Nick explicou seus pensamentos a Wyntor, que o encarava com uma expressão cética.
— Então você está falando sério? — perguntou Wyntor. — Você realmente quer melhorar a vida das pessoas nos Dregs?
Nick assentiu sem hesitar.
— Por quê? — Wyntor continuou. — Eles nunca fizeram nada por você. Pelo que ouvi, ninguém lá se importava com você, e muitos até tentaram roubar suas coisas. Por que você sacrificaria o que conquistou para ajudar pessoas como essas?
— É o sistema, não as pessoas — respondeu Nick. — Se não houvesse impostos, o número de crimes violentos cairia significativamente. Se as pessoas tivessem acesso a alimentos melhores, não precisariam lutar por nutrientes valiosos.
— Sim, há muitas pessoas desnecessariamente cruéis e extremamente egoístas. Naturalmente, essas não merecem uma vida melhor.
— Mas não posso julgar todos os pobres porque alguns deles são monstros.
— Assim como não posso chamar todos os ricos de monstros só porque não nos ajudam.
— Atualmente, as pessoas nos Dregs sofrem, e algumas podem melhorar suas vidas.
— Porém, quero inverter isso.
— Quero que todos tenham uma boa vida e, se fizerem coisas ruins, suas vidas piorem.
— Acho que todos merecem uma chance, e quero fazer o possível para que isso aconteça.
Wyntor continuava a olhar para Nick com ceticismo.
— É uma meta bem ambiciosa, sabe disso? — disse Wyntor.
Nick assentiu.
— Eu sei. Se quero ajudar todos nos Dregs de forma tão fundamental, provavelmente precisarei me tornar tão poderoso quanto Albert. Talvez até mais.
— Mas, pelo menos, então meu poder terá valor e significado reais.
Wyntor coçou o queixo enquanto olhava para Nick.
— Então, resumindo, você quer se tornar muito mais forte. O poder é a fonte que permite realizar seus sonhos, certo? — perguntou.
— Acho que pode colocar dessa forma — respondeu Nick com um aceno.
— Certo — disse Wyntor.
No momento seguinte, Wyntor suspirou.
— Fico feliz em ouvir isso, sabia?
Dessa vez, foi Nick quem olhou para Wyntor com ceticismo.
— Por quê?
— Eu tinha medo de que você ficasse complacente — disse Wyntor com uma risada. — Você sempre me dizia que só queria uma vida melhor. Tinha receio de que relaxasse assim que sua sobrevivência estivesse garantida.
— Mas, agora que você tem um objetivo tão grandioso, provavelmente não tem motivo para se acomodar.
Nick coçou a nuca, envergonhado.
— É, acho que sim.
Wyntor assentiu.
— Certo. Então, vamos lidar com os corpos.
Nick sorriu e assentiu.
— Mandei Pator para casa hoje, Jenny está trabalhando, e Trevor só chegará em algumas horas — disse Wyntor. — Eles também não foram informados sobre nossa decisão de dar alguns corpos ao Parasita, e quero manter assim.
— Trabalhar com o Parasita é ilegal, e, se formos descobertos, a Cidade Fungo Carmesim nos esmagará. Eu consigo sair disso por causa da minha família, mas você não sobreviverá. Espero que entenda o quanto isso é importante — alertou Wyntor.
Nick assentiu com seriedade.
— Entendo completamente. Também não quero morrer.
Wyntor assentiu em entendimento mútuo.
— Traga-os para cá — disse Wyntor enquanto caminhava ao redor da Unidade de Contenção do Sonhador.
Nick puxou o carro fúnebre e seguiu Wyntor.
Perto do fundo do armazém, Wyntor parou.
Ajoelhando-se, apontou para uma das placas metálicas brilhantes no chão.
— Como queremos manter isso em segredo, não posso contratar alguém para criar um acesso fácil aos esgotos, o que significa que você terá que fazer isso.
— Já olhei os planos do armazém e vi onde passam todos os canos e cabos importantes. Não deve haver nada crítico abaixo deste local, por isso quero fazer daqui a entrada para os esgotos.
Nick assentiu e caminhou até a placa.
— Para manter o armazém estável, os parafusos foram soldados nas placas metálicas, tornando impossível removê-los de forma convencional — explicou Wyntor, apontando para um dos parafusos.
— Quero que você os arranque sem quebrá-los. Não quero deixar rastros.
Nick assentiu. — Claro.
Wyntor assentiu de volta e deixou Nick trabalhar.
Nick precisou ativar sua habilidade para a tarefa.
Nos 30 minutos seguintes, ele removeu cuidadosamente os parafusos.
Foi extremamente difícil soltá-los sem destruir a solda que cobria suas bordas.
No entanto, girando-os com cuidado, Nick conseguiu preservar a solda nos parafusos enquanto a removia da placa.
Quando terminou, chamou Wyntor de volta, que acenou com aprovação.
— Bom trabalho — elogiou Wyntor. — Agora, remova-a lentamente.
Nick retirou os parafusos um por um e os colocou de lado com cuidado.
Depois, levantou a placa devagar.
Ela não era muito pesada, então Nick não precisou da habilidade para isso.
Ao removê-la, Nick viu um espaço pequeno e escuro com outro conjunto de placas.
Felizmente, o segundo conjunto não estava soldado, mas as placas eram muito maiores e mais pesadas.
Cada uma pesava mais de 400 quilos.
Wyntor se afastou para que a habilidade de Nick pudesse ser reativada. Em dez minutos, Nick conseguiu mover uma das placas massivas.
Assim que empurrou a placa para o lado, o terrível cheiro dos esgotos invadiu o armazém.
“Teremos que lidar com o fedor”, pensou Nick. “Felizmente, ninguém está aqui agora.”
Nick chamou Wyntor de volta. Quando Wyntor viu o abismo negro e nojento, respirou fundo.
Como não estavam nos Dregs, não havia grades que deixassem luz entrar nos esgotos, o que significava que eles eram completamente escuros.
Felizmente, como o armazém tinha vários buracos pequenos no teto, a luz que entrava criou um feixe isolado em meio à escuridão aparentemente infinita.
— Chame-o — ordenou Wyntor.
Nick assentiu.