— Não há ninguém que desperte esse tipo de sentimento em mim — Mortis respondeu. — Vejo tantos Cultivadores diferentes, mas todos me parecem iguais. São apenas estranhos, amigos, inimigos ou qualquer outra coisa. Não há diferença.
— Então os humanos precisam de algum tipo de conexão com um estranho para que o amor possa existir no futuro? — Azure perguntou. Ela estava genuinamente curiosa sobre tudo isso.
As sobrancelhas de Mortis se franziram. — Não, não exatamente.
— Então por que isso precisa existir para que você ao menos tente? — Azure perguntou.
Pela primeira vez, Mortis não respondeu imediatamente.
Por que ele simplesmente não conhecia mais pessoas?
Era realmente necessário que uma faísca surgisse para que um relacionamento florescesse?
Obviamente, não.
Havia muitos mortais e Cultivadores que acabavam juntos depois de serem apenas amigos por anos.
No início, não havia atração romântica entre eles, mas eventualmente, terminavam juntos.
Por alguma razão, uma espécie de pressão surgiu dentro de Mortis.
“É por causa do meu passado?”, ele pensou. “Eu senti o que Gravis sentiu por tanto tempo. Senti esses intensos momentos de calor e amor dentro de mim tantas vezes.”
Mortis olhou para a distância. “Será que tenho medo da decepção? Será que temo que meu eventual amor não seja tão vibrante quanto o amor que Gravis sente por Stella?”
Um momento de silêncio se passou.
“E então, tudo isso com Joyce aconteceu, o que confirmou meu medo. Eu me sentia atraído por Joyce, mas nunca senti nada remotamente tão intenso quanto o que Gravis sentia por Stella naquela época.”
“E então, Joyce morreu, e senti que minha capacidade de amar morreu com ela.”
Mortis lançou um olhar para Azure, que apenas observava o horizonte com uma expressão pensativa.
“Acho que temo a decepção”, Mortis pensou. “Talvez eu tenha medo de perder minha esperança. Posso sonhar com o quão grandioso o amor é e como ele me faz sentir, mas temo que minha imaginação esteja errada.”
Outro momento de silêncio.
“Se até o amor acabar sendo uma decepção, o que mais restará além da monotonia cinzenta na minha vida?”
“Se o amor não corresponder às minhas expectativas, que razão me restará para viver?”
— Azure, por que você cultiva? — Mortis perguntou.
Azure ficou surpresa com a pergunta. Como Mortis chegou a essa questão?
— Por que eu cultivo? — Azure repetiu.
Mortis assentiu.
Azure permaneceu em silêncio.
— Eu não sei — ela disse após vários segundos. — Honestamente, nunca pensei muito nisso. Viver apenas parece natural para mim, como algo que simplesmente preciso fazer.
— Há algo em sua vida que você não quer perder de jeito nenhum? — Mortis perguntou.
Azure ficou em silêncio por mais tempo, sua expressão se tornando desconfortável.
— Não exatamente — Azure respondeu com uma voz incerta.
— Então, por que você continua lutando? Por que continua compreendendo Leis? Por que passa pelo medo e pela dor do aprimoramento? — Mortis perguntou distraidamente.
— Todo Cultivador preferiria fazer qualquer outra coisa. Nenhum Cultivador sai para se refinar por diversão. Fazemos isso por necessidade, porque queremos nos tornar mais poderosos. E por que queremos nos tornar mais poderosos? Porque não queremos morrer.
— E por que não queremos morrer? Porque há algo em nossas vidas que não queremos perder. Não queremos sentir a dor de perder um ente querido. Queremos passar mais tempo com aqueles que amamos. Queremos ver o que o amanhã trará.
— Mas quando não há nada pelo qual se importe, qual é o sentido de sobreviver? — Mortis perguntou, olhando para Azure. — Pelo que você disse, parece que não há nada que você queira viver para ver. Então, por que viver?
Azure permaneceu em silêncio.
Ela permaneceu em silêncio por vários minutos.
Durante esse tempo, Mortis se arrependeu de sua pergunta.
Ele havia feito aquelas perguntas por curiosidade, mas percebeu que suas palavras poderiam ter tido um efeito indesejado em Azure.
Esses pensamentos eram normais para Mortis. Ele os tinha todos os dias.
No entanto, em comparação, Azure nunca sequer se fez essa pergunta.
— Você não precisa responder, e também não precisa se questionar sobre isso — Mortis acrescentou. — Você obviamente tem algo pelo qual viver. Caso contrário, não teria tido força de vontade para passar por tantas batalhas e mortes.
— Não, você estava certo — Azure disse, sua expressão revelando uma luta interna. — Pelo que eu vivo? Por que eu vivo?
— Você é uma besta, Azure — Mortis acrescentou. — O Céu te criou para se tornar poderosa. Você não é humana, e não precisa ter os sentimentos que nós humanos temos. Para você, o poder pode ter um apelo muito mais forte do que para nós. Tornar-se mais poderosa pode ser muito mais gratificante do que para os humanos.
— Não tente invalidar suas razões para viver comparando-as às dos humanos. Você não é humana, e já aceitou isso, certo? Então por que procurar algo que não tem importância para você? — Mortis acrescentou.
Agora, Mortis lamentava ter feito sua pergunta anterior. Azure parecia estar realmente em conflito naquele momento.
— Não, não é isso — Azure disse, olhando para Mortis com confusão e nervosismo. — Eu sei o que você está tentando fazer agora, mas sua preocupação é desnecessária.
Mortis ergueu uma sobrancelha.
— Eu simplesmente estou sobrecarregada por algo que nunca senti antes — Azure disse. — Por isso foi tão difícil responder.
— O que você sente? — Mortis perguntou.
— É uma espécie de vazio — Azure disse. — Como um buraco negro que suga toda a minha motivação, como se estivesse consumindo meu interior.
A expressão de Mortis ficou desconfortável, e ele se sentiu incrivelmente culpado.
Esse era um sentimento com o qual ele estava muito familiarizado.
— Ei, ouça…
— Me dê um segundo — Azure interrompeu Mortis. — Lembre-se de que eu não sou uma mortal. Sou uma Deusa Estelar, e já passei por coisas piores. Você não precisa consertar nada. Eu sei lidar com isso por conta própria.
Mortis olhou para Azure com ceticismo. Afinal, ele sabia o quão avassalador esse sentimento era.
Azure percebeu a expressão de Mortis, mas não tentou convencê-lo imediatamente. Em vez disso, queria compartilhar o que estava pensando.
— Eu nunca senti esse sentimento antes, certo? — Azure perguntou. — Nunca tive problemas com a vida, e me senti satisfeita apenas ficando mais forte. No entanto, assim que você trouxe minha atenção para o propósito da vida, de repente senti algo que nunca havia sentido antes.
— Tenho certeza de que nunca teria sentido nada assim no passado. Não senti nada nem remotamente parecido, nem mesmo uma versão mais fraca. É completamente novo.
— As bestas ganham um Espírito quando se tornam Deuses Estelares, certo? — Azure perguntou. — Então, quando adquirimos um Espírito, isso também significa que nossos conceitos emocionais se tornam mais parecidos com os dos humanos?
Mortis caiu em reflexão quando ouviu isso.
Ela poderia estar certa?
No momento, Mortis não tinha certeza.
Mas então, Azure acrescentou algo.
— E as bestas que conseguiram se tornar Magnatas Celestiais? — Azure perguntou. — Você disse que conhece um Magnata Celestial que é uma besta.
— E daí? — Mortis perguntou.
— Bem, para se tornar um Magnata Celestial, é necessário conhecer as quatro Leis principais, e sempre houve uma que me impediu. Sempre tentei encontrar uma maneira de compreendê-la, mas nunca encontrei. Sabe por quê? Porque parecia simplesmente impossível para uma besta.
— Estou falando da Lei da Empatia — Azure disse.
Os olhos de Mortis se arregalaram.
Isso mesmo!
Como uma besta sequer conseguiria compreender a Lei da Empatia?
Mortis sabia o que era necessário para compreender essa Lei, já que ele próprio a conhecia, e tinha certeza de que uma besta não poderia sentir empatia suficiente para compreendê-la.
Era impossível para uma besta.
Então, como o Magnata Negro se tornou um Magnata Celestial, se era impossível para uma besta sentir como um humano?
— Então, você acha que agora pode sentir amor como os humanos? — Mortis perguntou, surpreso.
— Eu não sei — Azure disse. — Acho que sim, mas não posso ter certeza sem testar.
Então, ela olhou para Mortis.
— Quer tentar? — ela perguntou.
Mortis congelou.
Aquilo…
Ele apenas olhou para Azure.
— Poderia ser um pouco mais específica? — Mortis perguntou.
— Tentar ver se podemos amar um ao outro — Azure explicou. — Se não funcionar, podemos simplesmente parar. Afinal, mesmo que eu não possa sentir, sei um pouco sobre como funciona, e sei que isso te machucaria se eu não conseguisse retribuir. Então, podemos apenas tentar, certo? Se der certo, ambos experimentamos o amor, e se não, simplesmente nos separamos.
Mortis coçou a nuca, desconfortável.
— Eu não sei… — ele disse.
— Por que está hesitando? — Azure perguntou, genuinamente confusa. — Não vejo nenhuma desvantagem, apenas vantagens. Saímos disso com mais conhecimento, independentemente do resultado.
Então, Azure se lembrou de algo.
— Ah, é porque não sou atraente para você? — Azure perguntou, confusa.
Mortis olhou para Azure.
Atraente?
Azure tinha cabelos azuis deslumbrantes e olhos tão claros quanto o oceano.
— Não, não é isso — Mortis disse.
— Então o quê? Minha mentalidade não te agrada? — Azure perguntou.
Mentalidade?
Azure era muito honesta e cuidadosa. Mesmo quando não sentia nada parecido com amor, sempre se preocupava com as pessoas que o sentiam.
Além disso, Azure tinha uma aura de superioridade, mas não do tipo ruim. Ela simplesmente parecia uma mulher poderosa e extraordinária. Não era orgulho vazio, mas confiança.
Por fim, Azure era muito direta e sempre dizia o que pensava.
Quanto ao seu corpo de besta?
Mortis se lembrou de Yersi e Jake.
Jake não se sentia atraído por um corpo de besta, mas ainda assim ficou encantado com Yersi. Naquela época, Mortis não via problema nisso. O corpo verdadeiro de Yersi não era uma besta. Não, ela simplesmente tinha dois corpos. Nenhum dos dois era verdadeiro ou falso. Além disso, quase todas as bestas viviam em suas formas humanas devido à maior conexão com as Leis. E, mais ainda, humanos tinham mãos que podiam empunhar armas.
Em certo sentido, a única diferença entre um humano e uma besta era sua origem e habilidades.
Todo o resto era igual.
— Não, isso também não é o problema — Mortis acrescentou.
— Então o que é? — Azure perguntou. — Eu não entendo. É aquela faísca que você mencionou antes? Mas você disse que a faísca não é necessária. Qual o problema em tentar?
A mente de Mortis estava sobrecarregada.
Ele não conseguia encontrar uma razão lógica para recusar Azure, já que todas as palavras dela faziam sentido.
No entanto, Mortis ainda se sentia hesitante.
“Isso é teimosia?”, Mortis pensou. “Não consigo encontrar um contra-argumento lógico, mas ainda assim não quero ceder.”
“Se não consigo refutar nada, isso não significa que estou errado?”
Mortis olhou para Azure.
“Ela está certa. Qual o problema em tentar? Não pode ficar pior do que já está.”
Por alguma razão, Mortis ficou muito nervoso.
— Quero dizer, se você está bem com isso… Podemos ver se funciona — Mortis disse.
Azure sorriu, empolgada.
— Ótimo!
Dez segundos de silêncio constrangedor.
— Então… Como tentamos? — Azure perguntou, confusa.
Mortis sorriu de forma desajeitada e sentou-se.
Então, deu um tapinha no chão ao seu lado.
— Vamos apenas sentar lado a lado e conversar.
Azure ficou interessada e sentou-se ao lado de Mortis.
— Sobre o que conversamos? — Azure perguntou depois de alguns segundos.
— Qualquer coisa — Mortis disse.