Olhando ao redor para garantir que ninguém pudesse ouvir, ele silenciosamente relatou os fragmentos detalhados do destino de Moran Avigny. Enquanto Franca ouvia, sua expressão gradualmente se transformou, uma carranca vincando sua adorável testa.
— Aquela névoa branca e fina que você descreveu… me lembra de algo, — ela disse. — Ela tem uma natureza de mercúrio e sempre mutável?
Lumian pensou brevemente antes de concordar. — Sim, é verdade.
Franca soltou um suspiro suave. — Deve ser o mesmo fenômeno então. Você sabe como eu te contei sobre Jenna e eu sendo seguidas por aquele encarregado do porteiro desaparecido do Claustro do Vale Profundo na reunião de misticismo? Aquele com quem acabamos lutando?
— Bem, quando eu canalizei o espírito do cara e perguntei sobre seus laços organizacionais, sua forma física e espírito detonaram abruptamente. Meu espelho rachou com a explosão, mas logo antes de quebrar, ele se encheu daquela mesma névoa branca, fina e mercurial.
Franca fez uma pausa, organizando seus pensamentos.
— De acordo com a informação que passei adiante, 007 se deparou com uma névoa semelhante durante sua investigação da Cidade do Vale Profundo. Albert Goncourt, o líder dos Carbonari, também foi visto lá.
— Como você sabe, os Carbonari desempenharam um papel em atiçar os tumultos durante o plano do Albergue. O outro líder deles, operando sob o pseudônimo de General Philip, liderou esse esquema em particular.
Lumian rapidamente conectou os pontos que Franca estava apresentando.
— Então você suspeita que os Carbonari estão em conluio com múltiplos cultos de deuses malignos, essa névoa branca peculiar está ligada a um deles… e que Moran Avigny também está enredado com esse grupo. O que significa que nosso suposto encontro casual com ele na Floresta de Lognes Ocidental foi tudo menos isso.
— Exatamente. — Franca tomou outro gole de seu licor. — E qual é o objetivo final para essas Pessoas Espelhadas? Certamente não é uma mera substituição de seus originais.
A versão espelhada de Gardner Martin falhou em suceder a real, compreensivelmente usando o plano do Albergue para lidar com sua contraparte. Mas Moran Avigny, também uma Pessoa Espelhada, silenciosamente substituiu o original por décadas, até mesmo gerando uma filha ilegítima e vivendo uma vida confortável. Por que colaborar com cultos?
Sorrindo, Lumian respondeu: — Os objetivos do Povo Espelhado como um todo em cheque contra a vontade de indivíduos estão fadados a diferir. Investigar deve revelar a intenção do povo. De volta à Trier da Quarta Época, Gardner Martin Espelhado mencionou sua lealdade e serviço a alguém que detém todas as respostas. Descobrir a identidade dessa pessoa deve nos dizer o fim do jogo do Povo Espelhado.
Franca concordou sucintamente: — Podemos planejar nossos próximos movimentos em torno dessa névoa estranha. Lidar com Moran Avigny para obter mais informações sobre o Povo Espelhado, que já é uma pista. E capturá-lo ou canalizar seu espírito pode apresentar outras oportunidades.
Franca sorriu. — Parece que 007 estará ocupado novamente.
Terminada a discussão sobre Moran Avigny, Lumian pegou um pouco de pão torrado antes da refeição e mastigou enquanto contava seu encontro com a cortesã Perle e a adivinhação com pó de café que havia testemunhado.
— É improvável que ela seja uma Demônia — concluiu Franca, com um toque de decepção na voz.
Com base na descrição e reação de Lumian à aparência de Perle, ela percebeu que a cortesã não era uma Demônia.
A menos que deliberadamente fingisse feiura, os encantos de uma Demônia eram impossíveis de esconder. Até mesmo homens gays não conseguiam resistir a dar alguns olhares extras.
— Definitivamente não… — Lumian parou de repente, lembrando-se de algo.
Mudando para uma conversa casual, ele perguntou: — A adivinhação com pó de café realmente tem significado místico? Ela pode realmente fornecer revelação?
Franca terminou seu pão, tomou outro gole do licor colorido e sorriu. — Claro que misticismo está envolvido.
Percebendo a falta de conhecimento de adivinhação de Lumian em comparação com sua habilidade de ler o destino, Franca explicou com um sorriso maroto.
— Você não precisa colocar a adivinhação em um pedestal sagrado e inatingível.
— Nossas Projeções Astrais interagem constantemente com o mundo espiritual, obtendo informações e recebendo revelações. Estas se refletem na realidade por meio de várias formas.
— É verdade tanto para Beyonders quanto para pessoas comuns. Mas aqueles não qualificados em adivinhação lutam para obter revelações proativamente ou interpretá-las efetivamente.
— Por exemplo, se um Beyonder engasgar com uma espinha de peixe enquanto come, ele rapidamente perceberá que é um aviso de seu espírito, contendo uma revelação que precisa de interpretação. Mas se pessoas comuns tiverem a mesma experiência, elas apenas pensarão que foram azaradas ou descuidadas. Não se destacará o suficiente para justificar uma consideração ou decifração mais profunda.
— É claro que ter uma espinha de peixe presa nem sempre indica um aviso espiritual. Geralmente é apenas falta de cuidado. Adivinhos habilidosos conseguem diferenciar uma revelação verdadeira de uma ocorrência aleatória. Os não habilidosos tendem a pensar demais, assustando a si mesmos enquanto ignoram o que é realmente preocupante.
Considerando o próximo prato de peixe, Franca usou um exemplo compreensível.
Lumian assentiu, ganhando uma compreensão mais clara da adivinhação.
Ele perguntou pensativamente: — Então, sem controle deliberado sobre o método de beber, os padrões de pó de café podem revelar algo, mas as interpretações das pessoas comuns podem ser imprecisas?
— Exatamente! — Franca disse animadamente. — No ambiente mais racional, a adivinhação com pó de café, popular há décadas, pode chegar extremamente perto da realidade. Cada sessão de adivinhação pode refinar as interpretações padrão até que o significado de cada formação do pó seja definitivamente estabelecido. Então, até mesmo pessoas comuns poderiam interpretar com precisão razoável.
— Infelizmente, a realidade não é um bastião de pura racionalidade. Os que acreditam na adivinhação de café trabalham subconscientemente para fazer com que até mesmo interpretações equivocadas se tornem realidade. Os descrentes veem claramente que as interpretações não correspondem. Essas abordagens conflitantes se emaranham, impedindo a codificação de respostas padrão e confiáveis. No final, é apenas um jogo.
Enquanto conversavam, o garçom serviu os vários pratos, retirando os pratos usados como parte do procedimento estabelecido.
O peixe frito de Fürth chegou como prato principal mais tarde.
Lumian cortou um pedaço e provou: carne macia com uma mistura intrigante de notas carbonizadas e oleosas, com tempero de pimenta e sal na medida certa.
— Delicioso — elogiou Franca. — E quentinho também.
Lumian também sentiu uma corrente de calor se espalhar por ele quando o peixe de Fürth atingiu seu estômago.
— Alguns ingredientes especiais, de fato — ele concluiu, provocando Franca. — Só não coma rápido demais… não quero que você engasgue com uma espinha.
Franca riu. — Você acha que algumas espinhas podem me sufocar?
Olhando ao redor para confirmar a saída do garçom, ela perguntou:
— Eu estive pensando em algo nos últimos dias. Ainda não consigo entender a diferença entre usar rituais e maldições para influenciar o destino futuro de um alvo e forçar diretamente uma mudança de destino.
— Eu entendo a parte do ritual… ele depende do sangue do alvo, parentes próximos, certos itens e contato misticamente significativo para alterar seu destino futuro. Mas como isso é diferente de uma maldição?
Lumian organizou seus pensamentos antes de explicar.
— No conhecimento místico dos Apropriadores do Destino, uma maldição é uma maldição do destino. Comparadas aos rituais, as maldições são mais simples, com menos condições necessárias. Mas isso limita significativamente o efeito final. Nada muito extravagante pode ser alcançado.
— Muitos abençoados com a Inevitabilidade gostam de chamar esse tipo de maldição de Destino Magnificado.
— Ele só pode mirar em ramificações do destino dentro dos próximos dez segundos, e deve se alinhar com o ambiente e as circunstâncias atuais. Atender a esses pré-requisitos permite que a maldição do destino tenha sucesso. E a ramificação do destino alvo precisa de uma certa probabilidade de se manifestar em primeiro lugar, ou a taxa de sucesso despenca.
— Simplificando, primeiro usamos ou alteramos o ambiente para permitir certas possibilidades, depois ampliamos essas possibilidades, assumindo que não eram extremamente improváveis antes.
Lumian olhou para Franca, levantando a palma da mão direita para gesticular enquanto dava um exemplo travesso.
— Por exemplo, enquanto você estiver comendo peixe, eu poderia usar uma maldição para aumentar a chance de você engasgar com uma espinha. Mas eu não poderia aumentar a chance de sua cadeira desabar de repente, empalando você com lascas de madeira.
No momento em que ele terminou de falar, Franca congelou, ofegando duas vezes enquanto sua garganta trabalhava. Em segundos, ela cuspiu uma espinha de peixe sangrenta.
— Você realmente fez isso? — Franca resmungou. — Felizmente minha Sequência concede um forte controle da garganta. Eu mesma cuidei disso. Uh… — Franca pausou de repente. Depois de alguns segundos, ela disse, — Caso contrário, estaríamos procurando ajuda médica. Quão embaraçoso isso seria!
Lumian riu. — Eu poderia ter ajudado a puxá-la para fora, ampliando o destino ramificado da extração bem-sucedida.
Franca ficou sem palavras por um momento.
Depois de comer outro pedaço de peixe de Fürth, ela assentiu.
— Agora entendo as diferenças.
— Maldições, ou Magnificação, são adequadas para combate. Elas são principalmente para interferir e influenciar inimigos, não para realizar nada muito exagerado.
— Rituais são feitos com antecedência. Com os itens certos, eles podem, em grande parte, direcionar o destino de um alvo conforme desejado.
— Mas apenas em uma direção geral — Lumian acrescentou. — Nenhuma precisão real. Eu poderia fazer alguém ter um dia ruim, mas não ditar o grau exato do infortúnio.
Franca assentiu.
— Então a infusão de destino é como um ritual simplificado para combate ao vivo que ainda causa impacto?
— Talvez efeitos ainda mais fortes e precisos — Lumian refletiu. — Além disso, muitas habilidades se transformaram de maneiras únicas quando Apropriador do Destino e Ceifador se fundiram, trazendo consigo o conhecimento místico relevante. Não consigo distinguir completamente de onde cada conhecimento veio… só sei que o Olho da Calamidade e o Infusão de Destino vieram do Ceifador.
Eles aproveitaram o resto do almoço. Quando a refeição terminou, Lumian apontou para o peixe de Fürth meio comido, instruindo o garçom, — Gostaria que isso fosse embrulhado para viagem.
O garçom obedeceu respeitosamente sem questionar. Franca sorriu provocantemente. — Que frugal da sua parte.
Lumian riu. — Isso é esperado de um padrinho. Além disso, estou curioso para saber o que torna esse peixe tão especial.