— Vamos ficar seguros agora que chegamos até aqui.
Um discípulo sênior murmurou estas palavras.
Ele era alguém que estava no comando dos discípulos seniores desde a época de Joseph, então, em uma situação terrível, mostrou uma postura mais madura do que os outros.
Por exemplo, na situação atual.
— Isso é… um esconderijo?
— Sim, mestr- Joseph construiu este lugar, então vamos ficar seguros aqui.
Oliver olhou em volta.
Este edifício se localizava numa rua comum de imóveis e se apresentava em bom estado de conservação com manutenção regular.
— É um lugar preparado por Joseph em caso de um ataque inesperado ou raide de paladinos. Ninguém conhece este lugar além da gente.
Oliver assentiu e depois perguntou a Marie e Peter se haviam evacuado todos conforme ordenado.
Marie respondeu: — Um, dois, três… sim! Todo mundo me seguiu até aqui.
— Todos nos seguiram.
Depois de ouvir o relato de Marie e Peter, ele foi para seu próprio quarto, desempacotou sua bagagem e ordenou que todos descansassem.
Esta foi a primeira vez que todos estavam em uma situação de emergência, então realmente não sabiam o que fazer.
Não tinha nada que pudessem fazer além de fazer as malas o mais rápido possível, de acordo com o conselho do farmacêutico, e se preparar de acordo com o conselho dos discípulos seniores.
— O que é um vaga-lume?
— É um paladino.
— O quê?
— Paladino. Um cavaleiro de Deus que veio da Igreja Parter.
Oliver inclinou a cabeça em confusão.
Igreja Parter, Deus…
Oliver nunca ouviu falar disso.
Os supervisores da mina às vezes diziam algo assim sempre que viam crianças como Oliver, [Sem a bênção de Deus, lixos como vocês irão para o inferno].
Oliver ainda ficou curioso, mesmo sabendo que a situação era bastante urgente.
— O que é a igreja Parter, o que é paladino e o que é um Deus? Pode explicar?
Uma expressão de confusão brotou no rosto do discípulo sênior.
Era como ter dificuldade com uma criança, que não parava de perguntar o que é o sol e o que é água.
— Uh… Bem… é quê…
O discípulo sênior não sabia como explicar direito.
Oliver, que entendeu a situação, disse que estava tudo bem e falou que ele podia descansar.
— Mestre?
Quando o discípulo sênior saiu e Oliver estava prestes a descansar, Marie se aproximou em silêncio.
— O que foi, Marie? Aconteceu alguma coisa?
— Vai ficar tudo bem assim, Mestre?
— O quê?
— É que… estamos fugindo sem levar dinheiro ou livros…
Assim que a nota dizendo [Vaga-lume chegou. Tire todos da base] veio do Farmacêutico, Oliver ordenou que todos pegassem o básico para sair da base.
Ele não sabia quais eram os detalhes, mas o farmacêutico só falou para saírem, então só dependia de seu próprio julgamento e sentimento.
A primeira coisa que lhe veio à mente foi pegar as emoções.
Claro, o dinheiro que ganhou recentemente foi graças a isso.
Não levou nem mesmo os livros.
Bem, já tinha lido quase todos os livros e possuía dinheiro suficiente para gastar, mas Marie não pensava assim.
— Se sairmos assim, vamos claramente perder todo o nosso dinheiro e livros, então por que não vamos buscar agora…? Vai ser difícil operar o negócio por um tempo se o estúdio for destruído.
Oliver negou com a cabeça em resposta à sugestão da Marie.
— Hum… Não. Dinheiro é importante, mas a vida é ainda mais importante, certo?
— E-eu vou.
Oliver inclinou a cabeça em confusão.
— Marie? Por quê?
— Quero… ser útil ao Mestre.
— O quê?
— Mestre, quero ajudar. Se continuar assim, o prejuízo será enorme. Custa muito dinheiro montar uma sala de fabricação. Se continuar assim, todo o trabalho árduo do Mestre será desperdiçado.
— …?
‘Trabalho Árduo?’
Oliver olhou para Marie, incapaz de entender o que ela estava tentando dizer.
Ele não conseguia entender por que essa garota queria fazer isso.
Oliver lembrou o que ele tinha feito até agora.
Quando voltou depois de matar Joseph, de alguma forma conseguiu assumir a família em pouco tempo, então passou a maior parte do tempo lendo livros, fazendo Pilgaret e ensinando magia negra.
Tudo foi fácil como se tivesse tido sorte.
Só fazia todo o trabalho para poder ler livros.
Não tinha algo como trabalho árduo, nem nada do tipo.
Portanto, não conseguia entender por que Marie estava pensando no estúdio mais do que na própria vida.
Percebeu que talvez tivesse algo a ver com as emoções de obsessão e adoração que exalava agora.
— Hum… está tudo bem.
— Ah, mas…
— Está mesmo tudo bem. Vai ficar tudo bem de algum jeito. Em vez disso, poderia ir com alguém e verificar para onde a passagem secreta vai nos levar? Só por precaução.
Com as palavras de Oliver, Marie baixou a cabeça em resposta.
— Sim. Eu vou, Mestre.
— Ok, obrigado.
Depois que Marie saiu, Oliver começou a pensar.
Não é como se não tivesse entendido nada do que Marie estava tentando dizer.
Ele ganhou dinheiro suficiente, mas isso estava de acordo com os seus padrões.
Até Oliver sabia que era uma quantia muito pequena quando comparada ao todo.
Contudo, decidiu não se importar.
Oliver não sabia que tipo de existência o vaga-lume (Paladino) era, mas, com base nas palavras das pessoas ao seu redor, da mensagem do farmacêutico e dos registros de Joseph, pôde deduzir que eles eram como uma espécie de inimigo natural que era muito hostil aos bruxos.
Oliver estava esperando o predador desaparecer.
Mas, por outro lado, também ficou curioso.
Que tipo de existência eles eram para serem chamados de inimigos naturais dos Bruxos?
Talvez fossem seres que pudessem lhe dizer sobre a luz bela que viu.
Esses dois pensamentos conflitantes colidiam dentro do Oliver.
Um deles eram os instintos de sobrevivência que queriam que se escondesse para sobreviver.
O outro era a curiosidade de satisfazer o desejo de conhecimento.
Ambos influenciavam muito Oliver.
Quando os dois pensamentos entraram em conflito, uma guerra silenciosa estourou dentro dele, só que alguém se aproximou dele nesse momento.
— Mestre…?
— O que foi…?
Por causa da guerra que eclodiu em sua cabeça, Oliver demorou para responder mais do que o habitual.
O discípulo entendeu errado que Oliver estava irritado, então ficou ainda mais assustado quando estava prestes a falar.
— Ah, desculpa. Mas eu realmente acho que devo relatar isso.
— Ok. Pode falar. O que aconteceu?
— O mestre da família Dominic… chegou.
Oliver pensou que o discípulo devia estar enganado, mas não parecia ser o caso.
Dominic, que controlava Wineham junto com Joseph e Anthony, estava no subsolo do esconderijo que Joseph havia preparado.
Eles estavam confrontando Marie e os outros no subsolo com apenas quatro deles.
Não pareciam estar lutando com emoções ou magia negra.
Na verdade, Oliver os cumprimentou calorosamente quando desceu.
— Ei, você não morreu, ainda está vivo.
— Sim, como está?
Oliver falou como se tivesse se encontrado com um vizinho.
Marie e os outros, que estavam nervosos, acalmaram-se rapidamente quando viram a chegada do Oliver, abaixando a guarda.
— Acho que veio aqui para falar alguma coisa… certo?
— Ah, você sabia.
— Antes disso, posso perguntar uma coisa?
— O quê?
— Posso saber como encontrou este local
Dominic ficou perplexo quando ouviu a pergunta do Oliver.
— Está curioso com isso nessa situação?
— Hum… sim.
— Ahh… tudo bem. Não é grande coisa mesmo. Todo esconderijo tem um subsolo e um túnel. Na maioria dos casos, eles estão conectados entre si para que dê para fugir quando necessário. Vim procurando por esses lugares através dos esgotos.
— Entendi. Usou magia negra?
— Sim… Usamos [Nariz Sensível], uma especialidade da nossa magia negra baseada em doenças. Ela melhora muito o sentido do olfato. Então podemos seguir o cheiro das pessoas, mesmo no esgoto fedido.
Oliver armazenou essa informação em sua cabeça.
Negligenciou explorar a magia negra devido a muitas curiosidades recentes, mas não podia negar que era algo divertido.
— Uau…
Dominic franziu a testa ao ver a admiração pura do Oliver.
Sua impressão dele continuou piorando, mas, ainda assim, não demonstrou descontentamento abertamente.
Em vez disso, suas emoções se tornaram mais astutas do que antes.
— Então, posso falar agora por que vim?
— Claro, fique à vontade.
Dominic olhou para Oliver por um momento, depois abriu a boca.
— Não sei se você sabe, mas eles pegaram Anthony.
— Está falando do chefe da Família Anthony?
— Sim. Tem mais alguém além dele nessa situação? A paladina foi direto para o local dele, então não conseguiu evitá-los. Tenho certeza disso já que ouvi diretamente dos discípulos que escaparam.
— Hum… Entendi.
Oliver respondeu sem mostrar nenhum interesse na notícia.
Dominic, que não gostou da resposta do Oliver, explodiu de raiva.
— Por que você está agindo como se fosse problema dos outros?! Nós que seremos os próximos depois do Anthony.
— Não vamos ficar bem só nos escondendo?
— Não. Esses paladinos de merda são quase todos tenazes. Afinal, são os cães nobres e malditos de Deus, assim que recebem uma ordem, eles a seguem cegamente até completar.
— Hum, entendi… Por acaso, sabe sobre os paladinos?
— O quê?
— Pode me contar sobre eles? Porque não sei muita coisa.
BANG!
Dominic bateu na parede com os olhos vermelhos de raiva.
A força com que socou a parede foi tão forte que uma mossa pequena se formou, e o edifício tremeu um pouco junto com a poeira caindo do teto.
— Tá me zoando?
— Desculpa… Fiquei realmente curioso.
Dominic encarou Oliver ao ouvir a resposta, franzindo ainda mais a testa.
Um silêncio frio tomou conta do espaço.
Dominic falou de novo após um tempo.
— De qualquer jeito, os paladinos são filhos da puta implacáveis. Eles não vão deixar este lugar facilmente. Até Anthony foi pego. Então, não sabemos quando essa merda chegará ao fim.
— E?
— Vamos atacá-los primeiro.
— Mas o farmacêutico mandou a gente se esconder porque ele mesmo vai resolver…
— Somos servos daquele velho?!
Dominic estava meio certo e meio errado.
Era verdade que o farmacêutico ganhava muito dinheiro graças aos bruxos, mas, ao mesmo tempo, os bruxos também conseguiam adquirir os ingredientes e sacar facilmente o produto sem muita dificuldade, graças ao farmacêutico.
Além disso, também cuidava de todas as outras pequenas limpezas, mas não era uma questão para discutir, então Oliver perguntou sem se prender a esse detalhe.
— Então… você vai lutar?
— Sim! Por que devemos ter medo desses desgraçados em primeiro lugar?!
— Só que ouvi dizer que eles têm vantagem quando lutam contra bruxos…
— Mesmo assim, podemos vencer se trabalharmos juntos. Todos os discípulos do lado de Anthony vieram para o meu lado, então o poder de combate real será igual. Se a família Oliver também se juntar a nós, então podemos acabar com esses desgraçados… O que acha…?
Dominic parou de falar depois de olhar para Oliver levantando a mão calmamente.
Oliver respondeu com calma: — Ah, tenho que explicar umas coisas. Em primeiro lugar, o nome da nossa família não é família Oliver, mas família Joseph.
— O quê…?
— Não mudei o nome. Em primeiro lugar, é uma família estabelecida pelo Mestre, e estou no comando dela há pouco tempo.
— Que merda você…
— E, em segundo lugar, não tenho intenção de lutar.
— Por quê?
— É um inimigo perigoso, nós realmente precisamos lutar?
— Seus ouvidos estão entupidos?! Já falei que vão nos perseguir até o fim!!!
— Então, por que não continuamos correndo até eles irem embora?
— SEU FROUXO DESGRAÇADO!
TEP~
Dominic rosnou e cuspiu na cara do Oliver, só que o garoto não mostrou nenhuma reação apesar de ter levado cuspe na cara.
Só limpou o cuspe no rosto.
Se ser um covarde poderia mantê-lo vivo, Oliver não se importava de ser chamado de um.
Dominic mudou sua postura.
— E como vai ser? Enquanto lutamos com eles cobertos de sangue, vocês vão fazer uma festa do chá?
— Não, acho que não, mas agradeço… Talvez, eu te retribua de alguma outra forma.
— Seu arrombadinho. Vou te matar agora mesmo…!
Dominic, que se aproximou do Oliver por não conseguir conter sua raiva, parou do nada.
Um tentáculo sombrio estava segurando seu tornozelo.
— Hum… Não tenho certeza, mas você está planejando lutar comigo agora?
Oliver disse educadamente, mostrando as palmas das mãos como se estivesse acalmando a outra pessoa.
Seu comportamento foi muito educado, mas os tentáculos de sombra que envolviam os tornozelos do Dominic eram tão fortes quanto as raízes de uma árvore de mil anos.
De repente, os discípulos de ambos os lados assumiram uma postura de luta e a tensão entre eles aumentou.
Oliver perguntou novamente: — Pode, por favor, tentar entender?
— Pessoal… vamos voltar.
— O quê?
— Vamos indo! Temos que lutar contra a paladina em breve, então não temos tempo para brincar com esses covardes.
Com essas palavras, os discípulos da família Dominic afrouxaram sua postura com relutância, e os discípulos da família Joseph também os seguiram.
Oliver soltou os tentáculos de sombra que estavam segurando os tornozelos do Dominic.
— Assim que eu acabar com esses filhos da puta… será a sua vez. SÓ ESPERE.
— Agradeço pela compreensão. Vou te receber de forma diferente da próxima vez.
Dominic olhou para Oliver com uma expressão enojada quando este os cumprimentou. Depois disso, todos da família Dominic retornaram pela passagem secreta pela qual haviam passado.
Por fim, a visita chegou ao fim e todos os discípulos no subsolo respiraram fundo.
— Está tudo bem. Já imaginei que algo sério aconteceria.
— Pois é…
— Ainda bem que não tivemos problema.
— Se preparem pra sair.
Foi a voz do Oliver que interveio suavemente.
— O quê?
— Tenho uma sensação desconfortável, e vai ser perigoso ficar aqui, então façam as malas de novo e se preparem para sair daqui.
— …
Ninguém disse nada.
Todos olharam para Oliver com expressões estranhas nos rostos.
Marie voltou a si e abriu a boca.
— O que vocês todos estão fazendo?! O mestre falou que devemos sair daqui!
Ouvindo as palavras da Marie, todos recuperaram a compostura e começaram a se mover.
Peter veio e perguntou: — Para onde vamos, Mestre…?
— Não sei. Existem outros esconderijos?
O discípulo sênior assentiu com a pergunta do Oliver.
— Sim, tem dois ou três. A qualidade de manutenção deles é menor e ficam bem longe daqui.
— Ótimo. Leve todos para lá.
— Oi?
— Uh… Preciso ir num lugar.
— Aonde, Mestre? — Marie interrompeu a conversa e perguntou com olhos assustados.
— Vou seguir a família Dominic.
— O quê?
— Eles disseram que vão lutar com os paladinos, então vou ver como eles são.
Marie expôs um olhar dizendo que era absurdo, mas era uma ideia revolucionária para Oliver.
Observar os paladinos que lutarão contra a família Dominic, enquanto se escondia em segredo.
Era a melhor ideia que poderia satisfazer a curiosidade do Oliver, enquanto minimizava o risco.
Contudo, parecia que Marie não pensava assim por algum motivo.
— Mestre, mas é muito arriscado.
— Relaxa. Estou confiante de que posso me esconder bem. Então, por favor, todos se abriguem em um lugar seguro.
As emoções da Marie flutuaram rapidamente.
Emoções negativas, como confusão, medo, preocupação e outras, começaram a surgir uma após a outra.
Estava no mesmo nível de alguém numa batalha ou uma pessoa à beira da morte.
Oliver não conseguia entender por que Marie exalava tais emoções.
— Vou levar só alguns tubos de ensaios, para que vocês possam levar o resto. Cadê os tubos de ensa-…
Alguém agarrou a bainha da roupa do Oliver.
Foi a Marie.
— Marie?
— Então vou com o Mestre. Pelo menos, me leve junto. É perigoso ir sozinho.
Oliver olhou para a bainha do seu robe.
Surpreendentemente, as emoções da Marie brilharam mais do que nunca.
Suas emoções fluíram pelas pontas dos dedos e até fizeram contato com o corpo dele.
Foi uma reação interessante.
Oliver não sabia o motivo, mas queria saber mais sobre isso se tivesse tempo.
Só que agora tinha algo ainda mais importante do que isso.
— Está tudo bem, Marie.
— Maaas…
— É porque me sinto mais confortável sozinho. Tenho que agir rápido e escondido.
Com essas palavras, as mãos da Marie caíram.
— Você está dizendo que… eu… vou ficar… no seu caminho?
As emoções da Marie flutuaram ferozmente.
As emoções negativas começaram a brilhar mais do que antes.
Decepção, desespero, medo, auto-ódio.
Surgiram sentimentos turvos de raízes desconhecidas.
Oliver olhou nos olhos da Marie e disse: — Hum… Acho que dá para ver desse jeito…. Todos, por favor, evacuem com cuidado.
Oliver saiu depois de falar essas palavras.