Toc, toc.
Um som de batida foi ouvido.
Oliver, que estava lendo um livro na biblioteca, respondeu sem virar a cabeça.
— Entre, Marie.
Assim que a permissão foi concedida, Marie entrou pela porta, carregando uma bandeja com sanduíches em uma das mãos.
— Olá, mestre.
— Oi… Aconteceu alguma coisa?
— Não te vi no refeitório, então trouxe para você.
Oliver virou a cabeça e olhou para Marie.
— Obrigado…
Marie sorriu como se fosse grande coisa e colocou a bandeja na mesa.
Ela olhou para o livro que Oliver estava lendo.
Vários outros livros estavam empilhados, incluindo os da família Anthony.
— Qual… é o problema?
— Ah, desculpa, Mestre. Fiquei curiosa sobre o livro que estava lendo.
— Hm… Estou lendo o livro de magia negra da Família Anthony. É sobre magia negra do tipo manipulação. Manipulação de animais, humanos, cadáveres, etc.
— O Mestre já não domina isso?
— Não… O que eu fiz foi apenas uma imitação, então não sei como fazer direito. Por exemplo, é mais difícil controlar os seres vivos do que controlar os mortos, e é ainda mais difícil controlar as pessoas do que os animais. Só fiquei sabendo disso depois de ler no livro.
Oliver continuou, colocando a mão no livro da família Dominic.
— Aprendi que existem várias aplicações da magia negra baseada em doenças, dependendo da interpretação e aplicação.
— Você é mesmo incrível, Mestre.
— Na verdade, não. Os livros que estavam no escritório do Mestre Joseph continham muitas informações, mas, infelizmente, estes aqui têm apenas um esboço superficial, e nada foi escrito direito.
Oliver disse enquanto olhava para os livros que estavam empilhados na estante próxima.
— Entendi… Já terminou de ler a maior parte deles, Mestre?
— Não todos, mas quase todos? Devo terminar tudo em breve.
— Ah… você não está se esforçando demais, Mestre?
— O quê?
— Recentemente, você tem trabalhado demais sem comer ou dormir direito, então estou preocupada.
— Eu… fiz alguma coisa errada?
— Não, não é isso! Muito pelo contrário! Todos nós te respeitamos pelo que você está fazendo do fundo dos nossos corações…! — Marie falou com pressa: — Todo mundo está passando por um momento difícil, mas nós realmente respeitamos o Mestre. O Mestre nos deu tudo o que sonhamos, incluindo educação de qualidade, dinheiro e refeições… isso está claro para qualquer um só de ver o refeitório de agora. O Mestre é realmente… incrível. —
— Entendi…
Oliver respondeu sem rodeios e começou a ler o livro novamente.
Foi uma reação natural.
Nos padrões do Oliver, não era importante ganhar respeito ou amor.
Era só um senso de dever fazer seu trabalho.
Esta era sua obrigação mínima desde que foi libertado das tarefas problemáticas.
Assim, Oliver não ficava muito satisfeito com o respeito e a lealdade que tinha conquistado.
Ele só fez o que precisava fazer.
Marie se sentiu frustrada com a reação indelicada dele.
Sentiu frustração por Oliver não entender o quão grandioso foi o que ele fez.
Ela também se sentiu frustrada por ele não ser capaz de reconhecer o quão valioso era.
A frustração cresceu gradualmente e logo começou a flutuar em uma forma negativa de emoções.
Irritabilidade, obsessão, desejo, auto-ódio e…
— Marie. — Oliver fechou subitamente o livro.
Marie ficou surpresa e respondeu: — Sim, Mestre…
— Pensando bem, eu fiz uma promessa para você, certo?
‘Promessa?’
Marie pensou por um momento e se lembrou.
— Ah… sim, você disse que vamos falar sobre a gente.
O rosto pálido da Marie ficou vermelho brilhante.
Naquela época, ela reclamou inintencionalmente com Oliver, que mostrou interesse na paladina Joanna.
Ela não sabia o que ele estava pensando…
Ainda assim, Marie teve uma certa expectativa e se perguntou se poderia compartilhar algo especial com Oliver…
— Tenho que manter minha promessa… mas antes de começar minha história, posso fazer uma pergunta?
— Sim… Mestre.
— Por que você quer saber sobre mim?
Oliver ficou apenas curioso. Todavia, era uma pergunta difícil de responder para Marie, já que ficou em silêncio por um momento.
Ela não fazia nem ideia de por onde começar para responder a essa pergunta inocente.
Conforme o silêncio aumentava, ela abriu a boca, já que Oliver havia interpretado de outra forma.
— Hm, está tudo bem se não quiser falar disso.
— Não, não é isso! — Marie falou em voz alta sem perceber. — Não… não é que eu não queira responder, Mestre… você pode esperar um momento pela minha resposta?
— Sim… leve o tempo que precisar.
Oliver esperou como prometido.
Depois de um longo silêncio, Marie abriu a boca, mas com muita dificuldade.
— Eu… quero estar sempre ao lado do Mestre.
— Você quer ficar comigo?
— Sim, quero ficar com o Mestre.
Oliver pensou que ela queria ficar com ele como uma discípula direta.
Era verdade, mas também estava errado.
Estava certo sobre Marie querer ficar perto dele, mas o que ela queria ia além disso, só que simplesmente não conseguiu contar.
— Talvez não saiba, mas ninguém nunca me ajudou tanto quanto você, Mestre.
— Eu?
— Sim… você foi o único que me ensinou magia negra e me treinou assim.
— Não ensinei… como uma condição para aprender a ler e escrever com você?
— Só que… são dois pesos realmente incomparáveis.
— Incomparáveis?
— Sim, fiquei muito grata pela sua ajuda. Na verdade, quase desisti de me tornar uma Bruxa. Mas, graças ao Mestre, tenho esperança de que posso me tornar uma Bruxa. Muito obrigada.
— Hm… também preciso te agradecer por ter salvado minha vida uma vez. E você não tem que me agradecer por se tornar uma bruxa. Afinal, o seu primeiro passado para se tornar uma bruxa foi graças ao mestre, não foi?
— Mestre…? Está falando do Joseph?
— Sim, Mestre Joseph.
Quando ele falou de Joseph, as emoções da Marie flutuaram como uma luz turbulenta, trazendo à tona as emoções de raiva.
— Claro, ele me deu o sonho e depois roubou… Ele não chega nem aos pés do Mestre Oliver.
— Eu?
— Sim, ele me rotulou como uma discípula informal por causa da minha falta de obediência! Se o Mestre Oliver não tivesse vindo, eu ficaria preparando refeições na cozinha por toda a minha vida!
A respiração da Marie ficou instável, e suas emoções flutuaram como se estivesse perturbada e também como se estivesse abalada pela raiva e traição.
Contudo, ela logo se recompôs ao ver Oliver.
— Então, meu Mestre será sempre o Mestre Oliver, que realmente estendeu a mão para mim.
Ela expressou suas palavras sinceras.
Contudo, não houve mudança na reação do Oliver.
Ele não a entendeu, nem sentiu empatia pela Marie.
— Hm… Ainda assim, não foi o Mestre Joseph quem te salvou naquela época?
— Ele não salvou, Mestre. Ele estava tentando nos sacrificar para o Demônio! Só estava tentando tirar vantagem da gente!
— Será mesmo? Hm… mas também não é verdade que ele te ajudou quando estava prestes a ser estuprada pelos bandidos?
Marie ficou chocada.
Seus olhos se arregalaram enquanto suas emoções flutuavam.
— …
— Hm… Falei alguma coisa errada?
— Como… você sabe disso, Mestre?
— No dia em que me encontrei com o Mestre Joseph em Landa, ele me contou durante a conversa.
Marie ficou estarrecida.
Porque Oliver soube de um segredo que ela nunca quis que ele soubesse.
Ela exalou uma miríade de emoções como desagrado, vergonha, raiva e tristeza, enquanto Oliver observava suas emoções em silêncio.
Parecia que ele cometeu um erro, mas não sabia o que fez de errado.
— Peço desculpas, se eu falei algo errado.
— Não… não precisa se desculpar, Mestre. Você é meu Mestre e também está certo… Já te contei sobre meu passado, Mestre?
— Sim… Você disse que queria se tornar uma bruxa e queria se tornar forte.
— Sim… É exatamente isso. Meus pais e eu éramos fracos.
Marie começou a contar sua história para Oliver.
Contou a história de seus dias em uma favela ilegal perto de uma fábrica de tinta.
Ela não pôde fazer nada, quando a fábrica despejou o esgoto sujo ao lado da casa dela.
Não pôde fazer nada, quando sua mãe desmaiou por causa do trabalho ilegal.
Não pôde fazer nada quando seu pai foi espancado até a morte pelos bandidos locais.
No fim, foi se vingar desses bandidos, mas acabou passando por uma experiência sofrida que se tornou traumática.
Ela estava calma no início, mas, conforme a história progredia, as emoções da Marie começaram a flutuar e lágrimas brotaram em seus olhos.
— (…) Foi assim que cheguei a conhecer o Joseph, e é por isso que estou aqui agora.
— Entendi…
— Sim, portanto, já pensei em Joseph como meu salvador uma vez, mas levei um tempo para perceber que não passava de uma ilusão.
— Isso… foi lamentável?
— Não, eu tive sorte. Conheci o Mestre Oliver por causa disso. O Mestre me deu uma nova chance de viver, então quero estar sempre com o Mestre e servir.
— Entendi…
— Então… pode me falar de você, Mestre?
— O quê?
— Já que contei a minha história. Também quero ouvir a história do Mestre… Não posso?
Oliver ficou em silêncio por um momento.
— Não é isso… É só que não tenho muita coisa para contar, mas vou contar se quiser mesmo assim.
— Quero ouvir, Mestre.
— Pois bem…
Então Oliver começou sua história.
A história começa na época em que vivia num orfanato.
Ele descreveu quantas crianças estavam lá e como o diretor era rigoroso, sem mostrar nenhuma emoção.
A explicação robótica fazia parecer que estava recitando um livro de regras.
Mesmo assim, Marie prestava muita atenção enquanto ouvia a história.
Quando Oliver falou sobre a vez que foi intimidado ou recebeu punição injusta, ela ficou triste e com raiva.
Oliver não mostrou nenhuma emoção durante sua narração.
Ele não tinha muita coisa para contar, mesmo assim, contou sua vida com tantos detalhes quanto Marie desejava.
Um dia não foi o suficiente para ouvir completamente a história, então Marie visitou a biblioteca todos os dias como se tivesse prometido ouvir a história do Oliver; como uma mariposa-tigre-de-jardim perseguindo as luzes.
Enquanto isso, a família Joseph do Oliver também encontrou estabilidade com o passar do tempo.
Logo, Peter e alguns discípulos seniores conseguiram sintetizar naturalmente as emoções e chegaram a um ponto onde poderiam produzir pilgarets mesmo sem Oliver.
— Ah, então o Mestre já era capaz de ver as emoções desde o início?
— Sim, pensei que era normal, mas não era, então me senti bem quando conheci alguém como nosso mestre.
— …
Agora, Marie e os outros discípulos conseguiam rivalizar contra Oliver até certo ponto, quando se juntavam.
Como evidência, eles foram capazes de subjugar alguns gângsteres e organizações de bruxos de porte pequeno e médio mesmo sem a ajuda do Oliver.
— Ah… O pilgaret que você fumou naquela vez era a emoção do Joseph logo antes da morte, certo, Mestre?
— Sim, foi uma emoção que brilhou com uma luz muito bonita.
— Você ainda está interessado nessa luz, Mestre?
— Sim, ainda não descobri completamente o que é… Quero ver de novo.
— Se quiser… é só dar a ordem, Mestre. Vamos arriscar nossas vidas para achar e dedicar ao Mestre Oliver… Sim, você pode nos pedir para achar isso. Esta é a família do Oliver.
— Hm, não precisa…
— Não. Somos discípulos do Oliver. Pode pedir o que quiser, Mestre. Vamos dedicar nossas vidas para tornar seu desejo realidade, Mestre.
O tempo passou e o outono chegou.
A lealdade por Oliver fortaleceu ainda mais a unidade da organização.
Incapazes de resistir mais, as organizações pequenas e médias de bruxo descartaram todo o orgulho e se renderam ao Oliver por meio do farmacêutico.
A família Joseph se tornou a única família de bruxos em Wineham.
Ela se levantou da cama com muita alegria.
Depois de tomar banho e se vestir, Marie foi acordar Oliver como de costume.
Era um privilégio que só ela tinha.
— Mestre, está na hora de acordar.
Só que não recebeu uma resposta.
Normalmente, receberia a resposta “ok, Marie”, mas não foi o caso hoje.
Marie sentiu algo estranho, então logo abriu a porta e verificou o interior.
Os olhos dela viram uma cama vazia e um bilhete em cima.
[Eu não sou mais necessário aqui, então estou indo embora.]
[OBS: Todos podem fazer o que quiser e desejar.]