O guarda observou Nick e Vernon entrando na Kugelblitz.
Ele ainda achava que Nick agia de maneira suspeita, mas, no fim das contas, apenas deu de ombros.
Ele não era responsável pela investigação e também era um dos poucos guardas que não trabalhavam para a Kugelblitz.
Então, aquilo não lhe dizia respeito.
Apenas despertava um pouco de curiosidade.
Nick seguiu Vernon em silêncio.
Naturalmente, ele estava um pouco nervoso, apesar de se esforçar ao máximo para esconder isso.
Era um fato que Nick era o responsável pela morte de Wyntor.
Ele pode não tê-lo matado diretamente, mas deu a ordem para sua morte.
E ele sabia muito bem que várias pessoas suspeitavam dele por causa de seu histórico com Wyntor.
A razão pela qual Nick ordenou a morte de Wyntor naquela manhã era dupla.
Primeiro, ele queria que Wyntor morresse enquanto tivesse um álibi.
E segundo, queria expor seu possível motivo para matar Wyntor antes de isso acontecer.
À primeira vista, essa segunda parte parecia estúpida.
Afinal, por que alguém deixaria claro para os outros que tinha um motivo para cometer um assassinato?
A resposta era simples: Nick queria fazer parecer o menos planejado possível.
Além disso, ele queria mostrar que já tinha uma saída para essa situação.
Se ele soubesse que Wyntor iria morrer, por que pediria um emprego a Vernon?
Ele já tinha uma solução e já havia aceitado o desfecho.
E então, Wyntor simplesmente morreu de repente.
Mas havia mais um motivo para Nick ter revelado seu conflito com Wyntor.
Nick sabia que não era um bom ator e tinha certeza de que alguém experiente como Vernon perceberia se ele tentasse fingir suas emoções.
Agora que ele já havia contado a Vernon sobre a relação rompida entre ele e Wyntor, não pareceria tão suspeito se ele não demonstrasse estar profundamente abalado.
Ainda assim, Nick sabia que estava em grande perigo.
As próximas horas seriam decisivas para o seu futuro.
Depois de uma longa caminhada silenciosa, Vernon levou Nick de volta ao seu escritório.
A xícara de café de mais cedo ainda estava sobre a mesa.
Vernon sentou-se e suspirou.
— Eu sei que muita coisa aconteceu, mas precisamos falar sobre a Sonho Sombrio primeiro — Vernon disse.
Nick assentiu.
— Tenho 90% de certeza de que foi um dos outros Fabricantes que matou meu filho, e se não quisermos que eles ganhem algo com isso, precisamos resolver a questão da propriedade da Sonho Sombrio o mais rápido possível.
— Como eles mataram Wyntor, em breve também tentarão matar você. Antes que isso aconteça, precisamos levá-lo a um lugar seguro.
Mesmo vendo Vernon como um empresário frio e impiedoso, Nick ainda ficou um pouco surpreso ao perceber que ele conseguia falar sobre dinheiro apenas alguns minutos depois de perder seu filho.
Normalmente, pais não gostariam de lidar com esses assuntos tão rapidamente após a morte de um filho.
Ainda mais impressionante era o fato de que, tirando alguns minutos de luto, Vernon parecia normal e calmo.
Nick não esperava que Vernon fosse tão frio até mesmo com sua própria família.
— Agora que possuo 70% da Sonho Sombrio, estou disposto a comprar seus 30% e contratá-lo como líder de equipe na Kugelblitz — Vernon disse. — Assim, você não precisará temer ser atacado, já que não haverá mais nada a ganhar com a sua morte.
Nick reprimiu um sorriso.
— Isso não está certo, Vernon — ele disse.
Vernon ergueu uma sobrancelha.
— Você não possui 70% da Sonho Sombrio — Nick acrescentou. — Agora eu sou dono de 100% da Sonho Sombrio.
Vernon franziu a testa, demonstrando confusão e irritação.
— Acho que você não entendeu a lei — Vernon disse, suspirando. — Quando alguém morre, seus bens vão para o parente mais próximo. Como Wyntor não tinha esposa nem filhos, tudo o que pertencia a ele agora pertence a mim. Isso inclui os 70% da Sonho Sombrio.
Os olhos de Nick brilharam, e uma expressão suspeita surgiu em seu rosto.
— Eu estava sob a impressão de que Wyntor lhe mostrou o contrato de propriedade dos acionistas da Sonho Sombrio — Nick disse.
— Sim, ele mostrou — Vernon respondeu. — É um contrato padrão que eu mesmo redigi. Uso esse modelo para vários tipos de acordos, e Wyntor o pegou emprestado. Ele também me deu uma cópia para guardar.
— E esse contrato não menciona nada sobre a morte de um proprietário da empresa, o que significa que o processo padrão entra em vigor.
— Isso está errado — Nick disse, franzindo as sobrancelhas. — Eu me lembro explicitamente de ter assinado esse contrato há três ou quatro anos, e tenho certeza de que havia uma cláusula sobre a morte de um dos donos.
— Eu me lembro de dizer que, em caso de morte, os outros proprietários herdariam as ações do falecido.
— Tenho 100% de certeza de que essa cláusula está no contrato, porque lembro de ter ficado desconfiado na época. Eu temia que Wyntor tivesse inserido essa cláusula para, um dia, me matar e ficar com todas as minhas ações sem precisar me pagar.
Vernon começou a demonstrar impaciência.
— Eu também li o contrato e tenho certeza de que é apenas o modelo padrão — Vernon disse, visivelmente irritado. — Também ordenei a Wyntor que nunca criasse a cláusula específica que você está mencionando, porque isso colocaria a vida dele em risco.
Os dois se encararam com expressões carregadas de irritação.
— Eu tenho uma cópia aqui. Vamos simplesmente olhar e acabar logo com isso — Vernon disse.
Ele se levantou, procurou uma pasta em uma de suas gavetas e a abriu.
Depois de cerca de trinta segundos folheando os papéis, Vernon colocou a pasta sobre a mesa, deixando o contrato visível.
— Leia — Vernon disse.
Nick obedeceu e começou a examinar o contrato.
Conforme lia, suas sobrancelhas se franziram.
Como esperado, não havia tal cláusula no contrato.
Mas quando ele chegou ao final do documento, seus olhos se arregalaram em um instante de realização.
Então, ele apontou para sua assinatura no final do contrato.
— Essa não é a minha assinatura — ele disse.
— Eu nunca assinei este contrato.
— Isso é uma falsificação.