Chão com azulejos, tubos conectados às paredes, vapor no ar.
Oliver foi banhar no chuveiro do porão depois de ser declarado vencedor do duelo por Joseph.
Tomar banho com água morna era uma sensação bem desconhecida, pois foi a sua primeira vez, mas não era tão ruim assim.
Era muito mais fácil tomar banho em água morna do que em água fria. Só de colocar seu rosto debaixo do fluxo de água, as gotas de sangue secas saíam com facilidade.
Depois de tomar banho, Oliver se enxugou com uma toalha e saiu.
Contudo, desapareceram as roupas que deixou na cesta; por outro lado, havia um conjunto de roupas novas que viu pela primeira vez.
— …
Oliver ficou parado, sem saber o que fazer pensando para onde raios as roupas foram parar?
Ele queria sair para procurar suas roupas, mas ouviu uma voz vindo do outro lado da porta naquele momento.
— Já… terminou de tomar banho?
— O quê?
— Já terminou de tomar banho?
Esta foi a primeira vez que ouviu esta voz, mas respondeu: — Sim.
— Então tá bom. Vista-se e saia. Vou te falar onde você vai morar a partir de agora.
Oliver se virou para a voz estranhamente trêmula e disse: — Tem um problema.
— Problema?
— Sim, minhas roupas sumiram.
— Aquele trapo… quero dizer, roupas?
— Sim.
— Joguei fora. Coloquei roupas novas na cesta, então use elas. Mesmo como um discípulo de baixo nível, você tem que considerar a posição do nosso mestre e deve ter dignidade. Por quê? Por acaso, aquela roupa era importante?
— Não. Não.
— Ufa…
Deu para ouvir um suspiro de alívio pela porta.
Oliver pegou o conjunto de roupas novas da cesta e as vestiu, obedecendo ao que a voz disse.
Uma camisa branca, jeans com suspensórios e uma jaqueta preta.
Era um pouco maior que o corpo do Oliver, mas não tinha problema.
Pelo contrário, dava para dizer que é uma bênção.
Era a melhor roupa que Oliver já tinha usado, mesmo não ligando muito.
Ele abriu a porta e saiu depois que se vestiu.
Em seguida, viu um jovem que parecia cerca de cinco anos mais velho do que Oliver.
— Terminou… de se trocar?
— Sim.
— Sério? Então… venha comigo.
O homem estranhamente rígido falou e se moveu de um jeito desajeitado.
Parecia que estava tratando Oliver como seu subordinado, mas com cautela. Contudo, Oliver percebeu que era medo quando verificou os sentimentos dele.
Oliver não entendia o que tinha de errado com ele, mas não se importava em saber disso.
Eles chegaram a um dormitório depois de passarem por um corredor parecido com um formigueiro.
Tinha cerca de dez pessoas.
O número de pessoas era semelhante ao de quando era um discípulo informal, mas o tamanho e a qualidade do quarto eram completamente diferentes.
Havia uma cama de ferro adequada de acordo com o número de pessoas, e ao lado da cama tinha uma mesa grande e uma mesa pequena de trabalho onde itens pessoais poderiam ser guardados.
Era incomparável a um celeiro que tinha apenas um colchão úmido.
— Este é o seu dormitório.
— …
Oliver virou a cabeça e encarou.
O jovem que disse essas palavras estava suando como se seu olhar fosse opressivo.
Até mesmo os discípulos intermediários não são qualificados para ter um quarto particular, só é possível ao se tornar um discípulo sênior.
Oliver perguntou: — Eu fico aqui? Eu…?
— Hã? Uh, não deveria ficar aqui agora que você é um discípulo júnior?
Oliver inclinou a cabeça como se dissesse que realmente não sabia.
O único motivo para querer se tornar um discípulo júnior era aprender magia negra, e isso não incluía nenhuma melhoria na vida ou tratamento.
Na verdade, era mais correto dizer que ele nunca pensou nisso.
Oliver perguntou novamente, só por precaução:
— Posso mesmo ficar aqui?
— Sim, é o seu lugar.
O jovem apontou para o pior lugar do canto.
Oliver se aproximou e deu uma olhada.
Uma cama que não estava nem úmida nem mofada, um cobertor que parecia bem quentinho, gabinetes resistentes, um cabide, etc.
— Ah, se você não gostou do lugar…
— Gostei.
— Gostou?
— Sim, obrigado.
Quando Oliver expressou sua gratidão, o jovem suspirou de alívio e depois falou novamente com coragem.
— Então… Vou falar algumas regras.
Regras.
Oliver ficou atento.
Havia regras no orfanato, na Mina e também na fábrica acima.
Quem quebra as regras é disciplinado e pode ser expulso.
Oliver sentiu que finalmente poderia aprender magia negra, então pensou que seria injusto ser expulso.
— Quais são as regras?
— Uh… não é grande coisa, é sobre o papel que você tem que desempenhar como discípulo júnior. Em primeiro lugar, sou o líder deste quarto. Então você tem que seguir minhas instruções.
— Sim, senhor.
— Você não… De qualquer forma, vou explicar de novo. Um discípulo júnior é considerado um discípulo oficial, mas ainda está no rank mais baixo da família. Servos e discípulos informais não são membros formais da família. Entendeu?
Oliver não sabia o que era um servo ou o que era uma família, mas assentiu mesmo assim.
— Ok, os servos fazem as tarefas, como preparar refeições e limpar o quarto, mas temos que limpar lugares importantes. Por exemplo, a sala de aula, laboratórios, oficinas, salas de estudo, etc. O Mestre gosta das coisas limpas, então precisa limpar todas as manhãs. Entendeu?
Oliver assentiu novamente.
— Além disso, é nosso dever executar certas tarefas para os seniores e ajudar com os experimentos.
— Experimentos?
— Sim, você só tem que fazer o que eles dizem para você fazer.
— Uh… Entendi. Mas, senhor, posso perguntar uma coisa?
— O que foi?
— Quando poderei receber a instrução do nosso mestre?
— Uh, os alunos juniores geralmente são instruídos uma vez a cada duas semanas. Em alguns casos, as aulas são realizadas uma vez por mês, ainda assim, a maioria delas são autoestudo com base no conteúdo da aula.
— Ah…
Uma decepção estranha brilhou no rosto inexpressivo que parecia um cadáver.
A princípio, ficou feliz por poder assistir às aulas regularmente, mas ainda tinha pouquíssimas.
Tinha pensado que frequentaria uma aula nova todos os dias.
Talvez ciente de tais sentimentos, o líder do quarto falou para confortá-lo.
— O Mestre anda ocupado ensinando os seniores e gerenciando o negócio, então não tem nada que possamos fazer sobre isso. E não trabalhe demais.
— Por quê?
Oliver perguntou sinceramente por qual motivo não deveria trabalhar muito, já que acabou de se tornar um discípulo júnior.
O líder não respondeu, ficou calado e então murmurou:
— Bem… hum, não, só não se preocupe com isso. É tudo o que vou te dizer. Tem mais alguma dúvida?
— Nenhuma.
— Ok. Então, vamos nos dar bem a partir de agora… Ah, é mesmo. Verifique as gavetas e todas as coisas. Certifique-se de que tenha cadernos e lápis, se não vai ficar sem se pedir em cima da hora, porque só dão em horários regulares de distribuição.
Oliver abriu a gaveta e verificou. Assim como o líder do quarto disse, tinha um caderno velho e amarelado, um lápis que parecia usado e uma borracha toda feia.
— Por que tem isso aqui?
— Bem… Não precisa fazer anotações para aprender magia negra a sério?
Durante seu horário pessoal, Oliver saiu do porão e subiu à superfície.
Ao contrário de quando era um discípulo informal, não trabalhava na fábrica, então tinha mais tempo para utilizar do que esperava, mas isso não significava que veio para a superfície sem motivo.
Oliver saiu para a oficina através da caixa de salsicha e lixos e visitou a oficina da fábrica onde costumava limpar.
Havia muitas migalhas de carne moída e lixo no chão.
Os discípulos informais estavam limpando, só que viram Oliver e baixaram rapidamente a cabeça.
Oliver estava acima deles agora que é um discípulo oficial.
Claro, não era só isso.
Oliver inclinou a cabeça em confusão, quando viu a mudança súbita na atitude dos colegas de trabalho.
Eles ficaram com ciúmes e inveja dele, ao mesmo tempo, também ficaram com medo e raiva.
Ele viu a luz semelhante à do líder do quarto, então realmente não conseguiu entender.
Oliver se aproximou de um dos discípulos informais.
— Posso te perguntar uma coisa?
— Uh, oi?
— Cadê a supervisora Marie?
O trabalhador disse que Marie estava em um canto da fábrica, e quando Oliver foi verificar, viu que ela estava sozinha atrás de um moedor enorme, vermelho, enferrujado e intocado.
Oliver examinou inconscientemente as emoções dela.
Ela parecia muito triste e deprimida.
— Supervisora Marie?
Oliver a chamou educadamente enquanto dava tapinha no ombro dela.
Marie, que estava perdida em pensamentos, ficou assustada e olhou para Oliver com uma expressão surpresa, então franziu rapidamente as sobrancelhas.
— Oliver… Senhor.
— Sim, oi?
Oliver disse oi.
Mas ela só franziu a expressão ainda mais.
Expôs o desagrado na forma de luz e ficou um pouco perplexa, mas Oliver não fazia ideia do motivo.
Ela então abriu a boca novamente.
— O que te traz aqui?
— Vim pedir um favor.
— Favor? Hah… Tá me zoando?
— O quê? Não.
— Então, como alguém que se tornou um discípulo formal dentro de dez dias depois de entrar na fábrica pode pedir um favor de mim, que sou um discípulo informal há 6 anos?
Ela queria ser sarcástica, só que infelizmente não funcionou com o Oliver, que não entendeu o sarcasmo e apenas respondeu honestamente.
— Para eu aprender magia negra formalmente, preciso aprender as letras e números. Mas nunca aprendi nada assim. Então pode me ensinar?
— …
Marie ficou em silêncio, porque achou ridículo.
Oliver perguntou cautelosamente como se tivesse notado algo.
— Cometi um erro?
— Erro… Não, você não cometeu nenhum. Que tipo de erro um discípulo oficial cometeria contra alguém como eu?
— Ah, que alívio.
— Ugh! Alívio, o quê…!
No final, Marie explodiu por causa da atitude frustrante dele.
Seu grito ecoou por toda a fábrica, então Marie percebeu tarde demais seu erro e cobriu o rosto em angústia, só que Oliver continuou igual.
— Acho que fiz algo de errado… Eu não sei o que foi, mas foi mal?
Marie se sentou em um assento com uma expressão impotente, de modo que era difícil dizer se ela estava cansada ou exausta.
— Não… A culpa foi minha. Vim de um local infernal e quase não consegui a chance de vir pra cá, mas estou apodrecendo aqui porque não tenho talento para magia. A culpa é toda minha. Você não fez nada de errado.
Parecia uma voz resignada, mas Oliver viu as emoções da obsessão dela.
Contudo, ao mesmo tempo, as emoções de nervosismo e medo eram como um vórtice de luz, o que parecia um pouco bonito.
Oliver não sabia como reagir, então ficou parado até ela recuperar a compostura, e Marie falou depois de um momento: — Quer… que eu te ensine a escrever e calcular números?
— Sim, então pode me ensinar? Já estudou isso antes?
— Sim… Estudei. Você precisa estudar essas coisas também. Mas por que está pedindo logo para eu te ensinar? A maioria dos discípulos juniores com quem você viverá a partir de agora sabe escrever.
Oliver respondeu olhando para o ar, imaginando como se fosse difícil responder.
— Bem… é um pouco…?
— O que quer dizer?
— É difícil de explicar. A maneira como eles me veem é como uma criança parada na frente do supervisor.
Marie franziu a testa novamente com as palavras incompreensíveis, mas Oliver continuou com mais explicações.
— Eu vim das minas e tinha medo do supervisor de lá. Todas as crianças ficavam com medo quando viam ele, então inventavam qualquer mentira para fugir de problemas, não importava o que o supervisor perguntasse. E os discípulos juniores também estão olhando para mim com a mesma luz que as crianças na Mina olhavam para o supervisor.
Foi uma explicação breve, mas teve sorte porque Marie entendeu o significado.
É normal os alunos juniores terem medo do Oliver?
Tom, que logo seria um discípulo júnior, foi morto por Oliver.
Só que tinha algo ainda mais surpreendente.
— Nem ferrando… Você consegue ler as emoções?
Oliver inclinou a cabeça em confusão.
— Sim? Qual o problema?
— Ai meu Deus… Esse é o segundo estágio do [Olho da Mente]. O primeiro estágio do [Olho da Mente] é ver as emoções? Não é justo… Desde quando você começou a ler emoções?
— Uh… desde o início?
Com a resposta direta do Oliver, Marie só sorriu de um jeito abatida, como se estivesse exausta de ficar com raiva.
Ela sabia que o mundo era injusto, até admitia isso também, mas hoje percebeu que era um erro.
‘Como pode ser tão injusto?’
Sentiu que era tão triste e sem esperança que não conseguia nem chorar.
Naquele momento, Oliver perguntou novamente sem notar nada.
— Então, e as palavras e os números?
— Aww! Sério…! Por que eu tenho que te ajudar? Nem sei quando serei rebaixada a serva! Não sei quando terei outra chance! Por que eu deveria desperdiçar meu tempo precioso com você?! Por quê?!
Marie falou com as emoções, não com a cabeça.
Ela recuperou a compostura depois de um momento, então Oliver abriu a boca.
— Ouvi dizer que você era uma serva antes de vir para cá. O que é uma serva?
O silêncio permeou o espaço por um momento.
Marie, que não estava mais com vontade de ficar com raiva, simplesmente respondeu com uma voz fraca.
— Significa um escravo que cuidará dos discípulos oficiais bonitos… É o fim de ser um discípulo informal. Pessoas como eu, que não são promovidas há muito tempo, tornam-se servas, que cozinham e limpam até envelhecerem.
— Está triste agora?
— Claro que estou triste. Droga…! Você acha que eu vim aqui para ser uma empregada para o resto da minha vida? Claro que não, estou aqui para ser uma bruxa. Só que não tenho mais tempo suficiente agora! Mas você quer que eu use esse tempo com você. Com você que tem talento, eu não tenho, entendeu?! Bem…
Assim que Marie terminou suas palavras, ela cobriu o rosto com as mãos como se estivesse com muita dor.
Sua massa invisível de tristeza parecia esmagá-la.
Se continuasse desse jeito, talvez não suportasse o peso depois de alguns dias e uma tragédia ocorreria.
Felizmente, nada disso aconteceu.
— Esqueceu do que disse… supervisora Marie? Que eu teria que trazer alguma coisa na próxima vez que fosse pedir ajuda?
Marie inclinou a cabeça um pouco.
— Se a supervisora Marie me ensinar letras e números, também vou te ensinar.
— O quê…?
— Magia negra.