Pouco depois do ritual de oração do mar do ano passado, o velho cavalheiro faleceu. Com forte apoio da Matriarca Martha, Rubió herdou o status do pai e se tornou o mais jovem membro do comitê da Guilda dos Pescadores.
No entanto, ele não tinha mais uma posição específica na Companhia de Pescadores. Ele apenas detinha os direitos de voto e dividendos dos acionistas.
Este homem de meia-idade já foi rebelde. Esperava-se que ele cumprisse os arranjos de seus pais e se casasse com uma Donzela do Mar. No entanto, permaneceu solteiro até os trinta e poucos anos e então se casou com Giorgia, filha de um comerciante têxtil. Se fosse qualquer outra família proeminente, a matriarca certamente teria intervindo e talvez até banido Rubió. No entanto, Martha o atendeu e, eventualmente, escolheu chegar a um acordo.
Antes que Lugano pudesse começar a tradução, Rubió falou em um intisiano menos fluente: — Podemos nos comunicar diretamente. Quando eu era jovem, eu costumava pegar um barco para o mar e visitar lugares como Porto Farim.
— Monsieur Rubió, não acho que haja necessidade de comunicação, e não pretendo descobrir por que o monstro veio me procurar. Estou aqui apenas para informá-lo sobre isso. — Lumian olhou para a confusa Giorgia e suspeitou que Rubió havia trocado para Intisiano não por educação, mas para manter sua esposa no escuro sobre algo.
Rubió assentiu gentilmente e disse: — Entendo suas preocupações. Desejo apenas lhe confiar outra missão.
— Que missão? — Lumian perguntou com um sorriso.
Rubió respondeu calmamente: — Minha mãe, Martha, vem da Vila Milo. Recentemente, ela deseja retornar e encontrar o atual Governador do Mar para solicitar sua permissão para buscar tratamento na Igreja da Mãe Terra. Sim, minha mãe não tem tido boa saúde recentemente. Ela não consegue sair da cama.
“Martha ainda está viva?” Lumian ficou levemente surpreso.
Por mais experiente que fosse, ele deduziu que o monstro poderia ser a Martha transformada, com base na ausência da matriarca, na relutância da família Paco em expor o lagarto humanoide e no fato de que ela já foi uma Donzela do Mar!
O ritual de oração do mar não era apenas uma honra para as Donzelas do Mar. Talvez também houvesse corrupção oculta que poderia irromper em algum momento.
Mas agora, pelo que Rubió havia dito, Martha ainda estava viva. Antes, ela só tinha estado gravemente doente.
“De onde veio aquele lagarto humanoide?” Lumian suprimiu sua perplexidade e perguntou confuso: — Por que Madame Martha precisa da permissão do Governador do Mar para buscar tratamento?
A expressão de Rubió mudou, uma mistura de desgosto e resistência evidente em suas palavras.
— Todas as Donzelas do Mar têm que seguir as ordens do Governador do Mar ao lidar com assuntos relacionados à Igreja. Não obedecer seria uma blasfêmia ao ritual de oração do mar.
Nota do Tradutor:
[1] esse nome de rua tava em inglês, que sorte.