Satou aqui. Nunca fui bom em lidar com alegorias que ensinavam lições morais. Acredito que parte disso seja pelo número limitado de personagens participantes, mas sinceramente não há quem continue interessado em uma história quando ela deixa tudo óbvio antes do clímax.
— Ó HUMANO. ADIANTE-SE.
Após ser convocado pela Deusa Tenion através de Sera, fui parar no Reino dos Deuses outra vez.
— Ó HUMANO, AO ANEL DE AUDIÊNCIA.
Caminhei um pouco até parar diante dos Deuses.
— OFEREÇA AS TUAS PRECES!
Na última vez acabei perdendo a chance de dar os meus agradecimentos por ter conhecido a Aze-san, mas no momento em que eu ia começar a rezar, notei um leve piscar de cor verde no canto da minha visão. De alguma forma pude sentir que Tenion estava me dizendo, ‘Vá com calma”, por isso fiz apenas alguns agradecimentos razoáveis.
A cerimônia foi basicamente a mesma de antes, mas se fosse para apontar a maior das diferenças seri…
— Ei, foi mal aí por te chamar assim do nada.
O único a expressar seus pensamentos de maneira super-amigável foi uma pequena estrutura púrpura com quase a metade do tamanho dos outros Deuses. A luz que irradiava dela era um pouco fraca e o padrão em seu rosto bastante comum, composto apenas por um quebra-cabeça simples no formato de dois triângulos interligados.
— Não se intrometa, Deus Demônio. — O Deus Heraruon revelou a identidade da estrutura púrpura sem qualquer aviso.
Então realmente era o Deus Demônio. No entanto, sua atitude foi bem diferente da minha imagem dele.
— VOCÊ OUVIU O HERARUON! DEUS DA TRAPAÇA—
— Silêncio, Zaikuon! Por que é tão difícil para você entender que as pessoas do mundo inferior estão perdendo a fé exatamente por causa dessa sua atitude, que não tem o menor direito de repreender ninguém!?
— CALA A BOCA, GARLEON!
— Zaikuon, Garleon, parem já com isso. Foi o que a Karion acabou de dizer.
— Eu não! Pare com essas suas desilusões, Urion!
Esses Desues são tão barulhentos… Ao contrário de suas formas omnipotentes, a capacidade mental deles é bem parecida com a dos deuses da mitologia Grega; bastante humana. Pelo que o Deus Zaikuon disse, ao que parece, “Deus da Trapaça” é um termo pejorativo para o Deus Demônio.
“Não, espere. Nada disso importa. Há coisas muito mais importantes para se pensar.”
Para começo de conversa, o que um Deus que teoricamente deveria estar selado está fazendo aqui e por que ele age tão amigavelmente com os Deuses dos Sete Pilares? Agora eu tenho ainda mais dúvidas.
— Ah, perdão pela minha descortesia. Este palhaço agora ficará sentado no cantinho, se os senhores altíssimos o permitirem.
O Deus Demônio recuou para trás enquanto o Deus Heraruon veio à frente reluzindo como o sol.
De repente, eu vi um pálido raio de luz azul indo em direção à luz púrpura atrás de Heraruon. De certa forma, ela me lembrava a um cãozinho mimado que foi tentar animar ao seu dono.
“Hmm, me pergunto se Parion é apegada ao Deus Demônio.”
— Nós proibimos a destruição da [Torre].
A estrutura com aparência de um velho, Laluloluliluheaph transmitiu as palavras do Deus Heraruon para mim.
— Não esquece de falar sobre a imprensa.
— Eu, sei! Fique quieto aí no canto, seu palhaço!
Quando o Deus Demônio interrompeu, Heraruon disparou a sua raiva junto com raios laranja de aparência furiosa. As Ninfas e os Apóstolos que estavam nas proximidades se curvaram de medo, enquanto o responsável por tudo isso apenas deu uma piscadinha dizendo, “Ooh, que assustador~♪”.
— Saia de perto dele, Parion!
— Parion, você não deveria ficar perto do Deus Demônio. Sua luz tão pura definitivamente será profanada pelo miasma dele.
— ….Não.
O Deus Zaikuon de cor amarela e Garleon, de cor azul, empurraram a birrenta Parion para longe do Deus Demônio.
— O meu senhor tem dando seu comando. Você não será permitido a criar essa tal coisa de imprensa no mundo inferior.
O velho mais uma vez transmitiu os pensamentos de Heraruon. Pela forma como falou, aparentemente não existem máquinas de imprensa no Reino dos Deuses.
— Apesar de que me deram permissão antes?
— Uma criatura tão baixa ousa fazer uma objeção ao comando dos Deuses!? Saiba seu lugar, humano!
Embora tentei expressar a minha objeção de forma indireta, o velho ainda assim ficou furioso comigo.
Enquanto ignorava a torrente de chamas ilusórias que estavam sendo disparadas contra mim, observei a reação dos Deuses lá atrás. A maioria deles parecia indiferente, exceto pela Deusa Tenion, que parecia lamentar por isso, e o Deus Demônio, que tinha uma expressão em deleite ao me observar.
Pelo que foi dito até agora, provavelmente havia sido o ele quem pediu o banimento do desenvolvimento da tecnologia de imprensa.
— Seria permitindo a mim perguntar por que motivo esse banimento está sendo colocado?
— Be-bem, vo-, você sabe…
— Vamos, Lalilulelo-chi, não fique tão nervoso~
— QUEM DIABOS É LALILULELO-CHI? O nome Laluloluliluheaph foi dado a mim pelo mais glorioso Deus-sama!
Antes que eu percebesse, o Deus Demônio tinha se escondido atrás de mim do velho que estava furioso. Eu tentei acalmá-lo, mas acabei desencadeando o efeito oposto.
— Foi mal, foi mal mesmo. Como pedido de desculpas, vou explicar isso pessoalmente em seu lugar. Tudo bem com isso, grande chefe-sama? — Ignorando completamente o velho, o Deus Demônio fez um requerimento ao Deus Heraruon.
— Parece bom…
Tomando o silêncio como uma resposta positiva, ele começou a sua explicação.
— Tecnologia de imprensa é uma péssima jogada. Promover a proliferação de tecnologias e comunicação em si já é ruim, mas o grande problema mesmo é o conceito de “ideias”… Sabe, nós não temos uma cultura de livros aqui no Reino dos Deuses, por causa disso, esses grandes Deuses omnipotentes aqui não fazem a menor noção do perigo.
O Deus Demônio se aproximou de mim e cochichou a última parte em meu ouvido.
— E você está familiarizado com a cultura de livros?
— Claro, passei um longo período de tempo com o pessoal do mundo inferior, sabe?
— Mas…
— Sem “mas”.
Ele rejeitou qualquer réplica minha de maneira curta e grossa.
— Muito bem então, Deus Demônio… sama. Dar-me-ia a honra de conhecer vosso nome?
— Ah, eu descartei meu velho nome há muito tempo atrás. É só “Deus Demônio” agora. Um Deus que reina sobre a magia, monstros e demônios. Nada mais e nada menos.
Essa era uma forma curiosa de se explicar.
— Então, Deus Demônio-sama.
— Esquece esse negócio de [Sama]. Apenas Deus Demônio já serve.
Ele me disse isso para soar um pouco mais como a Tenion-sama? Chamá-lo apenas de [Deus Demônio] agora seria o mesmo que trata-lo pelo primeiro nome, o que me causa certo arrepio.
— Eu gostaria que você contasse a razão para não destruir as [Torres] localizadas em áreas populosas.
Pessoalmente, prefiro pressionar mais sobre a questão da tecnologia de impressa, mas no momento a prioridade máximo vai para essa questão.
— Ah, isso, hein? Hmm, eu tive todo o trabalho de criar elas usando o pouco de divindade que consegui, então seria meio chato te deixar demolir elas, não acha? Para falar a verdade, aquelas coisas deveriam ser impossíveis de quebrar, então quem diabos é você?
Portanto, assim como pensei, as [Torres-Púrpura] foram criadas pelo Deus Demônio.
“Mas com que propósito…?”
—Quer saber o motivo para eu ter feito elas?
— Sim, por favor.
— Sabe, o sistema convencional de ameaça de monstros, demônios e coisa assim está chegando no limite. Além disso, apesar de das pessoas ficaram com um monte de medo e repugnância de mim, o número de orações aos Deuses não foi tão alto como esperado.
“É sério que ele acabou de confessar que está criando problemas para vender uma solução e direcionar a fé das pessoas para os Deuses?”
— Bem, deu pelo menos para diminuir as guerras entre os seres inferiores, mas não se saiu tão bem quanto os labirintos em coletar e purificar miasma. Não dá para dizer exatamente que foi um fracasso, mas não foi o sucesso também.
“Fumu, ao menos a parte sobre diminuir as guerras parece verdade.”
— As [Torres] são uma versão melhorada disso. Elas meio que lembram os labirintos, mas os monstros dentro ficarão mais fracos na medida em que as pessoas forem ofertando as suas rezas e agradecimentos aos Deuses. Ah, não me importo que você conte isso para as outras pessoas, já que deixamos algumas dicas, elas irão descobrir mais cedo ou mais tarde, eu acho? Eu sempre tive uma enorme dificuldade em encontrar uma fé genuína em direção aos Deuses, então acho que o pessoal egoísta lá do mundo inferior iria enviar suas orações desesperadamente contanto que eles tenham a cenoura balançando bem na frente deles.
Ao contrário de suas palavras repugnantes, o sentimento que eu tive do Deus Demônio foi de uma verdadeira tristeza e decepção.
— Em outras palavras, essas torres foram criadas em benefício aos Deuses?
— É isso aí. Elas trarão benefícios às pessoas também, embora indiretamente. Além disso, eu ganho uma coisinha para mim também.
Obter a divindade que foi deixada para trás era algo bastante atrativo, disse o Deus Demônio orgulhosamente. Embora tive o sentimento de que ele não se importava nem um pouco com isso.
— Está tudo bem se eu assumir que as [Torres] são um dispositivo para estimular a fé das pessoas em direção aos Deuses?
— Oh, você acertou bem no ponto! O melhor de tudo é que não se trata de uma exploração, já que esse dispositivo também contribui para o crescimento da humanidade dando a ela a chance de obter núcleos mágicos e tesouros!
Pessoalmente acredito que essas torres funcionem também como uma espada voltado para o pescoço. Se as pessoas violarem o [Tabu], uma Punição Divina sob a forma de hordas de monstros saindo das torres não seria impossível.
— Só para deixar claro, os Deuses não são inimigos das pessoas.
O Deus Demônio pareceu perceber a dúvida em meu olhar e então declarou isso.
— Foi graças aos Deuses terem transformado uma terra inabitada em algo habitável, além disso, os próprios homens foram uma criação divina. Assistir o crescimento das crianças, ao mesmo tempo em que os aconselha e castiga, quando preciso, faz parte dos deveres de um Deus.
A forma como dizia parecia sarcástica de alguma forma, mas Aze-san havia me contato algo parecido antes.
— Podemos dizer que as pessoas são como ovelhas e os Deuses são como pastores, talvez? Fé é como a lá e, em retorno, os Deuses providem a elas pasto e um ambiente agradável para se viver. É verdadeiramente um toma lá dá cá, não acha?
Eu pude sentir uma certa zombaria vindo das palavras dele. O Deus Demônio pode estar do lado dos Deuses, mas talvez o seu objetivo seja um pouco diferente dos deles.
— Bem, acho que isso deve esclarecer tudo, não é? Mais alguma pergunta? Não me importo de responder qualquer coisa que eu puder responder, sacou?
— Então, sobre as pessoas reencarnadas, você…!
Minhas palavras desapareceram no meio do caminho. Eu queria perguntar por qual motivo ele estava garantindo fragmentos às pessoas reencarnadas, mas os meus pensamentos foram restringidos por uma onda lançada pelo Deus Demônio contra mim.
Se quisesse, poderia retirar essa restrição de mim, mas ele provavelmente não iria me dar uma resposta de qualquer forma. De fato, essa reação dele já responde a pergunta em si.
— De acordo com as lendas passadas no mundo inferior, você supostamente foi selado pelos Deuses. Estaria tudo bem em perguntar sobre isso?
— Selo? Ah, claro, eu realmente estou selado.
“Qual o significado disso? Por acaso existem dois Deuses Demônios ou coisa assim?”
— o que foi selado foi a outra metade do meu corpo, sabe coisas como presas e garras. O meu espírito de luta e insanidade é que foram selados.
Ao que parecia o Deus Demônio na minha frente era o que representava o seu poder racional. Algo como seu Ying e Yang.
— cara! É como se fosse o passado negro na minha vida! Então, tente não chegar muito perto da lua. Como é um selo que fica mudando de local dimensionalmente, não deve ter problema, mas cuidado para não ser sugado por isso caso chegue muito perto.
Entendo, então isso explica o porquê de nada ter acontecido quando fui para a lua. Se eu tivesse pisado em falso, esse poderia ter sido o advento do Deus Demônio Satou.
— Deixa a parte sobre mim de fora, ok? Especialmente para aqueles Demônios e os Demônios Lordes. Aqueles caras vão fazer ainda mais bagunça se souberem que eu não estou selado.
— isso quer dizer que a pessoa que impediu o Demônio Lorde Goblin de retirar o selo da lua foi…
— Na mosca! Fui euzinho. Apesar de que duvido muito que algo daquele tipo fosse capaz de desfazer o selo, mas existia a chance de que acabesse afrouxando um pouquinho.
Pelo visto ele era o homem que Arisa e as meninas viram.
— Ah, me sinto mal em simplesmente sair proibindo tudo, então vou ao menos te dar a permissão de criar a sua própria impressora e máquinas de Xérox em segredo. Tudo bem com isso, todo poderoso-sama?
O Deus Heraruon emitiu um sinal de luzes que indicavam a sua aprovação.
— E é isso aí. Ah, certo, eu não me importo se você publicar um guia prático de como conquistar as [Torres], já que se tiver mais deméritos do que méritos, tudo que preciso fazer é um novo Patch de atualização, então pode ficar de boa com isso.
O Deus Demônio adicionou um comentário que soava mais como um desenvolvedor de jogos.
— Bom trabalho. Você já pode se retirar, humano.
Com as palavras de despedida do Deus Heraruon transmitidas pelo familiar com aparência de velho, não pude fazer mais nenhuma pergunta e fui forçado a deixar o Reino dos Deuses.
— Eeeeeh, uma proibição da tecnologia de impreeeeeensa!
— Cada templo recebeu um oráculo a respeito das Torres-Púrpura.
Depois de voltar ao Palácio da Ilha Solitária, chamei apenas Arisa, Liza e Hikaru para discutir os nossos planos futuros em uma das barreiras de isolação completa da princesa goblin, Yuika.
— Goshujin-sama, você tem certeza de que não tem problema contar isso para a gente?
— Está tudo bem. Tudo o que conversarmos aqui não irá escapar para fora, então não se preocupe com isso.
Os [Fragmentos do Deus Demônio] que estão dentro da Arisa servir como escuta, mas os Deuses pareciam indiferentes sobre essa questão e eu pude sentir que o próprio Deus Demônio não tinha qualquer intenção de levar isso a sério.
“Ou melhor…”
— Não me surpreenderia se o objetivo dele fosse que espalhássemos isso por aí, baixando a fé das pessoas com relação aos Deuses.
— É, eu acho a mesma coisa. Quero dizer, ele não precisava se dar ao trabalho de contar para o Satou da aliança que tinha com os Deuses e tudo mais. Tudo que eles precisavam fazer era dizer que era proibido destruir as torres-púrpura e seria fim de história.
— É bem provável.
Liza estava de acordo com os comentários de Arisa e Hikaru.
— Pode ser uma boa ideia não botar muita confiança no que o Deus Demônio disse.
— Sim, penso o mesmo.
— Sobre o oráculo, o que exatamente foi dito?
— Foi algo como, [ Vão e selem as torres do demônio usando o poder Deuses. Ó bravos detentores da fé, desafiem as torres e esmaguem os seus planos malignos. Ó pequenos, orem com piedade, pois assim fortalecerão os bravos detentores da fé ], ou coisa assim.
De acordo com Hikaru, o contexto diferia um pouco dependendo de qual templo vinha, mas o fato é, com este oráculo, um grande número de pessoas tentando entrar nas torres surgiu, o que obrigou ao Rei decretar o fim do impedimento.
— Eu deveria falar para o Sete que fomos proibidos de destruir as torres?
— Bem, não podemos manter isso em silêncio para sempre.
— Por acaso você está dizendo que deveríamos até incentivar as pessoas à conquistarem essas torres? Não era exatamente isso que o Deus Demônio queria que acontecesse?
A preocupação de Arisa era razoável.
— …Arisa.
— Oi, Liza. O que foi?
Liza, que até agora estava apenas ouvindo, se virou para Arisa.
— A maior ameaça de uma armadilha é ser pega nela sem qualquer conhecimento. Não importa o quanto ingênuo isto esteja escondido, não importa também o quão perigoso seja, não é preciso ter medo de uma armadilha quando já se sabe os seus segredos. Tudo que se precisa fazer é pisar nela e se livrar disso no mesmo instante.
Esta filosofia soava exatamente como ela.
Hikaru e Arisa olharam uma para a outra e então caíram na gargalhada.
— Ahaha, é verdade, você está certa.
— Bem, nós temos um nosso mestre trapaceiro com a gente, de qualquer forma.
Bem, no caso de realmente haver alguma armadilha escondido, só iria me tomar algumas horas para destruir a todas as torres usando o [Alocar Unidades] e Magia Anti-divina sem atingir qualquer habitação humana. Acho que agora eu só preciso pensar em uma forma de salvar a todos os explorados que estiverem dentro das torres, certo?
— Ah, ele acabou de entrar no modo de meditação.
— Pela cara dele, acho que vai ficar tudo bem no final.
— Tudo bem, acho que vou indo contar ao Sete sobre a proibição em destruir as torres.
— Já eu vou contar para todo mundo que conquistar elas pode ser uma armadilha feita pelo Deus Demônio.
Quando eu finalmente emergi de volta dos meus pensamentos, encontrei Tama encolhida no meu colo, com Pochi e Mia dormindo, inclinadas sobre mim. Só de olhar para essas três dormindo pacificamente me deixava sonolento também.
Não era como se as poucas soluções que encontrei pudesse ser colocadas em prática em um ou dois dias, então talvez uma pequena pausa não seja tão ruim. Boa noite, ZzZzZz…