Satou aqui. Não importa o quão bem planejado o nosso cronograma seja, sempre haverá neste mundo situações inesperadas que colocarão tudo a perder. Caso contrário, não estaríamos em uma completa Marcha Mortal (Death March), não é mesmo?
— YEEEESSS! DEZ VITÓRIAS CONSECUTIVAS! UHUUUUUU!!!
— Só a Arisa ganhando é injusto! Pochi quer vencer também, nodesu!
— Tama também~
Eu podia ouvir a voz das meninas vindo de trás.
Além de mim, fazia duas horas que as meninas estavam brincando com os cartões de aprendizagem. Já que eu não poderia me virar no momento, não sabia ao certo qual era o motivo da discussão, mas aparamente a Arisa estava infantilmente massacrando as outra meninas em cada rodada.
— Arisa, pegue aqui o seu prêmio pelas dez vitórias consecutivas.
— Hm, o que é isso? Um livro de gravuras?
— Se conseguiu ganhar tantas vezes, não vai ser um problema ler isso, certo?
— Hmm… é, acho que vou tentar.
— Leia em voz alta para que Pochi e Tama consigam acompanhar também. Se elas ficarem apenas com os cartões, podem acabar se entediando antes de conseguirem aprender a ler propriamente.
— Tá, tá. Pode deixar.
De início ela não parecia muito a fim de usar um livro de gravuras, mas depois que insisti ela finalmente concordou e deixou as páginas bem abertas no chão para que as outras meninas acompanhassem. Ainda assim, eu estava impressionado que ela tivesse aprendido em apenas dois dias de estudo.
Pochi e Tama, que estavam resmungando até instantes atrás, imediatamente se aquietaram e levantaram as orelhas, prestando atenção quando a história começou.
Com nada além da voz da Arisa como BGM, a carruagem prosseguiu avançando lentamente.
Rudy: BGM (Back Ground Music) são aquelas musiquinhas de fundo que ouvimos em todos os jogos de RPG quando estamos em um mapa.
Como eu queria investigar um pouco mais o [Mapa], pedi para uma das meninas me substituir no banco do cocheiro. Inicialmente, pensei em chamar a Liza, ,mas como ela estava com uma expressão séria ouvindo atentamente a história de Arisa, chamei a Lulu ao invés.
— Lulu, você poderia segurar as rédeas um pouco para mim?
— Sim, como o senhor desejar, mestre.
Fui para a ponta do banco do motorista para dar espaço suficiente à Lulu. Eu queria apenas lhe passar o controle da carruagem e permanecer ali concentrado no mapa, mas no ponto de vista dela, seria como se eu a estivesse observando atentamente… então decidi que era melhor não.
Saí da frente da carruagem e fui até o saco de bagagens e me escorei nelas.
Imediatamente escolhi um local propício para o acampamento daquela noite. Em verdade, antes de partimos de Seryuu eu já havia selecionado diversos pontos de descanso ao longo de nossa jornada, mas infelizmente a distância que conseguíamos cobrir em um dia foi bem menor do que imaginei.
Ainda restava por volta de 4 horas de luz do dia. Se nos apressássemos e sairmos desta colina nas próximas 3 horas, estaremos nas proximidades de um vale bem no meio das montanhas que se encontram a leste e oeste de nós. De acordo com o livro que comprei na livraria [Jornada Para a Capital Real], o vale a nossa frente seria uma travessia difícil, então eu queria que acampássemos antes dele.
De acordo com a informação contida no mapa, havia duas localizações ideais para o acampamento. A que estava mais perto era uma com espelho d’água nas proximidades, será que deveríamos usar ela?
Normalmente em histórias de fantasia, espíritos de água e monstros aquáticos se reuniriam em lugares assim, mas de acordo com a informação do [Mapa] só havia enormes sapos vivendo na lagoa. Diferente dos Sapos Gigantes que encontramos nos labirintos, estes não eram monstros, mas simples anfíbios.
Eu me pergunto qual a linha que separa monstros da fauna local?
— Mestre.
Enquanto ponderava, fui chamado pela Lulu, algo que ela raramente fazia até o momento. Deixando o mapa de lado, tratei imediatamente de ir ver se ela precisava de alguma coisa, pois sua voz me parecia com uma pitada de aflição.
— Algo errado, Lulu?
— Hm, s-sim, ah, por favor, dê uma olhada naquilo.
Quando me virei para o local onde ela estava apontando, uma nuvem negra se moveu da direção da montanha a sudeste.
A distância era considerável. Fiquei surpreso que ela tivesse percebido.
— Agora há pouco, uma revoada de pássaros parecia fugindo daquela direção. Eu fiquei curiosa sobre o que poderia ter acontecido, então percebi que tinha uma espécie de névoa escura se aproximando.
— O que será é que isso?
Aquele local estava além do escopo do meu mapa, mas olhando atentamente, uma descrição do [AR] surgiu informando [Nuvem de Monstros-Insetos Não identificados]. Os detalhes não surgiam porque o [AR] era conectado ao [Mapa] e a habilidade [Avaliar] informou também que estava fora de alcance.
— O que foi? Aconteceu alguma coisa?
— Arisa, continuar~?
— Aconte-, nodesu!
Quando eu estava falando com a Lulu, Arisa apareceu com metade de sua cabeça na cabine do cocheiro sendo esmagada pela cabeça de Tama. Embora seja apenas uma conjectura pelo que ouvi, Pochi tentou aparecer também por cima delas, mas acabou caindo no caminho.
— Avistamos uma espécie de Névoa Negra se aproximando daquele lado.
— O que acha que é aquilo?
— Já que é preto, talvez sejam morcegos?
Pochi tentou colocar o nariz dela no espaço entre mim e o banco do motorista para enxergar o que estava acontecendo, mas infelizmente, eu precisava dizer que ela acabou virando na direção errada. Quando nossos olhos se encontraram, levantei da minha posição para que ela pudesse ver a nuvem negra também.
— Ah, um montão de bichos está se movendo, nodesu!
Uau, incrível. Ela consegue dizer que são bichos a essa distância?
Se realmente fossem insetos voadores, então eles provavelmente chegariam aqui nos próximos dez minutos. No momento, decidi levar a carruagem para um abrigo e ir verificar a situação.
— Lulu, chame por mim quando chegamos perto da mata logo ali.
— S-sim!
Em seguida, tirei a Arisa de cima da minha cabeça e a coloquei do lado da Lulu.
— Arisa, fique aqui com a Lulu e observe o movimento daquela nuvem. Já que podem ser monstros se aglutinando, prepare-se para entrar em batalha a qualquer momento.
Liza reagiu à palavra “batalha”.
— Pochi, Tama, preparem-se vocês também.
— Aye, aye, sir~
— Roger, nanodesu!
Rudy: Esse “Aye, Aye sir” e “Roger” são respostas que os soldados americanos dão pelo rádio quando estão em campo.
Aonde é que elas aprenderam isso? Bah, que pergunta idiota. Só tem uma pessoa aqui que poderia ser a culpada, como sempre.
Embora eu tenha dito para ficarem preparadas, a verdade era que não passaria de Liza pegando sua lança enquanto Pochi e Tama empunhavam suas espadas e tirando algumas pedras de arremesso. Bem que imaginei que a mochila da Liza parecia pesada, o motivo eram essas armas que estavam guardadas lá dentro.
Liza colocou as pedras que recebeu de Tama em uma pequena bolsa na sua cintura. Eu também aproveitei para pegar uma besta e puxar o cordão, mas como esse tipo de armamento era perigoso de se manter carregado, não coloquei nenhuma seta ainda. Depois que confirmei que as meninas tinham terminado seus preparativos, coloquei mais três bestas na mesa e retirei um conjunto de 200 setas de munição.
— Eles estão vindo. Uma parte da nuvem se separou e vem direto na nossa direção.
Eles ainda não estavam no alcance do mapa, mas quando olhei para a figura da montanha acima da cabeça de Arisa, pude claramente ver que uma parte da nevoa estava se movendo. Eu então, troquei de lugar com a Lulu e pedia para que ela e a Arisa se escondessem na parte de trás da carruagem.
Agora que Liza e as meninas estavam todas posicionadas, acelerei a velocidade dos cavalos.
— (Mestre, o senhor não pode conferir o level deles ou coisa assim com o seu [Menu]?) — Arisa me perguntou cochichando.
— (Está fora do alcance. Quando eles chegarem até um raio de 10 km, poderei saber).
— Nesse caso, o senhor pode me autorizar usar magia nos monstros que chegarem muito perto?
Eu a autorizei a usar sua magia, exceto as de habilidades únicas e o feitiço que usou no mercado de pulgas.
— Eu quero permissão também para usar um feitiço para evitar monstros chamado [Campo de Repulsão]. Ah, e outros do tipo [Onda de Sono], [Sonolência em Área] e [Zona de Tédio].
Depois de ouvir a explicação de cada feitiço, dei permissão a todos eles.
— Se o número de inimigos for muito grande para lidarmos, tente coloca-los para dormir.
— Esse feitiço é inefetivo quando o inimigo se encontra agitado.
Arisa explicou dando um sorriso embaraçado.
Espere, então por que ela pediu autorização para o feitiço?
— Foi por isso que pedi também pelo [Zona de Tédio]. Os dois em conjunto funcionam muito bem.
— Mesmo sem ter muita experiência de batalha com isso, você conhece bem os feitiços.
— O único problema é que eles não diferenciam aliados de inimigo, então é bom deixar como último recurso.
— Você não tem nada que consiga causar dano direto?
— Hmm… posso utilizar o [Onda de Choque] e o [Onda Psíquica], mas esses no máximo atordoariam os inimigos.
— Se você agir em conjunto com a Liza, esses dois feitiços serão bastante efetivos.
Eu dei permissão a ele para esses dois também.
Mas o que será que está atraindo essa nuvem de insetos para cá?
Finalmente os monstros emergiram no meu mapa.
— Um Javali Hexápode (Javali Corredor)?
Rudy: Acho que isso significa que ele tem 6 patas.
Curiosamente, um grupo de Ratkins se mostraram na mesma localização que eles. Ao que parecia, esses monstros serviam de cavalaria para o grupo de 5 cavaleiros Ratkin que se moviam a aproximadamente 50 km/h.
— Quem é aquilo?
— São as montarias dos Ratkins que estão tentando fugir na névoa negra.
Os javalis tinha leveis entre 5 e 6, com os cavaleiros estando entre 3 e 7. Se eles continuassem nessa direção, muito em breve passariam pela gente.
Poucos minutos depois, a nuvem também entrou no alcance do mapa.
— Aquela nuvem é composta de monstros insetos chamados [Formigas Voadoras]. O level deles vai de 2 a 4, mas o principal problema é que esses monstros são venenosos e possuem um ataque ácido.
— Geh, ácido e veneno mortal ao mesmo tempo?
— O ácido pode causar queimaduras, enquanto o veneno parece ser do tipo que causa paralisia, então não precisa entrar em desespero se levar apenas uma mordida.
Apesar de ter dito, ficar paralisado numa situação assim seria morte certa. O número de formigas perseguindo os Ratkins foi de 50.
Quando a nossa conversa acabou, os cavaleiros atravessaram a floresta e chegaram na estrada a menos de 200 metros da gente, seguindo em direção a colina.
Ufa, se eles forem para a colina não vão passar pela gente.
Me desculpando mentalmente com os cavalos, chicoteei fortemente as rédeas para acelerar o passo deles.
Liza e eu poderíamos dar conta deles com a ajuda das outras meninas, mas isso provavelmente colocaria a segurança de Lulu e dos cavalos em risco.
Do outro lado na estrada, o som de mais formigas se juntando a perseguição pode ser ouvido. Agora, o número delas tinha chegado a 89.
Ignorem a gente e vão atrás deles!
Infelizmente meu pensamento otimista chego ao fim quando ouvi o alerta de Arisa.
— UMA DAS FORMIGAS ESTÁ VINDO!