Depois de se despedir de Balzac, Eugene e seus companheiros embarcaram numa diligente jornada de preparação para o que viria a seguir. A subjugação de Raizakia, no entanto, não se desenrolaria neste mundo, mas no vácuo etéreo que existia entre as dimensões. Eugene observava há muito tempo a escassa concentração de mana que permeava esse espaço peculiar. Os Magos enfrentavam limitações e restrições maiores dentro de seus confinamentos, ao contrário daqueles que encontravam em outros lugares. Para agravar o desafio estava o adversário de Eugene, um dragão formidável e um verdadeiro mestre das artes arcanas. No entanto, este não era um dragão comum; era o Dragão Negro Raizakia, conhecido por ser o mais poderoso dos dragões.
A própria existência de Raizakia poderia ser considerada a ruína dos magos. Além disso, o ambiente que o aprisionou impôs encargos adicionais aos conjuradores, restringindo ainda mais suas habilidades e limitando seus poderes.
Mas esse não foi o fim dos seus desafios. Existia uma probabilidade significativa de interrupção da comunicação com os Reis Espíritos dentro do vazio interdimensional. Da mesma forma, as habilidades de invocação de Lovellian, que recorriam a criaturas de dimensões alternativas, enfrentavam o risco de falhar.
Em outras palavras, Eugene não poderia contar com a ajuda de outras pessoas. Lovellian e Melkith ficaram profundamente desapontados e tristes com o fato.
A determinação inabalável de Lovellian em resgatar a Sábia Sienna, que poderia ser considerada sua grande mentora, foi um esforço pelo qual ele considerou digno de sacrificar sua própria vida. Da mesma forma, Melkith nutria um profundo desejo de ajudá-lo na missão de salvar a Senhorita Sienna. Afinal, Sienna era objeto de admiração e reverência entre todos os magos.
No entanto, havia uma boa chance de que morressem como um cachorro. Diante dessa perspectiva assustadora, Eugene tomou uma decisão fatídica. Em vez de buscar a ajuda de seus companheiros, ele resolveu enfrentar Raizakia sozinho.
— E você tem alguma chance? — Perguntou Melkith.
Depois de se separar de Balzac, o grupo aproximou-se da Árvore do Mundo em vez de ir para a capital da Tribo Kochilla. Através das habilidades de discernimento de Akasha e Ramira, eles detectaram uma ‘porta’ próxima à Árvore do Mundo — uma entrada que se conectava a ninguém menos que o próprio Raizakia.
— Não é como se eu não tivesse. — Respondeu Eugene. Também não era como se Raizakia estivesse em perfeitas condições. O Dragão Negro ficou preso no espaço entre as dimensões por trezentos anos.
Os dragões possuíam a notável capacidade de resistir sem necessidade de sustento, nem de comida nem de bebida. No entanto, a escassa concentração de mana na brecha interdimensional teria sido lamentavelmente insuficiente para sustentar Raizakia com qualquer aparência de conforto. Assim, o formidável dragão não teve alternativa senão confiar em suas próprias reservas de mana para sobreviver.
Havia muitas coisas com que se preocupar. Primeiro, quanto da mana armazenada em seu Coração de Dragão Raizakia consumiu? Além disso, Eugene não conseguia esquecer que Raizakia não era um dragão comum. Ele era uma existência especial — o Dragão Demoníaco.
Raizakia permaneceu como uma figura sem precedentes entre os dragões caídos, uma existência singular diferente de qualquer outra que existiu antes. Ao contrário dos magos negros que firmaram contratos com o Rei Demônio, Raizakia não escolheu esse caminho. Em vez disso, ele abraçou voluntariamente a influência corruptora do Poder Negro de Helmuth, permitindo-se ser contaminado por sua malevolência.
Havia muitas incertezas em relação a Raizakia. No entanto, Eugene estava claramente ciente das desvantagens que possuía na batalha contra o Dragão Negro.
Primeiro de tudo, ele não poderia usar a Proeminência na próxima batalha. A proeminência ampliava o poder de Eugene ao assumir o controle da mana e dos espíritos primordiais nos arredores, então seria difícil utilizar plenamente a habilidade em um lugar desprovido de espíritos primordiais e escasso em mana.
— Hum. Acho que posso fornecer alguma assistência nesse assunto. — Disse Lovellian.
Eugene recebeu ajuda de Lovellian e Melkith na criação da Proeminência, então estavam bem cientes das desvantagens que Eugene enfrentava.
— A Mestra da Torre Branca e eu podemos lhe emprestar nossa mana, que você pode armazenar em Akasha. Se pudermos lhe dar o máximo de mana possível, você será capaz de fazer uso da Proeminência na fenda dimensional. — Continuou Lovellian.
— Tudo bem com isso? — Perguntou Eugene.
— Isso não importa para mim. Mesmo que eu não consiga usar magia por um tempo, quero ser uma força para você e para a Senhorita Sienna. — Respondeu Lovellian. A mana se regeneraria naturalmente com o tempo, mas ainda era fatal para os magos ficarem completamente vazios.
— Por que eu também? — Perguntou Melkith.
— Mesmo que você fique sem mana, pode obter ajuda dos Reis Espíritos de qualquer maneira. — Respondeu Lovellian.
— É verdade, mas… Hmph. Agora que você tocou na ideia, seria um pouco indecoroso se eu dissesse não, certo? — Perguntou Melkith.
— Saiba que já é impróprio para você fazer essa pergunta. — Rebateu Lovellian. Naturalmente, Melkith não sentiu vergonha alguma.
Sem qualquer razão convincente para recusar a proposta de Lovellian, Eugene recebeu a sua oferta de braços abertos. Assim, Lovellian e Melkith não pouparam esforços, reunindo incansavelmente todos os minúsculos vestígios de mana que puderam encontrar ao longo de sua jornada em direção à Árvore do Mundo e armazenando-os meticulosamente dentro do recipiente de Akasha.
Embora Akasha já tivesse um enorme reservatório de mana, Eugene não estava disponível para usá-lo livremente. Isso ocorria, porque a mana contida no Coração do Dragão foi alocada para a manifestação dos diversos poderes de Akasha, bem como para a atualização da magia de Eugene.
“Seria suicídio para mim envolver Raizakia em uma batalha de magia.”
Ele não usaria magia exceto a Proeminência. Na próxima batalha contra Raizakia, Eugene precisaria lutar exaustivamente como guerreiro.
Ele não pôde deixar de se perguntar se conseguiria fazer isso.
Não queria pensar nisso, mas as perguntas continuavam aparecendo em sua mente à medida que se aproximava da Árvore do Mundo.
Seria possível sendo quem ele era agora? Ele era definitivamente mais forte do que em sua vida anterior. Na verdade, tal convicção já estava estabelecida há muito tempo.
Mas isso era suficiente? Isso ele não conseguia responder. Os Três Duques de Helmuth — a Lâmina do Encarceramento, a Rainha dos Demônios da Noite e o Dragão Demoníaco — todos os três foram oponentes que ele não conseguiu derrotar sozinho em sua vida anterior. Em vez disso, eles eram oponentes que ele só poderia matar com todos os cinco heróis presentes.
Mas ele não tinha ninguém para ajudá-lo desta vez. Moron estava ocupado defendendo o Norte contra os Nur, e Eugene não sabia se Vermouth estava vivo ou morto ou por que havia pedido tal coisa a Moron.
Eugene analisou silenciosamente a situação e a falta de ajuda de seus ex-companheiros.
Infelizmente, Kristina não poderia acompanhá-lo nesta perigosa expedição. A extensão desconhecida entre as dimensões continha riscos inerentes, e havia uma possibilidade distinta de que Anise, como forma de alma, pudesse desaparecer durante sua árdua jornada. Tanto Kristina quanto Anise estavam perfeitamente conscientes desses perigos.
Assim, todos os dias, as duas ofereciam fervorosamente orações pelo bem-estar de Eugene. Elas se sentavam, embalando Altair, a Espada Sagrada, em seus colos, canalizando sua devoção sincera para imbuí-la com tantas bênçãos milagrosas quanto suas habilidades combinadas pudessem reunir.
— Oh, Santa Luz…
As duas chamaram a Deus repetidas vezes. Elas oraram para que Eugene realizasse sua vontade, que conseguisse eliminar o Dragão Negro corrompido e que não morresse ou sofresse ferimentos irreparáveis. Elas oraram para que ele voltasse para elas com um sorriso brilhante.
— Haha. — Eugene riu enquanto olhava para a fogueira. Ter tantas pessoas preocupadas com ele era… Não, além disso, seu olhar desviou-se para os dedos apoiados no joelho. Apesar de seus melhores esforços para manter a calma, um tremor involuntário os percorria, traindo a tensão subjacente que dominava seu próprio ser.
Ele já ficou tão nervoso depois de renascer como Eugene? Além do caso em que ele foi repentinamente confrontado pelo Rei Demônio do Encarceramento, ele já se sentiu tão ansioso e… Com medo antes de uma luta contra um inimigo?
“Se eu tivesse mais tempo para me preparar…”
Sua Fórmula da Chama Branca ainda estava na Sexta Estrela. Ele ainda tinha espaço para melhorar. Alternativamente, ele considerou embarcar em uma missão para procurar fragmentos adicionais da Espada do Luar nos reinos de Helmuth. Também cogitou a possibilidade de que a família Lionheart, com seus vastos recursos e influência, pudesse potencialmente descobrir mais fragmentos imbuídos do poder da espada.
Mas seja qual for o caso, ele precisava de mais tempo… Mas ele tinha tempo de sobra? Não sabia. Poderia ao menos procurar os fragmentos da Espada do Luar com dinheiro e influência? Não, seria impossível.
Os demônios mais antigos sabiam sobre a Espada do Luar. Em particular, Gavid Lindman e Noir Giabella sabiam o quão problemática era a Espada do Luar.
Noir sabia que Eugene estava de posse da Espada do Luar. Por outro lado, Gavid permaneceu alheio a este detalhe crucial. As ramificações da descoberta de Gavid de que fragmentos da Espada do Luar estavam sendo procurados e que a própria espada residia ao alcance de outra pessoa eram incertas e imprevisíveis. Era um assunto delicado, e a reação que Gavid exibiria ao saber dessa verdade permanecia um enigma.
Além disso, e o Rei Demônio do Encarceramento? Quanto tempo o misterioso Rei Demônio esperaria por Eugene? Quanto tempo estaria ele disposto a esperar por Eugene em Babel, como havia proclamado?
“Raizakia também é um problema. Ele não está completamente incapacitado. Está ganhando seu tempo enquanto se protege na brecha entre as dimensões, esperando por uma chance de escapar…”
Eugene virou-se para o lado. Ele podia ver Ramira enrolada debaixo das cobertas.
Seus pesadelos pioravam à medida que se aproximavam da Árvore do Mundo.
Apesar de seus esforços para esconder isso, uma mudança notável ocorreu em Ramira. Gradualmente, ela parou de participar das refeições e de suprimir os sons de seus pesadelos angustiantes que a assombravam todas as noites. Kristina, sempre atenciosa, fez o possível para ajudar Ramira a encontrar consolo, usando sua magia divina para aliviar seu sono conturbado e segurando-a em um abraço reconfortante. Porém, naqueles momentos em que Kristina estava imersa em suas orações, não havia ninguém que lhe desse um abraço reconfortante.
“A influência maligna de Raizakia está se tornando mais forte e a está afetando.”
Eugene ficou nervoso ao saber que Raizakia era capaz de tal interferência. E se Raizakia escapasse enquanto Eugene ganhava confiança para matar o Dragão Negro? Sienna conseguiu sobreviver durante séculos por causa do milagre da Árvore do Mundo e da ausência de Raizakia, a fonte de sua maldição, neste mundo.
Poderia o milagre da Árvore do Mundo continuar a proteger Sienna mesmo quando Raizakia escapasse de sua prisão e retornasse a este mundo?
“Não há como aquele lagarto deixar Sienna ilesa.”
Raizakia era uma criatura arrogante e não deixaria Sienna ilesa depois que ela o baniu por centenas de anos.
Eugene olhou para a fogueira por um momento antes de se levantar.
Sempre que queria limpar sua mente dos pensamentos atormentadores, mover seu corpo era melhor do que dormir.
— Você está indo a algum lugar? — Cyan perguntou, levantando o olhar para encontrar o rosto de Eugene.
Sua voz foi sumindo ao contemplar o semblante de Eugene, congelado em uma rigidez incomum, enquanto seu cabelo úmido grudava na testa, umedecido pela transpiração. Cyan não pôde deixar de sentir uma onda de preocupação; sua respiração ficou momentaneamente presa na garganta com a visão diante dele.
Eugene sempre esteve relaxado nas memórias de Cyan. Foi a primeira vez que viu Eugene tão nervoso e agitado.
— Você está bem? — Cyan perguntou.
— Eu simplesmente não consigo dormir. — Eugene respondeu, oferecendo um sorriso para Cyan, embora seus olhos revelassem um cansaço que persistia. Ele apontou para a parte de trás do acampamento. — Só vou balançar minha espada um pouco, então não se preocupe com isso e vá dormir. É inútil se preocupar comigo.
Mas como palavras tão simples poderiam acalmar a preocupação de Cyan? Ele se levantou para seguir Eugene, mas Eugene balançou a cabeça com firmeza.
— Quero me concentrar sozinho.
Eventualmente, Cyan se acomodou novamente em seu assento, com a mão firmemente cerrada em punho enquanto observava a figura de seu irmão recuando. Ele não sucumbiu a uma sensação de desamparo ou a qualquer sentimento semelhante. Em vez disso, seu coração transbordava apenas de profunda preocupação por Eugene. Embora Cyan não conseguisse simpatizar completamente com os fardos que pesavam sobre ele, sua preocupação com o irmão permaneceu.
Para Cyan, os dragões eram apenas criaturas lendárias. Além disso, Raizakia não era apenas um simples dragão, mas uma verdadeira lenda da época de seu antepassado, Vermouth.
Era um feito inimaginável para Cyan lutar e matar tal existência.
“Mas se for você…”
Ele realmente pensava assim?
Cyan não conseguia mais ver a figura de Eugene.
Ele queria pensar que Eugene ficaria bem, como sempre. Mesmo que enfrentasse um desafio inimaginável, Cyan queria acreditar em Eugene. Não, pelo contrário, ele tinha que acreditar em Eugene.
Eugene não se afastou muito do acampamento. Ele não achava que uma longa caminhada ajudaria a acalmar seu coração. Assim, depois de caminhar uma boa distância, Eugene desembainhou a espada.
Era uma espada simples e comum. Não era a espada que ele empunharia contra Raizakia na próxima batalha. Ele provavelmente confiaria na Espada Sagrada e na Espada do Luar na batalha.
No final das contas, coube a Eugene segurar a espada firmemente em sua mão. Em contraste com a sua existência anterior, onde o seu arsenal era escasso, ele agora possuía uma infinidade de armas excepcionais à sua disposição. No entanto, uma corrente de preocupação tomou conta de seus pensamentos, alertando-o contra a complacência.
— Estou tendo todos os tipos de pensamentos. — Eugene bufou antes de começar a brandir sua espada.
Naturalmente, ele se repreendeu por alimentar uma ideia tão tola. Era verdade que as armas que ele empunhava agora superavam tudo o que ele possuía em sua vida anterior, superando-as em todos os aspectos. No entanto, ao contrário de sua preocupação infundada, suas próprias habilidades não haviam diminuído, mas sim se tornado mais nítidas e refinadas. A jornada para aprimorar suas habilidades foi uma busca incansável pela perfeição, alinhando sua maestria com as armas requintadas que lhe foram concedidas.
Ele tentou o seu melhor para ganhar confiança. Para que pudesse vencer em todas as situações. Porque seus inimigos eram muito fortes. Por isso se aprimorou desesperadamente. Ele continuou a treinar, aprender magia e criar novas habilidades.
Ele tentou o seu melhor. Nunca perdeu nem um segundo após sua reencarnação, e cada momento foi uma parte crucial para permitir que ele se tornasse quem ele era agora.
“Eu posso matá-lo.”
Eugene concentrou-se, todo o seu ser sintonizado com as sensações que percorriam seu corpo. Desprovido de mana, ele abraçou a espada, sentindo intimamente seu peso e textura como se fosse uma extensão de seu braço. Essa consciência intensificada concedeu-lhe a capacidade de entrar em batalha sem sucumbir à influência de qualquer circunstância.
“Eu posso salvá-la.”
Pensamentos sobre Sienna, a garota infeliz e ingênua, ocuparam a mente de Eugene. Sua forma delicada apresentava uma ferida profunda, uma cavidade considerável em seu peito, sua existência sustentada apenas pelos poderes milagrosos da Árvore do Mundo. Cada momento que passava intensificava a apreensão que rodeava o seu estado frágil, deixando a incerteza pairando sobre o seu futuro, a sua vida à beira de um precipício, com a ameaça iminente de morte iminente.
Ele queria salvar Sienna. No final, foi por isso que ele estava avançando com a subjugação de Raizakia.
Ele queria vê-la, salvá-la o mais rápido possível. Não seria capaz de aceitar se algo acontecesse e não poderia mais salvá-la se ela morresse.
Ele se enfureceu na Fonte de Luz por Anise. Foi por Kristina, que foi criada como Anise, um ser transformado em brinquedo do destino.
Eugene salvou as duas. Ele destruiu a Fonte de Luz e salvou a alma de Anise. Ele destruiu as correntes do destino que aprisionavam Kristina e deu-lhe liberdade.
Eugene havia brigado com Moron em Lehainjar, porque não podia deixá-lo sozinho, porque estava enlouquecendo depois de centenas de batalhas exaustivas. Eugene não conseguiu encontrar uma solução comum para a situação de Moron. Independentemente do que Eugene fez, Moron tinha que continuar lutando contra os Nur em Lehainjar, como tinha feito até agora. Mas mesmo que não conseguisse encontrar uma resposta, ele não deixou Moron sozinho. Eugene tentou trazê-lo de volta aos seus sentidos espancando-o, embora tenha acabado com sua própria surra.
Era a mesma coisa agora. Ele estava seguindo em frente, porque queria salvar Sienna e não podia deixá-la sozinha.
Porque ele havia conversado com Sienna e também porque conhecia a situação dela. A garota estúpida chorou muito na frente dele. Ele fez uma promessa de salvá-la enquanto agia bravamente como um idiota.
— Não vamos agir de maneira imprópria. — Eugene sussurrou baixinho depois de parar repentinamente a espada no meio do golpe. — Seria ridículo se eu a salvasse tarde demais depois de dizer tais coisas.
Suas palavras foram dirigidas a si mesmo, sabendo muito bem que estava nervoso e ansioso.
— Isso não é novidade. Sempre arranjei briga com malditos que eram impossíveis de vencer.
Tais situações tinham sido comuns na vida anterior de Eugene, então por que o desconforto o dominava agora? Ele riu baixinho, de forma autodepreciativa, enquanto enxugava as gotas de suor que se formavam em sua testa. O ato de brandir a espada trouxe-lhe uma sensação peculiar de consolo, um conforto peculiar que ele acolheu de todo o coração. Embora a transpiração fria o fizesse tremer na presença da fogueira crepitante, o calor que agora corria em suas veias combinava com a intensidade de seu coração acelerado.
De repente, a voz de Mer quebrou o silêncio enquanto ela enfiava a cabeça por baixo do manto de Eugene. Ela havia deliberado em encontrar palavras de conforto para amenizar seus medos e ansiedades, mas acabou optando por permanecer em silêncio, permitindo-lhe espaço para encontrar seu próprio equilíbrio. Como ela esperava, Eugene acabou recuperando a compostura sozinho.
Mer acreditava que era hora de falar abertamente para ajudar Eugene a se animar.
— Você matará Raizakia e salvará a Senhorita Sienna, Sir Eugene. Depois, retornará saudável e iremos brincar de mãos dadas. Você, eu e a Senhorita Sienna.
— Para onde iríamos? — Perguntou Eugene.
— Poderemos ir a qualquer lugar. O mais importante é isto: você segurará minha mão direita e a Senhorita Sienna segurará minha mão esquerda. Depois de dizer isso, Mer fechou os lábios por um momento. Então inclinou a cabeça com séria contemplação. — Ou você pode simplesmente dar as mãos para a Senhorita Sienna, Sir Eugene.
— Por que eu seguraria a mão dela? — Disse Eugene.
— Você não vai? Você sempre pode segurar minha mão todos os dias, e mesmo agora, mas a mão da Senhorita Sienna não será tão fácil de segurar quanto a minha. — Retrucou Mer.
— Não será fácil de segurar? Então…
— Você está dizendo que pode segurar a mão da Senhorita Sienna sempre que quiser, Sir Eugene? — Gritou Mer, sem perder uma única palavra que Eugene sussurrou. Ela pulou para cima e para baixo com um sorriso brilhante. — Bem, claro! Afinal, você e a Senhorita Sienna fizeram aquilo juntos.
— O quê?
— Você sabe, aquilo. Foi você quem disse, Sir Eugene. — Mer disse.
— Quando eu disse isso?! — Eugene rugiu.
— Você deve ter esquecido, mas posso ler seus pensamentos superficiais. Eu já sei que sempre que você pensa na Senhorita Sienna, sempre pensa na lembrança de ter feito aquilo com ela. — Continuou Mer provocativamente.
O rosto de Eugene ficou vermelho brilhante.
A natureza travessa de Mer a tentou a provocar ainda mais Eugene, mas seus encontros anteriores lhe ensinaram as consequências de forçar demais a sorte — um croque na cabeça era um destino que ela desejava evitar. Apressadamente, recuou para o santuário de seu manto, bem consciente da frustração fervilhante que fervia dentro dele.
— Hmm… — Eugene acalmou sua raiva.
Ele ouviu uma tosse atrás de uma árvore. A cabeça de alguém apareceu por trás dele.
— Esta Senhorita ia te ajudar, porque você parecia assustado, mas você melhorou?
Era Ramira.
Emergindo de trás da árvore, Ramira apresentou-se com um ar de resiliência, apesar dos sinais reveladores de olhos avermelhados. Ela estava alta, com o peito erguido.
— Por que você veio aqui sem dormir? E Kristina? — Perguntou Eugene.
— A mãe… Ehem, a… Mulher santa está em profunda oração. Embora esta senhorita preferia que ela a abraçasse. — Ramira murmurou.
— Você nunca deixa de pronunciar palavras desnecessárias que lhe rendem um tapa. — Retrucou Eugene, com uma pitada de exasperação tingindo sua voz.
— Hiek. — Ramira recuou rapidamente. — Hum… Esta senhorita está feliz por você estar se sentindo melhor, mas se está realmente com medo, há uma razão para ir lutar contra o Dragão Negro…?
— Você vai continuar falando bobagens? — Eugene perguntou.
— Hum… Esta senhorita só está dizendo isso, porque está preocupada com você. E… Bem, esta senhorita pode não estar pronta para conhecer o Dragão Negro. — Ramira olhou de relance para Eugene enquanto hesitava.
Ela não estava mentindo quando disse que estava preocupada com Eugene. Embora o canalha tivesse uma personalidade desprezível, ele foi muito bom com Ramira durante a jornada.
Permitiu que ela entrasse em seu manto para que não se machucasse, e às vezes segurava a mão dela dentro do manto quando ela tremia demais…
— Esta senhorita não quer que o Dragão Negro te mate.
— Não sei quem está se preocupando com quem. Vou matar seu pai. — Disse Eugene.
— Hum… Ehem. Esta senhorita acredita que o Dragão Negro não morrerá em suas mãos. Humano malvado, eu sei que você é forte o suficiente para ser o mais forte entre os humanos, mas não há como ser poderoso o suficiente para alcançar o Dragão Negro, o mais forte dos dragões. — Retrucou Ramira.
— Ah, isso é bom para você. Se eu morrer, seu pai cuidará muito bem de você. — Disse Eugene.
— Bem, como acabei de dizer… Esta senhorita ainda não está pronta para o reencontro…
Os ombros de Ramira caíram mais uma vez, oprimidos pelo peso do seu medo. A presença iminente do Dragão Negro intensificou seus pesadelos, atormentando-a com intensidade crescente à medida que sua jornada os aproximava do Dragão Negro. A inquietação atormentava seu coração e sua mente, exacerbando o mal-estar que tomava conta de seu ser.
Ramira questionou seu medo. Por que ela estava com tanto medo de se aproximar de seu pai, o Dragão Negro?
— Então… Esta senhorita acha que seria melhor voltarmos agora. Bem, estou preocupada com você e—
— Pare com essa bobagem e vá dormir. — Interrompeu Eugene.
— Eek… Esta senhorita está sendo atenciosa com você…!
— Não, é porque você está com medo.
— P-Por que esta senhorita estaria com medo? Não há razão para eu ter medo do Dragão Negro. S-Se eu tivesse que escolher algo de que tenho medo… E-Esta senhorita estaria com medo de que o Dragão Negro possa engoli-lo inteiro.
Um pesadelo assustador ressurgiu na consciência de Ramira, lembrando vividamente a sensação de ser engolida inteira. A lembrança angustiante causou arrepios em sua espinha, fazendo-a instintivamente se enrolar em uma bola protetora mais apertada, buscando consolo dos tremores que percorriam seu corpo.
— Hmm… S-Se o Dragão Negro tentar engolir você inteiro, esta senhorita vai reunir toda a coragem e… Bem… Pedir ao Dragão Negro para não engolir você.
— Você está dizendo algo estranho de novo.
— Continue ouvindo…! Então, bem, vou implorar diretamente ao Dragão Negro para que ele poupe você, o humano que está tentando matá-lo. E se possível, deixarei que você mantenha sua vida como servo desta senhorita.
Normalmente, ele teria recebido bem a bobagem dela com uma batida na joia vermelha em sua testa. No entanto, Eugene permitiu que ela continuasse e ouviu em silêncio quando viu como a voz dela tremia e os olhos ficavam vermelhos.
— E… S-Se esta senhorita for engolida por alguma coisa…
— Então vou tirar você dessa… Alguma coisa… Mandíbulas. — Eugene disse com uma bufada. — Embora eu não saiba o que diabos pode ser essa coisa.
— E-Esta senhorita também não sabe.
— E se você for mastigada e morrer? — Perguntou Eugene.
— Não diga algo tão horrível! — Ramira gritou. — De qualquer forma, esta é uma promessa entre você e eu. Entendeu? — Perguntou Ramira.
— Tudo bem, tudo bem. — Eugene grunhiu.
A resposta de Eugene, embora breve, continha um poder calmante que gradualmente acalmou os tremores dentro de Ramira. Com um suspiro de alívio, ela levantou a cabeça, encontrando o olhar de Mer, que acenava para ela do abrigo do manto de Eugene.
— Hmph. Esta senhorita não tem outra escolha se você me chamar assim. — Ramira saltou na direção de Eugene e depois se enfiou em seu manto.
— Agh! — Assim que entrou, Ramira gritou.
— Sua pirralha arrogante. Quem é você para dizer a Sir Eugene para não ir?
— Ah! Isso dói! Isso dói!
A retribuição de Mer fez o manto balançar.
O tanto que o hamel evoluiu como pessoa ao decorrer da obra foi maravilhoso, acho que a novel tem vários pontos negativos( como toda obra) mas a maneira como o autor lida com a humanidade dos personagens é maravilhoso.
Eu simplesmente achei foda essa dinâmica dos sentimentos conflitantes de Eugene. Ele tem medo de morrer, mas é completamente sobrepujado pelo medo de seus amigos pagarem o preço de sua morte, ainda sendo intensificado pelas consequências de hesitar e seus sensos de dever.