Nick seguiu Wyntor pela escada até o escritório.
Quando Wyntor abriu a porta, suspirou.
Tudo estava em ruínas.
Ele avançou e tirou algo dos destroços.
A máquina de café.
Ligou-a e suspirou aliviado ao ver que estava, em grande parte, intacta.
No minuto seguinte, Nick observou Wyntor preparar café.
Foi um dos minutos mais longos que Nick já havia experimentado.
Wyntor caminhou automaticamente até o local onde sua cadeira costumava estar, mas parou ao perceber que ela não estava mais ali.
No final, Wyntor entregou um café para Nick e sentou-se em um dos cantos do escritório.
Normalmente, Wyntor nunca faria algo assim, já que sua imagem era importante para ele, mas agora ele simplesmente não se importava mais.
Estava exausto demais.
Wyntor respirou fundo, e Nick ficou ainda mais nervoso.
— Não, você não vai morrer — disse Wyntor — e não, você não está demitido.
Era como se um imenso peso tivesse sido tirado do coração de Nick, e seus ombros relaxaram.
No momento seguinte, Nick sentou-se em outro canto do escritório de Wyntor, exausto.
Parecia que toda a energia havia deixado seu corpo.
— Tivemos sorte — disse Wyntor. — Por várias razões.
— Depois que o Mar Carmesim surgiu, meu pai veio imediatamente até aqui, perguntando se isso foi obra sua — contou Wyntor. — Ele tinha ouvido que uma figura negra era responsável pelo incidente.
— Naturalmente, ele estava preocupado em ser implicado. Se alguém o visse usando o Manto das Sombras, as coisas ficariam extremamente complicadas para ele.
— Felizmente, você voltou antes de ele chegar, e assim que você devolveu o Manto das Sombras, eu o guardei novamente na maleta.
— Meu pai imediatamente exigiu a maleta de volta, e quando viu o Manto das Sombras dentro e você sentado em um telhado qualquer, ele finalmente relaxou.
— Depois disso, ele foi embora rapidamente — continuou Wyntor.
— Ele não sabe que você é o responsável por tudo isso.
Nick soltou um suspiro.
Vernon tinha sido o maior perigo para ele.
Enquanto Wyntor tinha uma ligação com Nick, Vernon não tinha nenhuma.
Ele não teria problemas em entregar Nick às pessoas para evitar problemas para si mesmo.
Além disso, Vernon provavelmente estava furioso.
Os Dregs eram a razão pela qual a Kugelblitz conseguia produzir tanto Zephyx, e agora, eles haviam desaparecido.
Se quisessem obter sangue no futuro, seria necessário implementar um sistema completamente novo, e a Kugelblitz provavelmente não conseguiria nem de perto a mesma quantidade de sangue que antes.
Ao libertar o Mar Carmesim, Nick havia causado um dano imenso à receita da Kugelblitz.
Claro, enquanto se podia culpar Nick por libertar o Mar Carmesim, não era justo culpá-lo pelo nível extremo de destruição que ele causou.
Ninguém poderia ter previsto que algo assim aconteceria.
Mas isso não importava.
As pessoas queriam alguém para culpar, e Nick era o alvo perfeito.
Se descobrissem que ele havia libertado o Mar Carmesim, a morte seria certa, mas apenas após uma vida pior que a morte.
Com Vernon fora de cena, apenas três pessoas sabiam que Nick era o responsável.
Nick, Wyntor e o Parasita.
— E o Parasita? — perguntou Nick.
Wyntor tomou um gole do café.
— Pelo menos algo positivo saiu disso — disse Wyntor.
— Os ratos do Parasita usavam os esgotos como casa e como meio de se locomover pela cidade, mas com o Mar Carmesim ocupando todo o subsolo, os ratos não conseguem mais se mover pela cidade.
— Como os ratos são apenas lacaios, ele precisa usar Zephyx para dar-lhes a habilidade de resistir à influência de um Espectro.
— Resistir ao Pesadelo não é muito difícil para ele, já que afeta apenas a mentalidade.
— Mas as coisas são bem diferentes com o Mar Carmesim.
— Um pouco da névoa vermelha transforma um rato em sopa instantaneamente.
— Além disso, todos os caminhos para o mundo exterior foram cortados. Isso significa que os ratos não conseguem transportar nenhum cadáver para fora da cidade.
— Permanecer na cidade significa perder Zephyx para o Parasita.
Wyntor tomou outro gole.
— Nenhum rato foi avistado desde o incidente.
— Podemos dizer com bastante confiança que o Parasita está acabado.
Quando Nick ouviu isso, soltou um suspiro de alívio.
O Parasita poderia estar furioso com ele e querer algo em troca.
Se fosse humano, provavelmente denunciaria Nick imediatamente para se vingar, mas Espectros não eram assim.
O Parasita provavelmente os chantagearia por muito tempo.
Felizmente, o Parasita não podia mais operar na cidade.
— Pelo menos algo bom saiu disso — disse Nick.
Wyntor concordou com a cabeça. — Na verdade, embora as coisas pareçam desastrosas agora, há várias coisas boas na situação atual.
Nick se animou e olhou para Wyntor surpreso.
— Quais seriam? — perguntou.
— O Parasita era um grande problema — disse Wyntor. — Naturalmente, o Mar Carmesim também é um grande problema, mas há uma diferença fundamental entre os dois.
— Não podemos lidar com o Parasita, mas podemos lidar com o Mar Carmesim.
— Podemos? — perguntou Nick, chocado.
Wyntor assentiu. — Já temos um plano de longo prazo.
— Primeiro, tornamos o subsolo da cidade transitável.
— Segundo, criamos mais suporte estrutural para a cidade.
— Terceiro, construímos uma ponte para o mundo exterior.
— E, por fim, cobrimos completamente o Mar Carmesim.
As sobrancelhas de Nick se levantaram.
— Cobrir? — perguntou.
Wyntor assentiu.
— Vamos encerrar tudo em aço. Se não houver como ver o Mar Carmesim e se sua névoa não puder entrar na cidade, é como se ele não existisse.
— Além disso, a presença do Mar Carmesim é um grande impedimento para os Espectros.
— Pelo que sabemos, os poderes hipnóticos do Mar Carmesim também funcionam nos Espectros.
— Isso significa que os Espectros não podem mais usar o subsolo da cidade para se esconderem de nós.
— Esperamos que o número de novos Espectros surgindo na cidade seja reduzido em mais de 50%.