Ao lado de um segmento da antiga muralha da cidade, agora apenas uma relíquia para admiração, o olhar de Lumian passou entre os altos e baixos edifícios de pedra cinza-esbranquiçada e pousou em um templo majestoso situado perto da cordilheira.
Tinha trinta metros de altura e era composto por várias torres, lembrando uma antiga fortaleza de guerra remanescente de eras passadas.
Naquele momento, influenciada tanto pelas montanhas quanto pelas nuvens, a luz do sol quase do meio-dia lançava uma tonalidade fraca, cobrindo o grande templo com um véu semelhante ao crepúsculo.
— Esse é um templo do Deus do Combate? — Lumian não virou a cabeça enquanto perguntava ao Cavaleiro de Espadas ao seu lado.
A Igreja do Deus do Combate era a única religião estatal do Império Feysac, mas após sua derrota na guerra alguns anos atrás, a Igreja da Deusa da Noite Eterna ganhou um certo direito de pregar dentro do império, embora parecesse pouco entusiasmada com esse papel.
O Cavaleiro de Espadas respondeu sucintamente: — É uma catedral.
“Não um templo, mas uma catedral? Os Feysacianos são de fato fascinados por coisas grandes, e seu gosto não é ruim…” Por alguma razão, Lumian de repente se lembrou de uma frase que ouvira na Sociedade de Pesquisa dos Babuínos de Cabelo Encaracolados: Mais é bonito, maior é melhor.
Ele então perguntou: — Esta é uma colônia de Feysac?
— Sim — respondeu o Cavaleiro de Espadas com uma voz profunda, — mas agora, os Loeneses têm o direito de negociar aqui.
Lumian assentiu levemente, sem dizer mais nada enquanto seguia a estrada em direção à cidade de Raklev.
Ao longo do caminho, foi fácil para ele distinguir pessoas de diferentes países no meio da multidão:
Os Feysacianos, altos em estatura — homens tipicamente com mais de 1,90 m, mulheres com quase 1,80 m — correspondiam ao estereótipo de Lumian sobre eles: descendentes de gigantes, incluindo até mesmo muitos meio-gigantes. Suas vestimentas tendiam a ser casuais, com jaquetas desabotoadas ou sem jaqueta alguma;
Os loeneses, predominantemente com cabelos pretos, se importavam muito com sua aparência, sempre impecavelmente vestidos. As damas preferiam gorros de abas redondas e carregavam guarda-sóis protetores do sol, enquanto os cavalheiros se enfeitavam com cartolas e carregavam bengalas;
Os moradores de Raklev tinham pele mais escura. Os homens geralmente usavam roupas de trabalho de lona duráveis, e as mulheres se vestiam para o trabalho com apenas algumas em vestidos de cores brilhantes, pastoreando gado, ovelhas e cavalos.
Lumian observou um cavalo anão e vários bovinos de pelo longo passarem, avistando um homem local com uma túnica vermelha escura, com uma caveira branca e um chapéu de lã cinza e branco na cabeça.
— Esse é o resquício da adoração à Morte que você mencionou nos costumes locais? — Lumian não escolheu seu caminho deliberadamente, mas seguiu seus instintos.
O Cavaleiro de Espadas assentiu levemente e disse: — Sim, o povo de Raklev mantém os crânios de seus parentes falecidos em casa, acreditando que eles os protegem, trazem boa sorte e ajudam a afastar perigos que espreitam na noite. Quanto mais crânios uma família tem, mais próspera e desenvolvida ela é considerada.
“Isso é semelhante à prática em Cordu, onde os cabelos e as unhas dos parentes são mantidos… mas aqui, o culto à Morte é muito mais forte, daí a escolha de caveiras, tornando-o mais extremo…”
Lumian de repente sentiu uma pontada de melancolia.
O Cavaleiro de Espadas continuou, — Alguns até fazem amuletos com os crânios de seus parentes falecidos para carregar com eles o tempo todo. O que você viu antes foi exatamente um caso assim. Durante o Festival de Bênçãos Anual, todos os moradores de Raklev levam os crânios de suas casas para as ruas, vestem-nos solenemente e juntam-se à folia e às orações.
— Festival de Bênçãos? — Lumian se animou, perguntando com seriedade.
Tendo vivenciado a Quaresma, o Festival de Oração do Mar e o Festival dos Sonhos, ele sentiu como se tivesse desenvolvido uma espécie de TEPT induzido pelo festival, com uma dor de cabeça começando sempre que ouvia falar de outra data comemorativa.
Oxyto, um Rei Xamã da Escola de Pensamento Rosa e um seguidor essencial da Lua Primordial, não poderia ficar em Raklev apenas para o Festival de Bençãos, poderia?
O Cavaleiro de Espadas respondeu sombriamente: — O Festival de Bençãos já passou há muito tempo; foi em novembro do ano passado, mais de um mês antes do Festival dos Sonhos.
“Você sabe sobre o Festival dos Sonhos…” Lumian primeiro deu um suspiro de alívio, então perguntou ansiosamente: — Oxyto apareceu pela primeira vez na área de Raklev antes ou depois do Festival de Bençãos?
O Cavaleiro de Espadas pensou por um momento antes de responder: — Antes.
— Então, durante o Festival de Bençãos, ele provavelmente ainda estava na área de Raklev? — Lumian franziu a testa levemente.
— Parece que é esse o caso — respondeu o Cavaleiro de Espadas, muito cautelosamente.
…
O olhar de Franca se desviou de uma mulher local com caveiras coloridas costuradas em seu ombro, e ela se virou para uma mulher alta, loira e de olhos azuis de Feysac com um sorriso. — Desculpe, eu já tenho uma dama de companhia!
“Isso não é um pouco direto demais, Feysaciana? Flertando comigo e com Jenna, e pensar que além de homens, também havia mulheres lindas nos convidando!”
A Feysaciana riu. — Não me importo se vocês duas vierem até minha casa.
— Eu me importo — Jenna falou por Franca.
Elas estavam vagando pela Cidade de Raklev por quase duas horas. Embora Franca não tivesse liberado ativamente o charme da Demônia do Prazer — para evitar suspeitas de armadilha — sua aparência de Demônia cuidadosamente contida, em termos de aparência, comportamento e porte, foi o suficiente para chamar muita atenção.
Aqui, os Feysacianos eram ousados e diretos, tanto homens quanto mulheres, enquanto os Loeneses eram conservadores e reservados, só ousando se aproximar depois de encontrar uma boa razão. Os moradores locais, em sua maioria, apenas observavam à distância, seguindo silenciosamente, com alguns reunindo coragem para falar, mas apenas sob o pretexto de oferecer orientação.
— Tudo bem então. — A feysaciana, um pouco mais alta que Franca, acenou com a mão em decepção e se virou para entrar em uma cafeteria próxima.
Franca e Jenna estavam agora no coração da cidade de Raklev, em uma rua que ostentava o estilo arquitetônico grandioso e elegante típico de Feysac.
— É quase meio-dia, que tal experimentar um pouco da culinária de Feysac? — Franca olhou para o sol, brilhante, mas não quente.
Ela estava se referindo ao Restaurante St. Millom, na diagonal em frente a elas.
St. Millom era a capital do Império Feysac, e nomear um restaurante com seu nome parecia uma tentativa de oferecer uma experiência “autêntica”.
— Claro. — Jenna assentiu gentilmente.
Quando as duas Demônias entraram no restaurante grandioso e primorosamente decorado, Anthony sentou-se em um banco do outro lado da rua e calmamente começou a preparar seu almoço — uma tortilha de milho enrolada em carne bovina e de cordeiro, temperada com vários temperos.
…
Lumian caminhou com Ludwig e Lugano até chegarem à Catedral do Lago Sagrado, que parece um templo.
Mas quando eles realmente entraram na cidade, o Cavaleiro de Espadas, Maric, desapareceu. No entanto, os instintos de Lumian lhe disseram que este portador de carta dos Arcanos Menores ainda estava por perto.
— Sentindo algo incomum? — Lumian perguntou a Ludwig.
— Não — Ludwig balançou a cabeça.
Lumian então se virou para Lugano. — E você?
— Eu? — Lugano pareceu perplexo.
“O trabalho de localizar pessoas não é de Ludwig? O que isso tem a ver comigo?”
— Você sente algo incomum? — Lumian repetiu a pergunta calmamente.
Por algum motivo, Lugano sentiu que seu empregador tinha se tornado mais acessível ultimamente, então ele respondeu honestamente: — Não.
Gromp, gromp… um barulho estranho soou próximo a ele e Lumian.
Ambos voltaram o olhar para Ludwig.
Tocando o estômago, Ludwig pareceu ansioso e disse: — É hora do almoço.
— Tudo bem — Lumian concordou prontamente.
Sua filosofia era nunca deixar uma criança passar fome, principalmente porque a criança faminta poderia recorrer ao canibalismo.
Ele olhou ao redor e apontou para uma rua movimentada a noroeste da Praça do Lago Sagrado. — Parece que há vários restaurantes lá.
Desta vez, Ludwig não precisou da ajuda de Lugano; ele correu à frente com passos curtos, enquanto Lumian o seguia em um ritmo tranquilo, e Lugano o seguia de perto.
A rua tinha uma característica bem típica de Feysac, com árvores e bancos, lembrando uma paisagem urbana dos países do Continente Norte.
Lumian olhou ao redor brevemente e apontou com o queixo para o Restaurante St. Millom, não muito longe. — Vamos experimentar um pouco da culinária de Feysac.
— Tudo bem. — Ludwig limpou a boca.
De repente, sua expressão ansiosa se transformou em confusão, e sua cabeça se moveu para a esquerda e para a direita como se estivesse procurando por algo.
Lumian notou esse comportamento incomum.
— Por quê? Quer um sorvete também? — ele provocou Ludwig.
Imitando o comportamento habitual de Lugano, Ludwig baixou a voz e disse: — Acho que senti a presença daquela “criança” nos corpos, mas é vago.
“Sentiu o bebê com garras de pássaro?” Lumian olhou ao redor; não havia outras crianças à vista, apenas Feysacianos e moradores locais, com alguns de Loen espalhados entre eles. Não havia nem mesmo mulheres grávidas por perto.
Então, Ludwig acrescentou: — Não consigo mais sentir isso.
“Teria se movido além de um alcance de trinta metros?” Lumian desviou o olhar pensativamente.
“Se o que acabávamos de encontrar estivesse relacionado ao bebê com garras de pássaro, então minha própria linhagem Omebella poderia ter sido detectada pelos outros…”
Lumian assentiu e sorriu para Ludwig. — Vamos comer primeiro, nada é mais importante do que encher nossas barrigas.
— Certo! — Pela primeira vez, Ludwig sentiu que as palavras do padrinho ressoaram profundamente nele.
Ao entrar no Restaurante St. Millom, Lumian imediatamente notou Franca e Jenna sentadas em um local de destaque. As Demônias cuidadosamente vestidas chamaram a atenção de Lumian por um segundo extra.
Enquanto isso, ele se perguntava: “Essa é a Lei da Convergência das Características de Beyonder? Que coincidência escolhermos o mesmo restaurante…”
Franca e Jenna, percebendo seu olhar, olharam para ele — uma delas com a boca aberta de surpresa, a outra contendo uma risada.
Elas rapidamente se recompuseram e voltaram sua atenção para a sopa de beterraba à sua frente.
Com a orientação do garçom, Lumian, Ludwig e Lugano sentaram-se no canto.
— Senhor, o que o senhor gostaria de pedir? — O garçom ofereceu um cardápio desenhado como um livro.
Lumian deu uma olhada, preferiu não dar uma olhada e simplesmente disse: — Um conjunto de tudo, menos as bebidas.