Nick respirou fundo.
— Obrigado. Vou fazer exatamente isso — ele disse.
A médica assentiu.
Depois de conversarem um pouco mais, ela deixou o galpão.
— Qual é o seu plano? — Wyntor perguntou.
— O que eu disse — Nick respondeu. — Vou cuidar de Horua até que ele acorde.
Wyntor franziu as sobrancelhas. — Nick, preciso de você como meu Chefe Extrator Zephyx. Não posso ter você cuidando do garoto se isso atrapalhar seu trabalho.
— Eu preciso fazer isso — Nick disse, com um tom cheio de convicção. — Esta é minha responsabilidade, e sou eu quem tem que arcar com as consequências.
— Se Horua morrer agora, tudo terá sido em vão.
— Já machuquei Horua imensamente, e nem consigo imaginar machucá-lo ainda mais.
— Tudo isso é culpa minha, e eu vou lidar com isso.
Wyntor franziu a testa.
No entanto, ele não estava realmente bravo com Nick.
O incidente com Horua havia dado a Nick algo que ele antes não possuía.
Um senso de responsabilidade.
Um Chefe Extrator Zephyx precisava ter um forte senso de responsabilidade, ou toda a empresa poderia ir à falência.
Se algo acontecesse, Nick teria que lidar com essas situações e assumir a responsabilidade.
— Contanto que seu trabalho não sofra, não importa o que você faça no seu tempo livre — Wyntor disse.
— Obrigado, Wyntor — Nick disse com um suspiro.
— Porém — acrescentou Wyntor — não quero ele aqui. Vou alugar um quarto próximo, e ele pode ficar lá. O quarto será bem perto da empresa, o que deve facilitar para você cuidar dele.
Nick não era muito fã da ajuda de Wyntor, mas sabia que precisava aceitar alguma assistência se quisesse resolver essa questão.
— Certo — Nick disse. — Obrigado, Wyntor.
Wyntor assentiu. — Por enquanto, você deve trabalhar. Pator cuidará de Horua pelas próximas oito horas.
Nick sentiu-se culpado por Pator ter que fazer mais trabalho devido ao seu erro.
Mas Nick também sabia que não tinha outra escolha.
Não poderia deixar Horua sozinho por oito horas inteiras.
Então, Nick apenas assentiu.
Lançou um último olhar para Horua.
Sempre que via Horua daquele jeito, Nick sentia uma dor intensa no peito, e respirar se tornava difícil.
Culpa.
Uma culpa pesada.
Nick soltou outro suspiro e entrou na Unidade de Contenção do Sonhador.
Como sempre, o Sonhador apenas estava parado em seu canto, olhando para Nick.
— Ele ainda está vivo — Nick disse.
O Sonhador não mostrou reação alguma.
Nick bufou. — Acho que você não se importa de verdade.
— Por enquanto, serei eu a trabalhar com você, mas no futuro trarei mais pessoas. No entanto, essas pessoas serão mais resistentes que a última com quem você trabalhou — disse Nick.
O Sonhador continuou impassível.
Um momento depois, Nick sentou-se próximo a uma das paredes e fechou os olhos.
— Vamos começar — ele disse.
Clank. Clank. Clank.
Nick ouviu os passos do Sonhador e sabia que ele estava parado ao seu lado de novo.
O Prephyx na sala ficou mais denso, e Nick começou a sentir sono.
Um minuto depois, Nick adormeceu.
Em seus sonhos, Horua morria de formas cada vez mais dolorosas, gritando por ajuda.
Naturalmente, era sempre culpa de Nick que Horua estivesse morrendo.
Eventualmente, os Horuas até começavam a voltar à vida e diziam a Nick que ele era o culpado.
Até o mundo se transformou em corpos vivos de Horua, e, sempre que Nick andava, o Horua sob seus pés gritava de dor e morria.
O mundo gritava com ele, dizendo que ele era a razão de todo o sofrimento.
Nick desmoronava repetidas vezes.
Ele já tinha pronunciado a Sentença tantas vezes, mas a Enfermeira Alice nunca vinha.
Nick tentou se matar, mas não conseguia.
Não importava o que ele fizesse, ele sobrevivia.
Seu sofrimento era infinito e eterno.
Então, Nick acordou.
Todas as lembranças de seu sonho começaram a se dissipar rapidamente.
Um instante depois, ele havia esquecido quase tudo.
Só sabia que seus sonhos tinham algo a ver com Horua e que sentia uma grande culpa.
Era tudo o que ele sabia.
Nick olhou ao redor na Unidade de Contenção e viu o Sonhador observando-o de seu canto.
Nick suspirou e se levantou.
Ao sair da Unidade de Contenção, foi interceptado por Wyntor.
— Nick, precisamos conversar — disse Wyntor com uma expressão séria.
Assim que ouviu isso, Nick sentiu a ansiedade e o medo subirem em seu peito. — Aconteceu algo com Horua? — ele perguntou.
— Não — Wyntor respondeu. — É mais uma boa notícia.
— Ah, certo — Nick disse, aliviado.
— Olhe isso — Wyntor disse, apontando para o medidor de Zephyx.
No momento, o medidor mostrava dez gramas de Zephyx.
— O que tem? — Nick perguntou.
— Todos os dias, o tanque de Zephyx é esvaziado — Wyntor disse — o que significa que estava em zero antes de você e o garoto chegarem.
— Certo? — Nick perguntou.
— Nick, o garoto produziu apenas três gramas de Zephyx.
— Isso significa que você produziu sete gramas agora, 40% a mais do que da última vez.
Os olhos de Nick se arregalaram. — Como?
— Isso que estou perguntando a você — Wyntor respondeu. — O que mudou?
Nick franziu a testa.
Não fazia ideia.
— Eu não sei — Nick disse.
Wyntor assentiu. — Então, descubra. Esse é o seu trabalho.
— Certo — Nick disse, um pouco incerto.
Como ele deveria descobrir o motivo da mudança na quantidade de Zephyx?
— O garoto está na casa do outro lado da rua — Wyntor disse, tirando uma chave do bolso. — Esta é uma das três chaves. O dono do hotel tem uma. Pator tem outra. E agora você tem uma.
Nick pegou a chave e olhou para ela.
— Obrigado, Wyntor — ele disse.
Wyntor assentiu. — Vejo você amanhã — disse, pegando sua pasta e saindo do prédio.
Aparentemente, Wyntor havia ficado ali apenas para conversar com Nick.
Agora, Nick estava sozinho.
Depois de alguns segundos, Nick respirou fundo e deixou o galpão.
Era hora de visitar Horua.