— Por que ele simplesmente explodiu daquele jeito? — Lumian murmurou, franzindo a testa enquanto observava o sangue lentamente encharcando o solo. Ele agarrou a lâmpada de carboneto firmemente.
Suas duas perguntas não tinham a intenção de acabar com a vida de Jebus. Ele queria apenas testar cuidadosamente os limites, um passo de cada vez.
Anthony explicou calmamente: — A regra fundamental da hipnose é nunca ameaçar diretamente a vida do sujeito. Então, quando perguntavam a Jebus algo que o colocaria seriamente em perigo, ele se recusava a responder ou o choque o acordava, quebrando o domínio hipnótico.
— Eu estava preparado para a possibilidade de ele se libertar da hipnose — disse Lumian, tendo previsto esse resultado.
Jebus não conseguiu desviar do Feitiço de Harrumph àquela distância. Lumian também tinha três peles ritualísticas de cachorro e uma pele de vaca em sua Bolsa do Viajante.
Desde que se tornou um Asceta, ele agora podia criar as peles místicas de animais necessárias para o Feitiço de Criação Animal sozinho. Então tinha imbuído poderes extras nos que ele já possuía.
Pensando no que havia acontecido, Jenna refletiu: — Jebus ia responder primeiro… O que significa que ele não achou que essas duas perguntas colocariam sua vida em risco. Heh, acho que as coisas não aconteceram como ele esperava.
Franca assentiu. — Exatamente. Se fosse realmente perigoso, ele poderia ter ficado quieto.
— Presumi que ele estava sob algum contrato em que revelar a sede da Escola da Verdade ou o nome de seu Supervisor direto faria com que sua sombra atacasse sua alma.
— Droga, e se o Supervisor dele tivesse se esgueirado com termos extras quando o contrato foi assinado? Poderia ser por isso que Jebus não tinha ideia de que responder seria arriscado? Céus, quão trágico é isso? Nada além de mentiras e trapaças do começo ao fim… estamos lidando com Vigaristas ou Corretores aqui?
Após o lamento de Franca, Lumian pensou por alguns momentos.
— Supervisor.
— Supervisor? — Franca entendeu imediatamente. — Supervisionar subordinados é uma habilidade do Supervisor, mas Jebus não sabia disso. Ele desencadeou algumas condições proibidas ao responder perguntas-chave?
Jenna ficou em posição de sentido.
— Você acha que o Supervisor já nos viu? Eles podem estar a caminho?
— Improvável. Pedi para Franca deixar a estatueta da Demônia Primordial aqui depois de notar a reação estranha de Jebus — Lumian disse, sorrindo. — Mesmo se estivermos certos, o Supervisor provavelmente detectou apenas um problema com Jebus, não nossa localização precisa. O problema real é que talvez precisemos mudar nossos planos daqui para frente.
Jenna e Anthony entenderam o que Lumian quis dizer.
Eles não estavam sob ameaça iminente ou em risco de o Supervisor os rastrear. Mas algo aconteceu com Jebus, que estava protegendo Moran Avigny no mundo dos espelhos. Uma vez que o Supervisor percebesse, eles facilmente deduziriam que alguém estava atrás de Moran Avigny e, sem dúvida, agiriam. O esquema que eles haviam tão cuidadosamente elaborado provavelmente não se encaixava mais nas novas circunstâncias.
Franca suspirou profundamente, olhando para a estatueta de osso no chão com genuíno arrependimento.
— Eu resisti quando a Demônia de Preto me deu esta estatueta pela primeira vez. Agora eu queria que ela tivesse me dado uma dúzia!
Zombando de si mesma, ela se abaixou para pegar a estatueta da Demônia Primordial. Ela a limpou delicadamente e murmurou apreciativamente.
Lumian fez um balanço de suas próprias ações.
— Eu deveria ter observado como a ramificação do destino de Jebus mudou usando o Olho da Calamidade. Talvez então eu pudesse ter intervindo a tempo para impedi-lo de responder.
Ele não havia previsto que Jebus fosse alheio a quais perguntas violariam um tabu. Não se tratava de devoção religiosa ou conhecimento místico avançado. Jebus deveria saber o que podia e o que não podia dizer. Se não, sua vida diária teria sido interrompida muitas vezes.
Franca lembrou: — A mesma coisa aconteceu com o membro da Escola da Verdade que Jenna e eu conhecemos antes quando perguntamos sobre sua filiação organizacional e por que ele estava lucrando com o desaparecimento do guardião.
— Com base na resposta de Jebus, declarar ‘a Escola da Verdade’ em si não é proibido. E aposto que o cara que nem era um Ambicioso, porque não tinha ideia do porquê estava explorando a ausência do guardião.
— Parece que é realmente uma habilidade do Supervisor, afinal. Não é de se espantar que os tabus sejam fluidos, com o contexto, o estado mental e a situação geral determina o que cruza a linha a cada vez. As regras se adaptam às circunstâncias. Heh, assim como a ideologia que Jebus descreveu.
Lumian assentiu levemente e riu.
— Bem, pelo menos nós garantimos os despojos logo no começo. Teria sido um grande desperdício de outra forma.
Ele pensou um pouco.
— Franca, contate a Demônia de Preto com o amuleto mais tarde. Informe-a sobre a entrada fixa do mundo dos espelhos que fizemos, o que ocorreu e como Jebus reagiu. Veja o que ela pensa e aconselha.
— Certo, ela provavelmente é da família Tamara do ramo Aprendiz. Não há amor entre ela e Moran Avigny, que desertou do ramo Julgamento.
Franca concordou, e Lumian virou-se para Jenna em seguida. — Vá para o esconderijo e mande uma mensagem para Madame Julgamento. O caminho do Julgamento representa a ordem, então sinto que devemos alertá-la sobre a situação da Escola da Verdade imediatamente. Eu a levarei até lá.
— Entendido. — Jenna estava acostumada com Lumian delegando tarefas em momentos como esses.
Por fim, Lumian se dirigiu a Anthony.
— Junte-se a mim no Pavilhão do Prazer para aguardar a chegada de Moran Avigny. Observe-o atentamente para qualquer comportamento incomum.
Situado na Avenue du Boulevard, o opulento Pavilhão do Prazer funcionava como a propriedade presidencial da República Intis. Moran Avigny deveria comparecer a uma reunião ministerial convocada pelo presidente lá.
Anthony inclinou a cabeça ligeiramente para expressar sua concordância.
Afinal, a observação era o forte do espectador.
…
Dentro da caverna da pedreira que abrigava a entrada fixa do mundo espelho, Franca se encostou na parede, sua visão noturna ativa. Ela pegou um compacto e um amuleto feito de pedra acinzentada.
Segurando o amuleto, Franca o infundiu com sua espiritualidade. Recitando a frase de ativação de Hermes, ela entoou,
— Olhos!
Envolto em chamas de obsidiana, o amuleto acinzentado semelhante a uma rocha ganhou vida. Franca tocou no espelho, fazendo com que ele perdesse a solidez e se tornasse incorpóreo.
Momentos depois, Franca sentiu uma presença ao seu redor. Uma massa de cabelos escuros então surgiu da superfície do espelho de maquiagem. As onduladas madeixas negras obscureciam sua visão. Quando o cabelo emergiu completamente, Franca ficou nervosa, e Clarice tomou forma diante dela.
O próprio cabelo da Demônia Negra permaneceu imaculadamente preso, sem nenhum vestígio dos sinistros fios negros. Mesmo já tendo visto Clarice antes, Franca não conseguiu conter uma onda de admiração pelo fascínio de Clarice. A mulher possuía uma beleza de tirar o fôlego que facilmente encantava qualquer um que a contemplasse.
Clarice olhou para Franca, sua voz melódica e gentil enquanto perguntava: — Você tem alguma atualização?
Compondo-se, Franca detalhou sua suspeita de corrupção vazando do Submundo de Trier. Ela se aventurou em um setor específico que continha a estatueta da Demônia Primordial, finalmente localizando o local-alvo. Ela elaborou sobre suplicar à Primordial por meio da estatueta, obtendo uma resposta e garantindo um portal permanente para o mundo dos espelhos.
Um raro lampejo de aprovação apareceu no rosto de Clarice. — Seus instintos e sua mente são afiados. Impressionante que você tenha concebido e realizado isso. Talvez você também se levante para ser uma Demônia com sua própria cor um dia.
“Demônia de Amarelo?” Franca resmungou para si mesma.
Ela continuou descrevendo o esquema que havia arquitetado com a equipe de Lumian, omitindo detalhes sobre o Clube de Tarô e retratando o poder da Marca do Espelho como um item.
Clarice ouviu atentamente, sem fazer comentários.
Franca relatou a ofensiva contra Lumian durante sua investigação, seu triunfo sobre Jebus e a abundância de informações coletadas por um Espectador.
A Demônia de Preto assentiu. — Seus amantes são bem capazes, o Caçador em particular.
Aqui Clarice sorriu. — O gosto de um Caçador também não é ruim. Quanto maior a Sequência, mais intensos e corajosos eles se tornam.
“O que… Imperador, até mesmo uma Demônia de elite leu seus diários secretos… Toda Demônia provavelmente possui uma edição!” Franca oscilou entre achar a situação do Imperador Roselle engraçada ou lamentável.
— Certamente tem suas vantagens — Franca brincou, sorrindo e tentando disfarçar seu desgosto.
A Demônia Negra prosseguiu: — No entanto, tanto você quanto ele erraram.
— Após acumular conhecimento adequado, você deveria ter cessado o questionamento sem demora. O caminho mais sensato era primeiro emboscar Moran Avigny, capturá-lo e então interrogá-lo mais.
— Concordo. — Franca aceitou a repreensão da Demônia de Preto.
Em retrospectiva, a localização da sede da Escola da Verdade e a identidade do Supervisor presidente não eram fatos essenciais para suas necessidades imediatas. Eles poderiam ter transformado Jebus em um cachorro e colocado Lugano e Ludwig para vigiá-lo. Enquanto o Supervisor permanecia inconsciente, ela e o resto poderiam ter se escondido dentro do espelho, prontos para quando Moran Avigny entrasse por conta própria. Amplas chances de capturar um segundo prisioneiro teriam se apresentado mais adiante.
No entanto, esse era o estilo de Lumian.
Já era evidente para Franca que Lumian estava predisposto a extrair informações na hora. Apenas razões extraordinárias o induziriam a adiar. Como se ele temesse que o menor atraso pudesse impedi-lo de obter ideias que de outra forma seriam obtidas.
A Demônia de Preto Clarice se absteve de insistir no ponto. Assentindo, ela declarou: — Fique aqui até meu retorno. Vou dar uma olhada nesses desenvolvimentos, mas pode levar algum tempo.
— Como desejar, Madame Clarice. — Franca não fez esforço para esconder seu sorriso satisfeito.
…
Do lado de fora do deslumbrante Pavilhão do Prazer, na Avenue du Boulevard, Lumian e Anthony se juntaram perfeitamente à multidão de jornalistas.