“““ UM BRINDE AOS DEUSES! ”””
Diversos homens bateram os seus copos animadamente em uma taverna. Cenas como essa têm sido vistas com frequência nos bares próximos das [Torres] na Capital ultimamente.
— Ufa, essas cervejas estão ótimas como sempre!
— Nada como beber enquanto se come edamame como tira gosto!
As cervejas pilsen importadas de Garleon Unido ao oeste do continente são muito mais caras do que as cervejas escuras, mas vários aventureiros têm aderido ao seu sabor refrescante, mas acentuado, que não pode ser encontrado nas cervejas escuras. Como tal, ninguém iria escarnear exploradores que rapidamente esvaziavam suas carteiras com esse prazer.
Adicionalmente, embora a Firma Echigoya tenha escondido a sua imensa participação na diminuição do preço dessas cervejas através da produção em massa, a maioria dos cidadãos já conhece o fato. Já que é um conhecimento comum nas ruas da capital que, sempre que há alguma ocorrência incomum, normalmente o responsável seria a Firma Echigoya, o Herói Nanashi, ou então o Conde Pendragon.
Embora sejam poucos os que sabem que, em verdade, trata-se da mesma pessoa.
Mais ainda, o jovem John Smith, que tornou-se milionário devido ao seu sucesso na produção em massa de cerveja, aparentemente está em uma jornada para o Condado de Seryuu, localizado ao norte do Reino Shiga. O secretário chefe da Cervejaria John Smith, aconselhou-o que haveria novas oportunidades de negócios no Labirinto de Seryuu.
— Aqui está a sua segunda rodada.
— Ohh! Eu estava esperando por isso!
— Ótimo pessoal, agora é hora de…
Os homens levantaram as suas canecas.
“““ UM BRINDE AOS DEUSES! ”””
— Ei, ei, quantas vezes vamos ficar repetindo isso?
— Ah, e qual o problema? Aqueles monstros ficam mais fracos quando agradecemos aos Deuses assim.
— O que deixa as coisas mais fáceis para a gente, hehehe.
Os homens olharam uns para os outros antes de caírem na gargalhada.
— Seus insolentes burros!
— Calma, calma, sacerdote-sama. Que tal uma outra caneca?
— Hmph… bem, acho que vou aceitar.
Pelo visto, o sacerdote não estava querendo passar sermão seriamente. As doações aos templos têm crescido devido a presença das [Torres] e os sacerdotes se tornaram populares entre os explorados que tentam conquistá-las. Esta situação foi literalmente uma dádiva dos Deuses para os sacerdotes que desejavam aumentar seus levels de maneira segura, além disso, eles têm estado tão bem humorados que inclusive amenizaram os sermões mesmo depois de verem algumas pequenas imprudências.
— Ex-exploradores-sama! Me deixem entrar para o seu grupo!
— Quem diabos é você?
— E-eu sou Tahere! Eu costumava viver como explorador na cidade do labirinto!
Um garoto chamado Tahere, que vestia trapos esfarrapados, entrou cambaleando pela taverna. Um dos clientes nas proximidades cochichou, “Esse tal de Tahere deve ser um lixeiro”.
Lixeiros é um termo pejorativo usado para se referir à pessoas que pegam itens que parece utilizáveis nos depósitos de lixo que ficam próximos à estação de tratamento de água na capital.
— Onde é que estão os teus equipamentos?
— E-eu tenho uma arma bem aqui!
O garoto mostrou uma espada embainhada em trapos. Pelo que parecia, ele a tinha pego em um dos depósitos de lixo, visto como a espada enferrujada só tinha metade da lâmina intacta.
— Tu não vai conseguir cortar aqueles goblins roxos com isso aí.
— Em-então eu posso carregar suas coisas e fazer outros serviços! Faço qualquer coisa!
— Tudo bem, vejamos se tu tem jeito para a coisa. Mostre o que você pode fazer.
O homem pareceu ficar satisfeito quando o garoto imediatamente apresentou uma segunda proposta. Muitos já teriam reclamado ou dado desculpas esfarrapadas a essa altura.
— MUITO OBRIGADO, ANIKI! COM TODA CERTEZA VOU PROVAR QUE POSSO SER ÚTIL!
Cenas de pessoas, pensando no futuro, tentando quebrar as aspirações de gente pobre que deseja seguir o caminho de um explorador eram bastante frequentes nas proximidades das torres também.
— Uaaau! Tão espaçoso!
— Eu já tinha ouvido os rumores, mas é tão grande que dá até para ver o horizonte.
Como exploradores que nunca entraram na torre antes, estes dois pareciam caipiras em sua primeira visita à uma cidade grande quando viram o enorme primeiro andar da torre na capital.
— Ei, nós estamos indo.
— Se não nos apressarmos, uma fila enorme vai se formar.
— Por que diabos vocês acham que saímos antes mesmo do sol nascer? — Reclamou o líder.
Filas com aproximadamente trinta pessoas cada, tinham se formado em frente à 16 dos 20 pilares.
— Aniki, aniki. Alunos dos pilares não têm filas, então não podemos seguir por eles?
— Aqueles vão para o andar de baixo. Tem paredes invisíveis neles, então não podemos ir.
O líder respondeu ao garoto sem ao menos olhar para os pilares, como se fosse a pergunta mais comum daqueles que entram na torre pela primeira vez.
— Vai ser a nossa vez em breve. Coloque a sua arma no laço da corda e segure firme.
— Por quê?
— Apenas faça o que eu mando.
Os novos fizeram como dito mesmo parecendo estar confusos.
— A torre entenderá que somos todos do mesmo grupo quando se faz isso.
— A torre sabe!?
— É isso mesmo. Sabia que você para em andares diferentes apesar de subirmos pela mesma escada?
Os novatos assentiram para o líder. Esse mecanismo não estava presente no começo, mas na medida em que mais exploradores passaram a entrar nas torres, esse aspecto foi adicionado sem que qualquer um soubesse.
— Se vocês não fizerem isso, as torres vão juntar oito pessoas aleatórias em um grupo e enviá-las para andares diferentes.
Aparentemente, houve uma enorme confusão quando os casos de pessoas desaparecendo quando esse sistema foi implementado.
— Ei, novato. Não pegue o último laço. Tenha certeza de segurar na ponta da corda e de amarrar bem no seu próprio braço.
— Mas por quê?
O novato no final da fila perguntou ao seu veterano (senpai) o que ele queria dizer com aquilo.
— Para evitar que caras mal-intencionados com habilidades de [Ocultação] venham junto com a gente.
Houve casos onde pessoas sorrateiramente seguraram a ponta das cordas, com o objetivo de roubar equipamentos de aparência cara de jovens de famílias nobres, novatos promissores e equipes de aparência fraca em busca de novos talentos. Essa era uma trapaça comum se aproveitando das brechas do mecanismo que enviam um grupo para o mesmo andar.
Embora, isso não significa que cada andar seria monopolizado, sendo comum que Equipes diferentes se encontrem dentro das torres.
— Ei, Focinho Branco. — O líder deu um sinal para um Dogkin de pelugem branca.
N/T: Lembrando que existe a tribo das orelhas (Que só possuem as orelhas de animais) e o da pele, “kin” (Que a aparência é a de um animal).
Sendo chamado, ele começou a farejar ao redor, inferindo o número de monstro e a direção deles a partir do cheiro deixado pelas passagens da torre. Esse Dogkin parecia não gostar de usar sua fala de difícil entendimento, usando apenas sinais para comunicar os seus achados.
— Tem apenas um goblin roxo no final da passagem à direita. Nada na esquerda.
Depois de traduzir os sinais para os dois novatos, o líder tomou a dianteira e foi para a direita.
— É um goblin!
— Realmente tinha um aqui!
— Vocês dois, esse vai ser o primeiro teste de vocês. Vão sem medo que, se as coisas ficarem perigosas, a gente vai salvar vocês.
— Boa.
— Beleza.
O novato mais novo e o mais velho encararam o goblin roxo carregando um porrete — Semi-Goblin de Vanguarda. Nenhum dos dois usava armadura, mas eles vestiam roupas grossas e tinham recebido do líder sabres goblins e pequenos escudos goblin. Ambos eram eram itens de queda fornecidos pela torre.
— G W O O O B Z N!
O goblin deu um rugido e correu na direção deles.
— UUUUUOOOOOOOO!
— DERYAAAAAAAAAAA!
Reagindo a isso, os dois deram seus próprios gritos de guerra e partiram para cima do goblin, que balançou o seu porrete na direção do novato mais velho. Entretanto, os sabres dos dois foram mais rápidos, cortando o goblin no ombro e no braço, deixando feridas profundas em sua pele arroxeada.
Após diversas trocas de golpes, o monstro finalmente perdeu toda a sua barra de vida e, com um grito que soava tanto como “gya” e “gyu”, desapareceu completamente em uma névoa púrpura.
Graças a proteção dos Deuses, os Semi-Goblins de Vanguarda, que já se mostraram um desafio mesmo para soldados treinados, agora poderiam ser vencidos por um jovem ex-explorador de labirintos e um homem de meia idade, que dependia apenas de sua força remanescente sem qualquer treinamento apropriado.
— Bom trabalho, os dois.
Ambos riram alegremente com o elogio.
— O combate foi muito desajeitado, mas já que ficaram de olhos abertos o tempo inteiro e não tentaram fugir, vou dar minha aprovação à vocês.
— Apesar de que o jeito que eles balançam a espada é tão mais ou menos, acho que tudo bem, né?
Os dois estavam deitados no chão, encharcados de suor, depois de vencer apenas um Semi-Goblin de Vanguarda, o mais fraco dos monstros por ali.
— Nenhum osso quebrado, só alguns hematomas. Na próxima vez, tenha total certeza de evitar o ataque dos monstros.
— É, eu vou sim.
O novato mais velho balançou a cabeça enquanto recebia os primeiros socorros. O explorador que cuidou dele estava a ponto de reclamar por não ter recebido uma palavra de agradecimento, quando lembrou que se tratava apenas de um novato que tinha acabado de passar por sua primeira batalha, então, dando uma bufada, deixou passar desta vez.
— Vão lá pegar a primeira recompensa de vocês.
— Obrigado, Aniki!
O novato mais jovem foi dar uma olhada no fragmento de núcleo mágico deixado no chão.
— Difícil de achá-los no chão, não é? Tenha certeza de só procurar por eles depois que tiver matado todos os inimigos, nunca durante um combate.
— Ok, entendi.
O jovem, que estava engatinhando atrás do fragmento, finalmente o achou e entregou ao líder.
— Ótimo, vamos em frente.
— Eeh? Já estamos indo?
— Sinta-se a vontade para ficar aí descansando sozinho, então.
O líder caminhou na direção apontada pelo Dogkin enquanto respondeu ao resmungo do novato.
— E-eu vou também!
Não querendo ser deixado para trás, o novato mais velho bateu em suas pernas ainda trêmulas e partiu em direção ao grupo.
— Hã? Você tem itens mágicos para cozinhar?
— Huhuhu, legal, não é?
Um jovem que veio fazer entregas na taverna olhou deslumbrado para o novo conjunto de itens mágicos.
— Cara, você deve estar fazendo uma fortuna com esses exploradores, hein?
— Claro, esses caras só compram bebida barata, mas sempre fazem um banquete quando voltam da torre, então estou ganhando muito mais do que quando fazia negócios no centro da cidade.
— Mas essas ferramentas não são muito caras?
— Na, isso é coisa do passado. Agora que o preço dos núcleos mágicos está diminuindo, as ferramentas mágicas também ficaram mais baratas.
— Ah, por causa das torres, hein.
— É, por causa das [Torres]. Essas coisas vieram mesmo a calhar.
Até hoje, núcleos mágicos eram produzidos principalmente nos labirintos, por isso o preço de mercado era elevado, mas, graças ao excesso de núcleos e fragmentos obtidos nas torres, os custos de núcleos de baixo grau foram cortados pela metade.
— Talvez eu devesse tentar a sorte como explorador. Ultimamente até crianças consegue caçar aqueles goblins nos primeiros andares.
— Ah, esquece isso. Você entenderia se fosse dono de uma taverna também. Vários grupos vêm aqui toda noite, mas só metade deles são membros permanentes. O resto está sempre mudando porque a maioria deles nunca mais volta.
O dono deu esse aviso ao jovem depois de ouvir o murmúrio dele. Ser um explorador significa apostar a própria vida, foi o que disse.
— Talvez, eles entrem em novas Equipes e vão para outras tavernas?
— Sim, deve ter alguns poucos que sim.
Ele tentou deixar falar de uma maneira que deixasse implícito que a maior parte desses exploradores de fato tinham morrido.
— Acho que vou pensar um pouquinho mais.
— Essa é uma sábia decisão.
Desse modo, o jovem partiu. Entretanto, poucos dias depois, a pessoa responsável por fazer as entregas acabou por ser alguém diferente. O dono não fez qualquer comentário sobre isso, apenas mantendo as esperanças de que o jovem estivesse seguro, enquanto limpava as mesas.
Depois do aparecimento das torres, a troca contínua de pessoas em um cargo se tornou uma ocorrência corriqueira.
— Hã? Já está fechando?
Uma dona de casa, que estava indo ao mercado da capital, tinha um olhar preocupado ao ver que a barraca para onde se dirigia já estava fechando.
— É, o nosso estoque acabou.
— Céus, isso foi rápido.
— Na verdade não. Ultimamente os negócios têm crescido bem e temos ficado sem estoque por volta desse horário.
Assim como disse o proprietário, várias outras barracas começaram a fechar também.
— A loja de Gontz deve estar aberta ainda. Ela fica três corredores à frente.
— Aquele lugar é muito caro… acho que irei na loja do Robson-san, então.
— Hmm? O Robson fechou as portas, sabe?
— Fechou? O que aconteceu?
— Ele virou um explorador junto com um empregado que conhecia.
— Ara, ara, Robson-san ainda é tão jovem.
Pessoas sonhando em subir na vida através da torre se tornou uma lenda comum na capital. Consequentemente, a dona de casa já não ligava muito quando um conhecido subitamente mudava de profissão.
— Suponho que não tenho escolha senão ir a loja do Gontz.
— Não acho que o preço vai ser muito diferente. As coisas têm ficado mais caras mesmo recentemente. Se você não se apressar, até ele vai fechar por falta de estoque também.
— Não há outra alternativa então.
Ela foi em direção a outra loja.
— Quando as coisas ficam tão caras assim, a nossa vida não melhora em nada mesmo com o alto salário do meu marido.
Enquanto a esposa se lamentava, a onda de inflação gradualmente se espalhou pela capital.
— Dozon-sama!
— Ouh! Se não são os pirralhos da Pendora!
Um grupo de garotos de manto azul chamaram por um homem que estava fazendo uma pausa no espaço aberto próximo à torre da cidade do labirinto. Dozon, o explorador classe Ferro Vermelho é bem conhecido entre os explorados por ser uma pessoa sociável e boa em cuidar dos outros.
— Vocês não estão com Usasa e os outros hoje? — Douzen perguntou quando percebeu que os membros de sempre não estavam presentes.
— Eles foram explorar o labirinto junto da Nee-san hoje.
— Nee-san? Por acaso estão diminuindo o número de monstros no labirinto junto da Jena ou Iruna?
Dozon mencionou o nome das professoras da Escola de Exploradores fundada pelo Conde Pendragon.
— Não, eles estão com a Pochi-neesan. Já que ela estava dizendo, “vamos caçar um monte de carne, nanodesu”, acho que estão caçando sapos do labirinto ou veados do labirinto. Afinal, ela levou um monte de carregadores junto com Usasa e os outros.
— Pochi não é aquela menina bobinha que… — A imagem de uma pequena Dogkin com bracinhos curtos balançando por aí lhe veio a mente.
N/T: Lembrando que na Light Novel, a raça da Pochi foi trocada para Orelha-de-Cão.
Ele acabou deixando escapar um sorriso por causa da lembrança meiga, mas logo recordou das conquistas que ela e seu mestre haviam feito.
— …Um dos [Matadores de Demônio], não é?
— Essa mesma. Usasa tinha consultado as professoras sobre algumas crianças que estavam passando fome por causa do aumento absurdo no preço da comida na cidade do labirinto. Talvez o Conde-sama tenha ouvido isso e despachou a Nee-san para cá.
— É, o jovem mestre Pendragon com certeza faria isso.
Lembrando de como o Conde Pendragon fazia trabalhos de caridade em Selbira mesmo quando ainda era um Cavaleiro Honorário, Dozon assentiu com firmeza em concordância.
— Vocês não foram?
— Não, porque estamos trabalhando duro para alcançar o mesmo nível deles.
— Não teremos o direito de usar esses mantos se ficarmos sempre sendo salvos.
— É assim então. Trabalhar duro é bom, mas tomem cuidado para não se ferirem.
— Claro, sabemos muito bem disso!
— Nós da Escola de Exploradores Pendora temos isso enraizado bem profundo na gente!
Os garotos disseram orgulhosamente para Dozon.
— Falta de comida, hein… — Ele murmurou para si enquanto assistia os garotos partindo.
A maioria dos exploradores presentes na cidade do labirinto passaram a ir para as torres por causa da rentabilidade e, como resultado, a carne barata que sustentava o comércio começou a se esgotar.
— Não é apenas natural? Quero dizer, tem monstros que deixam comida nas torres também, mas, diferente dos labirintos, os corpos desaparecem depois de derrotados.
— Bem, é verdade…
Os membros de sua Equipe começaram a argumentar também.
— Tudo bem, vamos para o labirinto por algum tempo a partir de amanhã.
— Entendido.
— Bem, eu sabia que você ia dizer isso.
— Cara, nosso chefe não tem jeito mesmo.
Em resposta a declaração de Dozon, seus companheiros responderam positivamente, apesar de ainda resmungarem um pouco.
— Me desculpem todos, esse é apenas o meu jeito.
— Não esquenta, chefe.
— Nós ganhamos um bocado nas torres, então ir para o labirinto por algum tempo vai ser bom para quebrar a rotina.
— É, mas seria ótimo se o labirinto tivesse alguma coisa parecida com os Orbes de Fuga que nem as torres.
— Nem me fale~
Tendo descansado o suficiente, os homens foram rindo para a taverna. Ao que parecia, os companheiros de Dozon já estavam acostumados com a sua tendência de colocar os outros acima dos ganhos.
— COMO É!? TU TEM CORAGEM DE PEDIR UMA GRANDE MOEDA DE COBRE POR UMA MERDA DESSE TAMANHO!?
— Que escolha tenho? O preço de mercado tem aumentado, sabe.
— Como se essa migalha de carne fosse me dar alguma energia.
— Se não quiser, então fique livre para ir em outra loja.
— COMO É!? COM QUE VOCÊ ACHA QUE TÁ FALANDO!? — O homem enfurecido derrubou o proprietário da loja.
Outros fregueses começaram a gritar enquanto os guardas-costas tentavam render o homem, mas este facilmente conseguiu derrubá-los com um balanço vigoroso de seu braço.
— AQUI É O 13º BATALHÃO DA GUARDA REAL DA CAPITAL! QUEM É O IDIOTA QUE ESTÁ CAUSANDO ESSE TUMULTO!? APRESENTE-SE AGORA MESMO!
Os guardas correram para dentro da taverna no momento em que ouviam os gritos. Vendo um homem derrubando os guardas-costas e o proprietário inconsciente no chão, a situação ficou bem clara para eles.
— GUARDA, VOCÊ DISSE!? BELEZA, EU AINDA QUERO BATER EM MAIS GENTE! VOU MOSTRAR PARA VOCÊS A COR DO SEU SANGUE!
— Como se fossemos perder para um idiota que ficou convencido com o poder que obteve nas torres!
O homem tinha um nível bastante elevado, mas um explorador que tinha apenas tocado no caminho das armas, não era páreo para um grupo de soldados profissionais, forjados em trabalho de equipe e moral elevada sob o comando de seu capitão.
Ele foi imediatamente capturado pelos ganchos das lanças e imobilizado pelos soldados.
— Esses imbecís embriagados no próprio poder são um pé no saco.
Na medida em que mais gente comum adentravam nas torres, mais pessoas obtiam a capacidade para rivalizar os cavaleiros. Como tal, pessoas ignorantes que tentavam resolver tudo na base da força bruta, começaram a proliferar por toda parte, causando uma série de problemas.
— ME SOLTEM! DESGRAÇADOS! NÃO VOU PERDER PARA UM BANDO DE NOBRES FILHINHOS DE PAPAI!
O homem em fúria colocou sua mão ainda livre na boca.
— SEGUREM ELE! PREDAM AQUELA MÃO AGORA!
O capitão percebeu o que estava acontecendo e rapidamente deu uma ordem, mas já era muito tarde e o homem conseguiu engolir uma pílula.
— UUUUUUUUUOOOOOOOORRRYAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!
Com um grito, círculos mágicos com linhas vermelhas se espalharam em sua pele. Aquela era a mesma barreira defensiva usada pelos monstros que atacaram durante o Atentado do Padrão Vermelho na Capital.
— PÓ DEMONÍACO! ABORTAR PRISÃO! PERMISSÃO PARA ABATER!
“““ SIM SENHOR! ”””
O [Pó Demoníaco], encontrado como ítem de queda nas torres, tem se espalhado pelo submundo do crime na capital, sendo que alguns dos usuários obtiveram a habilidade de produzir a barreira de padrão vermelho e aumento de força física.
Os guardas têm trabalhado duro para reduzir a circulação da droga, mas, devido sua utilidade para a exploração das torres, muitos têm feito uso mesmo cientes da proibição.
— EU TENHO A FOOOOORRRÇAAAAAAA!
N/T: O homem tem a Síndrome de He-man kkkkkk
O homem rompeu as amarras, jogou os guardas para longe e correu em direção a saída a toda velocidade.
— KYA!
Uma jovem de cabelos negros e bem vestida estava na frente do homem em disparada. A boca dele se abriu sadisticamente quando a viu, abrindo seus braços na tentativa de fazê-la refém.
— ISSO É MAL! POR FAVOR, QUE CHEGUE A TEMPO!
Vendo aquilo, o capitão arremessou sua lança enquanto ativava a habilidade de Força Sobre-humana.
— TEI!
Ao som de uma voz meiga, o homem girou no ar antes de atingir o chão com força.
O capitão ficou boquiaberto ao ver a cena inacreditável que se desenrolava à sua frente, mas percebeu a lança que jogara indo na direção da garota e gritou.
— SAIA DO CAMIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIINHO!
A garota sorriu e deu uma pequena risada, então balançou suavemente a mão, segurando lança com firmeza, quase como se tivesse usado um feitiço para atraí-la até ela.
Aproveitando-se disso, o homem tentou continuar o tumulto, mas a garota reagiu primeiro o prendendo de tal forma que não conseguia fazer o menor movimento.
— …■ [Drenar Mana].
Com o feitiço usado por ela, os círculos mágicos que cobriam a pele dele desapareceram. Em seguida, colocando o homem, ainda se debatendo, para dormir, a garota o entregou para os guardas.
— …Aquela é Lulu.
Alguém murmurou estas palavras.
— Lulu!?Você quer dizer, a Empregada Rainha!?
— Idiota! Coloque um [Sama], depois do nome dela!
— Isso aí! Lulu-sama é uma inspiração para todos nós cozinheiros!
— Não só cozinheiros! Como empregadas, ela também é nosso objeto de adoração!
Vendo aquela multidão fazendo elogios a ela — Lulu virou o rosto em timidez depois de perceber que havia esquecido de colocar o véu inibidor de reconhecimento.
— Ta-Tama-chan, me salve!
— Don’t worry, be happy~ (Não se preocupe e seja feliz~)
N/T: Deixei em inglês mesmo, pois é uma frase famosa que a Arisa-chan ensinou para a Tama.
Enquanto cochichava suavemente para sua própria sombra, a mão de tama emergiu, pegando o pé de Lulu e a fazendo mergulhar na sombra. Deixando a multidão surpreendida para trás, Lulu, que estava ajudando na supressão de arruaceiros, voltou para casa junto com Tama.
— Amarrem bem esse cara e o levem logo daqui. Não esqueçam de amordaçar a boca também para evitar que ele use o Pó Demoníaco de novo!
Assim que Lulu se foi, o capitão ordenou seus subordinados.
— Capitão, um dos guardas-costas e o proprietário estão mortos. Outro está gravemente ferido.
— Entendo. Leve imediatamente o que está gravemente ferido para os templos ou um dos hospitais filantrópicos.
— SIM SENHOR!
Dois guardas colocaram o ferido em uma maca e o carregaram com a ajuda de alguns homens embriagados.
— E isso foi antes mesmo de ele usar a droga…
— Tivemos sorte que Lady Watari estava presente.
O guarda que sabia o nome de família de Lulu era um grande fã dos [Matadores de Demônios] e já havia lido vários livros contando os seus feitos.
— …Nem me fale.
Muita gente nas ruas teria sido vitimada caso o homem tivesse fugido.
— Acho que pedirei ao Comandante Regional para enviar uma carta de gratidão à Lulu-dono.
Depois de murmurar para si, o capitão e seus homens voltaram a patrulhar.
— Preços exorbitantes de comida?
— Sim, as áreas urbanas começaram a sofrer com a falta de vegetais, enquanto que as rurais estão sofrendo com a pouca carne disponível.
O primeiro foi causado pela falta de agricultores e pessoal para distribuição, enquanto que o último se devia ao número baixo de caçadores para providenciar carne nas aldeias. Em ambos casos, o fato se deu porque todos os profissionais decidiram se tornar exploradores.
As cidades só não estão com falta de carne graças aos ranchos locais estarem descarregando todo seu estoque, mas isso não significa que o preço dela estava diminuindo. Graças aos exploradores que consumiam rapidamente os produtos durante os seus banquetes, o preço teve um súbito aumento dentro das áreas urbanas, incluindo a capital. Se continuasse assim, esqueça em alguns anos, logo não haveria estoque o suficiente já no ano seguinte.
— Já nas áreas rurais em particular, muitos desistiram ou simplesmente abandonaram as fazendas.
Sempre houve casos de segundos e terceiros filhos de famílias de agricultores deixando as aldeias porque não queriam o árduo trabalho de cultivar em outras terras, mas a taxa de agora era muito maior do que antes. Usando o argumento de [Proteger a aldeia], enquanto na verdade faziam apenas o mínimo, eles correram para as torres para conseguir algumas quantias a mais de dinheiro. Aparentemente, esse padrão tem se repetido muito.
Embora seja muito difícil haver colheitas ruins graças a proteção dada pelos [Núcleos das Cidades], o trabalho no campo não é algo simples como “jogar as sementes e esperar crescerem”.
— Sua excelência, meu subordinado requisitou uma audiência.
Um dos pajens do Rei chamou pelo Primeiro Ministro, que foi para outra sala ouvir o relatório quando foi convocado para uma questão urgente, retornando em seguida para comunicar o Rei.
— Sua Majestade, uma guerra civil estourou no Reino Makiwa.
Quando o líder da família faleceu, os demais membros começaram uma disputa entre si no Condado Jizaros, uma das quatro grandes famílias que possuía as Varinhas dos Orbs, tendo grande influência no Reino Makiwa. Assim, aqueles que assumiram o condado, declararam sua independência, iniciando uma revolta contra o reino.
— Além disso, pequenas revoltas em decorrência da falta de alimentos cresceram até se tornarem guerras em alguns localidades nos países centrais.
O Rei suspirou pesadamente ao ouvir o relatório do Primeiro Ministro.
— Céus, justo quando o mundo estava a ponto de entrar numa era de paz graças aos esforços do Rei Ancestral-sama, o maldito Deus Demônio vem e cria essas coisas desnecessárias!
— Apesar de que o nosso reino tem prosperado graças ao aumento no suprimento de núcleos mágicos. Então nem tudo é negativo.
Tendo uma redução nos custos de combustível para as Fornalhas Mágicas, que são necessárias para a mineração e aeronaves, significa também diminuir os custos de distribuição e mineração. Além do mais, isso também ajudou na obtenção de núcleos mágicos de alto grau — que tinham preço de mercado inestimável antes, mas agora eram acessíveis — para alquimistas e criadores de itens mágicos.
Pode estar havendo um rápido deslocamento da força de trabalho, mas o Primeiro Ministro especulou que isso eventualmente iria se acalmar quando o fervor das [Torres] chegasse ao fim.
— Sua Majestade tem algum tempo livre?
— Ah, bom dia, Rei Ancestral-sama!
— Como eu disse, me chame apenas de Mito.
Mito — o Rei Ancestral Yamato — mexeu as mãos em pânico enquanto pediu ao Rei e Primeiro Ministro que levantassem as cabeças.
— Estamos à beira de uma crise alimentar, certo? Já que obtivemos um enorme estoque de emergência e tudo, se importa se distribuirmos um pouco em nome do Reino Shiga? Fique livre para pedir qualquer acordo político se quiser.
— Oooh! Nesse caso…!
O Rei calou o Primeiro Ministro que estava a ponto de vir com alguma ideia.
— Não mancharemos a magnanimidade do Rei Ancestral-sama com politicagens só para nossa própria conveniência.
Agora que o Império Saga e os países do ocidente haviam perdido grande parte do seu poder e com o fim do Império Weasel, o Reino Shiga tornou-se a maior nação do continente. O que o Rei queria dizer era que mais poder foi desnecessário.
— Entendi, então vou sair e distribuir. Ah e isso aqui é apenas uma amostra. Pode não parecer, mas é comida, composta por uma mistura de pó de peixes e algas secas com pílulas de algas.
Embora ela tenha dito que não parecia com comida, o aspecto da amostra não era diferente da comida preservada que existe no Reino Shiga. Algumas das rações usavam Kraken ao invés de peixes, mas, como isso poderia complicar as coisas, Mito decidiu omitir.
— O valor nutricional e calorias são suficientes, e o sabor é melhor do que parece, então ninguém vai morrer de fome com isso.
— Perfeito, irei escrever cartas para cada um dos reis.
O Rei narrou o conteúdo para sua secretária e ordenou que os subordinados produzissem em massa as cartas.
— Obrigada. Acredito que agora os reis com toda certeza aceitarão a nossa ajuda.
Mito sorriu quando ouviu o conteúdo das cartas. Basicamente elas diziam [Seguindo a doutrina do Reino Shiga, estaremos providenciando alimentos para a população do seu país. Em troca de nosso auxílio, requisitamos que não permita que qualquer cidadão morra de fome].
— Ichirou-nii, Sete aprovou a ajuda alimentar. Essa é a carta endereçada aos reis de cada país.
— [Em troca de nosso auxílio, requisitamos que não permita que qualquer cidadão morra de fome], hein? Essas são ótimas palavras.
— Não é? Como esperado de um dos descendentes do Sharlick-kun!
Ouvindo o elogio de Satou, Mito desabrochou um largo sorriso.
— Muito bem, é hora de entrar em ação.
— Se importa se eu for junto?
— Claro que não. Nesse caso, irei como Kuro e você pode ir como Nanashi, Hikaru.
— Ok.
Naquele dia, o Herói Nanashi e seu atendente se mostraram em cada canto do mundo, entregando enormes montantes de alimentos preservados antes de partirem. Os representantes de cada nação que receberam o auxílio, trataram de distribuir as rações o mais depressa possível.
Obviamente, houve pessoas que tentaram tirar proveito para si, mas misteriosamente suas ações se tornaram públicas poucos dias depois, levando-os à ruína. Ninguém foi capaz de encontrar evidências de haver alguém trabalhando por trás da cena nesses casos. Apenas rumores de uma pequena sombra cor de rosa sendo avistadas nesses países. Nin Nim.
N/T: Para quem não entendeu, Gata Ninja, Tama-sensei para vocês ;D