Depois de alguns segundos, Lugano gaguejou: — Você pode realmente comer isso?
“O que acontece se você comer? Quais são as mudanças?”
“Ela faz com que o Filho de Deus nasça?”
Lumian olhou para o braço de Lugano e disse: — O que não pode ser comido?
Lugano de repente sentiu uma dor fantasma aguda e balançou a cabeça vigorosamente. — Não, deixa pra lá!
Ele queria fugir de Ludwig e Lumian, mas não conseguia pensar em uma desculpa na hora.
Depois que Ludwig engoliu um bocado de pão de queijo, ele falou lentamente: — Ingredientes de primeira linha não precisam de muito acompanhamento ou tempero. Precisamos apenas dar a eles um símbolo. Isso inclui nove ingredientes básicos principais: trigo, aveia, centeio, arroz, batata, batata-doce, milho, mandioca e qualquer outro tipo de feijão. Cozinhe-os com os restos umbilicais em leite de vaca ou ovelha por meia hora, e está pronto para comer. Este prato é chamado de ‘Fonte da Vida’.
“Você está cozinhando ou realizando um ritual místico?” Lumian murmurou baixinho.
É claro que Chef do caminho do Gourmet, que preparava bebidas alcoólicas e cozinhava vários pratos, estava essencialmente conduzindo rituais místicos correspondentes.
Pensativamente, Lumian perguntou: — Na verdade, não precisa ser esses nove ingredientes, certo? Desde que o conceito de ingredientes principais e suas quantidades sejam satisfeitos? Da mesma forma, outros tipos de leite também funcionariam?
Ludwig balançou a cabeça. — Não, esse jeito tem o melhor sabor.
“Então, o que você está dizendo é que o método que mencionei funcionaria, mas não teria um gosto tão bom? Não imagino que seja o caminho do Gourmet buscando a perfeição culinária…” Lumian se levantou e instruiu Lugano a comprar alguns ingredientes.
A Bolsa do Viajante de Lumian continha apenas rações secas que podiam ser comidas direto da embalagem.
Para Trier, uma importante metrópole global, os ingredientes que Ludwig precisava foram facilmente coletados e, ao meio-dia, Lumian e Lugano retornaram e viram Ludwig colocando os ingredientes principais junto com o restante do cordão umbilical em uma panela de ensopado cheia de centenas de mililitros de leite.
Essas etapas tinham que ser concluídas pelo próprio Chef, para dotá-las de misticismo, para persuadir a singularidade designada dos ingredientes e mantê-los em um grau propício à absorção. Feito por qualquer outra pessoa, o prato pode não ter efeito ou se transformar em veneno.
Depois de ferver por um tempo, Lumian sentiu o aroma de amido misturado ao leite e viu um denso vapor branco leitoso subindo acima da panela.
O vapor não se dispersou, mas condensou-se no ar e lentamente retornou à panela, trazendo um cheiro tentador tingido de sangue.
Naquele momento, Ludwig se virou para Lumian e lambeu os lábios, perguntando: — Você quer adicionar açúcar ou sal?
— Que diferenças eles trazem? — Lumian perguntou cautelosamente.
Ludwig respondeu seriamente: — O sabor, um é doce, o outro é salgado. Qual você prefere?
Lumian, percebendo a escolha, relaxou e perguntou com um sorriso: — Qual você prefere?
— Não consigo escolher… — Ludwig disse com pesar, resmungando, — Doce é gostoso, salgado também é bom. Se ao menos pudesse ser dividido em duas partes, uma doce, uma salgada…
Enquanto falava, o menino, aparentemente agitado, polvilhou um pouco de sal e depois acrescentou um pouco de açúcar.
Lumian observou divertidamente, sem impedi-lo. Para ele, o sabor da Fonte da Vida não era importante; seu efeito era.
Por fim, Ludwig instruiu Lugano a apagar a chama e removeu o conteúdo da panela. Era um pedaço de amido solidificado do tamanho da palma da mão, branco e macio, pegajoso e gosmento. A superfície estava coberta de manchas vermelhas, como se sangue tivesse vazado de dentro.
— Está pronto para comer. — Ludwig se esforçou para não babar.
— Será eficaz com apenas uma mordida ou preciso comer tudo? — Lumian perguntou, sua curiosidade lembrando seus dias aprendendo vários experimentos, o que frequentemente frustrava Aurore com suas perguntas.
— Tudo — Ludwig disse com um olhar de decepção.
Lumian pegou a comida fumegante e levemente escaldante, levou-a à boca e deu uma mordida.
Os sabores doce e salgado se fundiram, compensando a intensidade um do outro de uma forma única que aliviou Lumian de qualquer fardo mental. Ele rapidamente devorou a Fonte da Vida.
— Será que vai funcionar imediatamente? — perguntou Lumian ansioso, já decidido em suas intenções.
Ludwig apontou para o quarto principal.
— Você precisa dormir primeiro.
“Dormir?” Com um leve suspiro, Lumian deixou a mesa de jantar, voltou para seu quarto e deitou-se em sua cama. Fechando os olhos, ele sentiu seu corpo gradualmente se aquecer, sua consciência se tornando cada vez mais pesada…
Na escuridão, Lumian ouviu soluços suaves. Ele virou a cabeça, discernindo cuidadosamente o som.
Era de uma garotinha sussurrando: — Mamãe… Mamãe…
A voz ficou mais alta, mais madura e mais penetrante.
— Mamãe! Mamãe!
Os gritos se aproximavam, como se estivessem bem ao lado de Lumian, ressoando dentro dele.
— Mamãe! Mamãe!
“Dentro do meu corpo…” Lumian acordou de repente, recuperando os sentidos.
A escuridão se dissipou e a luz do sol penetrou seus olhos.
Ele sentou-se abruptamente, libertando-se do sonho. Os gritos de “mamãe, mamãe” ainda ecoavam fracamente em sua mente.
“Eu ouvi o Filho de Deus chorando?” Lumian olhou para si mesmo.
Ele se despiu e não encontrou nada de anormal, mas sabia que algo nele estava diferente agora, uma mudança indescritível. Ele não sentiu o olhar da Grande Mãe, o que o deixou ainda mais cauteloso.
Vestido novamente, saiu do quarto e encontrou Lugano lançando olhares furtivos em sua direção.
— Você está bem? — Lugano, que havia sido pego em flagrante, perguntou instintivamente.
Lumian riu. — Está tudo bem, eu não vou me tornar o Filho de Deus da Grande Mãe.
Vendo Lugano olhando para seu estômago, Lumian acrescentou: — Nem vou parir ele.
Depois de falar, ele deixou Lugano, ainda preocupado, para trás e saiu do apartamento. O sol da tarde estava perfeito e, sem muito o que fazer nos próximos dias, Lumian decidiu ir para um local específico.
O lugar eram as catacumbas de Trier.
Sabendo que Harrison, da Ilha da Ressurreição, poderia aparecer em lugares associados à morte, escuridão, crepúsculo e decadência, os primeiros pensamentos de Lumian foram sobre o Festival dos Sonhos e as catacumbas de Trier — locais repletos de morte e misticismo sombrio.
No primeiro nível das catacumbas, perto da “Entrada do Antigo Ossário”, que levava mais para baixo, Lumian estava sentado ao lado de um esqueleto murcho e espalhado com uma vela branca acesa, observando silenciosamente cada visitante descendo ou retornando das profundezas.
Logo, um grupo de estudantes passou e avistou Lumian sentado ao lado dos ossos das catacumbas.
O líder, um homem alto e magro, de óculos, perguntou curiosamente a Lumian: — Por que você está sentado aqui?
Lumian respondeu casualmente: — Já desci aos níveis mais baixos muitas vezes e perdi o interesse. Agora, só quero sentar aqui em silêncio e observar todo mundo que entra e sai, para ver quem nunca sai.
— Isso parece interessante — disseram os estudantes, segurando suas velas brancas. Eles decidiram se sentar também e observar se algum dos que retornavam das profundezas mostrava sinais de medo.
O homem alto e de óculos escolheu sentar-se ao lado de Lumian e começou a conversar.
— Você realmente acha que não acender uma vela branca aqui pode causar acidentes?
Lumian olhou para ele e riu: — Você poderia tentar, e todos nós veríamos o que acontece.
Antes que os alunos pudessem responder, Lumian falou em tom relaxado: — Eu não acreditava nessas coisas antes, mas então…
De repente ele baixou a voz.
Duas das alunas perguntaram abruptamente: — O que aconteceu?
— Então… — Lumian tinha uma expressão reminiscente, — Eu conheci alguém que tinha encontrado o fantasma de Montsouris. Você conhece a lenda do fantasma de Montsouris, certo?
Os alunos concordaram juntos.
“Você realmente conhece bem os contos assustadores de Trier… Típicos das criaturas subterrâneas de Trier… estudantes…”
Lumian suspirou, — Sua família imediata morreu toda, e ele pensou que poderia escapar disso. Mas um dia, quando fui vê-lo, o encontrei enforcado no batente de uma janela. Desde então, tenho seguido rigorosamente todas as regras do Submundo de Trier.
Os alunos se entreolharam, um pouco assustados com a história contada por um colega.
— Parece que realmente não deveríamos apagar esta vela — disse o estudante alto de óculos, com pesar.
Lumian abaixou a voz novamente, — Você já viu algo assim? Há livros, cobertores e roupas extras no seu dormitório… nenhum que lhe pertença… mas o administrador lhe disse que ninguém mais mora lá.
Dois estudantes empalideceram, como se estivessem ouvindo a mais assustadora história de fantasmas.
Como se estivessem buscando uma tábua de salvação, eles perguntaram: — Sim, isso acontece, você sabe por quê?
Lumian balançou a cabeça e suspirou, — Ouvi dizer que essas são as pessoas que apagaram suas velas aqui. Elas desapareceram completamente, sem que ninguém se lembrasse delas.
Ao ouvir isso, o estudante alto estremeceu instintivamente. De repente, ele sentiu algo tocar seu ombro.
Ele se virou para olhar e viu uma mão esquelética, pálida e medonha.
— Ah! — ele gritou, levantando-se de um pulo.
Lumian puxou para trás a mão de osso que ele havia pegado em algum lugar, seu sorriso zombeteiro. — Vocês são realmente medrosos! Já estão assustados?
Os alunos ficaram atordoados e, depois de um tempo, disseram com firmeza: — Não! Foi só um reflexo!
Enquanto eles consideravam seriamente se deveriam bater no brincalhão, alguém subiu os degraus de pedra para o segundo andar.
Ele vestia uma blusa azul e calças amarelas, seu rosto estava profundamente enrugado e seu cabelo branco ralo e seco, segurando uma vela branca curta e acesa.
Era um administrador idoso das catacumbas. Lumian franziu ligeiramente a testa.
Ele já tinha visto esse administrador das catacumbas antes, na gigantesca câmara tumular que abrigava a Fonte do Esquecimento, mas o administrador não tinha usado uma vela branca naquela ocasião.