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Circle of Inevitability – Capítulo 8

Coruja

A ideia atingiu Lumian como um raio, mas ele não estava particularmente interessado em levá-la adiante.

Ignorando o fato de que anos se passaram desde a morte do Bruxo e que a expectativa de vida das corujas era insignificante em comparação com a dos humanos, o grande número de pássaros na montanha era suficiente para fazer Lumian reconsiderar.

Havia muitas malditas aves!

“Aquela coruja não tem nenhuma marca distinta… Não, nas lendas não havia menção de nada específico sobre a coruja. Naroka não revelou tudo… Não investigamos profundamente o suficiente…” Ele saiu de seus pensamentos e lançou um sorriso tranquilizador para Reimund.

— Uma coruja vinculada a um Bruxo poderia viver cem anos.

Enquanto Reimund tremia de medo, ele o tranquilizou com uma voz calma: — Não se preocupe, mon ami1. Este é meu último recurso. Não desejo encontrar um monstro.

— Talvez devêssemos consultar outro velho sábio. Naroka pode ter esquecido uma pista vital.

O tom do homem tornou-se sedutor enquanto ele continuava: — Se eu fosse um Bruxo, não manteria todos os meus tesouros comigo ou em minha casa. Esconderia alguns para o caso de a Inquisição me atacar. Não teria o luxo de ter tempo para recolher meus pertences. Quando fugisse, eu ficaria na miséria.

A Inquisição da Igreja do Eterno Sol Ardente era famosa por caçar Bruxos e Bruxas. Seus feitos heroicos foram celebrados em todo lugar.

O rosto de Reimund iluminou-se de excitação quando ele exclamou: — Você está certo!

Ele disse com uma expressão ansiosa: — É uma pena. Muitos anos se passaram. As riquezas descobertas pela Igreja devem ter sido confiscadas há muito tempo.

— Mon ami, esse é um pensamento perigoso, — brincou Lumian.

Implacáveis, eles continuaram suas visitas a Pierre-père, Naferia e outros idosos da família Maury.

Embora suas respostas refletissem as de Naroka, Lumian e Reimund, com sua nova experiência, conseguiram extrair mais detalhes.

Por exemplo, a coruja era de tamanho médio e se assemelhava à sua espécie. Tinha bico pontudo, rosto felino, penas marrons com manchas espalhadas, olhos amarelo-acastanhados e pupilas pretas…

No entanto, era maior que a coruja normal e seus olhos pareciam girar. Não era tão rígido ou estúpido quanto deveria.

Todas essas peculiaridades faziam com que a coruja parecesse ainda mais sinistra em suas descrições.

— Parece que chegamos a um beco sem saída, — afirmou Lumian a Reimund enquanto caminhavam para a praça da cidade. — Devemos nos concentrar em outras lendas.

Reimund não ficou tão desanimado como antes. — Concordo. Mas qual devemos perseguir?

“Este sujeito é tão pró-ativo e trabalhador…” Lumian elogiou silenciosamente o entusiasmo e diligência de Reimund e preparou uma recompensa para ele.

Ele assentiu e disse: — Não se apresse e reflita sobre isso. Discutiremos amanhã. Vou transmitir-lhe técnicas de combate esta tarde”

— Maravilhoso! — Reimund exclamou, muito feliz com a instrução imprevista.

Aurore era uma lutadora habilidosa. Afinal, de que outra forma ela poderia lidar com os homens selvagens e rudes da aldeia? Seu irmão mais novo provavelmente seria igualmente proficiente.

Depois de se despedir de Reimund Greg, Lumian seguiu pela trilha que levava à sua casa.

Enquanto caminhava, avistou um grupo de homens se aproximando dele.

O líder estava na frente, não ultrapassando 1,7 metros de altura. Ele usava uma túnica branca e tinha cabelos pretos claros.

Com um comportamento majestoso e traços faciais decentes, a ponta do nariz se curvou levemente em indisfarçável desgosto e malícia enquanto ele olhava para Lumian com seus olhos azuis.

Ninguém menos que o padre da Igreja do Eterno Sol Ardente em Cordu, Guillaume Bénet.

— Há muito tempo que espero a sua chegada, — gritou Guillaume Bénet em voz de barítono. — Você trouxe deliberadamente esses estrangeiros para a catedral?

Lumian tentou se explicar enquanto dava um passo para trás furtivamente. — Eu pensei que você estava dormindo lá dentro.

Ele notou Pons Bénet — o irmão mais novo do padre — ao lado de Guillaume Bénet. Pons tinha trinta e poucos anos, era musculoso, dominador e valentão.

Os outros indivíduos que estavam com eles eram capangas do padre.

Guillaume Bénet sinalizou para Pons com um olhar enquanto Lumian recuava.

O sorriso de Pons Bénet tornou-se sinistro quando ele avançou, gritando:

— Patife, é hora de você saber quem é o foda aqui!

Antes que pudesse completar a frase, Pons já havia acelerado os passos e atacado Lumian. Os outros brutos seguiram o exemplo.

Em Cordu, um lugar onde a lógica não tinha influência e as desculpas caíam em ouvidos surdos, a força bruta era a única linguagem que podia impor respeito. Guillaume Bénet, o padre, sabia disso muito bem, já tendo recorrido à violência inúmeras vezes. Assim, quando soube que os forasteiros haviam sido conduzidos à catedral por Lumian, o padre não perdeu tempo em agir. Ele estava determinado a agarrar o encrenqueiro e subjugá-lo até que ficasse acamado por um mês. O padre fez questão de mostrar a Lumian o erro de sua atitude e não descansaria até que alguém pagasse o preço por sua insolência.

Claro, ele tinha que evitar Aurore.

Quanto à lei, bastava notificar o administrador e o juiz do território, Béost. Era improvável que os xerifes da cidade investigassem uma questão tão pequena no campo.

Como estranho, Béost não ofenderia um padre nascido localmente, a menos que houvesse um conflito de interesses significativo.

Guillaume Bénet sentiu-se feliz por os estrangeiros não terem divulgado a ninguém o seu caso com Madame Pualis, a mulher do administrador. Ele ainda não sabia disso.

Apesar da velocidade, Lumian foi mais rápido. Assim que Pons falou, Lumian girou e saiu correndo.

Ele estava familiarizado com o caráter e os métodos do padre.

Anteriormente, um aldeão acusou Guillaume Bénet de ter múltiplas amantes e de desviar ofertas do Eterno Sol Ardente. Ele também intimidou outras pessoas incansavelmente na aldeia, dificilmente se comportando como um homem do clero. Posteriormente, o aldeão morreu misteriosamente uma tarde.

Thud! Thud! Thud! 

Lumian correu como o vento.

— Espere pelo seu papai, hein? Obedeça ton père2! — Pons gritou enquanto o perseguia. Seu ritmo também não era lento.

Os bandidos o perseguiram de perto.

Em vez de fugir pela estrada principal, Lumian disparou para a casa mais próxima.

A família estava preparando o almoço na cozinha quando de repente viu um estranho entrar.

Com um swoosh, Lumian passou por eles e saltou pela janela da cozinha nos fundos.

Quando Pons e seus comparsas entraram, o proprietário já havia recuperado os sentidos. Ele se levantou para confrontá-los e perguntou: — O que está acontecendo? O que vocês estão fazendo?

— Sai da frente, velho! — Pons empurrou o proprietário para o lado com força, mas isso o atrasou.

Quando chegaram à janela e saltaram, Lumian já havia desaparecido em outra trilha.

Depois de persegui-lo por um tempo, perderam Lumian completamente de vista.

— Sacrebleu, ces chiens fous!3 — Pons cuspiu na beira da estrada.

Do lado de fora da residência semi-subterrânea de dois andares, Lumian respirou fundo antes de finalmente abrir a porta e entrar na casa como se nada tivesse acontecido.

— Um, dois, três, quatro; dois, dois, três, quatro… — Uma série de sons rítmicos reverberou em seus ouvidos.

Lumian olhou para o espaço vazio do outro lado da cozinha e observou o cabelo loiro de Aurore preso em um rabo de cavalo. Ela usava uma camisa de linho, calças brancas justas e botas escuras de pele de carneiro, saltando e encharcada de suor.

Em Cordu, a cozinha ocupava a maior parte do espaço do primeiro andar, servindo como núcleo da família. Cozinhar e jantar aconteciam aqui, assim como receber convidados.

“Ela está se exercitando de novo…” Lumian estava acostumado com as excentricidades de Aurore e não se incomodava com seu regime de exercícios.

Aurore costumava fazer coisas estranhas sem dar qualquer motivo quando questionada.

“No mínimo, fazer exercícios é benéfico e é um verdadeiro banquete para os olhos…” Lumian observou em silêncio.

Depois de um tempo, Aurore parou e se agachou para desligar o gravador preto.

Ela pegou a toalha branca de Lumian e o instruiu enquanto enxugava o suor da testa,

— Lembre-se, temos treino de combate esta tarde.

— Eu tenho que estudar e aprender combate. Você não está exigindo muito de mim? — Lumian resmungou com indiferença.

Aurore olhou para ele, sorrindo, e respondeu: — Você deve lembrar que nosso objetivo é o desenvolvimento abrangente das cinco educações: moralidade, intelecto, físico, estética e trabalho!

Quanto mais ela falava, mais feliz ficava, como se estivesse lembrando de algo bonito ou divertido.

“Já fui reprovado na educação moral…” Lumian murmurou baixinho.

Ele perguntou: — Que tipo de combate?

Uma das coisas que ele não conseguiu compreender foi que Aurore, que parecia delicada e frágil, era uma especialista em combate. Ela dominava inúmeras técnicas de luta e poderia facilmente vencê-lo.

Aurore ponderou seriamente, inclinou-se ligeiramente para a frente e olhou nos olhos de Lumian.

Ela então riu muito e declarou: — Autodefesa!

— Huh? — Lumian exclamou surpreso. — Isso não deveria ser para meninas?

Aurore se levantou e balançou a cabeça gravemente, dizendo sinceramente: — Os meninos devem se proteger quando estão fora. Quem disse que os meninos não encontram pervertidos?

O sorriso em seus lábios não estava mais escondido.

Lumian não tinha certeza se sua irmã estava brincando ou falando sério, então permaneceu em silêncio enquanto pegava a toalha branca e se dirigia para as escadas.

De repente, sentiu algo apertar seu pé, como se tivesse tropeçado em um obstáculo. Ele tropeçou para frente.

No ar, Lumian contraiu apressadamente o abdômen, estendeu o braço e encostou-se na cadeira ao lado dele. Ele deu uma cambalhota e mal caiu de pé.

Aurore retraiu a perna e riu.

— Um dos princípios fundamentais do combate é estar sempre vigilante.

— Lembre disso, meu irmão mais novo.

Sua mão direita já havia agarrado as costas de Lumian, mas quando viu que ele havia recuperado o controle do corpo, ela o soltou.

— É porque eu confio demais em você… — Lumian resmungou.

Ele contemplou o assunto e percebeu que essa confiança não tinha sentido. Ele havia perdido a conta de quantas vezes esteve à mercê de Aurore.

Aurore tossiu e conteve a expressão.

— Como foi com aquela mulher?

Lumian forneceu um breve resumo da conversa antes de declarar: — Pretendo esperar a resposta de seus amigos antes de mergulhar no sonho.

— Decisão inteligente, — afirmou Aurore.

Lumian mudou de assunto.

— O que há para o almoço?

— Ainda temos algumas torradas desta manhã. Vou assar mais quatro costeletas de cordeiro para você, — respondeu Aurore depois de refletir por um momento.

— E você? — Lumian perguntou.

Aurore disse casualmente: — Vou comer apenas pedaços de frango com trufas de bambu cobertos com um pouco de queijo e sopa de cebola. Experimentei da última vez e achei bastante…

Antes que pudesse terminar de falar, ela congelou de repente.

No momento seguinte, ela levantou as mãos para cobrir os ouvidos. Os músculos de seu rosto se contorceram gradualmente, fazendo-a parecer um tanto feroz.

Lumian observou silenciosamente, com os olhos cheios de ansiedade e apreensão.

Depois de um tempo, Aurore exalou profundamente e voltou ao seu estado normal.

Sua testa estava encharcada de suor mais uma vez.

— O que aconteceu? — Lumian perguntou.

Aurore sorriu e respondeu: — O zumbido em meus ouvidos está aumentando de novo. Você sabe que tenho esse velho problema.

Lumian não investigou mais. Em vez disso, disse: — Tudo bem, então prepararei o almoço. Descanse bem.

Cada vez que isso acontecia, seu anseio por habilidades extraordinárias ficava mais forte, à medida que se tornava um assunto urgente.


Notas:

[1] meu amigo.

[2] seu pai.

[3] Porra, esse cachorro maluco.

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