Os olhos de Gravis se arregalaram em choque.
A dívida havia sido paga?
Como!?
De acordo com seus cálculos, ele ainda devia cerca de 75% do valor total.
— Você está me deixando ir? — Gravis perguntou, franzindo a testa.
Enquanto dizia essas palavras, Gravis também olhou ao redor.
Seu pai não estava ali.
— Não, não estou — Orthar disse de forma neutra. — Sua dívida foi paga. Essa é a verdade.
Gravis franziu ainda mais a testa.
— O que aconteceu? Como minha dívida foi quitada de repente?
— Você não está mais sozinho, Gravis — Orthar disse. — A Seita Miríade pagou sua dívida.
— A Seita Miríade? — Gravis perguntou, chocado. — Mas como?
Como a Seita Miríade conseguiu 17 bilhões de Pedras Divinas em apenas 15.000 anos?
Esse era um valor suficiente para comprar uma posição de Ancião na Seita Fogo Eterno!
Apenas Deuses Ancestrais possuíam tamanha riqueza, e a Seita Miríade não tinha Deuses Ancestrais.
— Você é a razão pela qual tantos de seus amigos sequer chegaram ao Reino Deus Estelar, Gravis — Orthar explicou. — Sem você, quase todos eles já estariam mortos. Parte do sucesso deles é graças a você. Por isso, conforme seus amigos se tornam mais poderosos, você recebe uma parcela da Sorte Cármica associada a eles.
— Isso por si só já foi suficiente para lidar com 30% de toda a sua dívida. O restante foi pago pelos esforços do Ancestral da Seita Miríade.
— Ancestral? — Gravis perguntou. — A Seita Miríade não tem um Ancestral.
— Agora tem — Orthar respondeu.
Gravis permaneceu em silêncio, absorvendo as palavras de Orthar.
Ele havia se esforçado tanto para sobreviver a essa tribulação.
Havia feito um esforço inacreditável, e os últimos 15.000 anos haviam sido mais estressantes do que qualquer outra coisa que ele já havia enfrentado.
“Mas, no fim das contas, eu realmente não precisava ter passado por tudo isso”, Gravis pensou com uma expressão complexa.
“Orthar está certo. Eu não estou mais sozinho.”
“Eu pensei que precisava lidar com esse problema sozinho. Afinal, sempre foi assim. Meus amigos sempre estiveram abaixo de mim em poder, e eu fui aquele que os ajudou.”
“Isso ainda é verdade em certo grau, mas quantidade também é uma forma de qualidade.”
“Sozinhos, meus amigos não seriam capazes de causar um impacto significativo nesse problema, mas juntos, eles realizaram ainda mais do que eu.”
— Cometi um erro — Mortis disse ao lado. — Nunca perguntei à Seita Miríade o que estavam tentando fazer para ajudar Gravis. Desde o começo, ignorei qualquer possibilidade de que eles pudessem ajudar de forma significativa.
— Eu deveria mudar essa abordagem — Mortis disse, coçando o queixo pensativo.
Gravis assentiu com um suspiro, mas logo, seu rosto se transformou em um sorriso caloroso.
— Eu não estou mais sozinho — Gravis disse lentamente. — Não preciso carregar toda essa pressão sozinho.
Mortis também assentiu.
— Então, como foi estar no meu lugar por 15.000 anos? — Orthar repetiu.
Gravis olhou para Orthar, confuso.
— Pense no que você fez e por que fez isso — Orthar disse.
SHING!
Um Monstro do Pecado apareceu no dedo de Orthar.
— Seu pai — Orthar disse.
Os olhos de Gravis se arregalaram quando tudo fez sentido de uma vez.
Como ele não havia percebido isso antes!?
Nos últimos 15.000 anos, ele não havia assumido o manto de Orthar?
Um monstro estava consumindo a Energia de Gravis, e se ele não reunisse Energia suficiente, eventualmente morreria para esse monstro.
Então, o que Gravis fez?
Ele foi a mundos inferiores e fortaleceu um número incontável de Cultivadores para que eles se tornassem mais poderosos. Eles estavam acumulando Sorte Cármica para Gravis, mas, em certo sentido, também estavam reunindo Energia para Orthar.
A Sorte Cármica era apenas a representação da Energia que eles estavam reunindo.
Para acompanhar o consumo do monstro, Gravis precisou trabalhar incansavelmente por 15.000 anos. Precisou ser completamente eficiente!
Ainda mais, Gravis começou a ver as pessoas não como indivíduos, mas como Energia.
Gravis não olhava para as pessoas, mas para a Energia e a Sorte Cármica que elas representavam.
Cada Cultivador representava uma certa quantidade de Energia, e quando alguém se tornava um Imperador Imortal no Pináculo, Gravis ficava animado.
Se um deles conseguisse se tornar um Deus Estelar, ele ficaria eufórico.
Tanta Sorte Cármica!
Quando Gravis pensou na possibilidade de que ele ou Mortis pudessem ter que matar um Deus Estelar para se manterem seguros, ele também entrou em desespero.
Um Deus Estelar valia tanta Energia!
Ele não poderia deixá-los morrer sob suas mãos!
Toda a visão de Gravis sobre a vida e o Cultivo havia se transformado, e ele percebeu que, pelos últimos 15.000 anos, ele enxergava o mundo de maneira semelhante a como Orthar o via.
Tudo não passava de números.
Tudo se resumia à eficiência.
Não havia tempo para mais nada.
— Estressante, não é? — Orthar perguntou.
Gravis suspirou e assentiu.
Ele estava um pouco irritado com Orthar. Afinal, foi Orthar quem enviou o Monstro do Pecado atrás dele.
No entanto, depois de estar no lugar de Orthar por tanto tempo, Gravis não conseguia mais sentir raiva dele.
Provavelmente, esse era o dia a dia de Orthar, exceto pela dor.
Poder-se-ia dizer que o Céu parecia frio e apático.
Mas por que o Céu era assim?
Porque simplesmente não tinha tempo para prestar atenção aos indivíduos.
Gravis também percebeu outra coisa.
Se tivesse acesso à Lei do Verdadeiro Mundo, ele provavelmente teria até criado seres autônomos para gerenciar todas as Seitas sob seu domínio. Gravis já estava no seu limite quando se tratava de microgerenciamento e concentração. Ter vários seres autônomos para lidar com os problemas teria sido preferível.
Quando Gravis os verificaria?
Não com muita frequência.
Ele deixaria esses seres lidarem com tudo e só seria contatado se precisassem dele para algo.
Isso seria diferente de como Orthar gerenciava os Céus inferiores?
Não.
O Céu inferior que Gravis conhecera no passado havia ido contra ele e quebrado várias regras. Isso levou Gravis a acreditar que todos os Céus eram assim e que o Céu mais alto queria se livrar dele.
As ações do Céu inferior refletiram negativamente em todos os outros Céus.
No entanto, quando Gravis fundiu seu Espírito com o raio, Orthar desceu para verificar o Céu inferior.
E assim que Orthar se envolveu, a vida estressante de Gravis se tornou muito mais fácil.
A mesma coisa poderia ter acontecido se Gravis tivesse criado seres autônomos para gerenciar suas Seitas.
As vítimas teriam acreditado que Gravis queria prejudicá-las quando, na verdade, seu objetivo era o oposto.
Ele queria que elas se tornassem poderosas.
Gravis viu muitos paralelos entre sua situação e a de Orthar.
— Esse era o seu objetivo? — Gravis perguntou.
— Não inteiramente — Orthar respondeu. — Eu criei o Monstro do Pecado apenas para forçar as pessoas a acumularem Sorte Cármica. Nunca tive a intenção de que ele fosse uma simulação da minha vida.
Gravis franziu a testa.
— Então por que foi tão semelhante para mim?
— Porque você fez o que era mais eficiente para obter Sorte Cármica — Orthar disse — e a coisa mais eficiente é exatamente o que eu faço. Juntamente com suas habilidades únicas, você conseguiu imitar ser eu até certo ponto.
Gravis suspirou.
Ele nunca pensou em como suas ações pareciam de fora. Ele simplesmente fez o que lhe dava mais Sorte Cármica e Energia.
Por causa disso, inconscientemente fez o mesmo que Orthar fazia.
— Como qualquer outra pessoa conseguiria sobreviver a algo assim? — Gravis perguntou. — Eu trabalhei tanto e até tive a ajuda de uma Seita inteira. Mesmo assim, eu poderia ter morrido em apenas mais 5.000 anos. Os Monstros do Pecado são uma sentença de morte?
— Sua situação foi diferente — Orthar disse.
— Diferente? — Gravis perguntou, franzindo a testa.
— A multiplicação dos seus Monstros do Pecado só podia ser desacelerada com Energia, mas isso não é normal. Normalmente, a Sorte Cármica que você acumula também desacelera a multiplicação dos Monstros do Pecado.
Os olhos de Gravis se arregalaram.
Certo!
Não seria a acumulação de Sorte Cármica suficiente para desacelerar a multiplicação do Monstro do Pecado?
— Se sua Aura do Pecado tivesse seguido as regras normais, você teria apenas dois Monstros do Pecado no final, devido à sua impressionante velocidade de acumular Sorte Cármica — Orthar explicou.
— Dois!? — Gravis gritou, sua raiva voltando por razões óbvias. — Eu tinha mais de 2.000! Por quê!?
Surpreendentemente, Orthar sorriu um pouco.
— Você compreendeu uma Lei. Você só ainda não percebeu isso. Se eu não tivesse dificultado tanto para você, você não teria compreendido.
— Lei? — Gravis perguntou, surpreso.