Gravis e Mortis passaram os 10.000 anos apenas conversando sobre a vida que tinham vivido no sonho.
No entanto, não havia muito o que dizer. Parecia um sonho, e depois de algumas horas, já estavam entediados com o assunto.
Quando terminaram de conversar, Gravis simplesmente se concentrou em esperar.
Ao mesmo tempo, Mortis refletia sobre a oportunidade que agora tinha.
Ele sabia que só tinha vivido um sonho, mas também sabia que esses arrependimentos se tornariam realidade se seguisse adiante.
Agora, Mortis havia realmente percebido o quão errado esse caminho era.
“Nunca é o suficiente”, pensou Mortis. “Só pode ser suficiente quando deixa de ser interessante. Infelizmente, alguns milhões de anos não são nem de longe o bastante para tornar minha vida entediante.”
“Preciso de mais tempo, e para isso, preciso de poder.”
A essa altura, Mortis havia descartado completamente suas hesitações passadas.
Mortis já não cogitava mais parar em seu caminho.
Ele tinha que se tornar poderoso!
Para o seu futuro!
Para Azure!
Para sua família!
Para sua felicidade!
Gravis conhecia Mortis muito bem, e quando sentiu as mudanças dentro dele, apenas sorriu calorosamente.
“Ele está seguro de si agora”, pensou Gravis. “Ele não está mais hesitando.”
“Mortis finalmente amadureceu, e sua ideologia e sua mente se tornaram estáveis.”
“Ele não mudará significativamente no futuro.”
“Agora ele é quem será para sempre.”
Gravis sempre sentiu que precisava cuidar de Mortis como um irmão mais velho. Os objetivos e a personalidade de Mortis frequentemente entravam em conflito, tornando-o propenso a surtos de instabilidade.
Mas agora, tudo isso mudaria.
As preocupações de Gravis de que Mortis um dia se sacrificaria novamente também desapareceram.
Mortis sabia o que queria, e mesmo que algo significativo acontecesse, ele não jogaria sua vida fora outra vez.
Os 10.000 anos passaram rapidamente para ambos.
Mortis já não tinha mais problemas em ficar sozinho sem distrações.
Suas vozes internas de preocupação desapareceram, e Mortis finalmente estava em paz consigo mesmo.
As duas primeiras provações haviam transformado Mortis.
Sua convicção agora estava no mesmo nível da de Gravis.
Após 10.000 anos, o portão se abriu.
Gravis e Mortis se levantaram sem hesitação e avançaram para a próxima provação.
Em apenas alguns segundos, chegaram ao local e atravessaram os portões.
Não havia hesitação neles.
Eles sabiam o que queriam!
No entanto, seus olhos se arregalaram de surpresa ao verem o local da terceira provação.
Era um pequeno salão novamente.
Outra provação sem luta? O que Orthar havia planejado desta vez?
Gravis e Mortis olharam para Orthar.
Orthar olhou para Gravis por um segundo e então focou-se em Mortis.
— Mortis de novo? — perguntou Gravis.
— Sim, há mais uma coisa — respondeu Orthar.
— Posso participar da provação desta vez? — perguntou Gravis.
— Não desta vez — disse Orthar, voltando-se para Gravis. — Se você também participar, isso tornará as coisas mais fáceis para Mortis. Além disso, você já passou por essa provação antes.
— Hã? — Gravis murmurou, confuso.
Orthar lentamente estendeu o braço direito.
SHING!
Algo apareceu sobre sua mão direita, e assim que Gravis viu, todo o seu corpo tremeu.
Memórias invadiram sua mente, e ele imediatamente deu um passo para o lado do salão, demonstrando que não participaria dessa provação.
Mortis respirou fundo ao olhar para o mosquito negro pairando sobre a mão de Orthar.
Era um Monstro do Pecado.
— Prova — disse Orthar. — Você conseguiu solidificar sua convicção. Agora, prove o poder da sua convicção para si mesmo e para mim.
— Se conseguir superar isso sem tirar a própria vida, nada jamais fará você se matar no futuro.
Gravis olhou para Mortis com os dentes cerrados.
Essa provação não era brincadeira!
Eles já conheciam a Lei Verdadeira do Sofrimento, mas isso não tornaria as coisas mais fáceis. Sofrimento era sofrimento. Não importava se alguém o compreendia ou não.
Mortis respirou fundo, tremendo.
Ele nunca havia sentido a dor que o Monstro do Pecado podia infligir, mas já tinha visto o efeito que isso causava em alguém como Gravis.
Gravis quase cometeu suicídio várias vezes por causa do Monstro do Pecado.
— 10.000 anos com 10.000 Monstros do Pecado — disse Orthar. — Eles não se multiplicarão, mas você deve sobreviver por 10.000 anos.
— Se sua convicção não for forte o suficiente, você não sobreviverá.
— Você também não recuperará as coisas que perder.
— Perder seu poder faz parte do sofrimento.
As palavras de Orthar genuinamente deixaram Mortis nervoso e até um pouco assustado.
— Só preciso sobreviver por 10.000 anos, certo? — perguntou Mortis novamente.
— Correto — respondeu Orthar.
Mortis respirou fundo.
Então, soltou o ar lentamente.
Os olhos de Mortis se abriram cheios de convicção.
E daí se doesse!?
Ele já não era mais o antigo Mortis!
Ele passaria por isso!
Mortis caminhou até o centro da sala e se sentou.
Então, respirou fundo mais uma vez.
— Pode começar — disse.
— Continue pensando no seu passado e no seu futuro — disse Gravis. — Pense em Azure e na oportunidade que tem agora. Você sentiu como é sentir arrependimento. Você tem a chance de corrigir esse arrependimento agora, mas se desistir, nunca mais será feliz.
— Não deixe Azure saber que seus últimos momentos foram passados em puro sofrimento e dor.
Mortis assentiu.
Então, Orthar soltou o Monstro do Pecado.
BOOM!
O Monstro do Pecado se dividiu em 10.000 menores, que rapidamente pousaram por todo o corpo de Mortis.
Mortis foi coberto pelos Monstros do Pecado.
E então, veio a primeira mordida.
Inferno.
Agonia.
Terror.
Doença.
Deterioração.
Desaparecimento.
Dor.
Sofrimento.
Mortis sentiu como se uma parte de seu ser tivesse sido arrancada, e sua mente e corpo se travaram completamente.
Mortis tentou gritar de agonia, mas a segunda mordida veio antes que ele pudesse.
Foi tão ruim quanto a primeira.
Mortis recebia cerca de dez mordidas por segundo, e todas o prendiam em um estado de terror absoluto.
Eventualmente, o corpo de Mortis começou a espasmar, sem que ele pudesse controlá-lo.
Mortis se contorcia silenciosamente no chão, com os olhos e a boca abertos.
Seus olhos estavam cheios de arrependimento, dor e horror.
Era muito pior do que ele havia imaginado.
Por muito tempo, Mortis não conseguiu formar um pensamento racional.
Ele nem sabia quanto tempo havia passado.
Normalmente, isso não seria difícil para ele perceber, mas, na sua situação atual, até isso se tornou impossível.
Mortis não sabia se havia passado uma hora ou mil anos.
“Sobreviva!”
Esse foi o único pensamento que conseguiu formar no meio de toda aquela dor e caos.
Mais tempo passou.
“Sobreviva!”
Mais tempo passou.
“Sobreviva!”
Mais tempo passou.
“Quanto falta?”
Ainda mais tempo passou.
“Quanto tempo já passou?”
Mais tempo passou.
“Meu Reino diminuiu.”
Mais tempo passou.
“Minha Aura de Vontade enfraqueceu.”
Mais tempo passou.
“Sobreviva.”
Mais tempo passou.
“Faça isso parar.”
Mais tempo passou.
“Por favor, acabe com isso.”
Mais tempo passou.
“Faça isso parar!”
Mais tempo passou.
“Eu não aguento mais.”
Mais tempo passou.
“Eu não quero mais!”
Mais tempo passou.
“Me deixe morrer!”
Mais tempo passou.
“Por favor, só quero morrer!”
Mais tempo passou.
“Eu… eu não… deveria?”
Mais tempo passou.
“Não sei se consigo sobreviver a isso.”
Mais tempo passou.
“Azure.”
Mais tempo passou.
“Me desculpe, Azure.”
Mais tempo passou.
“Azure…”
Mais tempo se passou.
“Por favor, Azure.”
Mais tempo se passou.
“Por favor, me perdoe, Azure.”
Mais tempo se passou.
“Não posso ver você de novo.”
Mais tempo se passou.
“Sinto muito.”
Mais tempo se passou.
“Eu sinto muito!”
Mais tempo se passou.
“Por favor, me perdoe!”