Após a saída de Julian, Nick voltou ao trabalho com um humor melhorado.
A conversa com Julian ajudou Nick a esquecer todos os problemas e o estresse.
Claro, Inveja provavelmente ainda o estava procurando, mas, por ora, não havia sinal de nenhum servo da Inveja perto da cidade.
Quem sabe? Talvez levasse mais uma década para que aparecessem.
Julian havia dito para não se preocupar, e Nick confiava em Julian.
Provavelmente, não havia muito com o que se preocupar no momento.
O dia passou sem incidentes, e, eventualmente, chegou a hora de Nick dormir.
Por um acaso, naquela noite foi surpreendentemente fácil adormecer.
Nick simplesmente não se sentia tão preocupado quanto de costume e adormeceu rapidamente.
— Nós te odiamos!
— Você não merece sua riqueza!
— Você não merece seu poder!
Nick estava no topo de um pequeno monte de cadáveres, e uma multidão de pessoas o arranhava nos pés, tomada pelo ódio.
Nick segurava uma barra de ouro nas mãos e olhava para as pessoas abaixo com preocupação.
As pessoas dos Dregs.
Elas o odiavam.
Queriam matá-lo.
Desprezavam-no.
Nick olhou para o horizonte.
Ali, ele viu várias pessoas gordas sentadas em montes de ouro.
Essas pessoas ricas, ocasionalmente, estendiam a mão para uma das pessoas dos Dregs, sacudindo-as até que uma moeda de ouro caísse, a qual adicionavam aos seus montes de ouro.
Depois disso, jogavam a pessoa de volta ao chão, onde ela se levantava e corria em direção a Nick com agressividade.
Os montes de ouro eram tão altos que as pessoas no chão nem conseguiam ver os ricos no topo.
A única coisa que viam eram seus bolsos vazios, Nick sentado em um monte de cadáveres e segurando uma barra de ouro.
Obviamente, Nick era o responsável por matar todos e acumular suas riquezas.
Elas odiavam Nick!
Ele merecia morrer!
Nick estava aterrorizado enquanto centenas de pessoas arranhavam seus pés.
— Me desculpem! — Nick gritou.
— Eu quero ajudar vocês!
— Por favor, me deem uma chance!
— Vou melhorar suas vidas!
Mesmo assim, as pessoas continuaram gritando por sua morte.
Nick cerrou os dentes, arrancou um pedaço da barra de ouro e jogou no meio da multidão.
As pessoas lançaram um breve olhar ao pedaço de ouro.
Então, perceberam que a barra de ouro na mão de Nick ainda era maior que o pedaço no chão.
— Você é ganancioso!
— Você não merece sua riqueza!
Ignorando o ouro no chão, as pessoas voltaram a arranhar os pés de Nick.
Um dos ricos desceu de seu monte, pegou o pedaço de ouro no chão e voltou para o topo.
Nick arrancou mais pedaços de sua barra e os jogou para a multidão.
Mesmo assim, a multidão sempre encontrava um motivo para atacá-lo.
Eventualmente, Nick lançou quantidades absurdas de ouro para todas as pessoas dos Dregs, enchendo seus bolsos.
Enquanto a multidão continuava atacando Nick, mais e mais ricos pegavam as pessoas pobres para sacudir o dinheiro de seus bolsos.
Os pobres ficavam cada vez mais machucados com o constante sacudir, e, quanto mais feridos, mais odiavam Nick.
Eles o desprezavam!
Eles o odiavam!
Eles queriam matá-lo!
Os punhos de Nick começaram a tremer.
Ele estava tão furioso!
Por que eram tão estúpidos?!
Eram animais?!
Não conseguiam ver a verdadeira causa?!
O que ele havia feito para eles?!
Por que o odiavam?!
Ele merecia tanto ódio assim?
Nick começou a odiar as pessoas também.
CRACK!
Nick enfiou uma barra de ouro no crânio de alguém, matando-o.
O cadáver caiu no monte de corpos de Nick, tornando-o um pouco maior.
A multidão apenas ficou mais furiosa.
Os ataques se intensificaram, e Nick foi puxado para fora do monte.
Um exército de expressões cheias de ódio se aproximou de seu rosto e começou a morder sua carne.
— Ah!
Nick gritou, despertando de repente na cama.
Estava coberto de suor.
Seus olhos estavam marejados.
Seu coração batia acelerado.
Por um tempo, Nick apenas olhou para baixo.
— Foi só um sonho — disse ele.
E, ainda assim, não parecia um sonho.
Nick sentia como se o que acabara de vivenciar fosse real.
Depois de se recompor, Nick tentou dormir novamente.
Mas, assim que adormeceu, o mesmo sonho voltou.
Eventualmente, ele despertou novamente com um grito abafado.
Mais tarde, o sonho retornou pela terceira vez.
Depois disso, Nick não conseguiu mais dormir e decidiu começar o dia mais cedo.
O dia transcorreu como de costume.
Quando chegou a hora de dormir novamente, Nick teve o mesmo sonho.
E de novo.
E de novo.
Dias se passaram.
Nick ficou desatento.
Estava constantemente cansado.
Sentia como se o mundo estivesse pesando sobre seus ombros.
Pequenos problemas pareciam enormes.
Sempre que via alguém dos Dregs, as imagens dos sonhos pareciam se sobrepor a eles.
Ele via as criaturas de seus sonhos nas pessoas.
Elas o odiavam.
Desprezavam-no.
Sem motivo.
Ele estava tentando ajudá-las, mas elas ainda secretamente o odiavam e desprezavam.
Não importava o que fizesse, nunca poderia ser parte delas.
Elas não conseguiam ver que ele estava tentando ajudar?
Por que o odiavam?!
— Ei!
Nick foi tirado de seus pensamentos ao ouvir algo.
Olhou ao redor, mas não conseguiu encontrar quem havia falado.
— Ei! Ei, amigo! Aqui embaixo!
Nick franziu as sobrancelhas e olhou para o chão.
Nesse momento, ele estava em cima de uma grade, e, através das pequenas aberturas, viu algo.
Um rato.
— O quê? — perguntou Nick.
— Você tem passado por alguns problemas recentemente, hein? — o Parasita sussurrou através da grade.
Nick respirou fundo e continuou andando.
— Ei, ei, ei! Não vá embora assim — gritou o rato.
Nick ignorou o rato.
O Parasita era uma praga para a cidade.
Se pudesse, Nick o mataria ali mesmo.
— Eu sei como acabar com seus pesadelos!
Nick parou de andar.
— Interessado? — perguntou o Parasita, e Nick podia ouvir o tom de sorriso em sua voz.
Nick respirou fundo e voltou até a grade.
— Eu sei o que fazer — disse o rato. — E também sei o que está acontecendo com você.
— O quê? — Nick perguntou friamente.
— Bem, eu não vou simplesmente te contar — respondeu o rato.
— Quero algo em troca.
Nick franziu as sobrancelhas.
Ele sabia exatamente o que o Parasita queria.