Duvidando de Vermouth?
Naturalmente, havia dúvidas.
Seria estranho não abrigar dúvidas.
Vermouth Lionheart, aquele cara já era suspeito até mesmo trezentos anos atrás. Não era estranho para uma pessoa ter um ou dois segredos que gostaria de esconder de todos, mas Vermouth tinha muito mais do que alguns segredos guardados.
Mesmo pensando nisso agora, tudo sobre Vermouth estava envolto em mistério e despertava suspeitas. Eugene até tinha dúvidas sobre se Vermouth tinha sido realmente humano; ele até se perguntava se Vermouth Lionheart havia sido seu verdadeiro nome.
Mas apesar das dúvidas que pairavam e de pensar em Vermouth como um maldito, Hamel/Eugene acreditava em Vermouth.
Ele entendia muito bem que confiança e dúvida não podiam andar de mãos dadas. No entanto, ele acreditava em Vermouth, mesmo que o desgraçado talvez não fosse humano e mesmo que Vermouth não fosse seu nome verdadeiro.
Era simples. Eugene tinha fé em Vermouth.
E não era apenas Eugene. Até Sienna, que fora apunhalada no coração por Vermouth, confiava nele. Moron, que caçou monstros por mais de cem anos devido a um único pedido do homem, também acreditava em Vermouth. Anise, que havia supervisionado pessoalmente o funeral de Vermouth com lágrimas nos olhos, também acreditava em Vermouth.
Como facas, a pergunta do Rei Demônio atingiu forte e fundo no espírito ferido de Eugene. Era sufocante. Eugene encarou o Rei Demônio do Encarceramento sem oferecer uma resposta imediata.
Deixando de lado a confiança em Vermouth, aquela pergunta atingia muito perto de casa. Era tão certeira que até parecia ofensiva.
A essa altura, ficava claro que Vermouth não era o único envolvido em sua reencarnação. Talvez Vermouth tenha buscado a ajuda do Rei Demônio do Encarceramento para realizar esse feito inaudito e quase impossível.
— Eu entendo o que você está pensando. — Disse o Rei Demônio do Encarceramento como se pudesse ler os pensamentos de Eugene. Ele parecia entretido. Diferente de seu encontro com Iris, ele sentia emoções e não se importava em escondê-las. — Você confia, mas duvida de Vermouth. Você confia no Vermouth Lionheart de trezentos anos atrás, aquele que perambulava pelo Domínio Demoníaco com você e seus camaradas. No entanto, você não conhece o Vermouth que existiu após a sua morte.
Eugene não tinha resposta para essa observação perspicaz.
— E não é só você. Sienna Merdein, Moron Ruhr e Anise Slywood — Nenhum deles conhece quem Vermouth se tornou depois que deixaram o Domínio Demoníaco. Após a sua morte, todos se distanciaram de Vermouth. — Continuou o Rei Demônio do Encarceramento como se estivesse narrando um conto.
Isso era irrefutavelmente verdade. Vermouth e o Rei Demônio do Encarceramento fizeram um acordo, encerrando a guerra. Moron se retirou para a tundra do norte e ficou ocupado estabelecendo um reino. Sienna e Anise, desapontadas com Vermouth, se isolaram na Torre Mágica e na Catedral, respectivamente.
— O mesmo se aplica a Vermouth. — Eugene cuspiu essas palavras enquanto mantinha um olhar penetrante no Rei Demônio.
Vermouth também falhou em lidar com as crescentes divisões e emoções à deriva. Olhando agora, até parecia que isso poderia ter sido intencional de Vermouth. Ele falhou em dar uma explicação adequada, falhou até em oferecer uma defesa simples e virou as costas para seus camaradas sem dizer uma palavra…
— Talvez você se pergunte se o Vermouth que você não conhece ficou louco e que eu, o Rei Demônio, o explorei? — Provocou o Rei Demônio com um olhar perspicaz. Quando Sienna foi atacada, a pessoa que a atacou foi Vermouth, mas não Vermouth. Mas ele não permaneceu hostil até o final. Depois de perfurar um buraco no peito de Sienna, o olhar de arrependimento e horror nos olhos de Vermouth, mesmo que por um breve momento, foi inconfundível.
Vermouth estava sendo mantido cativo pelo Rei Demônio do Encarceramento, potencialmente até controlado mentalmente. Tal possibilidade sempre pairava em suas mentes. Agora, eles tinham que considerar outras verdades potenciais também.
A Espada do Luar.
Não era apenas uma probabilidade vaga. Se Vermouth tivesse enlouquecido, seria indubitavelmente por causa da Espada do Luar.
Eugene estava convencido disso. Enquanto lutava contra Iris, Eugene experimentou em primeira mão, a lua enlouquecida tinha corroído sua sanidade. Seu ego ameaçava se despedaçar na voragem do brilho fosforescente.
Eugene achou difícil especular que tipo de ser um Vermouth louco poderia ser. O Vermouth que ele lembrava sempre fora racional, composto e meticuloso.
Reencarnação. Se fosse intenção de Vermouth, Eugene poderia aceitar de má vontade. Afinal, Vermouth fez inúmeras preparações para o benefício de Eugene.
Mas e se Vermouth tivesse enlouquecido, e essa reencarnação não fosse intenção de Vermouth, mas um sinistro plano do Rei Demônio do Encarceramento? Então, a própria reencarnação não seria uma armadilha? O que Eugene vinha fazendo até agora poderia de fato ser parte do esquema do Rei Demônio. E, de fato, o Rei Demônio do Encarceramento havia facilitado o caminho de Eugene várias vezes até agora.
— Não. — Eugene erradicou a hesitação em seu coração. — O simples toque de sua mão como o Rei Demônio na minha existência me revolta.
Havia uma possibilidade. No entanto, Eugene negou essa possibilidade. Não importava a verdade por trás da reencarnação, a natureza de Eugene permanecia inalterada. Era a mesma há trezentos anos e até no passado mais distante.
Ele mataria demônios, e mataria os Reis Demônios. Esse desejo simples e linear de matar ainda constituía a essência de Eugene, sua origem. Mesmo que tudo o que ele estivesse fazendo fosse dançar na palma do Rei Demônio do Encarceramento, o que Eugene tinha que fazer permanecia inalterado.
— Eu—
O Rei Demônio do Encarceramento começou a falar diante do ódio evidente de Eugene.
— Trezentos anos atrás, no auge de Babel, eu fiz uma promessa com Vermouth. Prometi devolver Sienna, Moron e Anise. E prometi devolver o seu corpo e alma.
Eugene havia suspeitado que o Juramento continha tal promessa. No entanto, era a primeira vez que ele a tinha confirmado pelo Rei Demônio do Encarceramento.
O Rei Demônio do Encarceramento observou enquanto o rosto de Eugene se endurecia e continuou a falar.
— Ao conceder a alma, eu atendi à demanda de Vermouth. Fundir a alma e as memórias não parecia ser uma tarefa fácil, mesmo para Vermouth.
Eugene apenas ouviu enquanto as perguntas esperadas eram finalmente respondidas.
— Assim como eu fiz com o Rei Demônio da Fúria, eu amarrei sua alma e memórias juntas. Esse é o alcance do meu envolvimento. — Afirmou o Rei Demônio do Encarceramento firmemente.
— O que você recebeu em troca de Vermouth? — Perguntou Eugene.
Ele tinha garantido sua vida do Rei Demônio do Encarceramento, teve o corpo e alma de seu companheiro falecido devolvidos e até mesmo teve séculos de paz garantidos…
O mundo não pagou preço algum pelo Juramento.
Os olhos do Rei Demônio do Encarceramento se curvaram para cima em um sorriso.
— A resposta para essa pergunta é importante para você? — Perguntou ele.
— É. — Respondeu Eugene sem hesitar.
— Você deve ter muitas outras coisas para perguntar sobre Vermouth agora. — Provocou o Rei Demônio do Encarceramento.
O Rei Demônio do Encarceramento levantou um dedo, movendo-o levemente. Com apenas esse gesto, as correntes que o sustentavam ecoaram em harmonia. Na frente de Eugene estava um homem de porte magro, envolto em dezenas, se não centenas, de correntes. Era um Rei Demônio que olhava com desdém para outros Reis Demônios. Era uma existência temida por outros Reis Demônios. Não, era uma existência temida até pelos deuses.
— Como devo chamá-lo? — Perguntou ele, dirigindo o dedo para Eugene. — O antigo Deus da Guerra, Agaroth? Hamel, O Tolo? Ou devo chamá-lo de Eugene Lionheart?
— Todas os três são eu. — Respondeu Eugene.
Ele virou a cabeça com uma risada vazia. A estátua de Agaroth estava à vista. Então, ele se lembrou da estátua de Hamel que tinha visto no deserto subterrâneo.
Finalmente, contemplando o eu do passado que existia na escultura, Eugene disse:
— O eu do momento. Eugene Lionheart. — Com essa declaração, ele reconheceu o eu que deu vida a este momento presente.
Era uma pergunta que não precisava de ponderação. Ele havia temido não ser ele mesmo, mas agora, esse medo tinha evaporado.
Não importava se ele era Agaroth, Hamel ou Eugene. As tarefas que estavam diante dele permaneceriam as mesmas. Enquanto as memórias permanecessem vívidas, o ego de Eugene não mudaria.
— As memórias de Agaroth não serão vívidas. — O Rei Demônio do Encarceramento retirou o dedo e então explicou mais.
— Aquela memória desapareceu no momento em que Agaroth morreu. O que você pode lembrar agora é devido ao relicário de Agaroth que foi atraído para a sua alma… e porque esta cidade, que uma vez o adorou, ressoou com o seu espírito. Inevitavelmente, você se tornou consciente de ser Agaroth e retirou a Espada Divina embutida na sua alma.
Eugene levantou a mão ao peito.
A Espada Divina que ele usou contra Iris era uma materialização do atributo divino de Agaroth e da fé que ele havia reunido. Na Era Mítica, Agaroth forjou o poder divino, tão vermelho quanto seu próprio sangue, em uma grande espada para abater os Reis Demônios.
— As memórias vagas lhe trarão grande confusão. Não seria melhor perguntar sobre você mesmo em vez de Vermouth? — Inquiriu o Rei Demônio do Encarceramento.
— Eu sou eu. — Respondeu Eugene enquanto apertava o peito. — E daí se as memórias de Agaroth não são claras? São lembranças de uma época mesmo antes de séculos atrás. Não estou desesperado por elas.
Não era que ele não quisesse lembrar delas com mais clareza. No entanto, para Eugene, entender o estado atual de Vermouth era mais crucial do que lembrar seu passado como Agaroth.
— Eu não tinha expectativas desde o início. Parece que você não dará uma resposta agora. — Cuspiu Eugene.
Ele encarou o Rei Demônio do Encarceramento, que encontrou o olhar de Eugene sem responder. Era um olhar inquietante, na percepção de Eugene.
— Você. — Inadvertidamente, a palavra escapou dos lábios de Eugene. Ele encarou profundamente esses olhos carmesins, ainda assim Eugene não conseguia decifrar as emoções enterradas profundamente neles. O Rei Demônio do Encarceramento tinha mostrado muitos sorrisos raros, mas Eugene não conseguia compreender o significado por trás dos sorrisos também.
O Rei Demônio da Fúria viveu desde a Era Mítica.
No entanto, após renascer, ele preservou as memórias de sua vida anterior por meio de um acordo com o Rei Demônio do Encarceramento e tornou-se o Rei Demônio da Fúria mais uma vez há trezentos anos.
Então, e os outros Reis Demônios? Os Reis Demônios do Caos e da Crueldade também viveram desde tempos antigos?
Não. Eugene se lembrou das palavras do Rei Demônio do Encarceramento, afirmando que a destruição era abrupta e irresistível. Se alguém pudesse sobreviver à destruição, não haveria necessidade do Rei Demônio da Fúria morrer e renascer desnecessariamente.
Irresistível, era?
— O que é você? — Disse Eugene.
Não estava certo diante de seus olhos?
O Rei Demônio do Encarceramento era aquele que resistiu à destruição que apagou a Era Mítica. O poder de um Rei Demônio cessava quando o Rei Demônio morria. Se o Rei Demônio do Encarceramento morresse com a destruição, optando por preservar sua memória e escolhendo a reencarnação, esta cidade nem mesmo teria permanecido sob o mar.
Assim, significava que o Rei Demônio do Encarceramento sobreviveu até mesmo à destruição que encerrou a Era Mítica. Não havia ser que vivesse tanto quanto o Rei Demônio do Encarceramento neste mundo e ninguém que entendesse a verdade tanto quanto ele.
Eugene não conseguia compreender exatamente o que o Rei Demônio do Encarceramento era, nem conseguia entender suas ações.
Até os eventos de hoje não eram uma exceção. Quando a Espada do Luar enlouqueceu, a erosão foi cortada à força apenas porque o Rei Demônio do Encarceramento interveio. Se o Rei Demônio do Encarceramento não tivesse intervindo, a Espada do Luar teria não apenas extinguido a Rainha Demônio da Fúria, mas também engolido o ego de Eugene.
— O que diabos é o Rei Demônio da Destruição? — Eugene perguntou.
O Rei Demônio da Destruição existia mesmo durante a Era Mítica. Assim como há trezentos anos, o Rei Demônio da Destruição vagava sozinho pelo Domínio Demoníaco sem formar nenhuma aliança. Era mais apropriado chamá-lo de fenômeno do que Rei Demônio. A existência do Rei Demônio era tão elusiva que era quase impossível observá-la, quanto mais rastreá-la e monitorá-la.
O campo de batalha onde Agaroth pereceu estava localizado completamente do outro lado do Domínio Demoníaco. Não era uma região onde o Rei Demônio da Destruição descesse. No entanto, o Rei Demônio da Destruição havia aparecido de repente, engolindo Agaroth completamente.
Era apropriado chamar tal coisa de Rei Demônio? Não, era… simplesmente aniquilação em si.
O fim de uma era. Quando chegava a hora, bestas da destruição surgiam das longínquas partes do mundo. Essas bestas matavam todos os seres vivos no mundo.
Se Moron não tivesse estado os obstruindo.
Os Nur que vinham de Raguyaran teriam começado a matar tudo o que estava vivo no mundo, assim como havia feito durante a Era Mítica.
“Não,” Eugene se lembrou de repente.
Segundo Moron, foi apenas há cem anos que os Nur começaram a atravessar de Raguyaran. Ignorando sua própria loucura descendente, Moron caçou os Nur. Nenhum Nur conseguiu atravessar Lehainjar.
“Não é um exército,” Eugene percebeu.
Na melhor das hipóteses, dezenas de Nur vinham em um dia, um número que Moron poderia lidar sozinho.
A situação mal mudou nos cem anos em que Moron interrompeu a invasão dos Nur. Nunca houve um momento em que centenas ou milhares de Nur apareceram de uma vez, nem o Rei Demônio da Destruição se manifestou em resposta à interferência persistente.
“É diferente da Era Mítica,” Eugene concluiu.
Naquela época, as bestas que surgiram no final da era eram verdadeiramente incontáveis, aparecendo de lugares desconhecidos.
Embora um número incalculável delas tenha sido morto, não havia fim. Ainda assim, elas foram combatidas e mortas. Se os Nur tinham um miasma que enlouquecia as pessoas, as pessoas no campo de batalha tinham fé firme em Agaroth. Independentemente de quantas havia, os Nur não podiam passar por Agaroth, que empunhava a Espada Divina na vanguarda.
Se o Rei Demônio da Destruição não tivesse descido lá, Agaroth e seus seguidores teriam vencido a guerra. Deixando de lado o ceticismo em relação ao monstro não identificado, eles teriam travado a guerra contra o Rei Demônio do Encarceramento como originalmente planejado.
— Suba a Babel. — Disse o Rei Demônio do Encarceramento com um sorriso.
Clang!
As correntes formando a cadeira se dispersaram, e o Rei Demônio do Encarceramento se levantou.
— Eugene Lionheart. Responderei às suas perguntas no topo da Babel. — Disse ele.
Era o que Eugene esperava. Ele franziu profundamente a testa e encarou ferozmente o Rei Demônio do Encarceramento. Ele antecipava que o Rei Demônio não forneceria respostas diretas. No entanto, sair sem uma única resposta depois de ouvir todas as perguntas parecia excessivamente cruel.
— Por que você me salvou? — Incerto se receberia uma resposta, Eugene ainda assim expressou sua pergunta.
— Seria um fim vazio para todos, não seria? — O Rei Demônio do Encarceramento disse enquanto dava um passo para trás. — Para a Rainha Demônio da Fúria que sucedeu o trono ao longo de uma era distante, para você que sonhou com o massacre dos Reis Demônios diversas vezes, para Vermouth com quem um pacto foi forjado, e para mim, esperando por você no topo de Babel.
O silêncio envolveu o espaço, uma pausa carregada pairando pesadamente entre eles.
— Não poderia ser evitado que você fosse derrotado, morresse e falhasse devido à força insuficiente. No entanto, ser consumido pela Espada da Destruição… não foi porque você era fraco.
Com um estrondo ressonante, correntes se levantaram de trás do Rei Demônio do Encarceramento, conectando-se para formar um grande círculo em uma subida unificada.
— Mas parece que você não tem força suficiente para me desafiar também. — Riu o Rei Demônio do Encarceramento, entrando no interior do círculo com uma disposição alegre.
— Espere um momento. — Com pressa, Eugene começou a falar rapidamente, estendendo a mão para segurar o Rei Demônio do Encarceramento. — Você é Vermouth?
A pergunta interrompeu o progresso do Rei Demônio, uma quietude tomando conta enquanto ele se virava para observar Eugene com um rosto que transmitia incredulidade.
— Você está perguntando porque acredita sinceramente nisso?
O Rei Demônio do Encarceramento olhou para Eugene com uma expressão de incredulidade.
Nem o rei demônio tanca as perguntas da lenda
O rei demônio ficou pasmo com a pergunta do eugene kkkk o eugene tem essas perguntas até o balzac ja perdeu a postura com ele
Kkkkkkkkk
Até pode não ser ele mas definitivamente Vermouth não é totalmente humano