Eve estava morta, e era isso.
Orpheus havia lidado com ela.
Agora que tudo havia terminado, Orpheus, Mortis e Gravis apenas se entreolharam de maneira constrangedora.
O Magnata Negro percebeu que a atmosfera ficou estranha e simplesmente se teleportou.
— Fico feliz que vocês ainda estejam vivos — disse Orpheus após alguns segundos de silêncio para Gravis e Mortis. Orpheus não via apenas Gravis como seu irmão mais novo, mas Mortis também. Em certo sentido, Mortis era ainda mais parecido com o irmão mais novo que ele havia conhecido naquela época.
— O que você fez? — perguntou Gravis com um suspiro, esfregando a ponte do nariz em uma mistura de frustração e irritação. Ele havia afastado Orpheus, mas Orpheus veio ajudá-lo mesmo assim.
Como ele deveria não se sentir culpado?
Como ele deveria ficar bravo com Orpheus?
Orpheus sabia ao que Gravis se referia e apenas respondeu com um sorriso.
— Simplesmente assumi a posição de Ancestral na Seita Miríade. Eu não tenho uma Seita de qualquer maneira, e vocês precisam de um Ancestral. Sem um Ancestral, a Seita Miríade não pode conversar e negociar com outras Seitas poderosas.
— Eu sei — disse Gravis. — Quero dizer, o que você fez para me ajudar com minha Aura do Pecado? Você foi responsável por quitar quase 50% da minha Aura do Pecado.
Orpheus olhou para Gravis surpreso.
Antes de tudo, Orpheus queria saber como Gravis podia saber dessas coisas. Gravis sequer havia visto o que Orpheus havia feito, mas ainda assim sabia exatamente quanto de sua Aura do Pecado havia sido resolvida por Orpheus.
O pai deles havia contado?
Orpheus não tinha certeza.
Infelizmente, ninguém sabia que Gravis já havia conversado várias vezes com o Céu mais elevado. As coisas que eles haviam discutido precisavam permanecer em segredo.
Nem mesmo Stella sabia que Gravis havia conversado com o Céu mais elevado.
No entanto, Orpheus ainda acreditava em Gravis. Gravis havia dito essas palavras de maneira muito natural, e era óbvio que ele considerava suas fontes confiáveis.
Orpheus coçou a nuca de forma constrangedora e riu amargamente.
— Na verdade, eu não queria contar a todos o que fiz. Nem mesmo Manuel sabe o que fiz para ajudá-lo.
Orpheus suspirou.
— Bem, parece que não posso manter isso em segredo. Queria manter isso oculto para demonstrar um pouco da minha sinceridade, mas isso agora é impossível.
— Apenas diga — disse Gravis.
Orpheus olhou para a Seita Miríade.
— A Seita Miríade agora tem mais de um Deus Ancestral. Vários Deuses Ancestrais das Seitas que destruímos quiseram se juntar a nós. Sem um Ancestral, isso se tornaria muito complicado. Deuses Ancestrais não podem interferir diretamente na guerra, mas podem informar outras Seitas e causar algum dano indireto à Seita Miríade.
— Na verdade, foi Manuel quem me contatou. Ele queria que eu assumisse a posição de Ancestral na Seita Miríade. Ele também foi quem me contou sobre sua Aura do Pecado.
Gravis assentiu.
— Então, o que você fez? — Gravis perguntou novamente.
— Bem, eu lidei com os Deuses Ancestrais das Seitas destruídas. Aceitei três deles por uma grande quantia de dinheiro, mas não entreguei diretamente o dinheiro à Seita Miríade.
As sobrancelhas de Gravis se ergueram em ceticismo, mas ele não interrompeu.
— Em vez de dar o dinheiro para a Seita Miríade, eu devolvi o dinheiro aos Deuses Ancestrais e os fiz alcançar o próximo nível no Reino dos Deuses Ancestrais — acrescentou Orpheus. — Eu disse a eles que a única razão para eu estar fazendo isso era por sua causa, o que é a verdade. Se você não tivesse condensado uma Aura do Pecado, eu não teria devolvido o dinheiro a eles.
Os olhos de Gravis brilharam em reconhecimento.
Então foi assim que Orpheus conseguiu quitar tamanha parte da dívida de Gravis.
Os Deuses Ancestrais provavelmente pagaram alguns bilhões de Pedras Divinas, e, ao fazê-los alcançar o próximo Reino, Orpheus ganharia crédito pelo avanço deles na forma de Sorte Cármica.
No entanto, Orpheus havia creditado toda a Sorte Cármica a Gravis.
Em suma, Gravis havia recebido Sorte Cármica equivalente a alguns Deuses Ancestrais avançando para o próximo nível.
Era como se alguns discípulos de Gravis tivessem avançado para o Reino dos Deuses Ancestrais.
“Agora faz sentido”, pensou Gravis.
— E você queria manter isso oculto? — Gravis perguntou.
Orpheus assentiu.
— Eu até fiz com que assinassem um contrato, que estipula que eles estão proibidos de revelar a verdade sobre seu avanço.
— Posso ver o contrato? — Gravis perguntou.
A expressão de Orpheus se transformou em um sorriso amargo.
O fato de Gravis querer ver o contrato significava que ele ainda não confiava totalmente na sinceridade de Orpheus.
No entanto, Orpheus entregou o contrato, e Gravis o examinou.
Depois de lê-lo, Gravis assentiu para Mortis.
— É real — disse a Mortis.
Mortis franziu a testa, incerto.
Ele não sabia exatamente como se sentir naquele momento.
Alguns segundos de silêncio se passaram.
Então, Gravis soltou um gemido alto e coçou violentamente a nuca em frustração.
— Como é que eu deveria ficar bravo com você agora!? — Gravis perguntou exasperado. — Como eu deveria continuar pensando nas suas ações do passado quando você fez tanto por mim?
Orpheus apenas sorriu amargamente.
— Sinto muito, mas não quero perder nenhum de vocês.
Gravis gemeu novamente e acenou com as mãos de maneira displicente.
— Tá bom. Tá bom!
— Você quer ser meu irmão? Tudo bem! Você venceu! Espero que esteja feliz! — gritou Gravis com irritação.
Orpheus sorriu radiante e riu alto.
Depois de um tempo, Gravis também parou de agir como uma criança e riu junto com ele.
— Na verdade, eu senti sua falta, Orpheus — disse Gravis. — Só não sabia quando deveria falar com você.
Orpheus se aproximou e sorriu para Gravis.
— Então, será que seu irmão mais velho pode receber um abraço? — perguntou.
— Claro — disse Gravis.
Então, os dois irmãos se abraçaram pela primeira vez em uma eternidade.
Todas as coisas ruins foram esquecidas.
Eles se separaram depois de alguns segundos, e ambos olharam para Mortis.
Gravis não tinha certeza de como Mortis reagiria.
Mortis ergueu lentamente o olhar e encarou Orpheus diretamente nos olhos.
— Não é tanto sobre o que eu penso, e mais sobre o que meu raio pensa — disse Mortis. — Da última vez que nos encontramos, você esteve muito, muito perto de se tornar meu inimigo. Só um pouco mais, e meu raio teria exigido sua vida.
Orpheus sabia disso. Ele sabia como o raio poderia ser.
— Mesmo sem sua ajuda, agora sabemos que Gravis teria sobrevivido. Sobreviver mais 5.000 anos era uma incerteza, mas sobreviver 3.000 anos não teria sido um problema. A essa altura, a Seita Miríade e nossos próprios esforços já teriam lidado com a Aura do Pecado.
— Então, embora você tenha feito o seu melhor, suas ações não tiveram tanto impacto quanto talvez tenha acreditado — acrescentou Mortis.
O sorriso de Orpheus enfraqueceu ao ouvir essas palavras.
— No entanto, você fez o suficiente para apaziguar o ódio dentro de nós — disse Mortis. — Com isso, você não é mais um inimigo.
Orpheus suspirou.
— Bem, pelo menos isso é alguma coisa, certo?
Mortis não respondeu imediatamente.
— E então, você salvou nossa vida ao matar Eve — acrescentou Mortis. — Isso deve ter um valor comparável à sua ação anterior, e acho que é o suficiente.
— Vou considerá-lo meu irmão novamente a partir de hoje — disse Mortis, com neutralidade.
O rosto de Orpheus se iluminou em um sorriso.
— Eu não sou do tipo que gosta de abraços — disse Mortis, olhando para Orpheus com os olhos semicerrados.
— Ah, certo — disse Orpheus.
WHOOSH!
De repente, Mortis desapareceu, e, atrás dele, estava um Gravis chocado.
Gravis acabara de tentar chutar Mortis na direção de Orpheus, mas Mortis havia se tornado intangível.
Mortis apareceu ao lado de Gravis.
— Você não pode me forçar a abraçá-lo — comentou Mortis.