Nick já havia estado sob a cidade muitas vezes antes, mas não conseguia associar os esgotos com o que estava vendo naquele momento.
O grupo de Extratores se encontrava em uma grande plataforma, diretamente ligada ao suporte da megaconstrução.
Estavam ao lado de uma estrutura colossal, com um aspecto cromado, que sustentava toda a cidade.
A plataforma onde estavam era composta por placas metálicas que se estendiam por cerca de dez metros a partir do pilar central de suporte. Pelo que parecia, a plataforma cercava completamente o pilar, tornando-se algo com vários quilômetros de extensão.
Ao olhar para fora, Nick viu um mundo vermelho, mas ele parecia bem diferente daquele que costumava ver ao observar a borda da cidade.
Quando alguém estava na borda da cidade, a única coisa visível além da névoa vermelha ficava a mais de um quilômetro de distância.
Por isso, a névoa vermelha parecia uma parede sólida.
Mas ali embaixo, era possível observar a parte inferior da cidade.
Nick percebeu que a névoa vermelha não era tão densa quanto aparentava.
A parte inferior da cidade ainda era visível a uma distância de dez metros, embora com dificuldade.
Pelo menos, isso significava que Nick não ficaria completamente cego enquanto trabalhava.
Os Extratores observavam a névoa vermelha em silêncio.
A névoa brilhava em um tom carmesim, e sua luminescência mudava ocasionalmente.
Às vezes, era mais intensa.
Outras vezes, menos.
— Olhem para a borda da plataforma — disse o assistente.
Nick obedeceu.
Notou que a borda da plataforma estava cerca de um metro mais alta do que o lugar onde ele estava.
Algumas placas haviam sido colocadas na borda, criando uma pequena barreira.
— Tivemos que construir essa divisória por causa do tamanho do Mar Carmesim — explicou o assistente.
— A borda do Mar Carmesim está a cerca de 2,5 quilômetros daqui, e várias pessoas já morreram ao verem a extremidade do Mar Carmesim.
— E não, a névoa vermelha não bloqueia a visão do Mar Carmesim.
Nick respirou fundo.
Certo, uma pessoa alta poderia, de fato, avistar o Mar Carmesim deste ponto, caso não houvesse a divisória.
— De agora em diante, vocês não podem ser descuidados — disse o assistente com severidade. — Se vocês virem mesmo que uma pequena parte do Mar Carmesim abaixo de vocês, morrerão.
— Nem olhe para frente, porque pode acabar vislumbrando acidentalmente a borda do Mar Carmesim.
— Mantenha seus olhos fixos na parte inferior da cidade.
— Já perdemos mais de 20 Extratores de nível dois para o Mar Carmesim durante a construção. É melhor que vocês não se juntem a eles — alertou o assistente.
Naturalmente, os Extratores estavam bastante nervosos.
Qualquer olhar para baixo, mesmo por acidente, poderia ser fatal.
Eles estavam apavorados.
— Anthony Hawkins.
Um dos Extratores olhou confuso para o assistente, que havia acabado de chamá-lo pelo nome.
— Você começa aqui — disse o assistente, apontando para um ponto no teto, que já possuía quatro suportes instalados.
O ponto ficava a cerca de dois metros de distância de alguns outros suportes que levavam ao mundo vermelho.
Os quatro suportes instalados estavam dispostos lado a lado, formando duas ‘escadas’ desalinhadas.
Se alguém ficasse deitado de costas no teto, o primeiro suporte estaria onde o pé esquerdo terminava.
O segundo estaria na altura do joelho direito.
O terceiro, no quadril esquerdo.
O quarto, no peito direito.
Era óbvio que os Extratores deveriam continuar esse padrão.
O Extrator caminhou até o ponto abaixo dos suportes e engoliu em seco.
— Não comece ainda — disse o assistente. — Eu anunciarei o início e o fim dos turnos.
Depois disso, o assistente chamou mais nomes e apontou para outros locais.
— Nick Nick — chamou o assistente, apontando para quatro suportes.
Nick caminhou até lá e parou abaixo do ponto designado.
O assistente continuou distribuindo os lugares.
— Hahahahaha!
Os Extratores se viraram ao ouvir uma risada distante.
Esse tipo de riso era muito familiar para eles.
Todos ainda se lembravam da cacofonia de risadas do dia anterior.
Cada vez que alguém ria, alguém morria.
— Se vocês já estivessem trabalhando, todos estariam mortos — disse o assistente.
O coração de Nick quase parou.
Certo!
Se ele já estivesse trabalhando na parte inferior da cidade, virar a cabeça para a direita poderia ter colocado o Mar Carmesim no canto direito de sua visão periférica.
— Hahahaha!
— Hahahaha!
— Hahahaha!
Outras três risadas ecoaram pelo mundo vermelho.
— Risadas raramente ocorrem sozinhas — comentou o assistente de forma neutra. — Assim como vocês, muitas pessoas esquecem do perigo, e, quando alguém ri, elas olham naquela direção.
— Sempre que alguém morre, entre uma e quatro outras pessoas morrem também.
Silêncio.
Enquanto o assistente continuava distribuindo os lugares, Nick se lembrou do dia anterior.
Não haviam se passado nem 24 horas desde o incidente.
Nick recordou-se da água vermelha que saíra das bordas da Unidade de Contenção depois que ele havia pegado os contêineres de Zephyx.
Claro, a água vermelha era perigosa, mas nada se comparava ao terror infinito que o atual Mar Carmesim instigava nas pessoas.
Como algo tão fraco pôde se transformar em algo tão assustador em tão pouco tempo?
Simplesmente não parecia real.
— Certo, preparem-se para começar — disse o assistente.
Nick sacudiu a cabeça para afastar as lembranças do dia anterior e olhou para cima.
Então, ele pulou e agarrou dois dos suportes com as mãos.
— Observem os suportes e como foram pregados no metal — disse o assistente.
Nick fez exatamente isso.
Cada suporte tinha quatro pregos enormes atravessando-o.
No entanto, os pregos não eram retos.
Havia um prego em cada canto, e eles estavam pregados na parede de forma que apontavam diagonalmente para fora.
— Esperamos que vocês façam o mesmo. Se pregarem os suportes diretamente na parede, eles não serão tão estáveis.
Depois disso, o assistente olhou para o relógio.
— 17:23h.
— O turno de vocês começa…
— Agora!