Quando todas as mercadorias foram carregadas no vagão, a caravana se virou e saiu da Cidade Interna.
Na Cidade Externa, seguiram uma das principais estradas em direção ao sul.
O líder da caravana olhou um pouco para o oeste e viu alguns edifícios grandes.
No entanto, um deles era significativamente mais alto que os outros.
Com seus sentidos aguçados, ele conseguiu ler a placa do edifício distante.
Sonho Sombrio.
— Vamos continuar a viagem amanhã — declarou o líder da caravana.
Os outros membros apenas assentiram e começaram a conversar entre si antes de se dispersarem para explorar a cidade.
O líder entrou no imenso vagão e continuou observando o edifício distante da Sonho Sombrio.
Seus olhos estavam fixos na entrada do prédio o tempo todo.
Assim que o alvo aparecesse, ele o capturaria.
Ele estava nessa missão há mais de um ano e mal podia esperar para voltar à sua rotina normal.
No entanto, alguns minutos depois, algo inesperado aconteceu.
O homem olhou para o portão da Cidade Interna.
Nesse momento, um jovem de cabelos azuis saiu pelo portão.
Pelo que parecia, ele estava caminhando diretamente em direção à caravana.
Mais do que isso, o jovem distante olhou diretamente para o homem de armadura prateada dentro do enorme vagão.
O homem de armadura prateada notou isso e franziu o cenho.
Um Especialista?
O que um Especialista queria com ele?
Bem, com sorte, o Especialista queria se juntar a eles.
O homem de cabelos azuis parou a cerca de cinco metros do vagão e a observou com um sorriso.
Um dos Especialistas da caravana notou isso e se colocou rudemente entre o jovem de cabelos azuis e o vagão.
— Ei! Você não tem permissão para estar aqui! — repreendeu ele.
O jovem de cabelos azuis sequer se virou para o Especialista.
Em vez disso, continuou olhando para o vagão.
— Você realmente não quer que as próximas palavras cheguem aos ouvidos de qualquer espectador — disse Julian, o jovem de cabelos azuis.
Dentro do vagão, o homem de armadura prateada franziu o cenho.
Ele não tinha certeza do que o jovem queria, mas ainda assim usou seu Zephyx para criar uma barreira que isolava o som.
Algo assim não era difícil de fazer quando se tinha muitos anos de experiência manipulando Zephyx.
Julian apenas sorriu educadamente.
Então, mais e mais bocas começaram a se abrir em seu rosto.
Os olhos do homem de armadura prateada ficaram sem vida e distraídos.
— O que você quer? — perguntou uma voz terrivelmente profunda, vinda do próprio vagão.
Não havia mais razão para esconder.
O jovem de cabelos azuis obviamente sabia a verdadeira identidade do vagão.
— Você pegou minha presa — disseram as várias bocas ao mesmo tempo, seus lábios belos e os dentes imaculadamente brancos.
— E por que eu deveria me importar? — respondeu o vagão. — Você não é uma ameaça para mim.
O Zephyx ao redor aumentou, e tudo em volta de Julian e do vagão começou a parecer borrado.
Do lado de fora, parecia apenas que um jovem de cabelos azuis estava conversando educadamente com um homem de armadura prateada.
Mas, na realidade, uma amalgamação de bocas belíssimas enfrentava um vagão de aço em transformação.
O homem de armadura prateada desapareceu, assim como todos os móveis dentro da parte superior do vagão.
O vagão se expandiu para cima, e sua ‘pele’ se partiu, revelando várias janelas com grades de metal.
Dentro de cada janela estavam diversos humanos desnutridos de todas as idades, sexos, tamanhos e níveis de poder.
Todos olhavam para fora, sem esperança, na direção da Cidade Fungo Carmesim.
Alguns poucos gritavam alto, na esperança de que alguém do lado de fora notasse seus apelos, mas, considerando a falta de entusiasmo dos outros, isso parecia inútil.
A parte superior do vagão cresceu até revelar uma figura longa e esquálida composta por placas, fios e lâminas.
Finalmente, sua verdadeira forma foi revelada.
Seu torso gigantesco era uma amalgamação de prisões, e vários braços longos e poderosos de aço se estendiam a partir dessas prisões, todos controlados pela figura metálica esquelética que emergia do topo.
O mais chocante de tudo era que todos os humanos nas prisões eram reais.
Eram pessoas de verdade sendo mantidas prisioneiras.
Essa era a Prisão, um Demônio.
Era um Demônio Intermediário, que ganhava poder aprisionando pessoas.
Quanto mais poderosas e numerosas fossem as pessoas, mais Zephyx ele ganhava.
Com seus incríveis poderes de ilusão, ele viajava de cidade em cidade, fingindo ser uma caravana comercial.
As dez pessoas viajando com o vagão eram todas ilusões.
E como ele se escondia dos sensores em cada cidade?
Os cristais Zephyx.
Naturalmente, os sensores sempre alertavam a cidade de que algo com uma grande quantidade de Zephyx estava passando pelo portão.
Tudo o que a Prisão precisava fazer era mostrar os cristais.
Obviamente, os cristais eram a causa do alarme.
Assim, a Prisão viajava de cidade em cidade, e sempre que via um bom alvo, o consumia, aprisionando-o em uma das celas de seu abdômen.
E, para garantir que ninguém ligasse os desaparecimentos à caravana, a Prisão deixava uma ilusão da pessoa desaparecida por alguns dias.
Por fim, era também um dos servos mais poderosos da Inveja.
— Por que eu deveria me importar? — repetiu a Prisão, com sua voz sombria e metálica.
— Você mal chegou ao quinto nível. Embora possa ser poderoso nesta pequena cidade, seu poder é inútil no mundo maior — disse a Prisão.
— Sou um servo do Lorde Inveja, general da todo-poderosa Fome!
— Volte rastejando para de onde veio! — gritou a Prisão, com sua voz metálica.
— E fique grato por eu não estar forçando você a se tornar meu servo agora mesmo!
Silêncio.
Mas então, todas as bocas começaram a sorrir e rir.
— Lorde Inveja — disseram as bocas.
— Todo-poderosa Fome.
— É verdade, sou muito mais fraco do que qualquer um deles.
— Sou até mais fraco que você.
— Mas esta é a minha cidade!