No topo de um dos grandes prédios, Nick observava os Dregs, lentamente sendo tomados pela névoa vermelha.
— O que é isso? — Nick murmurou para si mesmo, em choque.
As pessoas dos Dregs olhavam para a névoa vermelha com confusão e preocupação.
Nunca haviam visto algo assim antes.
Seria alguma nova iniciativa da cidade?
— Ah, está queimando! — gritou uma criança de seis anos, coçando o braço.
Quando a criança coçou o braço, uma pasta vermelha pareceu surgir sobre sua pele.
Todos olharam para a criança…
E para o osso que sobressaía sob a pasta vermelha que antes fora seu sangue, pele e músculos.
No instante seguinte, os demais começaram a sentir uma sensação de queimação que se espalhava por todo o corpo.
Então, começou.
Os cabelos das pessoas começaram a afinar, e vários fios caíam.
As unhas descoloriam.
As roupas ficavam pretas e se desgastavam.
Os sapatos soltavam fumaça.
A pele ficava vermelha.
Os olhos ficavam vermelhos.
— AAAAHHHH!
Os gritos começaram.
Pânico.
Terror.
Milhares de pessoas corriam apavoradas, tentando escapar da névoa vermelha.
Algumas escalavam prédios.
Outras entravam em construções.
Algumas escondiam-se atrás de outras pessoas.
Outras saltavam em pilhas de escombros.
Muitas corriam em direção à Cidade Interna.
Mais ainda tentavam fugir pelas saídas da cidade.
Lamentos enchiam o ar.
Um homem corria em pânico e, acidentalmente, colidiu com um garoto subnutrido.
SPLASH!
O corpo do garoto se partiu em pedaços de carne, cobrindo o homem, que parou de correr, congelado de horror.
— Mamãe! Está doendo! Me ajuda!
Crianças gritavam enquanto suas mães tentavam protegê-las com os próprios corpos.
Uma mãe abraçou sua filha com força.
— Vai ficar…
Ela olhou para a filha chorando, mas não conseguiu continuar.
As bochechas da menina tinham buracos, e a mãe podia ver os molares da filha através deles.
— Mamãe, desculpa. Está doendo — chorou a filha.
A mãe assistiu, horrorizada, enquanto os dedos da menina se separavam das mãos.
A pele do rosto dela desaparecia.
Seus olhos enchiam-se de sangue.
— Mamãe! — a filha gritou antes que sua mandíbula caísse do crânio.
Os gritos tornaram-se ininteligíveis.
A mãe abraçou a filha com mais força, mas quase não sentia resistência.
Sua filha estava se transformando em um líquido vermelho viscoso, feito de sangue, carne, pele e ossos.
No fim, a mãe só podia abraçar uma mancha de sangue que contornava o que havia sido sua filha.
Ela olhava para baixo, incrédula.
Sua própria pele estava ficando vermelha, e ela começava a sangrar por todo o corpo.
Sua visão ficava cada vez mais turva, enquanto a indescritível sensação de queimação se aprofundava em seu ser.
Pelo menos, a família não ficou separada por muito tempo.
As ruas estavam cobertas por um filme vermelho viscoso, que escorria lentamente para os esgotos.
O centro dos Dregs havia se tornado silencioso.
Os prédios e ruas estavam manchados de vermelho, complementando as áreas enferrujadas.
Enquanto isso, as coisas estavam muito diferentes nas bordas dos Dregs.
A Cidade Fungo Carmesim era cercada por muros extremamente altos, e uma grande quantidade de pessoas tentava escalá-los.
Felizmente, os esgotos assumiam a forma de um lago sob a cidade, o que significava que as bordas da cidade eram como margens.
As áreas próximas aos muros, feitas de pedra e terra, estavam livres da névoa vermelha.
Aqueles que fugiram encontraram abrigo ali.
BOOOOOOOM!
O som de uma explosão gigantesca ressoou pela cidade, mas as pessoas perto dos muros não deram atenção.
Muitas tentavam escalar os muros, mas era impossível.
Os muros eram feitos de aço extremamente liso, sem lugar para apoio.
Estavam presos como insetos em um pote de vidro.
Outros tentavam arrombar as portas que levavam ao interior dos muros, mas era inútil.
Quase mil pessoas batiam nos muros da cidade.
Todos imploravam, suplicavam, gritavam.
Alguns poucos sortudos estavam ilesos.
Muitos estavam em diversos estágios de decomposição.
Alguns estavam sem membros.
Outros já não tinham pele no rosto.
Alguns tentavam manter seus órgãos dentro do torso.
Pessoas escalavam umas sobre as outras.
Crianças e pessoas mais fracas eram pisoteadas até a morte.
No topo dos muros, os guardas estavam tão nervosos quanto.
O que deveriam fazer?
Não tinham permissão para abrir as portas.
Mas as pessoas estavam morrendo!
Era seguro para os guardas?
Muitos já haviam saltado para fora da cidade.
Alguns tentavam acalmar a multidão.
Um deles chegou a abrir uma das portas.
Infelizmente, apenas cerca de 10% das pessoas puderam entrar por essa abertura.
As outras não conseguiam chegar até lá por causa da névoa vermelha.
BOOOOOOOM!
Os sons distantes de explosões continuaram.
CRRRRRK!
As pessoas próximas aos muros ouviram o som de metal se distorcendo e rangendo.
Então, muitos prédios começaram a tremer.
BANG! BANG! BANG!
Os prédios desmoronaram, e as ruas cederam.
As pessoas assistiram enquanto o lugar que chamavam de lar desabava nos esgotos.
Surpreendentemente, os escombros caíam por mais de 50 metros antes de atingir algo.
Os esgotos sempre foram tão profundos?
Mas antes que alguém pudesse pensar nisso, foram confrontados com uma visão infernal.
Uma massa giratória vermelha.
Mais de 50 metros abaixo do chão, havia uma massa giratória de rostos líquidos vermelhos.
Eles sorriam.
Eles riam.
Braços de mais de 20 metros de comprimento estendiam-se da massa vermelha, tentando alcançar os sobreviventes.
Milhares de braços.
Milhões de rostos.
A massa vermelha de rostos iluminava a escuridão dos esgotos.
Líquido vermelho viscoso pingava das partes do chão que ainda se mantinham.
As pessoas jamais esqueceriam essa visão…
Por mais curta que fosse a vida que lhes restava.