Como Gravis resistiu ao impacto de Samsara?
Ele simplesmente internalizou todas as emoções e as direcionou ao extremo da apatia.
Todas as emoções de Gravis ainda existiam, mas era como se ele não as sentisse.
Basicamente, ele se tornou uma Formação de Matrizes sem emoções, deixando apenas uma pequena parte para despertá-lo mais tarde, quando tudo acabasse.
O perigo de Samsara era que os espectadores sentiam as emoções de todas as pessoas que conheceram ao longo da vida, tornando difícil discernir quem realmente eram.
As emoções atingiram Gravis, mas eram incrivelmente irrelevantes. Simplesmente não tinham importância.
Por isso, poucas horas após entrar, Gravis entrou em um estado semelhante ao de quando focava na compreensão de uma Lei.
O tempo perdeu o significado, e era como se Gravis estivesse dormindo. Ele apenas captava informações, mas não as processava.
Assim, os vários milhões de anos de ilusão passaram como se fossem apenas algumas horas.
Resistir a Samsara foi ainda mais fácil do que Gravis esperava.
No entanto, os outros dois não tiveram tanta facilidade.
Samsara mostrava as vidas desses Cultivadores sucessivamente, não simultaneamente. Isso significava que uma vida terminava antes que a outra começasse.
A pessoa cuja vida foi exibida primeiro entrou em uma crise de arrependimento. Ele tinha muitos arrependimentos e não conseguia empatizar com seu eu passado, o que lentamente o fazia perder a capacidade de diferenciar quem ele realmente era.
Pode-se dizer que isso era perigoso, mas também inofensivo.
A pessoa ainda teria uma personalidade ao sair de Samsara, mas seria para sempre transformada.
Essencialmente, ela se tornaria uma pessoa diferente.
Porém, o outro teve problemas muito maiores.
Descobriu-se que assistir à vida de outra pessoa era muito mais perigoso e muito pior do que assistir à própria vida.
Depois de anos assistindo à vida de um estranho, a segunda pessoa começou a pensar que era a primeira pessoa.
Ele assumiu cerca de 80% da personalidade da outra pessoa, enquanto a primeira pessoa havia mudado um pouco.
Gravis não infundiu Samsara com a Destruição da Madeira Profunda.
Afinal, ele não queria que eles morressem rápido demais.
Quando a primeira vida terminou, a segunda começou.
Ambos ficaram horrorizados ao perceber que não tinha acabado.
Por quanto tempo isso continuaria!?
Esse tormento continuaria para sempre!?
Quando alguém passava por uma vida, acreditava que era o fim, mas, se começava novamente, o desespero se instalava.
Afinal, se havia uma segunda vez, também poderia haver uma terceira ou quarta.
Os dois novos indivíduos assistiram à vida da segunda pessoa.
O engraçado é que, como a segunda pessoa basicamente se tornou a primeira pessoa, assistir à própria vida parecia assistir à vida de um estranho.
Eventualmente, tantas perspectivas e emoções se misturaram que ambos não sabiam mais quem eram.
Eles começaram a ficar tão inseguros sobre suas próprias convicções, personalidade e objetivo que não conseguiam aceitar nenhuma dessas coisas.
Na metade da segunda vida, ambos perderam suas vontades.
Estavam cheios de memórias e conceitos, mas simplesmente não conseguiam agir com base neles.
Se alguém registrasse todo o conhecimento de um Cultivador em um livro, removesse o Espírito e a mente do Cultivador e substituísse por esse livro, o resultado seria o mesmo.
O livro conhecia as mesmas coisas que o Espírito, mas não podia agir com base nesse conhecimento.
A informação era idêntica, mas era impossível agir sobre ela.
Um livro não tem vontade. Um livro sobre forja não se levantaria e começaria a forjar.
Ambos ainda estavam vivos, mas as coisas que os faziam ser quem eram haviam desaparecido.
Agora, não eram diferentes dos fantoches sem mente que Arc havia invocado ao mostrar a Gravis o poder da Lei do Mundo Vivo.
O tempo passou.
— Oh, o quê? Oh! Estou de volta! — Gravis disse ao perceber que havia retornado à realidade.
Apenas um instante havia passado no mundo real, mas uma eternidade havia passado para os três.
No entanto, a eternidade era irrelevante para Gravis.
Era como se ele apenas tivesse tirado um cochilo.
Os dois Cultivadores à frente de Gravis tinham os olhos vazios enquanto começavam a cair em direção ao chão. Mesmo que conhecessem as Leis e tivessem a habilidade de voar, não as usaram.
Afinal, estavam vazios por dentro.
BOOOM! BOOOM!
Os dois corpos pesados dos Deuses Estelares caíram no chão, imóveis.
Suas mentes não funcionavam mais.
— Nãooo! — um grito angustiado veio do castelo sombrio.
SHING!
Uma mulher de cabelos verdes apareceu ao lado dos dois Deuses Estelares em choque. — O que você fez com eles!? — ela gritou para Gravis.
— Bem, eles estão vivos, mas também mortos. É meio difícil de explicar — Gravis respondeu.
SHING!
Gravis apareceu ao lado dos dois corpos e entrou nos Espíritos deles. Sem qualquer resistência, entrar no Espírito de alguém era fácil.
No entanto, Gravis não encontrou nada em seus Espíritos.
Por que os Espíritos estavam vazios!?
Onde estava seu saque!?
Então, Gravis olhou para a garota ao seu lado. — Bastante sorrateira. Você finge que se importa com eles, mas, na verdade, apenas roubou seus pertences.
— Cale-se, seu monstro! — ela gritou com ódio. — Você matou meus dois irmãos! Como ousa!? Você é um Juiz! Supostamente deveria nos proteger, não matá-los!
— Mhm — Gravis murmurou sem se impressionar, não acreditando nela. — Então, o que vai fazer a respeito?
A mulher rangeu os dentes de ódio e frustração.
Ela não podia fazer nada!
Ela não era mais poderosa que seus irmãos, e Gravis também não havia cometido nenhum erro em cumprir seu dever.
Ela estava impotente!
Felizmente, ela não atacou Gravis. Se tivesse feito isso, ele poderia matá-la.
No entanto, Gravis não tinha permissão para matá-la naquele momento. Afinal, ele estava ali apenas como Juiz, não como ele mesmo.
— Espere só para ver — disse ela com ódio. — Vou descobrir quem você é e garantir que você não viva em paz!
— Tá.
A resposta direta de Gravis enfureceu ainda mais a mulher, que lançou mais ameaças contra ele. Gravis, é claro, não se importou nem um pouco.
— De qualquer forma — Gravis disse — já que eles não têm nenhum item de valor, vou deixá-los com você. Quem sabe? Talvez você consiga ajudá-los a se recuperar.
A mulher lançou um olhar furioso para Gravis, mas também olhou para seus dois irmãos.
Eles ainda estavam vivos!
Seus Espíritos estavam intactos!
Isso significava que eles poderiam se recuperar, e, se não conseguissem, ela só precisaria encontrar alguém capaz de curá-los.
Na verdade, a mulher não havia roubado os pertences deles.
Os dois entraram na luta sem levar nada de valor. Eles só tinham suas armas.
Por quê?
Porque sabiam que havia uma chance de morrerem. Por isso, deixaram seus bens valiosos com a mulher de cabelos verdes.
Ela amava seus dois irmãos e faria tudo ao seu alcance para ajudá-los, não importando quantas Pedras Divinas precisasse gastar!
— Huh, eu nem era necessária. Bom trabalho, Sentinela Negro — uma terceira voz falou.
Os olhos de Gravis se arregalaram de surpresa, e ele olhou para cima.
Era Eve!
— O que você está fazendo aqui? — Gravis perguntou surpreso.
— Eu deveria supervisionar a luta entre você e aqueles dois — ela respondeu, gesticulando para os dois Deuses Estelares sem mente.
— Ah, é verdade — Gravis disse. — Você disse que era minha substituta.
Eve assentiu. — De qualquer forma, foi um primeiro trabalho e tanto, mas, se você consegue lidar com isso, consegue lidar com qualquer coisa. Preciso voltar. Até mais!
SHING!
E, com isso, Eve desapareceu.
— Até mais! — Gravis gritou para ela.
Então, Gravis pegou seu próprio emblema e o quebrou, desaparecendo também.
A mulher permaneceu fervendo de ódio por mais alguns minutos, mas depois focou nos dois corpos.
Ela os ajudaria a se recuperar!
Mas será que teria sucesso?
Bem, algumas coisas precisavam ser explicadas primeiro.
Quão difícil era curar um corpo físico?
Fácil.
Quão difícil era curar um Espírito?
Um pouco mais difícil.
Quão difícil era curar uma Aura de Vontade?
Era necessário compreender a Lei da Liberdade para isso ou passar por uma quantidade incrível de refinamento. Isso era muito mais difícil do que os dois casos anteriores, tornando a tarefa quase impossível.
Quão difícil era curar uma vontade?
Bem, o que é uma vontade?
Uma vontade é o componente ativo da mente. O Espírito contém todas as informações da pessoa, mas algo é necessário para interagir com e alterar essas informações.
Se um Espírito fosse um livro, a vontade seria a pessoa lendo o livro. Ela poderia fazer as coisas descritas no livro e alterá-lo.
Em essência, uma vontade era a senciência.
Era a capacidade de pensar.
Portanto, para reparar a senciência, era necessário compreender a Lei da Senciência.
Infelizmente, esses dois eram Deuses Estelares, tornando a Lei Maior da Senciência relativamente inútil para eles.
Isso significava que era necessário encontrar alguém que conhecesse a Verdadeira Lei da Senciência.
E, se alguém já conhecesse a Verdadeira Lei da Senciência, compreender a Verdadeira Lei do Mundo dos Mortos e a Verdadeira Lei da Vida seria apenas uma questão de tempo.
Em essência, Cultivadores que conheciam a Verdadeira Lei da Senciência eram ou Magnatas Celestiais ou futuros Magnatas Celestiais.
A mulher seria capaz de convencer um Magnata Celestial a curar seus dois irmãos?
Essa era uma pergunta tola.
No entanto, ela gastaria uma fortuna e acumularia favores ao redor do mundo para convidar médicos poderosos, mestres alquimistas e Cultivadores para examinarem seus dois irmãos.
Infelizmente, nenhum deles conheceria a Verdadeira Lei da Senciência.
Ataques que danificavam a vontade de um Cultivador basicamente não existiam. Ninguém seria sequer capaz de dizer por que os dois Deuses Estelares não conseguiam fazer nada. Aos olhos deles, os dois estavam em perfeita saúde.
Por isso Gravis não tinha medo de deixá-los viver.
Se um Magnata Celestial quisesse se opor a Gravis, esses dois Deuses Estelares seriam o menor de seus problemas.
Por que Gravis deixou os dois ‘viverem’?
Bem, Gravis não tinha permissão para matar a mulher, então teve que encontrar outra forma de pagar essa dívida de vingança.
Assim, Gravis decidiu presenteá-la com algo cruel.
Falsa esperança.