Um fogo quente encheu os arredores. Um céu nublado e cheio de poeira, o ar sufocante e abafado, a sensação desagradável que grudava na pele.
Cheon Sa-yeon e Ha Tae-heon estavam no meio. Ambos olhavam para a frente com seus corpos encharcados de sangue.
— Eu gostaria de lhe dar um presente.
Uma voz maliciosa. Atrás da fumaça nebulosa, um rosto familiar rolou para o chão. A mão de Cheon Sa-yeon segurando a espada tremeu.
— Haha… Hahaha! Haha!
Embora as risadas insultando os mortos se espalhassem, Cheon Sa-yeon não pôde fazer nada e abaixou a cabeça impotente.
Meu coração batia tão rápido que era difícil respirar. Suor frio escorria pelas minhas têmporas.
— Cheon Sa-yeon.
Estendi a mão para ele, mas não o alcançou. Virei minha cabeça e chamei por Ha Tae-heon, que estava respirando pesadamente.
— Ha Tae-heon-ssi.
Até abri a boca e gritei, mas ninguém notou minha presença. As chamas que subiram entre eles e eu obscureceram minha visão. O calor escaldante trouxe dor, mas continuei gritando.
— Cheon Sa-yeon! Ha Tae-heon-ssi!
Tudo se afastou novamente. Cheon Sa-yeon e Ha Tae-heon, que enfrentavam Samael, foram engolfados pelas chamas.
— Espere!
As chamas que os devoravam agora se espalhavam pelo meu corpo. Meus olhos estavam iluminados de branco com a luz.
— Han Yi-gyeol! Han Yi-gyeol, acorde!
Alguém sacudiu meu ombro violentamente. O cheiro ardente de fogo e sangue desapareceu e uma voz familiar foi ouvida.
Abri os olhos, ofegante. Vi Ha Tae-heon, que franziu a testa com uma visão turva.
— Ha Tae-heon-ssi…
— Acorde.
Olhei em volta lentamente. Manta branca, um teto e um céu noturno estrelado do lado de fora da janela. Foi então que percebi que o que acabara de ver era um sonho e que aquele lugar era uma realidade.
Deve ter sido um grande pesadelo. Ha Tae-heon, que estava dormindo ao meu lado, acordou por minha causa.
“Mesmo que eu tenha comido o doce que Elohim me deu, por quê?”
Ha Tae-heon veio e segurou minha mão rígida.
— Tive que te acordar, porque você parecia muito mal.
— S-Sinto muito.
Ha Tae-heon suspirou quando levantei a parte superior do corpo e gaguejei para me desculpar.
— Já que você se desculpou, primeiro recupere sua respiração. Precisa de água?
— Não, estou bem.
Mesmo acordando do sono, ainda estava muito cansado. Levei a mão à testa molhada de suor frio.
Eu não sabia como seria se estivesse sozinho, mas não podia continuar dormindo com Ha Tae-heon assim. Eu estava prestes a sair da cama pensando que deveria tomar um banho, mas Ha Tae-heon agarrou meu ombro.
— Aonde está indo?
— É que… Estou suando… Então vou me lavar.
Verifiquei o relógio na parede. Era duas e quarenta da manhã. O banheiro ficava no quarto, então tomar banho atrapalharia o sono de Ha Tae-heon.
— Vá para o quarto ao lado e durma, Ha Tae-heon-ssi.
— Tsc.
Ha Tae-heon, estalando a língua, saiu da cama primeiro e me apoiou.
— Lave-se e saia. Vou esperar.
— O quê? Você não precisa fazer isso.
— Vá logo.
Ele ignorou minha sugestão e empurrou minhas costas em direção ao banheiro. Hesitei enquanto segurava a toalha e disse.
— Então vou me lavar rapidamente.
— Não tropece em nada.
Era a preocupação que teria com uma criança, mas eu tinha tantas preocupações que não conseguia refutar.
Fechei a porta do banheiro e tirei a camisa larga e a calça que estava usando. Eu estava suando tanto, mas estranhamente, continuava sentindo calafrios.
“Não deve ser outro resfriado, certo?”
Se eu pegasse um resfriado aqui, não podia nem comer mingau ou arroz. Pisquei lentamente quando a água quente do chuveiro me atingiu no topo da cabeça.
Os sete dias de que Elohim falara haviam acabado. Se eu passasse apenas mais uma noite, teria que me despedir de Ha Tae-heon.
Era doloroso ter que quebrar a confiança que mal construí com ele, mas não podia voltar para a Coreia assim.
Ainda havia algum tempo, então vamos persuadir Ha Tae-heon bem. Com uma firme determinação, lavei-me apressadamente e vesti roupas limpas.
— Ha Tae-heon-ssi?
Sequei meu cabelo molhado grosseiramente com o secador de cabelo no banheiro e cuidadosamente saí do quarto. Como esperado, Ha Tae-heon não dormiu mais e estava sentado na cama esperando por mim.
— Você foi rápido.
— É mesmo?
Mas acho que levou uns vinte minutos. Deve ter sido difícil dormir de novo, porque podia ouvir o som do chuveiro, já que era um rank SS.
— Beba.
Quando me aproximei, arqueando a ponta das sobrancelhas com pesar, ele estendeu um copo d’água na mesinha lateral como se estivesse esperando. Ele deve ter ido para a cozinha enquanto eu me lavava. Aceitei com gratidão e bebi. A água morna encharcou minha garganta seca.
— Você consegue dormir de novo?
Já passava das três horas. Depois de pensar na pergunta de Ha Tae-heon por um tempo, falei francamente.
— Não sei… Estou cansado.
— Deite-se. Mesmo que não consiga dormir, acho melhor descansar.
Balancei a cabeça e me deitei ao lado de Ha Tae-heon como antes. Ele também desligou o abajur, mas o sono não veio facilmente depois que acordei.
Talvez tenha sido o mesmo para Ha Tae-heon quando ele tocou meu cabelo meio molhado sem fechar os olhos.
Talvez agora fosse a chance. Mordi o lábio, pensando, e lentamente abri minha boca.
— É… Ha Tae-heon-ssi.
— Fala.
— Então…
Quando ele respondeu com uma voz sonolenta, de alguma forma as próximas palavras pegaram minha garganta.
Como devo dizer isso? Eu tenho que ficar aqui, então devo dizer a ele para voltar para a Coreia sozinho? Ou dizer que há algo mais importante do que a promessa que fiz a ele?
Minha cabeça de repente ficou complicada e senti uma dor aguda como se tivesse sido golpeado por uma agulha. Depois de algumas vezes, finalmente cuspi uma palavra.
— Não consigo dormir.
Foi como jogar fora uma oportunidade que mal surgiu, por medo. Enquanto ele franzia a testa para minha atitude patética, Ha Tae-heon esfregou minha testa com uma mão quente.
— Sua tez está piorando de novo. Com o que diabos você estava sonhando?
Ele parecia não entender que eu estava em más condições por causa dos meus pesadelos. Estava meio certo, mas não foi uma ou duas vezes que tive um sonho maluco, então não era grande coisa.
— Não é nada.
— ……
— Acho que estava um pouco ansioso. Ainda não tenho planos para o futuro.
Eu adicionei isso como uma piada ao clima estranho.
— Vim correndo procurando apenas um profeta. E agora já era, né?
— Tudo bem.
Sua mão passou pela minha bochecha e pelo pescoço. Meu corpo estremeceu involuntariamente com o toque suave na minha orelha.
— Venha para a Roheon quando voltar para a Coreia.
— Perdão?
— E você pode pensar nisso devagar. O que vai fazer a seguir.
O que isso tem a ver com entrar na Roheon?
— Não é nada estranho que você não tenha um objetivo ou plano claro na sua idade.
— Ah… Sua idade?
— Estarei ao seu lado para ajudar.
— Ha Tae-heon-ssi, eu…
— Venha para a Roheon.
— ……
Ha Tae-heon disse de novo, mas não consegui responder facilmente. Um dia ele descobriria que não importa mais onde eu pertenço.
Sorri amargamente.
— Vou pensar sobre isso…
Eu não conseguia me lembrar quando adormeci. Quando acordei novamente, o sol estava brilhando na cama em vez da temperatura do corpo de Ha Tae-heon.
Saí da cama ouvindo o som dos pássaros cantando pela janela. Todas as manhãs eu acordava e comia com Elohim, mas hoje já era hora do almoço, porque dormi demais.
— El.
— Dormiu bem?
Depois que me lavei e saí do quarto, Elohim que estava passando me cumprimentou.
— Me disseram que você teve um pesadelo. Felizmente, parece bem agora.
— Não foi nada.
— O doce que te dei não impede um sonho normal. Essa é a parte triste.
Ele me entregou a caneca que estava segurando.
— São pétalas de rosa. Beba. Cheira muito bem.
— Obrigado.
— Se você acabou de beber, deveria comer. Tem alguma coisa que queira comer?
Eu perguntei enquanto seguia Elohim em direção à cozinha.
— E Ha Tae-heon-ssi?
— A criança acabou de comer e foi ver o mar.
Não era de surpreender que Ha Tae-heon frequentemente fosse ver o mar durante sua estadia ali. Coloquei a xícara de chá pronta na mesa e abri minha boca.
— El.
— Hm?
— Antes de comermos… Gostaria de conversar.
A meu pedido, Elohim olhou para mim e sorriu suavemente.
— Vamos fazer isso aqui? Ou podemos ir para o meu quarto.
Depois de olhar em volta e confirmar que Ha Tae-heon não estava aqui, respondi.
— Aqui também está bom.
— Então fala.
Ponderei por um tempo com minha cabeça baixa. O silêncio caiu na cozinha, mas Elohim esperou pacientemente.
— Ha Tae-heon-ssi…
Eu exalei nervosamente e levantei meu rosto.
— Devo mandá-lo embora?
— Ó céus. Se-hyun-ah.
Ele franziu a testa como se estivesse arrependido de minhas palavras.
— Você sabe que ele não deveria estar aqui, não é?
— Não tem jeito?
Elohim se aproximou, agarrou meus ombros e encontrou meu olhar.
— Se a criança ficar aqui, não vai poder fazer muita coisa.
A voz que saiu lentamente, como se acalmasse, era muito doce.
— Você não quer que Ha Tae-heon saiba.
— ……
— O fato de você ter visto tudo através de ‘Abyss’.
Tentei não reagir, mas inevitavelmente minhas pálpebras tremeram levemente. Elohim, que sorriu amargamente para mim, apertou sua mão em meu ombro.
— Você e Ha Tae-heon têm circunstâncias diferentes. A informação que a criança precisa saber já foi determinada. Se ele descobrir mais alguma coisa, terá que pagar a mais, e isso pode ser sua vida. É uma área que não consigo controlar nem sozinho.
— Eu não sabia dessa parte…
Eu não tinha grandes expectativas, porque foi uma pergunta que fiz apenas para tentar entender em primeiro lugar, mas quando fui rejeitado, perdi mais energia do que esperava. Elohim, que acariciou minha bochecha enquanto eu baixava os olhos, disse em voz ligeiramente baixa.
— Entendo o que você quer dizer. Mas não acho que seja algo que possa evitar.
— Não tenho certeza… Serei capaz de persuadir Ha Tae-heon-ssi adequadamente.
— Se você não puder contar até o momento de mandá-lo embora amanhã, eu ajudo.
Elohim me ajudaria? Eu estava mais com medo do que grato.
— Não quero machucar Ha Tae-heon-ssi.
— Você está preocupado com a pessoa errada.
Elohim, que sorriu friamente, agarrou meu queixo e o ergueu.
— Terei prazer em ajudá-lo, porque tudo voltará ao normal somente quando ele for enviado de volta para a Coreia, mas Se-hyun-ah. Nesse caso, você deve ficar ao meu lado sem se aproximar da criança.
— O que isso significa?
— Mesmo que Ha Tae-heon tenha sido dócil no passado, não sabemos como ele mudará se cometer um erro. Os ranks SS são seres muito perigosos.
Seu comportamento resoluto me deixou desconfortável em um instante. Eu refutei Elohim removendo sua mão.
— Não há como Ha Tae-heon-ssi me atacar de forma imprudente. Aquela pessoa…
— Racional e de coração frio. Ele tem uma moral elevada. Mas está desconfiado, então não hesitará se achar que é uma ameaça.
— Isso também é uma profecia?
— Não. Só sei mais do que você.
Elohim bateu na área dos meus olhos com o dedo.
— Se-hyun-ah. Você viu em Abyss. A outra habilidade da mão direita de Ha Tae-heon.
— Mas essa habilidade…
— Ele odeia usá-la. Isso mesmo. Mas quando chegar a hora, a usará sem hesitar.
Elohim deu um passo para longe de mim. Ele disse me olhando com pena.
— Lembre-se, Se-hyun-ah. A criança deve ser enviada de volta para a Coreia.