Lumian não tinha pressa em rastrear Ryan, Leah e Valentine. Em vez disso, foi direto para o Antigo Bar, na esperança de ter sorte.
Se aquela mulher enigmática aparecesse, ele teria uma série de perguntas para ela!
Aceitar o presente dela o havia vinculado a algum custo futuro. Ele poderia muito bem aproveitar a oportunidade para obter mais benefícios, como Aurore havia aconselhado.
No instante em que Lumian entrou no Antigo Bar, seus olhos brilharam.
A mulher misteriosa estava sentada em seu lugar habitual no canto, com dois copos de absinto esmeralda diante dela.
“Dois copos? Ela sabia que eu viria?” Lumian se aproximou dela com um sorriso e a cumprimentou.
— Bom dia.
Ela usava uma blusa branca com padrões de folhas de videira na gola e um vestido bege até os tornozelos, com uma boina vermelha clara ao lado.
Lumian, que conhece bem as revistas de moda de sua irmã, reconheceu esta como a última tendência de Trier.
Ela olhou para ele.
— Está ficando tarde. Quase meio-dia.
“Apegada a sua agenda, não é?” Lumian pensou, irritado.
Mas ver a mulher enigmática trouxe-lhe uma estranha sensação de calma.
Ele se sentou e foi direto ao assunto.
— Eu passei por muita coisa ultimamente.
Ela deslizou um copo de absinto em sua direção. O líquido verde rodopiante era como um farol de alegria.
Ela não o convidou a falar nem o silenciou.
Lumian tomou um gole do absinto, achando-o rico e revigorante, com uma sutil nota amarga. O sabor era diferente de qualquer absinto que ele já havia tomado antes.
— O que é isso? — ele perguntou, intrigado.
— Outro tipo de absinto… bastante popular em Trier atualmente. Para diferenciá-lo do original, as pessoas o chamam de absinto de erva-doce. Autores, pintores e poetas gostam particularmente dele. — Ela tomou um pequeno gole.
O líquido verde no vidro transparente parecia possuir um tom hipnótico.
Os principais ingredientes do absinto eram absinto, erva-doce e erva-cidreira. Diferentes produtores utilizaram receitas ligeiramente variadas, alguns até adicionando óleos essenciais de limão.
Lumian não entendia seus motivos. Ela tinha viajado para Trier apenas para trazer erva-doce absinto?
Ele não perguntou. Em vez disso, contou acontecimentos recentes, reais e no sonho.
Ela tomou um gole de erva-doce absinto, ouvindo em silêncio o relato de Lumian.
— É isso. Posso aprender essa dança misteriosa o mais rápido possível? — ele perguntou, sem rodeios.
Ele não se preocupou em perguntar sobre a chave do loop ou o segredo do sonho. A experiência lhe dizia que não obteria uma resposta direta.
A mulher girou seu líquido esmeralda e sorriu.
— Sem um aumento significativo na flexibilidade, você nunca conseguirá dominá-la.
— Você poderia forçar uma parte, mas correria o risco de rupturas de ligamentos e músculos. Como você caçaria monstros então?
Lumian estava sintonizado com o subtexto das palavras dos outros.
— Existe uma maneira de aumentar significativamente minha flexibilidade?
Ela riu. — Isso é você que tem que descobrir.
— … — Lumian ficou perplexo com sua dica enigmática.
Se ela fosse uma conhecida menos misteriosa, ele exigiria: — Explique-se! Não me faça ajoelhar e implorar!
Como se estivesse lendo a mente dele, ela sorriu e acrescentou: — A solução para a sua flexibilidade está dentro de você.
— Huh? — Lumian parecia perplexo.
Ela tomou um gole de absinto e suspirou.
— Sua irmã não lhe ensinou magia ritualística?
Lumian percebeu a estranha emoção brilhar em seus olhos mais uma vez.
— Ela fez. — Seu coração acelerou. — Rezar para mim mesmo?
Ela o avaliou e riu.
— Quem você pensa que é? De que adiantaria orar para você?
— Você só pode convocar as criaturas mais fracas do mundo espiritual. Sua percepção espiritual melhora com o seu corpo.
“Intuição do perigo, por exemplo?” Lumian compreendeu a essência de suas palavras.
Embora a espiritualidade dos Caçadores seja muito melhor que um humano comum, ela se concentrava na percepção espiritual e ficou aquém da magia ritualística e de outros assuntos místicos.
— Então, o que eu preciso fazer? — Lumian pressionou.
A mulher suspirou cansada. — Você estudou a lei ritual dualista, não é?
— Sim. — Lumian assentiu.
A mulher suspirou novamente. — Felizmente você tem uma irmã. Caso contrário, eu teria que lhe ensinar toda essa bobagem mística. Muito cansativo.
“Quer dizer que você não me contou sobre magia ritualística, Cogitação, Visão Espiritual, criaturas contratadas ou linguagens mágicas porque era muito cansativo? Você apareceu depois que Aurore terminou de me ensinar?” Lumian sentiu a raiva borbulhando dentro dele.
Ele respirou fundo algumas vezes e disse: — Rituais dualísticos exigem itens intimamente ligados a divindades ou seres sobrenaturais, mas eu não tenho nenhum…
Sua voz sumiu quando um pensamento lhe ocorreu.
A mulher sorriu e disse: — Ah, sim, você quetem.
— Você não se lembra?
Lumian apontou um dedo para o peito.
— O símbolo com espinhos e o símbolo preto-azulado?
A mulher assentiu antes de lembrar: — Esqueça o símbolo preto-azulado. A chave para um ritual dualista é canalizar o poder divino no objeto. Se seu poder diminuir, o equilíbrio em seu corpo será perturbado. E quando isso acontecer…
Ela deixou a frase no ar, mas sua expressão disse a Lumian tudo o que ele precisava saber.
Nas palavras sombrias habituais de Aurore: — Sem esperança. Apenas espere pela morte!
— O símbolo preto-azulado está me protegendo da corrupção? — Lumian sabia o suficiente sobre o misticismo para reconhecer seu estado atual como corrupção.
— É a grande existência que mencionei protegendo você, — disse a mulher solenemente. — Depois que você resolver o segredo das ruínas do sonho, eu lhe direi Seu nome honroso. Você pode orar diretamente a Ele.
“Será que esta grande existência selou a corrupção simbolizada pelo espinho em meu coração, impedindo-a de me corromper completamente?” Lumian não sabia se essa grande existência era boa ou má, ou se tinha intenções sinistras, mas sentia uma estranha afinidade.
Ele pensou por um momento e adivinhou: — Usar um ritual dualista para roubar o poder do símbolo do espinho?
— Se o seu poder diminuir, a corrupção enfraquecerá e o selo se fortalecerá?
— Como você pode chamar isso de roubo? — a mulher respondeu. — Isso é orar para uma entidade em busca de um benefício. Acontece que Ele tem parte de Seu poder por perto. A resposta segue a lei da proximidade. Graças ao selo da grande existência e às barreiras que o atenuam, a verdadeira forma da entidade não sentirá isso.
“Somente místicos como você, que falam em enigmas, sabem como amenizar isso… Qual é a diferença entre isso e roubar?” Lumian pensou amargamente.
Pela explicação da mulher sobre o benefício divino e os caminhos anormais, ele perguntou astutamente:
— Através do ritual dualista, posso apelar ao poder por trás do símbolo com espinho e pedir-lhe que me conceda a capacidade de aumentar significativamente a minha flexibilidade?
— Algo assim, — disse a mulher. — Para ser mais preciso, peça para lhe conceder o poder de Dançarino.
— Dançarino? — Lumian pensou na atuação do Homem Macarrão.
A mulher tomou um gole de absinto e disse: — Para caminhos Beyonder além do 22 comuns, nós os classificamos da Sequência 9 à Sequência 0 por conveniência.
— De certa forma, esta divisão da Sequência segue as regras deste mundo.
— O Dançarino corresponde à Sequência 9 do símbolo com espinho, assim como o Habitante do Círculo corresponde à sua Sequência 4? — Lumian disparou. — Isso pode aumentar minha flexibilidade e melhorar minhas habilidades místicas, permitindo-me compreender facilmente aquela dança misteriosa?
A mulher sorriu de alívio. — Como esperado, com base no misticismo, a comunicação é muito mais fácil. Não há necessidade de explicar mais.
Lumian perguntou ansiosamente: — Então quais são as sequências 8, 7, 6 e 5 do símbolo do espinho?
— A Sequência 8 é Monge da Esmola e a Sequência 7 é Contratado. Nossa, por que você quer tanto saber? Domine o ritual primeiro e se esforce para se tornar um Dançarino o mais rápido possível. — A mulher estava perdendo a paciência.
“Monge da Esmola… Contratado…” Esses nomes clicaram instantaneamente para Lumian.
Monge da Esmola referiu-se, na realidade, a certos membros das várias igrejas.
A Igreja do Eterno Sol Ardente estava repleta de facções, cada uma com suas próprias crenças. Dois grupos principais se destacaram; a Ordem dos Pregadores e a Irmandade Menor, também conhecida como Irmandade dos Monges da Esmola.
O primeiro era composto por clérigos e Purificadores da Inquisição que se dedicavam à cruel perseguição e purificação de hereges, cultistas e Beyonders não oficiais, tudo em nome da promoção dos ensinamentos ortodoxos do Eterno Sol Ardente.
Estes últimos, porém, concentravam-se principalmente nos claustros, com alguns clérigos entre as suas fileiras. Eles abraçaram a temperança, implorando por comida e treinamento ascético, pregando em vários lugares pobres, tudo com o objetivo de difundir a fé do Eterno Sol Ardente.
À menção do Monge da Esmola, Lumian imediatamente pensou em missionários, ascetismo e magia ritualística especial.
Quanto ao Contratado, a primeira coisa que me veio à mente foi a marca preta no padre e o monstro com orifício na boca.
Aurore explicou que poderia ser uma marca deixada por um contrato especial.
— Espere, o monstro que matei era um Contratado? — Lumian perguntou surpreso.
“Na verdade, eu matei um monstro equivalente a uma Sequência 7?”
A mulher assentiu levemente e disse: — Sim, os contratados usam contratos especiais e divindades1 fornecidas por essa existência como testemunhas para obter diferentes habilidades de várias criaturas.
— Se eles são poderosos ou não, depende das habilidades que obtêm e de quantas possuem. Não é impossível para pessoas comuns matá-los se seguirem o caminho errado.
— Na verdade, situações semelhantes ocorrem no domínio Beyonder. É comum que Beyonders que não são habilidosos em combate sejam mortos por aqueles de uma Sequência inferior.
— A habilidade é importante, assim como a inteligência. A preparação antecipada é igualmente significativa.
Nota:
[1] divindades aqui se refere a poderes.
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Louvado seja o Louco 🙏