Harpeuron estava morto.
Amelia Merwin conhecia bem o nome. Ele era um demônio de alto escalão, alto o suficiente para estar entre os cem primeiros. Mesmo que ele tivesse sido expulso da capital Pandemonium, estar classificado entre os cem melhores em Helmuth não era uma façanha pequena.
A facilidade com que um demônio de alto escalão como ele morreu era impressionante. De acordo com os serviçais que o seguiram até a cidade Oásis, Harpeuron havia encontrado Melkith El-Hayah por acaso e a perseguiu com a intenção de matá-la.
Mestra da magia espiritual.
Depois de ver as memórias armazenadas no Vladmir de Edmond, Amelia estava bem ciente do poder de Melkith. Embora a maioria dos rumores sobre Melkith fosse sobre suas excentricidades, o fato dela ter contratado múltiplos Reis Espíritos e alcançado o Oitavo Círculo Mágico era uma façanha extraordinária. Não era algo que pudesse ser facilmente ignorado.
Amelia julgou que Melkith teria a vantagem se lutasse contra Harpeuron, mas nunca imaginou que a batalha terminaria em meros minutos. Um demônio de alto escalão era conhecido por ser difícil de matar. No entanto, Harpeuron não conseguiu durar nem mesmo uma hora em combate contra Melkith.
Amelia havia alertado os demônios para não agirem impulsivamente.
Ela já havia alertado contra tal imprudência, mas seus avisos eram apenas palavras. Ela não podia confiar em restringir alguém apenas com palavras.
“O que devo fazer?” Amelia começou a pensar em sua próxima ação.
O ritual de ascensão a Rei Demônio não poderia ocorrer a menos que Amelia estivesse presente pessoalmente.
E se ela agisse em segredo? O tolo Harpeuron havia se revelado e trouxera sua própria morte em um confronto com a Mestra da Torre Branca. Mobilizar secretamente os demônios e preparar o ritual parecia agora pouco viável.
“A Sábia Sienna ainda está em Aroth,” pensou Amelia enquanto pesava suas opções.
Aquela arrogante e idosa maga não estava tomando nenhuma ação, mesmo estando totalmente ciente de estar sendo observada pelos vampiros.
Por meses, ela vinha se encontrando ativamente com os outros Arquimagos em Acryon, enquanto ocasionalmente dava palestras nas torres mágicas ou academias.
“E Eugene Lionheart…” pensou Amelia ao chegar ao assunto principal de suas reflexões.
Ele era o que verdadeiramente preocupava, não, aterrorizava Amelia.
Pensamentos sombrios muitas vezes geravam imensos medos, especialmente quando a realidade era dolorosa e insatisfatória. Quando cada dia era uma luta para continuar respirando, quando empurrado até o limite da morte, a mistura de pessimismo com imaginação trazia uma sensação de desespero e medo inevitáveis.
Amelia temia tudo sobre Eugene Lionheart. Ela não tinha medo apenas de seu poder imenso, que o permitiu derrotar a recém-coroada Rainha Demônio. Ela tinha medo do relacionamento que ele tinha com a Rainha dos Demônios da Noite, Noir Giabella. Isso era o que mais a causava ansiedade.
O relacionamento exato deles era incerto.
Mas era difícil afirmar que eles eram inimigos.
A classificação oficial de Noir Giabella, a Rainha dos Demônios da Noite, era a segunda, logo abaixo da Lâmina do Encarceramento, Duque Gavid Lindman. Considerando esse fato, poderia-se afirmar com audácia que Noir Giabella era a segunda em poder em Helmuth. Se o Rei Demônio do Encarceramento desaparecesse, não apenas a Duquesa Giabella poderia assumir o controle, mas também poderia ascender ao trono como a nova Rainha Demônio.
Se fosse esse o caso, parecia plausível que houvesse um interesse comum entre a Duquesa Giabella e o Herói.
Noir havia se dado ao trabalho de parabenizar pessoalmente Eugene por derrotar a recém-coroada Rainha Demônio, Iris. Os dois então passaram tempo juntos, sozinhos, no banquete subsequente. E recentemente, notícias deles se encontrando em particular na Cidade de Giabella foram vazadas.
Amelia ponderava sobre esses pensamentos, tentando decifrar a intricada teia de alianças e inimizades.
Talvez, apenas talvez, não fosse apenas uma questão de entendimento mútuo ou interesse comum, mas uma conexão emocional pegajosa que existia entre eles. Tal possibilidade deixava Amelia ainda mais ansiosa e temerosa.
Amelia sabia muito bem que ela e a Duquesa Noir Giabella estavam longe de serem amigas.
Ela mesma mantinha uma percepção dos Demônios da Noite como sendo lascivos e sujos. Naturalmente, ela não tinha simpatia por Noir Giabella, a Rainha dos Demônios da Noite. Mesmo depois de se juntar à Lealdade, ela nunca compareceu às suas reuniões, nem sequer se aproximou de Noir nas raras ocasiões em que se cruzaram.
Amelia nunca escondeu seu desprezo. Na verdade, ela achava que era bastante evidente.
“Essa mulher poderia vir me matar”, pensava Amelia consigo mesma, convencida de que estava certa.
Seu esconderijo estava no domínio da Destruição, Ravesta. Mesmo se o herói agisse imprudentemente, não seria fácil para ele alcançar a fronteira de Helmuth.
Mas era diferente para Noir Giabella. Não havia lugar em Helmuth que ela não pudesse alcançar. Na verdade, Noir entrou em Ravesta alguns meses atrás, zombou de Amelia e causou estragos ao destruir sua mansão.
“Ela poderia estar vindo me matar mesmo agora”, Amelia se desesperou.
Seu corpo estava em um estado tal que a morte não seria surpreendente. A maior parte havia necrosado abaixo de sua cabeça, e sair do banho de nutrientes significaria morte imediata.
Era totalmente possível que… deixar Ravesta nem mesmo restaurasse seu corpo. O tempo que passou nesta cidade subterrânea — cerca de um ano — não apenas devastou o corpo de Amelia com o poder negro da Destruição, mas também deixou feridas profundas em sua alma.
“Eu não posso…” Amelia não conseguia pensar mais adiante.
Deveria deixar Ravesta e ir para Nahama? Ou deveria esperar e observar a situação mais adiante?
Ela nem conseguia contemplar suas opções. Uma loucura crescente, como paranoia, estava roubando a compostura de Amelia. Ela poderia morrer amanhã ou mesmo agora. Poderia se autodestruir pelo poder da Destruição, ou Noir poderia invadir e encerrar sua vida.
Harpeuron estava morto, e se mais demônios continuassem a morrer, o Sultão dançaria como um porco. Eugene Lionheart e Noir Giabella poderiam estar felizes casados sob a ordenação da Sábia Sienna…
Creak, creaak…
Ultimamente, seus pensamentos nem sequer eram coerentes. A necrose induzida pelo poder da Destruição parecia ter atingido seu cérebro.
“……” Os pensamentos de Amelia pareciam ter parado.
A existência de meio-demônios nascidos entre demônios e humanos era um milagre, mas isso não significava que eles fossem tratados como tal. Eles eram vistos como infortúnio pelos humanos e desprezados pelos demônios. A maioria cometia suicídio ou era morta na adolescência. Mesmo aqueles que sobreviviam raramente causavam um impacto significativo no mundo.
Encontrar uma vida normal era inédito para meio-demônios. Eles se voltariam para encontrar apoio na religião ou sucumbiriam ao suicídio por desespero. Às vezes, eles alimentariam ódio pelo próprio mundo…
Amelia era uma dessas pessoas.
Ela não conseguia se lembrar quando esse ódio começou. Provavelmente começou desde que ela era capaz de “lembrar”. Sua tola mãe, sonhando com liberdade, deixou Ravesta, cedeu aos seus desejos e engravidou de um humano desconhecido.
No entanto, ela não conseguiu se estabelecer fora. Se era saudade de casa ou o desejo de mostrar seu filho não nascido para sua espécie, ela retornou a Ravesta grávida.
Amelia Merwin nasceu nesta cidade subterrânea escura e sombria. Ela nunca se sentiu amada. Nunca conheceu o amor. Os demônios de Ravesta nem mesmo demonstravam desprezo por ela. Em vez disso, tratavam-na como se ela não existisse. Sua mãe inicialmente fingiu ser materna, mas logo se cansou.
Sua mãe então morreu alguns anos depois. Ela tirou a própria vida depois de sofrer com o crescente fardo do poder da Destruição. Depois de ficar sozinha, a infância de Amelia foi solitária…
“Por que… Por que estou lembrando do passado?” Amelia se questionou em um momento repentino de clareza.
Será que seu cérebro moribundo estava mostrando para ela um rolo aleatório de memórias?
Ela não queria ver, lembrar ou morrer.
Ela estava desesperada para se concentrar, mas a mente de Amelia não cooperava. Seu cérebro começou a vagar por conta própria. Ela revisitou sua infância horrível novamente, involuntariamente.
— ……
Crack.
Um som estranho misturou-se com seus pensamentos vagantes.
Crack, Crack, Crack.
O som não foi uma ocorrência única. Parecia que algo continuava se quebrando, aderindo e quebrando novamente. Simultaneamente, uma mudança súbita ocorreu em Amelia.
“Está se quebrando…?” Amelia pensou surpresa.
Uma das correntes de alma diretamente conectadas a ela estava se partindo. Era inconcebível. Uma luz brilhante perfurou seus pensamentos turvos e derretidos. Essa corrente pertencia ao Cavaleiro da Morte.
“N-Não, não,” Amelia pensou involuntariamente.
Amelia havia escolhido permanecer em Ravesta, mesmo que seu corpo se desintegrasse e sua mente se corrompesse. Ela não tomara essa decisão apenas por medo da Sábia Sienna e de Eugene Lionheart.
Era também por esperança.
O cadáver do maior guerreiro disponível nesta era era, naturalmente, o Grande Vermouth. No entanto, seu corpo estava enterrado no Castelo dos Leões Negros, e sua localização exata era desconhecida. Nem mesmo Amelia Merwin ousaria invadir o Castelo dos Leões Negros para roubar o túmulo do Grande Vermouth, não apenas por causa de Eugene Lionheart, mas porque o Rei Demônio do Encarceramento, que reverenciava Vermouth, não toleraria tal ato.
Ela não pensou muito sobre isso. Por uma coincidência fatal, ela tropeçou em um túmulo no subterrâneo do deserto.
O túmulo de Hamel, o Tolo. Estranhamente, ele havia sido destruído, mas isso estava além da preocupação de Amelia. Ela encontrara o corpo do grande herói no fundo do túmulo, perfeitamente preservado e livre de decomposição. Sua alma já havia transcendido há muito tempo, mas ela não achou isso particularmente importante.
Ela poderia criar uma se estivesse faltando.
Era ainda melhor que a alma nobre do herói não estivesse presente. Ela não tinha confiança para corrompê-la ou subjuga-la. Em vez disso, o corpo estava perfeitamente preservado.
Ela inseriu outra alma nele, ajustou-o e ressuscitou as memórias dentro do corpo para criar uma nova alma.
O Cavaleiro da Morte, assim criado, era seu farol de esperança. Mesmo derrotado e tendo perdido seu corpo, se pudesse mutar sob o poder da Destruição em Ravesta, Amelia acreditava que ganharia poder incomparável ao passado.
Isso não era uma noção impossível. Estranhamente, o Rei Demônio da Destruição parecia favorecer o Cavaleiro da Morte. O Rei Demônio da Destruição fornecia a ele apenas poder suficiente para mantê-lo vivo, esperava que ele se recuperasse e depois repetia o processo. O Cavaleiro da Morte tinha permissão para se transformar e evoluir. Portanto, Amelia havia suportado em Ravesta apesar de alcançar seus limites.
Mas tudo isso estava se tornando sem sentido agora. A quebra da corrente significava apenas uma coisa.
O Cavaleiro da Morte havia perecido. Ele não existia mais. A maior parte do tempo de Amelia neste maldito subterrâneo fora tornada sem sentido.
— ……?
O som de quebra cessou.
Em vez disso, passos começaram a ecoar. De quem eram, ela não conseguia dizer.
Alphiero Lasat? Ele era o único demônio corajoso o suficiente para invadir este lugar. No entanto, ela não podia sentir sua presença nos passos se aproximando.
“Então quem?” Amelia entrou em pânico.
Ela não conseguia sentir nenhum poder negro vindo deles. Esse fato intensificou o medo de Amelia.
Nesta terra cheia do poder da Destruição, um ser sem poder negro se aproximava dela. Ela queria ver quem era, mas não conseguia. Os olhos de Amelia há muito haviam perdido sua função, e sua magia era muito fraca para conjurar visão mágica.
Tudo o que ela podia fazer era deitar na banheira de nutrientes e ouvir os passos se aproximando e se tornando mais altos. Seu medo aumentava proporcionalmente. À medida que sua respiração se apressava no respirador que ela usava há meses, o cheiro de decomposição se intensificava.
— Ei… — Os passos pararam, e ela ouviu uma voz. — Você ainda está viva nesse estado.
Antes que pudesse reagir após reconhecer a voz, uma mão áspera agarrou seu ombro. Seu corpo necrosado e desmoronado não conseguiu suportar o aperto e começou a se desintegrar.
— Ah… — Ela suspirou involuntariamente e ficou chocada ao se descobrir capaz de fazer um som.
Não era apenas sua voz. Todos os seus sentidos retornaram de uma vez. A dor intensa emanando de um corpo quase morto despertou seus pensamentos.
— Ah, aahh! — Pela primeira vez em meses, Amelia gritou com sua própria voz. Ela havia anteriormente cortado a maioria de suas sensações físicas para ignorar a dor, mas agora, forçosamente restauradas, ela se contorceu em agonia enquanto vomitava sangue.
“Sangue?” ela pensou chocada. Ela ficou surpresa ao se ver vomitando sangue e contorcendo o corpo.
Seu corpo e órgãos, anteriormente em colapso, agora estavam perfeitamente restaurados. O sangue que ela havia substituído por nutrientes líquidos agora fluía naturalmente, e seu coração, perdido há muito tempo, batia fortemente.
— Você… você… — Ela balbuciou incoerentemente.
Amelia abriu os olhos tardiamente. O que ela viu com seus olhos agora iluminados surpreendeu até mesmo a ela.
Era um homem.
Ela o reconheceu, mas sua aparência era incrivelmente diferente de sua memória.
O homem agora não tinha cicatrizes no rosto. Não apenas no rosto, seu corpo inteiro, nu como estava, não apresentava marcas de ferimentos. Ao mesmo tempo, ela podia sentir vitalidade dele. Ela não conseguia sentir nem mesmo um vestígio de um morto-vivo no homem, ao contrário do que aconteceu quando ele foi inicialmente ressuscitado como o Cavaleiro da Morte. Amelia podia sentir o calor único dos vivos nas mãos que a seguravam.
— Ah… Aaaah! — Houve uma transformação. O espectro, uma vez apenas uma alma em um corpo perdido, havia se transformado em um ser completamente diferente. Ele havia se transformado após se misturar com o poder da Destruição. A esperança abrigada por Amelia tinha dado frutos.
— Você… você! Você conseguiu se transformar? É isso?! Então, você adquiriu um novo corpo?! — Ela gritou.
Mesmo que a dor que ela sentia fosse como a morte, Amelia gritou de alegria. No entanto, a expressão do homem permaneceu fria. Seu rosto contrastava fortemente com a jubilação de Amelia.
— …… — A ideia de quebrar o pescoço dela e matá-la ali mesmo passou pela mente dele.
Essa mulher poderia ser considerada uma mãe para ele, mas ele não sentia nenhuma emoção por ela. Em vez disso, seus sentimentos estavam cheios de raiva, ódio e repulsa. O homem não tinha certeza de quem eram essas emoções.
Seriam as emoções dele, uma existência que começou como uma mentira? Ou seriam os sentimentos de Hamel, cujas memórias foram manipuladas, cheias de humilhação e incitadas à raiva assassina por seus camaradas?
Quem ele realmente era?
— Amelia Merwin…
Quanto tempo ele havia estado naquele vazio, ele não sabia ao certo.
Mas uma coisa era clara.
Vermouth não o havia matado.
Embora ele não conseguisse compreender as intenções exatas, apesar de odiar sua existência, Vermouth não o matou. Em vez disso, ele tolerou sua presença e lhe deu força.
— Como eu pareço aos seus olhos? — Ele perguntou.
Por que ele estava perguntando isso?
A resposta dela não deveria importar para ele. Não importaria o que ela dissesse. Ele apenas queria matá-la.
— Como você parece, você pergunta…? — Amelia respondeu calmamente. — Hamel Dynas. Você veio me procurar sem nem mesmo verificar seu rosto?
A corrente tinha se quebrado. Amelia não tinha mais meios de controlar o Cavaleiro da Morte. Ela percebeu esse fato novamente. Se as mãos que a seguravam no ombro a estrangulassem agora… ela não seria capaz de resistir.
No entanto, ela não achava que tal coisa aconteceria. O poder da Destruição que estava matando seu corpo… havia desaparecido. Hamel, o Cavaleiro da Morte em pé diante dela, havia retirado o poder da Destruição e sua maldição dela.
— Realmente… — O espectro murmurou em uma voz suave. Ele soltou o ombro de Amelia e moveu a mão para tocar seu próprio rosto.
Ele tinha um rosto sem cicatrizes.
Era um rosto que não era dele.
Ele ouviu a resposta dela, mas o espectro ainda não conseguia entender quem ele realmente era.
Nem conseguia entender por que estava vivo dessa maneira.
a obra ja esta se arrastando com coisa inutil 🙄
Não sei pra que ficar dando corda pra esse cavaleiro da morte, no fim é só pra ele ser solado mesmo.
Tmb não , é o desenvolvimento mais inútil q existe. Vai apanhar pro MC pela 3 vez seguida.
Espero que Vermouth não esteja confundindo essa coisa com o verdadeiro Hamel/Eugene. Por mais que eu Ache difícil, já que ele já falou com Eugene algumas vezes.
Talvez ele o ajudou por ter algo de Hamel lá mas ele deveria era querer destruir mais ainda.