Nick olhou para a grade.
Ele não tinha certeza se deveria acreditar no Parasita.
O Parasita era uma praga para a cidade e só se interessava por cadáveres.
Nick não entregava cadáveres ao Parasita fazia anos.
Era bem possível que o Parasita só quisesse um último carregamento de corpos, acreditando que Nick e a Sonho Sombrio jamais voltariam a procurá-lo para obter pistas sobre algum Espectro.
— Por que eu deveria acreditar em você? — perguntou Nick.
— Por causa da minha reputação — respondeu o rato com um sorriso zombeteiro debaixo da grade. — Ei, vamos conversar em outro lugar. Acho que você não quer ser visto comigo em público.
Nick olhou ao redor e viu algumas pessoas andando por ali.
Sem dizer nada, ele foi até uma casa abandonada.
Alguns segundos após entrar, uma das grades começou a se mover para o lado, mas Nick simplesmente pisou nela.
Splash!
O som distante de algo atingindo a água nos esgotos pôde ser ouvido.
— Qual é o seu problema?! — gritou o Parasita alguns segundos depois.
— Não quero que você saia. Alguém pode nos ver — sussurrou Nick.
— Diga isso antes! — reclamou o Parasita, irritado.
— Então? Por que eu deveria confiar em você? — perguntou Nick.
— Nick, Nick, Nick — disse o rato com uma voz cantarolante. — Sou um comerciante, e a Sonho Sombrio não é meu único cliente.
— Se eu começar a descumprir minhas promessas, meus outros clientes não voltarão a fazer negócios comigo.
— Nick, você já ouviu em algum lugar que eu não cumpri minha parte de um acordo? — perguntou o Parasita.
— Não, mas isso não significa nada — respondeu Nick.
— Mas significa — insistiu o Parasita. — A Cidade Fungo Carmesim é um dos meus territórios favoritos para obter cadáveres. Tenho muitos clientes aqui, mais do que em muitas outras cidades.
Nick não ficou surpreso com isso.
Pelo que sabia, o corpo real do Parasita estava fora da cidade, o que significava que ele podia operar em várias cidades ao mesmo tempo.
— Existe uma razão para você nunca ter ouvido que eu quebrei uma promessa, e também uma razão para eu ainda estar nesta cidade — disse o Parasita.
Nick ergueu uma sobrancelha.
— A Cidade Fungo Carmesim e eu somos parceiros comerciais, e ambos temos limites que não podem ser ultrapassados. Se forem, não podemos mais trabalhar juntos.
— Meu limite é que ninguém pode manchar minha imagem. Você pode me chamar de ganancioso, cruel, oportunista, psicopata, o que quiser. Não me importo.
— Mas você não pode me chamar de desonesto! Meus negócios são justos! — exclamou o rato com convicção.
Sempre que Nick ouvia o Parasita, era difícil acreditar que os Espectros quase não tinham emoções.
— Se alguém ultrapassar meu limite, vou atrás deles! — gritou o rato. — Talvez eu não tenha poder para matá-los, mas sei muuuitas coisas.
— Talvez eu conte ao seu maior concorrente a localização de vários Espectros poderosos de graça.
— Talvez eu revele alguns segredos que sei sobre você.
— Eu posso não ter muito poder físico, mas tenho muito poder de influência! — proclamou o Parasita com confiança.
— Certo — respondeu Nick, sem se impressionar. — Então ninguém pode te chamar de desonesto. Mas isso não significa que você é honesto. Eu poderia ameaçar a vida de alguém e obrigá-lo a dizer a todos que não estou ameaçando sua vida. Parece a mesma coisa para mim.
Surpreendentemente, o rato riu um pouco.
— Nick, eu estava falando sobre o meu limite.
— E qual é o limite da Cidade Fungo Carmesim?
Nick franziu a testa, mas não respondeu.
— Você realmente acha que é tão difícil se livrar de mim? — perguntou o Parasita. — Você acha que uma cidade inteira cheia de poderosos Extratores não consegue acabar com alguns ratos?
— Basta enviar algumas centenas de Joãos e Veteranos para os esgotos para matar os ratos. Comprar equipamentos caros para localizar formas de vida e não deixar nenhum escapar. Tampar todos os buracos nas paredes. Envenenar as águas dos esgotos com veneno para ratos.
— Talvez você não elimine todos os meus ratos, mas o esforço para entrar na Cidade Fungo Carmesim seria muito maior do que o retorno que eu poderia obter. Isso significaria que tentar entrar na Cidade Fungo Carmesim seria um desperdício de mais Zephyx do que eu poderia ganhar.
— É um grande espetáculo e tudo mais, mas não vale a pena? Afinal, segundo todos, sou uma das maiores pragas da cidade.
Nick refletiu sobre as palavras do Parasita.
Se as forças da cidade realmente quisessem, provavelmente poderiam erradicar a presença do Parasita em alguns dias ou semanas.
Assim, eles se livrariam de um dos maiores tumores da Cidade Fungo Carmesim.
Mas não o fizeram.
Eles podiam, mas não fizeram.
Nick se lembrou de que o governador perguntava várias vezes sobre o status da investigação sobre o Parasita nas reuniões anuais.
No entanto, os Fabricantes mal entregavam informações.
Será que o governador já havia solicitado forças para erradicar o Parasita no passado?
Será que os Fabricantes simplesmente responderam com desculpas sobre por que não podiam ajudar?
Nick não sabia.
No entanto, uma coisa era certa.
Livrar-se do Parasita não era impossível e também não exigia um gênio para pensar em soluções.
Ainda assim, as soluções não eram utilizadas.
Isso só podia significar uma coisa.
A cidade não queria se livrar do Parasita.
Ou, mais precisamente, não a cidade, mas os Fabricantes.
E por quê?
Porque negociar com o Parasita era vantajoso.
O Parasita gerava lucro para eles.
E isso significava que o Parasita cumpria sua parte do acordo todas as vezes.
Caso contrário, os Fabricantes já teriam se livrado dele.
A pergunta de Nick foi respondida.
O fato de o Parasita ainda estar na Cidade Fungo Carmesim após décadas significava que ele era honesto e cumpria suas promessas.
Os Fabricantes não queriam se livrar dele.
— Certo — disse Nick. — Então, qual é o acordo?