Nick saiu da Unidade de Contenção e entrou no pequeno vestiário.
Seus quatro funcionários esperavam do lado de fora.
Agora, Nick estava sozinho.
Assim que entrou no vestiário, ele se sentou perto da parede e olhou para o chão.
A mistura de emoções que sentia era intensa.
Fisicamente, ele se sentia incrível, mas era exatamente isso que o fazia se sentir terrível mentalmente.
Era repugnante sentir algo tão intenso por algo tão horrível.
Enquanto o Amante fazia o que fazia, Nick havia visto visões de um grupo de homens cortando buracos em um torso sem membros e os usando.
A visão havia envolvido Nick, e ele quase sentiu como se fosse um dos homens.
Ele ficou incrivelmente enojado.
Mas aquilo tinha sido tão bom.
Era horrível.
Trabalhar com o Amante era absolutamente horrível.
De todos os Espectros que a Sonho Sombrio possuía, Nick queria trabalhar com o Amante o mínimo possível.
Enquanto estava sentado no chão, Nick apenas olhava para frente com uma expressão vazia.
Ele se sentia péssimo.
Depois de um tempo, Nick começou a pensar em como lidar com o Amante.
Ele não podia, de maneira alguma, forçar nenhum de seus funcionários a trabalhar com aquilo.
Era simplesmente ruim demais.
No entanto, contratar pessoas normais também era impossível.
Primeiro, humanos normais não tinham a resistência mental para lidar com algo como o Amante e, provavelmente, após trabalhar com ele apenas uma vez, teriam seus desejos sexuais irrevogavelmente e permanentemente alterados.
Além disso, essas pessoas saberiam sobre o Amante, facilitando que outros Extratores e Fabricantes planejassem algo.
Adicionalmente, Nick se sentiria horrível pelo dano causado a essas pessoas.
Tudo isso por alguns gramas de Zephyx? Era um preço alto demais.
Era preciso lembrar que isso era diferente de alimentar o Caixão Gritante com cadáveres.
Afinal, eles compravam os corpos da cidade, e esses cadáveres não eram criados porque a Sonho Sombrio os requisitava.
Eram simplesmente corpos de pessoas que haviam morrido por diversas razões.
Comprar cadáveres não resultava em mais corpos sendo produzidos.
Mas com o Amante seria diferente.
A Sonho Sombrio arruinaria ativamente a vida de muitas pessoas.
Os Extratores tinham resistência mental para suportar o Amante, mas precisariam de pausas.
Trabalhar com ele todos os dias era insustentável.
“Não posso obrigar ninguém a trabalhar com ele”, pensou Nick. “Simplesmente não posso.”
Depois de mais alguns momentos de reflexão, Nick suspirou e saiu do vestiário.
Quando saiu, todos o olharam com preocupação e curiosidade.
Nick respirou fundo.
— É ruim — disse ele.
Trevor e Jenny olharam para Nick com desconforto e medo.
— Vocês não precisam trabalhar com ele — disse Nick aos dois, surpreendendo-os.
— É tão ruim que eu não posso pedir a nenhum de vocês que façam esse sacrifício. Eu não conseguiria viver comigo mesmo — disse Nick com um suspiro.
— Se vocês estiverem desesperados por dinheiro e realmente quiserem lidar com ele, podem fazê-lo, mas eu nunca pedirei que entrem lá.
— Ele produz apenas cinco gramas de Zephyx por dia. Prefiro ficar sem isso a pedir que passem por algo assim.
Kiara e Jonathan ficaram bastante surpresos.
Na Cycle, Stephen havia dito que trabalhar com o Amante era um mal necessário e parte do trabalho.
Mas agora, Nick dizia que isso não era necessário.
Jenny e Trevor olharam para Nick com preocupação, mas também pareciam aliviados.
O que tinham ouvido sobre o Amante era assustador.
— O Amante na verdade não é um problema — disse Kiara.
Jonathan ergueu uma sobrancelha ao olhar para Kiara.
Parecia que ele não esperava que ela dissesse isso.
— O que você quer dizer? — perguntou Nick.
— Bem — disse Kiara lentamente antes de respirar fundo.
— Fui contratada especificamente para trabalhar com o Amante na época.
Trevor, Jenny e Nick olharam para Kiara com surpresa e choque.
— Durante minha entrevista de emprego, Stephen me fez muitas perguntas pessoais. Na época, fiquei bastante irritada, mas precisava do trabalho, então respondi.
— Depois, ele me contou o que aconteceria se eu aceitasse o trabalho.
Kiara desviou o olhar.
— Eu queria construir algo para mim mesma, por isso aceitei.
— Trabalhei com o Amante quase todos os dias por cerca de dois meses.
Os outros quatro olharam para Kiara com simpatia.
— Você não precisa fazer isso — disse Nick. — Eu senti na pele o que algo assim pode fazer com você.
Kiara balançou a cabeça. — Não importa mais.
— Já é tarde demais — disse ela com uma voz baixa e desconfortável.
Os outros entenderam o que Kiara quis dizer e se sentiram péssimos por ela.
— Já estou acostumada — disse Kiara. — A parte ruim já está aqui. Agora é só trocar uma parte ruim por outra.
Kiara respirou fundo.
— Mas a parte boa é que meu emprego está basicamente garantido. Sou a única que pode trabalhar com ele, o que me dá uma posição única. Então, não é totalmente ruim — disse ela, com uma voz um pouco mais positiva.
Silêncio.
— Mas você quer trabalhar com ele? — perguntou Nick, franzindo as sobrancelhas.
— Qual é a alternativa? — perguntou Kiara, dando de ombros.
— Não trabalhar com ele — respondeu Nick.
— Isso não é uma escolha — ela disse.
— É sim — respondeu Nick.
— Não, não é — rebateu Kiara. — Com os três novos recrutas chegando, seremos sete Extratores, excluindo você. O Caixão Gritante, o Monte de Esterco e a Dama Sangrenta mal precisam de trabalho, deixando apenas o Sonhador e o Amante para nós.
— Se eu não trabalhar com o Amante, ninguém vai. E aí? Devo disputar o Sonhador com seis outros Extratores?
— Prefiro trabalhar com o Amante — disse ela, irritada.
Nick olhou preocupado para Kiara, que evitava encará-lo.
No fim, Nick soltou um suspiro.
— Se é realmente isso que você quer, está livre para fazê-lo.
— Mas se precisar de uma pausa ou algo semelhante, tem que me avisar, certo? — ele pediu.
Kiara franziu as sobrancelhas, mas ainda assim evitou olhar para Nick.
— Claro.