Enquanto Nick consertava os buracos, sua mente permanecia ocupada pensando na pessoa que acabara de tentar matá-lo.
No momento, o buraco negro sempre presente em seu peito estava coberto por uma película vermelha de raiva.
A raiva era uma distração eficaz contra a dor.
Depois de cerca de meia hora, Nick conseguiu criar uma escada que contornava a parte danificada.
As placas de metal onde as alças antigas estavam fixadas estavam muito danificadas e instáveis, o que levou Nick a encontrar uma rota alternativa.
Finalmente, Nick voltou ao centro e informou ao assistente que havia terminado.
— Deixe-me verificar — disse o assistente antes de rapidamente subir pela linha de Nick.
Cerca de 30 segundos depois, ele retornou e acenou afirmativamente para Nick.
— Bom trabalho. Você pode ir. Nos veremos novamente na próxima semana — afirmou.
Nesse momento, Nick franziu a testa. — Próxima semana?
— Sim — respondeu o assistente. — Você achou que seria a única vez que trabalharia aqui?
— Sim — disse Nick. — Foi o que a ordem dizia.
O assistente também franziu a testa.
Então, ele estendeu a mão.
— Mostre-me.
Nick tirou a ordem e o entregou.
O assistente leu o documento, e suas sobrancelhas se levantaram em surpresa.
— Hã — ele murmurou.
Silêncio.
— Se eu soubesse, não teria feito aquela oferta para você — acrescentou antes de suspirar.
— Mas bem, tínhamos um acordo. Foi minha culpa por não ter lido a ordem com atenção.
Em seguida, ele devolveu a ordem a Nick.
Nick guardou o documento no bolso, acenou para o assistente e seguiu para a saída do subterrâneo.
Os dois guardas ao lado da saída imediatamente apontaram suas armas quando Nick se aproximou.
— Ele pode sair — gritou o assistente à distância.
Os guardas abaixaram as armas e acenaram para Nick.
Nick retribuiu o aceno e saltou para fora do buraco.
Quando emergiu do subterrâneo, seus olhos precisaram se ajustar novamente à luz diferente.
Esse havia sido o período mais longo que Nick passara longe da luz do sol em toda a sua vida.
Os raios familiares do sol acalmaram Nick, e ele soltou um suspiro.
Infelizmente, sua mente logo voltou a ficar tensa ao lembrar-se da tentativa de assassinato.
“Era apenas um cara, ou há um grupo por trás disso?”, pensou Nick enquanto caminhava em direção à saída da megaconstrução.
Enquanto continuava andando, notou que os guardas lançavam olhares cautelosos em sua direção.
Ele tinha quase certeza de que isso não era por causa dele especificamente, mas sim por sua identidade como um Extrator de nível dois.
Lembrou-se de que os guardas já haviam sido bastante firmes na primeira vez que ele apareceu.
Isso não acontecia antes.
Os guardas geralmente pareciam protetores relaxados, mas, desde o aparecimento do Mar Carmesim, eles pareciam soldados cujo trabalho era reprimir as pessoas.
“Mas provavelmente é só com os Joões”, pensou Nick. “Todos os Joões estão sendo enviados para trabalhar em locais extremamente perigosos, e provavelmente houve casos em que alguns tentaram resistir.”
“Provavelmente eles estão atentos a todos os Extratores de nível dois, temendo que possam se revoltar.”
Quando Nick deixou a megaconstrução, viu os guardas ainda olhando para ele com cautela.
Ele não tentou iniciar nenhuma conversa com eles.
Alguns minutos depois, Nick chegou à base da Sonho Sombrio e olhou para cima.
Os dois Veteranos que guardavam o local estavam encostados na parede.
Um deles notou Nick e acordou o outro.
— De volta tão cedo? — perguntou um deles.
Nick acenou com a cabeça. — Fiz um bom trabalho e me liberaram mais cedo.
Os dois guardas trocaram olhares confusos.
Eles deveriam ficar ali por seis horas.
Deveriam permanecer mais algumas horas ou poderiam ir embora?
Nick conseguiu deduzir o que eles estavam pensando.
— Podem ir — disse Nick. — Obrigado por ficarem de vigia.
Os dois guardas deram de ombros, se despediram e foram embora.
Nick saltou para a entrada da Sonho Sombrio e olhou para dentro.
Ainda podia ver destroços e sangue.
Por um momento, ele não soube o que fazer.
Queria relaxar um pouco, já que as últimas três horas haviam sido bastante estressantes, mas sempre que tentava se acalmar, as memórias voltavam.
O fato de que ele era responsável pelo estado atual da cidade.
O rosto de Trevor.
O rosto de Cryon.
O rosto de Jonathan.
O rosto de Kiara.
“Certo, preciso de alguém para trabalhar com o Amante agora”, pensou Nick, tentando ao máximo distrair sua mente.
“Kerry trabalhava com ele antes. Se ela ainda estiver viva, talvez concorde em trabalhar com ele.”
“E se ninguém quiser trabalhar com ele?”, Nick se perguntou.
Silêncio.
“Acho que isso significaria que não poderíamos extrair nenhum Zephyx dele.”
“Devemos vendê-lo, então?”
Nick balançou a cabeça.
“Devo continuar limpando o prédio primeiro.”
Um momento depois, Nick voltou ao trabalho de limpeza.
Dentro de alguns minutos, estava novamente ocupado.
Algumas horas se passaram.
Por volta das 23:30h, alguém apareceu na entrada da Sonho Sombrio.
Quando Nick viu quem era, ficou imediatamente nervoso.
Era um jovem alto, de cabelo castanho desgrenhado e olheiras profundas.
Ele parecia extremamente cansado e exausto.
— Wyntor — disse Nick.
Wyntor olhou para Nick, e Nick percebeu os olhos vermelhos dele.
— Como estão os Espectros? — perguntou Wyntor.
— Tudo bem — respondeu Nick. — A Dama Sangrenta está estressada e vai precisar de comida em breve, e o Monte de Esterco está rolando de fome, mas não há muito que eu possa fazer sem restos de comida. Fora isso, tudo está bem.
Wyntor soltou um suspiro e entrou na Sonho Sombrio.
Enquanto passava por Nick, lançou-lhe um olhar.
— Precisamos conversar — disse Wyntor enquanto subia as escadas.
Nick respirou fundo e o seguiu.
Ele já esperava que isso acontecesse.
Wyntor sabia que Nick estivera no prédio dos Spartans ontem, e também sabia das capacidades de Nick.
Wyntor com certeza sabia que Nick era o responsável pelo Mar Carmesim.
Nick não tinha ideia do que Wyntor planejava.