— Por enquanto, não estamos prontos para enfrentá-los — disse Wyntor. — Precisamos ficar mais fortes primeiro.
— Mas também não podemos simplesmente ignorar o espião. Se o ignorarmos, ele pode fazer algo grave, como libertar o Sonhador.
— Por isso, vou começar a contratar guardas.
Nick franziu as sobrancelhas. — Guardas? Não acho que eles possam enfrentar um Extrator Zephyx.
— Esse não é o motivo principal — respondeu Wyntor. — Um guarda só precisa sobreviver tempo suficiente para alertar alguém da Sonho Sombrio.
— Embora o espião possa estar planejando algo, como libertar o Sonhador, ele não ousará iniciar abertamente uma guerra com a Sonho Sombrio ainda.
— Você não sabe como os Fabricantes interagem, mas atacar alguém diretamente é algo malvisto. Oficialmente, atacar outro Fabricante é considerado como atacar a humanidade, já que os Fabricantes são responsáveis por conter os Espectros.
— Claro, em segredo, todos os Fabricantes estão em conflito entre si, e, se um confronto acontecer, os investigadores geralmente agem como se ambos os lados estivessem errados ou simplesmente ignoram, a menos que seja óbvio demais o que ocorreu.
— Se o espião for descoberto e capturado, as forças da Cidade Fungo Carmesim ficarão do nosso lado, e Ardum terá que abandonar seu peão ou pagar uma multa pesada.
— Por isso, Ardum não se atreverá a enviar suas forças para nos perturbar, desde que tenhamos alguns guardas.
Nick ouviu atentamente. — Quando você contratará os guardas?
— Hoje mesmo — respondeu Wyntor. — Com o aumento na produção de Zephyx, graças ao Caixão Gritante, posso me dar ao luxo de contratar alguns guardas. Custará pouco mais de mil créditos por dia.
Nick assentiu.
Então, respirou fundo, mas não disse nada.
Wyntor ergueu uma sobrancelha.
Nick parecia querer falar algo.
— Sim? — perguntou Wyntor, num tom expectante.
Nick fechou os olhos e respirou fundo novamente.
— Acho que não consigo mais cuidar de Horua — disse Nick. — Tem sido tão difícil, e percebi que isso começou a interferir com minhas responsabilidades.
— Sei que sou o responsável, e que Horua ficou assim inteiramente por causa do meu erro, mas não posso continuar dessa forma.
— Preciso de alguém que possa cuidar dele — concluiu Nick, com um tom cheio de vergonha.
Nick sentia como se tivesse desistido.
Sentia como se estivesse fugindo de sua responsabilidade.
— É bom que tenha tomado essa decisão — disse Wyntor. — Para ser honesto, eu preferiria que outra pessoa cuidasse do garoto em vez de você.
— Preciso de você completamente focado em sua posição.
Nick soltou um suspiro, mas não estava aliviado.
Ele apenas sentia vergonha.
— Nick — acrescentou Wyntor, fazendo Nick levantar o olhar novamente. — Mas acho que você ainda não está considerando o quadro completo.
Nick franziu as sobrancelhas.
— Quantos anos o garoto tem? — perguntou Wyntor.
— Ele fará doze em breve — respondeu Nick.
Wyntor assentiu. — E ele está nesse estado há quanto tempo?
— Uns três meses, mais ou menos — disse Nick.
— Três meses — repetiu Wyntor. — E ele tinha onze anos quando ficou assim.
— Nick, três meses para um garoto de onze anos é muito tempo.
— Ele provavelmente cresceu alguns centímetros nesse período, e seus músculos também atrofiaram bastante.
— Só para se recuperar desses três meses levaria mais alguns meses.
— No total, ele já perdeu meio ano com isso.
Nick ficou nervoso. — O que está tentando dizer?
— Estou dizendo que o tempo de ser passivo acabou, Nick — disse Wyntor. — Por quanto tempo você vai deixar o garoto nesse estado? Um ano? Dois anos? Três anos?
— Quanto tempo até que ele nem reconheça quem é ao se olhar no espelho?
— Você vai deixá-lo passar toda a infância nesse estado? — perguntou Wyntor.
Nick estreitou os olhos. — Eu o ajudaria se pudesse! — gritou. — Não aja como se eu me recusasse a ajudá-lo!
— Nick — disse Wyntor. — Já se passaram três meses. Não fazer nada não vai ajudá-lo. Você quer que ele passe o resto da vida assim?
— O que você quer que eu faça? — perguntou Nick, com medo e irritação.
Mas, na verdade, Nick já sabia o que Wyntor queria.
Ele só não queria aceitar fazer isso.
— O Sonhador foi quem o colocou nesse estado — disse Wyntor. — Talvez o Sonhador possa ajudá-lo a sair disso.
— O Sonhador vai matá-lo! — gritou Nick. — Espectros não têm empatia, e, se o Sonhador vir uma oportunidade para matar Horua, ele o fará!
— Então, por que o Sonhador recuou antes de o garoto começar a ter convulsões? — perguntou Wyntor. — Você me disse que o Sonhador se afastou antes que as coisas ficassem ruins.
— Parece que o Sonhador não queria matá-lo.
— Nick, embora seja verdade que os Espectros não tenham empatia, também é verdade que eles são inteligentes e fazem o que é melhor para eles.
— Se o Sonhador souber que despertar o garoto é a melhor coisa a fazer, ele o fará.
— Ele tem trabalhado conosco por três meses e não quer arruinar nossa confiança nele matando uma criança aleatória.
— Ele vai fazer o melhor que puder. Mesmo que seja só para ganhar mais confiança de nossa parte, na esperança de conseguir uma oportunidade de escapar da Unidade de Contenção algum dia.
Nick rangeu os dentes.
O Sonhador havia causado o estado de Horua.
Mandar Horua de volta ao Sonhador só poderia ser ruim.
Nada de bom poderia sair disso.
No entanto, Nick também não podia negar as palavras de Wyntor.
Horua não podia viver assim.
“Se Horua pudesse falar, o que ele escolheria?”, pensou Nick.
Silêncio.
Wyntor apenas olhou para Nick, enquanto este olhava para a mesa com uma expressão ausente.
Alguns segundos depois, Nick colocou a cabeça entre as mãos.
Ele sabia o que Horua escolheria.