Eugene não teve muitas ocasiões para ver o rosto do Rei Demônio do Encarceramento. Durante seu tempo como Agaroth, ele não o viu de jeito nenhum. Embora, como Hamel, ele tenha vislumbrado à distância o Rei Demônio durante a batalha nas planícies carmesins. Quando finalmente entrou em Babel, Hamel morreu antes de ter a chance de se encontrar cara a cara com o Rei Demônio.
Nesta vida, no entanto, ele esteve envolvido com o Rei Demônio do Encarceramento desde o início.
O encontro inicial ocorreu no túmulo de Hamel sob o deserto, embora naquela época, o Rei Demônio do Encarceramento tivesse se manifestado dentro do corpo de um Cavaleiro da Morte.
Mas a partir desse momento, Eugene se viu diretamente envolvido com o Rei Demônio do Encarceramento, encontrando-o pessoalmente durante a Marcha dos Cavaleiros.
No entanto, era a primeira vez que ele via o Rei Demônio do Encarceramento parecer tão agitado.
— Eu sou Vermouth? — O Rei Demônio repetiu. As expressões indiferentes que geralmente adornavam o rosto do Rei Demônio, raramente perturbadas por um sorriso fino, foram substituídas por uma vívida mistura de reações — sobrancelhas desenhando arcos desiguais e lábios tremendo.
— Hmm… Eu não achei totalmente implausível… — Murmurou Eugene, inabalável e contemplativo.
A pergunta poderia ter sido feita de repente, mas não estava sem uma base de suspeita. Havia, de fato, consideráveis semelhanças entre o Rei Demônio do Encarceramento e Vermouth: ambos eram suspeitos, enigmáticos e fundamentalmente inescrutáveis em suas intenções.
— Você está sinceramente perguntando isso? — O Rei Demônio conseguiu questionar novamente com uma risada oca. Foi uma resposta que pareceu tingida até mesmo com um toque de ofensa.
— Por que você pensaria isso? — Perguntou o Rei Demônio do Encarceramento.
— Porque se você fosse Vermouth, muitas das minhas perguntas seriam respondidas. Por que Vermouth concordaria em fazer um pacto com você, por que você concordaria com uma promessa aparentemente desvantajosa, por que você poupou e devolveu Sienna, Anise e Moron há trezentos anos. Seu envolvimento na minha reencarnação e o momento em que interveio para me salvar quando eu estava quase… aniquilado.
— Hmm. — O rosto do Rei Demônio voltou a se cobrir com uma máscara de impassibilidade. Ele inclinou a cabeça ligeiramente, fixando um olhar penetrante em Eugene. — De fato. Suas suspeitas não são totalmente infundadas. Então, Eugene Lionheart, o que você fará se eu disser que sou Vermouth?
A pergunta veio com um tom pesado. Não era um pensamento divertido. No entanto, como foi Eugene quem iniciou isso, ele não precisou de muito tempo ou reflexão para responder.
— Eu primeiro ouviria o que você tem a dizer, depois decidiria se o mato ou não. Embora, sendo honesto, eu provavelmente escolheria matar você. — Respondeu Eugene diretamente.
— Você me mataria? — Perguntou o Rei Demônio.
— Isso mesmo. — A resposta de Eugene não abrigava dúvidas.
Independentemente das circunstâncias, o Rei Demônio do Encarceramento ainda era um Rei Demônio; ele foi responsável por iniciar a guerra trezentos anos atrás, uma guerra que devastou terras e causou inúmeras perdas.
— Você começou a guerra. — Disse Eugene, com a voz fria.
Era uma verdade incontestável. O Rei Demônio do Encarceramento foi o primeiro dos cinco Reis Demônios a invadir o continente, desencadeando uma horda de bestas demoníacas que obliteraram pequenas nações vizinhas nas fronteiras do Reino Demoníaco.
Isso marcou o início de um efeito dominó, inaugurando a brutal invasão dos outros Reis Demônios — os Reis Demônios da Carnificina, Crueldade e Fúria — sobre o continente.
Embora o Rei Demônio do Encarceramento tenha se envolvido menos na invasão depois disso, o fato de que ele iniciou os eventos catastróficos permaneceu inalterado. Era também a razão pela qual todos os dragões se uniram e lançaram uma ofensiva contra ele.
“Mas então, os dragões foram massacrados quando o Rei Demônio da Destruição apareceu”, pensou Eugene.
Como foi durante a Era dos Mitos? O Rei Demônio do Encarceramento começou tudo naquela época também?
Ele não conseguia se lembrar. Mas também não estava particularmente curioso. Era uma vida passada muito distante, pertencente a uma era completamente diferente.
— Entendi. — Depois de um momento de silêncio, o Rei Demônio do Encarceramento assentiu lentamente. — Eu não achava que havia uma… razão para responder, mas ainda assim, vou lhe dar uma resposta. Eu não sou Vermouth.
Ouvir essas palavras trouxe alívio para Eugene.
— Eugene Lionheart. Você não precisa hesitar em me matar. — Declarou o Rei Demônio do Encarceramento.
— Se for assim, estou aliviado. — Respondeu Eugene sem sorrir.
O Rei Demônio do Encarceramento olhou para o rosto de Eugene por um tempo antes de se afastar. Desta vez, Eugene não impediu o Rei Demônio do Encarceramento quando ele começou a andar pelo círculo formado pelas correntes.
“Ele se recusou a matar Sienna e Anise, e fez um pacto com Vermouth. Ele me conhecia em minha vida passada, ajudou na minha reencarnação e me observou nesta vida…” Pensamentos complexos passaram pela mente de Eugene.
Ele fez um pacto com Vermouth. Não necessariamente por causa disso. No final das contas, Eugene, Sienna, Anise e Moron eram inimigos do Rei Demônio do Encarceramento.
Eles foram poupados porque eram muito insignificantes? Pode ter sido o caso. De fato, o poder do Rei Demônio do Encarceramento era esmagadoramente massivo. Ele estava autorizado a pensar dessa maneira.
Mas… parecia que havia uma razão diferente para o Rei Demônio do Encarceramento ir tão longe.
—Se você estivesse lá conosco, não teria sido necessário lutar contra o Rei Demônio do Encarceramento ao alcançar o topo do castelo do Rei Demônio.
—A prioridade máxima para mim era essa. Alcançar o topo do castelo do Rei Demônio do Encarceramento, subir até o topo de Babel. Se eu pudesse encontrar a verdadeira forma do Rei Demônio do Encarceramento lá, teria sido realizado. Se eu o tivesse derrotado, os termos da promessa teriam mudado significativamente.
—Assim como eu fiz, fique no palácio do Rei Demônio do Encarceramento e combine para se encontrar com sua verdadeira forma. O Rei Demônio do Encarceramento não vai deixar você subir Babel facilmente. Ele é tal existência.
—O que acontece depois, você terá que experimentar por si mesmo.
Eugene recordou as palavras de Vermouth. Ele já tinha encontrado a verdadeira forma do Rei Demônio do Encarceramento. Mas este lugar não era o topo de Babel. Para conhecer a verdade, como o Rei Demônio do Encarceramento havia dito, era preciso subir Babel.
“Não era necessário lutar”, Eugene recordou.
Mas isso era uma história de trezentos anos atrás. Se seria o mesmo se ele subisse Babel agora, ele não sabia. E mesmo que o Rei Demônio do Encarceramento não tivesse a intenção de lutar, Eugene estava determinado a lutar e matar o Rei Demônio do Encarceramento.
—A única razão pela qual eu tinha que te reencarnar era porque, de todas as pessoas que eu conheço… você era o mais parecido com o Herói.
Vermouth tinha falado essas palavras na Sala Escura.
Agora, essas palavras evocavam vários pensamentos.
— Você também sabia?
Murmurando para si mesmo, Eugene virou a cabeça para ver a montanha construída a partir dos corpos de monstros. Sentada no topo estava uma estátua de Agaroth. Eugene encarou intensamente uma versão do passado distante de si mesmo.
* * *
Mesmo sabendo que mostrar a eles tudo no abismo seria mais rápido do que contar, descer novamente ao abismo com Sienna e Kristina não era uma opção. Isso porque, exceto por Iris, que tinha as qualificações por causa de uma promessa, e Eugene, que estava ligado ao destino das ruínas, ninguém podia passar pelo portão do abismo.
— Então…
O mar que foi dividido com a Espada Divina havia se juntado novamente. Eugene olhou silenciosamente para o mar tranquilo, antecipando o que Sienna, que ouvira toda a história, diria.
— Você está afirmando ser um deus? — Sienna perguntou incrédula.
Eugene apenas ficou em silêncio diante dessa pergunta.
— Um Deus da Guerra?
As sobrancelhas de Sienna se franziram.
— Você perdeu a cabeça? — Ela questionou.
Eugene ainda não havia oferecido uma resposta.
— Não… não, sério, Eugene. Não é que eu não acredite em você, mas é simplesmente muito absurdo. Você, um Deus da Guerra? — Sienna questionou mais uma vez.
— Tsc…
Eugene havia antecipado um pouco a reação dela. Ele, também, teria duvidado da sanidade de Sienna se ela afirmasse abruptamente: “Na verdade, eu sou uma Deusa da Magia.”
— Entendo… — Disse Kristina.
Contrariamente a Sienna, que estava cética, Kristina concordou lentamente com as mãos reunidas. Ela falou com um olhar cheio de admiração e devoção genuínas para Eugene.
— Realmente, Sir Eugene, você era um possuidor de um destino extraordinário. — Comentou Kristina.
— Você acredita em mim? — Perguntou Eugene.
— Absolutamente. Não só eu, mas a Senhorita Anise também acredita que em sua vida passada, você era um antigo Deus da Guerra. — Disse Kristina, enquanto olhava fixamente para Eugene.
— Na verdade, testemunhamos seu ‘milagre’ hoje. — Continuou ela.
— Milagre… — Sienna murmurou, mudando sua percepção dele como… um Hamel ignorante e bárbaro. Ela se lembrou de Eugene quando ele havia encurralado Iris anteriormente.
— De fato. — Murmurou Sienna.
Um milagre — a maioria dos magos não acreditava cegamente em tais incertezas. No entanto, parecia absurdo duvidar e negar depois de testemunhá-lo em primeira mão.
A qualidade de sua mana mudou instantaneamente. Suas chamas queimavam totalmente negras, contrárias ao nome da Fórmula da Chama Branca. A Espada do Luar havia enlouquecido. E finalmente — a luz vermelha que dividiu Iris e o mar ao meio.
— Aquilo não era… mana. Não era magia, nem era a luz da Espada do Luar. — Comentou Sienna.
Era indiscutivelmente um poder alienígena. Sienna sentiu a natureza do poder que aquela luz continha.
Kristina e Anise sentiram o mesmo, especialmente Anise, que tinha alguma ideia da identidade desse poder desde a primeira vez que a chama de Eugene mudou.
— Poder divino. — Disse Anise.
A crença em uma divindade — a manifestação de magia divina e até milagres além disso — tudo ocorria através da fé. Isso era precisamente o poder divino. Como o poder divino se manifestava variava de acordo com a divindade que era adorada. Para os sacerdotes que adoravam o Deus da Luz, aparecia como uma luz deslumbrante.
Essa luz era concedida por uma divindade; também se podia dizer que era emprestada da divindade.
— Hamel, a luz dentro de você não foi concedida pelo Deus da Luz. Foi uma luz que surgiu de dentro de você, um poder divino intrínseco à própria divindade. — Declarou Anise.
Anise não era mais uma humana. A versão humana de Anise morreu trezentos anos atrás. Anise agora era uma entidade etérea, celestial, mais próxima de uma divindade do que qualquer ser humano poderia ser.
Por causa disso, Anise sentiu o poder divino desde que a chama de Eugene se transformou.
— Especialmente, Hamel, a última que você sacou… a Espada da Luz. Aquela carregava a força digna de ser chamada de Espada Divina no sentido mais verdadeiro. — Explicou Anise.
A Espada Sagrada Altair, dizia-se ser forjada pelo Deus da Luz, foi feita da carne e do sangue do avatar que a divindade assumiu ao descer ao reino terreno.
Mesmo depois que o Deus da Luz ascendeu de volta aos céus, Altair permaneceu neste mundo, considerado pela Igreja da Luz como o primeiro descendente da divindade, uma tocha deixada para o mundo, infundida com uma Luz potente.
No entanto, a Espada Sagrada era diferente de uma Espada Divina. Ela apenas pegava emprestada sua santidade de uma divindade, enquanto uma Espada Divina era forjada puramente do poder divino.
Eugene usava uma expressão complicada enquanto tocava seu peito, de onde ele havia sacado a Espada Divina.
— Não pode ser sacada frequentemente. — Comentou.
— De fato. — Anise assentiu, sua expressão de conformidade. — Hamel. Você, sendo Agaroth, saberia melhor, mas o nome ‘Agaroth’ remonta a milhares de anos… ou talvez até mais. De acordo com suas palavras, todos os devotos que adoravam Agaroth pereceram junto com o fim da Era dos Mitos? Embora haja poucos que conheçam o nome ‘Agaroth’ nesta era, ninguém adoraria Agaroth como um deus.
— Eu suponho que sim. — Disse Eugene.
— Um deus não adorado por ninguém, uma divindade da guerra desaparecida com a antiguidade. Hamel, mesmo que você seja a reencarnação desse deus da guerra, dificilmente haveria qualquer poder divino ou divindade restante em você. No entanto, de acordo com sua própria realização… você despertou o poder divino. — Explicou Anise.
Ele só podia empunhá-la uma vez. Essa era a avaliação atual de Eugene. Embora dissecá-la minuciosamente permitisse várias utilizações, usar a Espada Sagrada com a Espada Vazia seria mais conveniente e eficaz.
Mas mesmo que fosse empunhada apenas uma vez, a Espada Divina brandida com toda a sua força havia aniquilado o poder negro da Rainha Demônio e dividido o mar.
— Não posso ter certeza, mas ser capaz de sacar a Espada Divina parece estar limitado a uma vez por dia. — Embora ele não pudesse fazer isso no momento. Eugene murmurou, acariciando seu peito. — Parece… que está se reabastecendo gradualmente.
— O nome, o Deus da Guerra Agaroth, não é o que importa. — Disse Anise, aproximando-se de Eugene. — Apenas o nome mudou. A alma permanece a mesma. Hoje, Hamel, você matou a Rainha Demônio da Fúria. Neste momento, apenas a força punitiva está ciente, mas uma vez que retornarmos a Shimuin, todo o continente ficará sabendo.
Eugene entendeu as palavras de Anise.
A divindade cresce com a fé. O brilho da luz concedida pelo Deus da Luz se devia à grandiosidade da Igreja da Luz entre as religiões do continente.
Ele havia matado a Rainha Demônio, uma realização surpreendente que abalaria todo o continente. Uma vez que esse fato fosse conhecido, muitos em todo o continente entoariam o nome de Eugene, talvez até o ponto de adoração…
Para Eugene, que já possuía a Espada Divina, tal adoração se acumularia e se converteria em poder divino.
“Entendo”, Eugene pensou, percebendo.
Eugene não desejava particularmente, mas quanto mais o continente o aclamasse como herói, mais forte seu poder divino se tornaria. Ele seria capaz de empunhar a Espada Divina mais de uma vez à medida que seu poder aumentasse, e sua potência inerente também cresceria.
Se ele conseguisse acumular tal excedente de divindade, seria capaz de explorar outras maneiras de utilizar esse poder, além de apenas empunhar a Espada Divina.
— Deus… um deus… — Sienna lançou um olhar complexo, roubando olhares para Eugene enquanto murmurava, a perplexidade evidente em seu rosto. — Não um maldito idiota… mas um deus? Um deus, não de estupidez ou insanidade… mas um deus da guerra…?
— ……
Foi um grande insulto, ainda assim Eugene não o levou como tal. O jogo linguístico brincalhão incorporado naquela frase depreciativa trouxe um sorriso sutil aos seus lábios.
Anise murmurou enquanto olhava Sienna ceticamente.
— Isso foi uma piada agora?
— Não… não, não foi? — Retrucou Sienna.
— Pareceu uma piada… — Murmurou Anise.
— Não foi, eu te disse! — Gritou Sienna.
Segurar um sorriso havia sido a escolha certa. Eugene gerenciou sua expressão com uma determinação feroz antes de virar a cabeça.
No momento, o navio que carregava Eugene e sua equipe estava avançando lentamente pelo mar.
A Rainha Demônio estava morta, assim como os elfos negros e os piratas. No entanto, algo podia ter permanecido em sua base. Um dos objetivos desta missão de supressão era resgatar os artesãos anões que haviam sido sequestrados pelos piratas.
“Não havia anões entre os monstros”, Eugene se lembrou.
Claro, era possível que, tendo se transformado em monstros, eles perdessem suas características anãs… mas isso não significava que a expedição pudesse retornar a Shimuin sem verificar.
— Como está Ciel? — Eugene suspirou profundamente antes de perguntar.
— Sua condição física está… bem. Não há anomalia aparecendo em seu olho esquerdo. — Respondeu Anise.
— Verifiquei com magia também. Está igual. Aquele olho… certamente se tornou um Olho Demoníaco, mas ainda está funcionando corretamente como um olho. — Acrescentou Sienna.
Sienna e Anise deram um suspiro.
— Sua energia não diminuiu significativamente também. Mas apenas por precaução, a forçamos a dormir… — Disse Anise.
— Carmen e Dezra estão cuidando dela agora. Por enquanto… deixe-a descansar profundamente, e podemos verificar o Olho Demoníaco mais tarde. — Sugeriu Sienna.
— Tudo bem. — Eugene murmurou com um sorriso amargo.
Anise olhou para ele com olhos preocupados e disse:
— Hamel, você não deveria se sentir… culpado.
— Eu deveria. — Eugene balançou a cabeça enquanto respondia: — Aconteceu enquanto ela estava tentando me salvar.
Anise e Sienna não disseram nada em resposta.
— Foi diferente do que fiz trezentos anos atrás quando corri sem precisar. — Disse Eugene amargamente.
Se Ciel não o tivesse afastado, se ela não tivesse se lançado para a frente em seu lugar, o Olho Demoníaco das Trevas teria perfurado a cabeça de Eugene sem dúvida.
Filha da puta só queria o poder do olho kmkkkkkkkkkkk