Mais duas semanas se passaram.
Até agora, Nick estava procurando por um Espectro há cerca de seis semanas.
E ainda assim, ele não tinha encontrado uma única pista.
Houveram alguns indícios, mas nenhum realmente levava a um Espectro de verdade.
Sempre eram apenas humanos.
“Com certeza, da última vez eu tive sorte”, Nick pensou com um suspiro enquanto fazia uma pausa no mercado.
“Além disso, houve aquele segundo grupo de Extratores que encontrou um Espectro nos Dregs.”
“Sinto que os outros Fabricantes encontram muitos mais Espectros do que eu.”
“Embora eu entenda. Eles têm Investigadores, enquanto nós não temos nada.”
“Como se espera que consigamos competir com isso? Na verdade, nem fui eu quem encontrou o Espectro da última vez. Um Inspetor me contou sobre o Sonhador.”
“Será que eu sou capaz de encontrar um Espectro sozinho?”
Nick suspirou novamente.
“Seis semanas sem pistas.”
Nick olhou para as pessoas que passavam por ele.
Agora, as pessoas não o evitavam mais.
Elas tinham se acostumado com a presença de Nick.
“Pelo menos adquiri bastante experiência em como procurar Espectros.”
“Eu sei quais pistas provavelmente não darão em nada, e sei como fazer as pessoas falarem.”
“Além disso, aprendi muito sobre o que outras pessoas fazem nos Dregs quando ninguém está olhando, e até aprendi como as gangues operam internamente.”
“Se houvesse alguma pista, eu provavelmente seria capaz de obtê-la.”
Nick suspirou mais uma vez.
“No entanto, mal passa um dia antes que algum Inspetor encontre a pista, e com o pessoal deles, conseguem chegar ao fundo da questão em pouco tempo.”
“Todos os Inspetores se reúnem todos os dias e compartilham informações relevantes, o que torna muito mais fácil criar uma visão completa dos Dregs.”
“Enquanto isso, só consigo olhar para uma pequena parte dos Dregs por dia, já que estou sozinho.”
“Eu realmente preciso de uma equipe de Inspetores.”
Nick continuava refletindo sobre sua situação atual com frustração e desespero.
Ele não fazia ideia de como conseguir outro Espectro.
— Pare! Por favor!
Os olhos de Nick se moveram lentamente em direção ao mercado.
— Você não quer se divertir? Vamos lá, não seja tão puritana.
— Não, vá embora! Por favor! Você pode ficar com meu dinheiro!
— Pode ficar com o dinheiro. Eu quero outra coisa.
Nick apenas suspirou.
Outro estupro.
Na Cidade Externa, abuso sexual era ilegal, mas ninguém realmente se importava com isso nos Dregs.
De certa forma, isso até poderia ser secretamente encorajado, já que gerava mais crianças, o que produzia mais sangue para o Kugelblitz.
É claro que ninguém dizia abertamente que era incentivado, mas a ausência de processos contra estupradores já contava como uma declaração da cidade.
Estupros aconteciam quase todos os dias.
Era uma visão muito comum nos Dregs.
Todos já estavam acostumados, e as pessoas apenas evitavam a situação no centro do mercado.
Agora, uma mulher jovem estava sendo atacada por dois homens. Um deles segurava o ombro da mulher enquanto o outro agarrava o próprio pênis por cima da calça, com um sorriso no rosto.
Nick já tinha presenciado muitos desses eventos.
— Pare! Este é meu último aviso! Eu vou arrancar seu pau com os dentes! — gritou a mulher enquanto o homem desabotoava a calça.
— Oh, temos uma rebelde, hein? — disse o outro homem, a calça aparentemente ficando mais apertada na cintura.
— Você se atreve? — disse o primeiro homem enquanto puxava a cabeça da mulher para baixo. — Se você me fizer sangrar, vai perder dois litros de sangue. Você pode se dar ao luxo disso?
A mulher lutava contra as mãos de seus agressores, mas não era forte o suficiente.
— Você já parece anêmica — disse o outro homem, passando o dedo lentamente pela pele muito pálida da mulher.
— Se perder mais dois litros de sangue, você provavelmente vai morrer. Você está tão contra se divertir um pouco conosco? Estamos até dispostos a te pagar cinco créditos cada.
A mulher rangeu os dentes, tomada por raiva, frustração, ódio e impotência.
As pessoas no mercado a evitavam.
Se esses dois homens fossem apenas pessoas comuns, talvez alguns dos outros interviessem.
No entanto, esses dois tinham o emblema dos Atacantes Riker.
Embora alguns dos espectadores estivessem dispostos a se arriscar um pouco por seus princípios, não estavam dispostos a cometer suicídio por eles.
Após um pouco mais de ‘persuasão’, o abuso começou.
Nick tinha se tornado tão frio e apático a esses eventos que apenas observava distraidamente enquanto a cabeça da mulher se movia para frente e para trás no meio do mercado.
Enquanto Nick observava, uma memória atravessou sua mente.
Ele se lembrou de sua conversa com aquele Investigador que contou a ele sobre o Sonhador.
Naquela época, Nick tinha ficado furioso com o Fabricante de Zephyx porque eles não fizeram nada contra o Sonhador, mesmo tendo poder e conhecimento sobre ele.
Eles estavam dispostos a apenas assistir enquanto as pessoas sofriam.
Naquela época, Nick estava absolutamente furioso com eles.
Ele não estava fazendo algo muito parecido agora?
“Eu tenho o poder de parar isso”, pensou Nick, observando a mulher chorando.
“Mas isso mudaria alguma coisa? Eles são dos Atacantes Riker, e são conhecidos por atacar qualquer um que resista a eles.”
“Claro, eu não preciso temê-los, mas isso só significa que eles focariam toda a raiva naquela garota.”
“Nesse ponto, provavelmente roubariam tudo o que ela possui e a estuprariam mais algumas vezes antes de condená-la a morrer no próximo dia de impostos.”
“Interferir agora só pioraria as coisas para ela.”
“Se eu for intervir, a vida dela se torna minha responsabilidade, já que eu a teria matado indiretamente.”
No momento seguinte, Nick olhou para o homem que empurrava o pênis no rosto da garota chorando.
“E se eu matá-los, tenho que pagar 5.000 créditos por pessoa. Claro, eles não buscariam vingança contra a garota, mas 5.000 créditos ainda é muito.”
“Eu teria perdido 10.000 créditos só para salvar alguém que nem conheço.”
“Além disso, eu nem poderia ficar com os corpos, ou teria que pagar mais 10.000 créditos por pessoa, o que significa que também não posso dá-los ao Parasita.”
Nick suspirou.
“Por que ser um cara bom é tão difícil?”