No exterior da residência do administrador, edifício transformado em antigo castelo.
Lumian caminhou pelos jardins e se aproximou da porta da frente. Ele disse ao cocheiro que montava guarda: — Preciso conversar com Madame Pualis.
O cocheiro — vestido com uma camisa carmesim e calças marfim — avaliou-o com cautela e perguntou: — Sobre o quê?
“Esse pirralho está aqui para causar problemas?”
Lumian zombou. — Isso não é da sua conta.
“Por que algum servo se importaria tanto? Quem você pensa que é? Quantas crianças você já teve?”
O cocheiro hesitou antes de decidir passar a mensagem para Madame Pualis e deixá-la decidir se queria entreter aquele jovem atrevido.
Lumian ficou na entrada por alguns minutos. Quando o cocheiro voltou, disse: — Madame irá recebê-lo na pequena sala.
A pequena sala era familiar para Lumian. Nas poucas vezes em que acompanhou a irmã até ali, foi recebido naquela mesma sala. Sem precisar de instruções, Lumian dirigiu-se para a sala correta. O cocheiro seguiu atrás como um cachorro obediente.
Lumian esparramou-se no sofá da sala e serviu-se de chá preto. Então Madame Pualis apareceu pela porta.
A mulher estava vestida para matar, com um lindo vestido preto espartilho e um xale combinando sobre os ombros. Usava um chapéu redondo ligeiramente torto e um colar de diamantes enfeitados com ouro.
A roupa pareceu familiar a Lumian. Ele percebeu que Madame Pualis usava exatamente esse conjunto quando veio seduzi-lo.
“Ela fez isso de propósito, não foi?” Lumian pensou com um sorriso frio.
— Bom dia, Madame Pualis.
Assim que a saudação saiu de seus lábios, Lumian de repente notou a figura ao lado de Madame Pualis. Não era Cathy, a empregada, mas a ‘parteira’ que morreu nas mãos de Ryan ontem.
A ‘parteira’ usava um vestido branco acinzentado. Seus olhos estavam vazios, seu rosto inexpressivo. Sua pele tinha um tom azulado, idêntica a quando Lumian viu seu cadáver no jardim na noite anterior. No entanto, desta vez ela não estava carregando nenhuma ferramenta de jardinagem.
“Trazendo a ‘parteira’ em vez da empregada? Ela fez isso de propósito também, não foi?” Lumian não pôde evitar o pensamento cínico.
Madame Pualis sorriu. — Deve ser meio-dia agora.
Ela se acomodou na poltrona que representava a anfitriã, enquanto a parteira ficava de lado como uma cúmplice.
— Se você ainda não almoçou, ainda não é meio-dia, — brincou Lumian.
Seu coração disparou sob a resposta. Ele suspeitava que Madame Pualis trouxera a parteira para interrogá-lo sobre os acontecimentos do dia anterior.
Se ele não lidasse bem com isso e o grupo de Leah não reiniciasse o loop a tempo, Lumian suspeitava que teria que bancar o ‘papai’ por alguns minutos. Ou mais.
Madame Pualis olhou para ele, seus olhos brilhantes brilhando com um sorriso inescrutável.
Casualmente, ela perguntou: — Qual parece ser o problema?
Lumian decidiu ir direto ao assunto. Solenemente, ele disse: — Madame, você deve ter percebido que estamos presos em um loop temporal.
Enquanto falava, observou atentamente o rosto de Madame Pualis, alerta para qualquer reação.
Se ela revelasse surpresa, choque ou confusão, ele rapidamente acrescentaria: — Brincadeira! Então, ele começaria com algo estranho e veria como ela respondia. Só então consideraria contar a ela sobre o loop temporal.
Claro, se Madame Pualis já parecesse saber e seu segredo fosse revelado, a fuga seria sua prioridade.
As chances de fuga eram mínimas nesse cenário, mas como ele saberia se havia alguma esperança sem tentar?
Madame Pualis avaliou Lumian por alguns segundos e depois sorriu.
— Parece que você também encontrou um chefe.
Ela não pareceu surpresa com o conceito de loop temporal, nem pareceu confusa. Isso era o mesmo que admitir que sabia o que estava acontecendo.
“Chefe? Essa era uma palavra favorita nos livros de Aurore. Ela quis dizer algum poder superior que concedia benefícios?” Lumian interpretou as palavras de Madame Pualis.
Ele acreditava que ela só conseguia reter memórias através dos loops porque tinha um — chefe — algum tipo de proteção.
Lumian sorriu e fingiu suspirar de alívio. — Parece que não vou precisar explicar muito.
— Onde você quer chegar? — Pualis perguntou, ainda sorrindo.
A ‘parteira’ ficou imóvel ao lado dela como um manequim.
Lumian tinha uma desculpa preparada e se lançou nela com charme suficiente para convencer qualquer um.
— As pessoas de fora já sabem da anormalidade de Cordu. Se não encerrarmos esse loop logo, esse lugar será destruído.
— Estamos no mesmo barco. Só nos unindo poderemos evitar o naufrágio teremos a chance de encontrar a chave para escapar desse loop e voltar à vida normal.
— Madame, o tempo está acabando. Vamos trabalhar juntos.
Madame Pualis ouviu com um leve sorriso, sem interromper a história de Lumian.
Com isso, ela riu. — Quem disse que estamos nisso juntos?
“O quê? Poderia ser ela quem queria afundar o barco?” Lumian ficou alarmado.
Madame Pualis manteve o sorriso. — Por que eu deveria cooperar com você? Posso sair daqui em um horário específico.
“O que…” Lumian ficou atordoado, mas um raio de esperança brilhou.
— Você está dizendo que tem uma maneira de sair do loop temporal? Você só precisa fazer algo em um momento preciso?
Madame Pualis assentiu e tomou um gole de chá em porcelana fina. Ela não disse mais nada.
“As vantagens da proteção de um poder superior… Espere, este não é o primeiro loop. Por que ela ainda está aqui? Outros loops poderiam ter reiniciado antes desse horário específico? Hmm… Isso explica porque ela não nos perseguiu se infiltrando no castelo e matando a ‘parteira’. Ela teme que os três Beyonders causem problemas e reiniciem o loop à força…” Lumian percebeu coisas que o intrigavam.
Ele suspeitava que Madame Pualis também estivesse esperando pela décima segunda noite.
Em meio a seus pensamentos, Lumian sorriu. — Eu me pergunto se você pode tirar Aurore e eu deste loop?
“Investigadores oficiais? Nunca ouvi falar deles!”
Madame Pualis avaliou-o com diversão.
— Por que eu deveria ajudar você?
— Você não disse que… — Lumian parou, incapaz de continuar.
Ele pretendia mencionar as palavras de Madame Pualis sobre o amor, esperando que ela pudesse salvá-lo e a Aurore por gentileza. Mas como Madame Pualis provavelmente desejava a irmã dele, ele não podia continuar a frase.
Se Madame Pualis o amasse, um homem desavergonhado como Lumian teria jogado a carta do amor e se oferecido para ter um filho para tirá-los dessa situação.
Bem, cerraria os dentes e daria à luz se isso significasse que Madame Pualis evacuasse ele e Aurore deste loop.
A expressão de Madame Pualis mudou ligeiramente. Depois de alguns segundos de silêncio, ela disse: — Você está sugerindo que o amor é insondável? Salvá-la apesar de claramente querer que ela morra por seu erro?
Lumian não respondeu. Ele sabia que Madame Pualis se referia a ela.
Madame Pualis não esperava uma resposta. Ela suspirou: — Mas e se for irredimível?
“Irredimível…” O coração de Lumian afundou como se estivesse mergulhando em um lago gelado no início da primavera.
Recuperando o fôlego, ele pediu confirmação,
— Quer dizer que, naquele momento, você só pode levar algumas pessoas, mas isso não inclui eu ou Aurore?
Madame Pualis assentiu.
— Você pode ver dessa maneira.
“Parece que ainda tenho que confiar em mim mesmo…” Lumian suspirou, forçando a calma.
A ascensão e queda da esperança foram realmente desagradáveis.
Ele pensou por um momento e depois sorriu.
— Madame, os três estrangeiros e eu exploraremos o subsolo da catedral mais tarde. Se alguma coisa acontecer, o loop pode recomeçar antes do tempo. Não chegaremos nem à Quaresma.
Muito menos a décima segunda noite.
Madame Pualis estreitou os olhos, o queixo erguido. — Você está me ameaçando?
— Não, apenas um lembrete. — Lumian sorriu sinceramente, parecendo relaxado.
Exteriormente, ele temia irritar Madame Pualis e ser confinado ali para dar à luz. Os três investigadores reiniciariam o loop se ele não emergisse quinze minutos depois.
Madame Pualis olhou nos olhos de Lumian por alguns segundos. Não vendo nenhuma hesitação ou evasão, ela sorriu de repente.
— Você é realmente interessante. Seria ótimo se você e sua irmã se tornassem meus amantes.
Sem esperar resposta, ela se virou à parteira.
— Você destruiu um Feiticeiro Herege, mas eu não te culpei. Sou misericordiosa o suficiente, mas você ainda espera minha ajuda?
“Feiticeiro Herege?” Lumian arquivou o termo e disse com seriedade: – Não se trata de ajuda. Trata-se de fazer o que beneficia a todos.
Madame Pualis ficou em silêncio por alguns segundos antes de sorrir novamente.
— Não vou explorar o subsolo da catedral com você, mas pelo bem de Aurore e pela sua coragem, fornecerei ajuda se alguma coisa acontecer.
Lumian ficou satisfeito em negociar tanto. Ele se levantou e imitou a postura cavalheiresca dos livros de sua irmã. Pressionando a mão no peito, ele se curvou. — Eu lhe agradeço, minha madame.
Madame Pualis riu. — Não deveria ser ‘meu raio de sol’?
Ela se referiu ao que Lumian havia dito em um loop anterior: — Madame, você é meu raio de sol.
Lumian ficou envergonhado, mas sempre foi desavergonhado. Fingindo não ouvir, saiu da pequena sala.
……
Depois de descer a colina do castelo e entrar em Cordu, Lumian avistou Leah, Ryan e Valentine esperando para cumprimentá-lo.
— Como foi? — Leah perguntou com um sorriso.
Lumian contou sua conversa com Madame Pualis, concluindo: — Este é o melhor resultado que poderíamos esperar.
— Isso mesmo. Ainda podemos contar com alguém para ajudar em nosso momento mais difícil. — Ryan assentiu.
Lumian perguntou: — Você recebeu uma resposta?
Antes de visitar o castelo, Ryan relatou que Madame Pualis não era realmente da família Roquefort e que a foto de Pulitt estava em seu quarto. Leah exalou, respondendo por Ryan: — Nossos superiores nos lembram de considerar a possibilidade de Pulitt se tornar uma mulher por meio de poção ou poder.
— Como esperado, — reconheceu Lumian laconicamente. — Quando exploraremos o subsolo da catedral?
Ryan já havia decidido. Com uma voz profunda, ele disse: — Agora.