Zu An considerou simplesmente se virar e deixar a academia, mas Cheng Shouping estava de olho nele, sua boca era muito grande. Se ele corresse bem na frente dos olhos de Cheng Shouping, era certeza que todos no clã Chu saberiam sobre isso antes que o dia acabasse.
Já que ele não tinha outro lugar para ir além da Mansão clã Chu, ele só podia engolir seu orgulho.
‘Ahh, a vida de um lorde dos vagabundos também não é fácil! Acho que vou entrar na academia primeiro, depois fugir quando não houver ninguém por perto.’
Zu An agarrou a mochila escolar que Cheng Shouping havia preparado para ele. ‘Pensar que alguém com a minha idade ainda carrega uma mochila para a escola. Isso é tão estranho!’
Com uma expressão horrível no rosto, Zu An passou pela porta de entrada e se viu diante de uma rua tranquila. Árvores exuberantes cresciam ao longo de suas laterais, proporcionando abrigo natural aos pedestres.
Zu An olhou em volta e notou várias jovens bonitas com rabos de cavalo andando pela área. Suas saias curtas esvoaçavam sob a brisa suave, revelando vislumbres de suas belas coxas.
‘Uau, os alunos desse mundo se vestem muito mais abertamente do que eu pensava. Talvez ir para a escola não seja tão ruim assim…’
Outro portão enorme apareceu mais adiante na rua, um guarda checava a identidade dos alunos na entrada. Era provável que esse fosse o portão oficial que levava à academia propriamente falando.
Zu An deu uma olhada rápida em seus arredores antes de se lançar em um caminho para o lado que levava para longe da área.
‘Você quer que eu vá para a escola? Impossível! De jeito nenhum eu vou para a escola de novo!’
Zu An percorreu o caminho, amplamente protegido pelas árvores circundantes. Parecia que a academia tinha exagerado com a arborização do lugar. Ele viu árvores altas e flores em todos os lugares. Contudo, depois de dar algumas voltas, ele percebeu que estava perdido.
Quando finalmente deixou as instalações da academia, ele mal conseguia reconhecer o local ao seu redor.
“Onde é isso?” Faziam apenas dois dias desde que Zu An chegou a este mundo, ele não teve tempo de se familiarizar com a extensa Cidade Lua brilhante. Assim, por mais que tentasse, ele não conseguia saber onde estava.
“Dado o quão famoso é o clã Yu, acho que devo conseguir encontrar a residência abordando um transeunte e pedindo informações.” Murmurou Zu An sozinho. A única coisa que ocupava sua mente era completar a tarefa atribuída por Ji Dengtu para que ele pudesse recuperar sua masculinidade. Qual era o sentido do cultivo e tudo mais quando seu equipamento estava com defeito?
Zu An vagou pela área mas, para sua tristeza, não havia uma única pessoa ao redor.
*Boom!!*
O clarão de um raio cruzou o céu, seguido pelo estrondo de um trovão ao longe. Começou a chuviscar levemente.
A garoa não preocupava muito Zu An, mas o raio o deixou em pânico. Um raio o trouxe a este mundo, mas ele não era ingênuo o suficiente para acreditar que ser atingido uma segunda vez o transportaria de volta para o seu mundo. Era mais provável que ele simplesmente caísse morto.
*Boom!!*
O estrondo do trovão atingiu um crescendo. Vendo um gazebo não muito longe, Zu An correu para se abrigar.
Com segurança no gazebo, ele ficou surpreso ao descobrir que já estava ocupado. Uma mulher com um vestido simples estava sentada em um banquinho próximo, se inclinando preguiçosamente contra um dos pilares do gazebo. Ela olhava para longe através da chuva, uma mão apoiava o queixo.
Seu dedo indicador estava enrolado em uma cabaça de vinho verde, que ela girou levemente. O movimento foi tão suave que parecia que a cabaça cairia a qualquer momento, mas não caiu.
Outra coisa chamou a atenção de Zu An. Os sapatos da mulher foram colocados ordenadamente no chão, seus pés de formas lindas estavam enrolados naturalmente na cadeira, ligeiramente visíveis sob a bainha do vestido. Os topos dos pés eram mais lisos do que seda, pareciam feitos do mais fino jade branco.
Zu An admitiu que tinha uma obsessão por: rosto, peito, quadris e pernas de uma mulher. Ele não estava particularmente preocupado com a aparência do resto dela. No entanto, ele estava começando a entender por que algumas pessoas gostavam de pés.
“Já viu o suficiente?” A mulher não se preocupou em se virar, mas sabia exatamente o que estava acontecendo atrás dela.
“Ainda não.” Zu An respondeu por reflexo, apenas para se arrepender logo depois. Ele realmente deveria largar o hábito de falar o que pensa. Ele sempre se esquecia de que não estava mais na internet, onde estava protegido por um véu de anonimato. As pessoas poderiam literalmente espancá-lo aqui!
Embora seu cultivo tivesse crescido significativamente ontem e agora possuísse uma força que rivalizava com 20 homens, ele tinha uma sensação inexplicável de que a mulher sentada à sua frente não era alguém com quem ele pudesse lidar.
Claramente, a mulher não esperava uma resposta tão direta. Ela se virou para estudar o homem sem-vergonha que invadiu o gazebo. Satisfeita, ela voltou sua atenção para a chuva. “Continue assistindo então.”
Zu An ficou chocado com sua resposta. Ele tinha visto todos os tipos de indivíduos bizarros na internet, mas não esperava tamanha indiferença. Além do mais, no momento que a cabeça dela virou para olhar na sua direção, ele ficou cativado por seus lindos traços. Todavia, parecia haver uma tristeza inexplicável em seus olhos claros, eles estavam tingidos de melancolia.
Ela ficou sentada imóvel, com as costas apoiadas no pilar, observando a chuva diante de si. Uma brisa ocasional soprava gotas de chuva no gazebo, lentamente encharcando-a, mas ela permaneceu imperturbável. Sua respiração tranquila podia ser ouvida, mesmo em meio ao tamborilar da chuva.
Zu An absorveu seu perfil cativante, mas seu ar melancólico era contagiante. Seu coração lentamente ficou tão pesado quanto a atmosfera ao seu redor.
Seu olhar varreu para fora, para a chuva que cobria a cidade. Uma melodia desconhecida encheu o ar ao seu redor, tirando-lhe o fôlego. Por um momento ele pareceu absorto, como se visse a água da chuva gota a gota, ou as sementes de uma flor de dente-de-leão voando para longe, enchendo o céu e se aglomerando em uma infinidade de minúsculos guarda-chuvas; o sol nasceu no oeste e se pôs no leste; os dez anos que ele passou trabalhando até os ossos na cozinha durante seus anos na escola…
“Você está chorando?”
Uma voz elegante tirou ele de seu devaneio, Zu An percebeu que estava chorando. A mulher sentada à sua frente o olhou com curiosidade.
“Sinto saudade de casa.” Respondeu Zu An, enxugando as lágrimas no rosto. Ele ficou tão triste pela emoção e pelo horror de ter transmigrado para um mundo estranho, que não teve tempo para pensar em sua casa. O flashback momentâneo o fez se lembrar de seus pais no outro mundo, ele não conseguia imaginar como eles deveriam estar angustiados ao saber de sua morte.
A expressão da mulher mudou, ela parecia surpresa por ele ter entendido sua música.
Zu An percebeu o instrumento nas mãos da mulher. Tinha o formato de uma concha. “Você estava tocando isso antes?”
“Sim.” A mulher acenou com a cabeça em resposta.
“Posso pegar emprestado por um momento?” Zu An perguntou.
“Você sabe tocar?” A mulher não esperava isso.
Zu An riu de si mesmo. “Eu sou um pau pra toda obra quando se trata de habilidades inúteis que não podem ser usadas para ganhar a vida.”
A mulher riu e jogou o instrumento para ele. Zu An o girou nas mãos, examinando-o. Embora esse instrumento parecido com uma concha tivesse uma aparência única, os princípios por trás de seu funcionamento foram fáceis de descobrir. Quando ele estava prestes a tentar tocá-lo, notou uma marca de batom no bocal. Ele hesitou, então se virou para a mulher e perguntou: “Posso?”
A mulher sorriu e acenou com a cabeça.
Zu An levou o instrumento aos lábios para testá-lo. Demorou apenas alguns instantes para descobrir todas as notas que poderia tocar. Ele tinha uma semelhança impressionante com a ocarina
de sua vida anterior.
A melodia da mulher o fez se lembrar de sua casa, então ele inconscientemente tocou Cenário da Cidade Natal
. Ele havia trabalhado muito para aprender essa música durante seus anos de universidade, apenas para poder pegar garotas. Só mais tarde ele percebeu com pesar que não importava o quão bem ele tocava a ocarina, ainda não era o suficiente.
Lembranças de sua vida anterior passaram por seus olhos, parecendo mais como sonhos meio lembrados. Foi Zhou Zhuang quem sonhou em se tornar uma borboleta ou uma borboleta que sonhou em se tornar Zhou Zhuang?
A melodia foi avançando lentamente até o fim, deixando os dois presos em profundos pensamentos, com apenas o som da chuva entre eles.
A mulher sentada em frente a ele estendeu a mão para enxugar a lágrima no canto dos olhos. Zu An quebrou o silêncio. “Você também está chorando.”
A mulher suspirou suavemente. “Eu vi campos vastos, o pôr do sol e despedidas, tudo na sua melodia. Qual é o nome da música?”
“Cenário da Cidade Natal.” Respondeu Zu An. “E a sua?”
“O Mar Silencioso.” A mulher pegou sua cabaça e tomou um gole de vinho. “Quer um pouco?”
Zu An hesitou. “Eu não tenho uma taça.” Por alguma razão, ele não nutria pensamentos pervertidos em relação à mulher sentada à sua frente. Ele estava um pouco diferente do normal.
A mulher jogou a cabaça para ele. “Não é como se eu me importasse. Do que você tem medo?”
A atitude despreocupada da mulher pareceu indicar a Zu An o quão contido ele estava se comportando. Inclinando a cabeça para trás, ele ergueu a cabaça e deu um grande gole. Assim que o vinho fluiu em sua boca, ele sentiu uma onda de calor envolver seu corpo.
A sensação o fez engasgar e ele começou a tossir violentamente. Seu rosto ficou vermelho. “Que vinho é esse? É tão forte!” Era ainda mais forte do que a vodca na sua vida anterior.
“O nome é ‘Céu Ardente’. É difícil para a maioria das pessoas suportar o alto teor alcoólico dele. Frequentemente bebo este vinho para aquecer meu corpo devido à minha constituição especial.” Respondeu a mulher. Ela pegou sua cabaça de volta e bebeu levemente. Um leve rubor enfeitou suas bochechas brancas. Ela realmente parecia gostar de álcool.
“Meu nome é Zu An. Posso saber o seu nome?” Zu An perguntou.
A mulher balançou a cabeça levemente e sorriu. “A vida é uma série de destinos transitórios. Se vamos nos separar no final, podemos muito bem não nos conhecer.”
Zu An franziu a testa com petulância. “Mas eu já disse meu nome.”
“Foi você quem me disse por conta própria, não eu quem perguntei.”
“Eu sinto como se tivessem acabado de se aproveitar de mim.” Zu An resmungou em desgosto.
A mulher caiu na gargalhada. “Você bebeu meu vinho, então não me parece que me aproveitei de você.”
“Eu acho que sim.” Zu An percebeu que a chuva estava parando lentamente, então ele se levantou. “Se o destino nos unir mais uma vez, você vai me dizer seu nome?”
“Eu duvido que possamos nos encontrar novamente.” A mulher balançou a cabeça. Ela lançou um olhar para a mochila escolar que ele carregava, seu rosto adotou uma expressão bizarra. “Você é aluno da Academia Lua Brilhante?”
O coração de Zu An acelerou. Um aluno que mata aula nunca iria admitir sua própria vadiagem. Ele olhou para a mulher com cautela. “Se você não vai responder à minha pergunta, por que eu deveria responder à sua?”
A mulher apontou para a mochila que ele carregava. “Eu posso dizer mesmo que você não diga nada. Você está carregando uma mochila que apenas os alunos da Academia Lua Brilhante possuem. Deve estar quase na hora da aula agora, o que você está fazendo aqui?”
“Passei mais de 20 anos estudando desde o jardim de infância até a universidade, nunca mais quero voltar para a escola!” Zu An respondeu um pouco zangado.
‘Jardim da infância? Universidade?’ Os olhos da mulher piscaram em confusão, mas ela não disse nada. ‘Também não disse muita coisa a meu respeito para, então que direito eu tenho de questioná-lo?’
“Obrigado pelo seu vinho. Estou indo embora.” Zu An ainda estava pensando em procurar por Yu Yanluo, pois isso dizia respeito à sua felicidade, à sua vida!
“Bem, talvez a gente realmente se encontre em um futuro próximo.” Um sorriso brincalhão surgiu nos lábios da mulher.
Zu An a olhou impassível. ‘Como se eu confiasse em você.’ O uso de palavras enigmáticas para atrair o interesse dos homens não é uma característica intrínseca das mulheres bonitas?
Pouco depois de Zu An deixar o gazebo, ele notou um homem vestido de preto caminhando pela calçada. O homem olhou casualmente para ele enquanto ele passava. Após apenas alguns passos, o homem se virou e gritou: “Zu An?”
“Quem é você?” Zu An franziu a testa para o homem de preto. Ele tinha uma longa cicatriz que ia do nariz até a bochecha direita. Uma insígnia de flor de ameixeira era visível perto de seu decote. O coração de Zu An disparou. O Flor de Ameixeira Doze tinha uma tatuagem semelhante.